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terça-feira, 22 de dezembro de 2015

COMO SÃO FEITAS AS LEIS

 

Setor imobiliário comemora Papai Noel antecipado

Por Paulo Müzell

A “bancada do concreto” da Câmara de Vereadores de Porto Alegre aprovou nova alteração no plano diretor da cidade. Como sempre, ao “apagar das luzes”, em meados de dezembro que é quando, invariavelmente, as votações se acumulam. “A toque de caixa”, dezenas e dezenas de projetos são sumariamente apreciados. Coincidentemente, os mais importantes do ano. Época oportuna, momento adequado já que o porto-alegrense está ligado no 13º, nas compras de natal e nas férias de verão.

O vereador Reginaldo Pujol (DEM) elaborou um projeto de lei alterando o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Ambiental, lei complementar 434/99. Projeto sumário, de apenas três artigos que eleva índices de aproveitamento, densidades, volumetrias em faixas de 120 metros dos dois lados da terceira perimetral e do traçado do futuro metrô da capital. Devido ao grande atraso na implantação do metrô – que sequer tem concluído o projeto final e nem assegurados os recursos –, foram aprovadas emendas que passaram as faixas da linha do metrô para os trajetos dos eixos sul e leste da cidade – avenidas João Pessoa, Bento Gonçalves, Protásio Alves e Padre Cacique -, onde funcionará o do BRT, o “Bus Rapid Transit”. Aconteceu aí a troca do seis pela meia dúzia. Se o metrô não tem data para começar e certamente não estará em funcionamento antes dos próximos dez anos, o projeto do BRT também caminha a passos de tartaruga. Anunciado há mais de cinco anos tem suas pistas inconclusas, com obras muito atrasadas. As seis estações de transbordo não começaram a ser construídas; os equipamentos e veículos não têm data de aquisição prevista e, muito menos, de início de operação. Os dados constantes nos dois últimos orçamentos da Prefeitura e no Sistema de Despesa Orçamentária (SDO) da Secretaria da Fazenda comprovam o enorme atraso. Em 2014 a previsão era investir 74,8 milhões e só foram aplicados 6,7 milhões. Este ano a previsão foi mais modesta: orçados 13,3 milhões, aplicados apenas 4,9 milhões. No último biênio, dos 88 milhões que deveriam ser investidos no projeto foram gastos menos de 12 milhões (13%).

A óbvia pergunta é: se o BRT não tem data para entrar em funcionamento, o que certamente não ocorrerá antes de quatro ou cinco anos, porque aprovar hoje lei aumentando os índices construtivos?

Foi aprovado nas faixas o índice de aproveitamento máximo (3,0) e o parágrafo único do artigo 2 possibilita a compra da diferença entre o índice de aproveitamento do terreno e o índice máximo “sob a forma de Solo Criado, de forma direta, sem licitação”, o que configura flagrante ilicitude.

Considerando a extensão da terceira perimetral e dos eixos do BRT, a lei amplia até o máximo o potencial construtivo de cerca de 1.000 hectares de área urbana de ocupação intensiva da cidade. O absurdo é que a lei foi aprovada sem que a recentemente criada Secretaria de Urbanismo (SMURB), que substituiu a Secretaria do Planejamento Municipal (SPM) apresentasse os estudos de impacto urbano e ambiental. Um vereador apresentar e aprovar uma lei desta importância sem o aval do órgão do Executivo Municipal é um verdadeiro atestado de omissão da SMURB. Um atestado de óbito, na verdade.

Presentes na sessão no momento da votação 34 vereadores. Destes, oito se abstiveram, o que já é fato preocupante, dada a importância da matéria. Dos 26 votantes, 23 registraram “sim” e apenas três “não”: Sofia Cavedon (PT), Marcelo Sgarbossa (PT) e Alex Fraga (PSOL). A bancada do PT mais uma vez ficou dividida: dois “sim”, dois não”, uma abstenção.

O projeto se encontra na Diretoria Legislativa da Câmara para elaboração da redação final. Finda esta etapa será encaminhado ao Prefeito José Fortunati, sempre muito “simpático e receptivo” às propostas e interesses do “empreendedorismo imobiliário” da cidade. Certamente ele nem vai precisar dos 15 dias – prazo que lhe assegura a Lei Orgânica -, para sancionar e publicar a nova lei.

.oOo.

Paulo Muzell é economista.


sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A IGREJA CATÓLICA SEM SACERDOTES


“O que aconteceria se acabassem os sacerdotes na Igreja?”, pergunta o teólogo espanhol José María Castillo em seu blog Teología sin censura, 23-01-2011. E responde “Simplesmente que a Igreja recuperaria, na prática, o modelo original que Jesus quis. O que aconteceria, portanto, é que a Igreja seria mais autêntica. Seria uma Igreja mais presente no povo e entre os cidadãos”. A tradução é do Cepat.

Eis o artigo:

Na semana passada escrevi neste blog uma entrada na qual recordei como a Igreja do primeiro milênio teve um conceito da vocação sacerdotal muito diferente daquele que temos agora. Hoje se pensa que a vocação é o “chamado de Deus” para que um cristão, com a aprovação do bispo, possa ser ordenado sacerdote. Nos primeiros 10 séculos da Igreja, se pensava que a vocação era o “chamado da comunidade” para que um cristão fosse ordenado sacerdote. Mas ocorre que, nesse momento, a escassez de vocações é um fato tão notável que até os políticos cristãos-democratas da Alemanha tornaram público uma carta na qual pedem ao Episcopado que possam ser ordenados sacerdotes homens casados. Até os homens da política andam preocupados com a má situação na Igreja, entre outros motivos, pela alarmante falta de sacerdotes para atender as necessidades espirituais dos católicos.

Assim estão as coisas nesse momento. Os bispos – já o disseram os alemães – não estão dispostos a suprimir a lei do celibato. E menos ainda estariam dispostos a tomar decisões mais radicais no que se refere ao clero, especialmente pelo que diz respeito à necessidade de que a Igreja tenha sacerdotes para administrar os sacramentos. Eu não sei se os bispos vão ceder neste delicado assunto. E se cederem, quando o farão. Seja como for, me parece que chegou o momento de enfrentar esta pergunta: e se chegar o dia em que ficaremos praticamente sem sacerdotes? Seria isso a ruína total da Igreja?

O cristianismo tem sua origem em Jesus de Nazaré. Mas Jesus não foi sacerdote. Jesus foi um leigo, que viveu e ensinou sua mensagem como leigo. Jesus reuniu um grupo de discípulos e nomeou 12 apóstolos. Mas aquele grupo era composto por homens e mulheres que iam com ele de povoado em povoado (Lc 8, 1-3; Mc 15, 40-41). A morte de Jesus na cruz não foi um ritual religioso, mas a execução civil de um subversivo. Por isso, a Carta aos Hebreus diz que Cristo foi sacerdote. Mas este escrito é o mais radicalmente leigo de todo o Novo Testamento. Porque o sacerdócio de Cristo não foi “ritual”, mas “existencial”. Quer dizer, o que Cristo ofereceu, não foi um rito cerimonial em um templo, mas sua existência inteira, no trabalho, na vida com os outros e sobretudo na horrível morte que sofreu. Para os cristãos, não há mais sacerdócio que o do Cristo, que consiste em que cada um viva para os outros. Nem mais nem menos que isso. O sacerdócio cristão, assim como se vive na Igreja, não tem fundamento bíblico nenhum. Por isso, na Igreja não tem que haver homens “consagrados”. O que tem que haver são homens e mulheres “exemplares”. O “sacerdócio santo” e o “sacerdócio real” de que fala a primeira Carta de Pedro (1, 5.9) é uma mera denominação “espiritual” de todos os cristãos.

Além disso, em todo o Novo Testamento jamais se fala de “sacerdotes” na Igreja. Mais, está bem demonstrado que os autores do Novo Testamento, desde São Paulo até o Apocalipse, evitam cuidadosamente aplicar a palavra ou o conceito de “sacerdotes” aos que presidiam nas comunidades que iam se formando. Esta situação se manteve até o século III. Ou seja, a Igreja viveu durante quase 200 anos sem sacerdotes. A comunidade celebrava a eucaristia, mas nunca se diz que fosse presidida por um “sacerdote”. Nas comunidades cristãs havia responsáveis ou encarregados de diversas tarefas, mas não eram considerados homens “sagrados” ou “consagrados”. No século III, Tertuliano informa que qualquer cristão presidia a eucaristia (“De exhort. cast. VII, 3).

O que aconteceria se acabassem os sacerdotes na Igreja? Simplesmente que a Igreja recuperaria, na prática, o modelo original que Jesus quis. O que aconteceria, portanto, é que a Igreja seria mais autêntica. Seria uma Igreja mais presente no povo e entre os cidadãos. Uma Igreja sem clero, sem funcionários, sem dignidades que dividem e separam. Só assim retomaríamos o caminho que seguiu o movimento de Jesus: um movimento profético, carismático, secular. O clericalismo, os homens sagrados e os consagrados afastaram a Igreja do Evangelho e do povo. Assim o veem e o dizem as pessoas. A Igreja pensou que, tendo um clero abundante e com prestígio, seria uma Igreja forte, com influência na cultura e na sociedade. Mas remeto aos fatos. Esse modelo de Igreja está se esgotando. Não podemos ignorar todo o bem que os sacerdotes e os religiosos fizeram. E que continuam a fazer. Mas também não podemos esquecer os escândalos e violências que na Igreja se viveram e dos quais o clero, em grande medida, foi responsável.

Mas, o pior não é nada disso. O mais negativo que deu de si o modelo clerical da Igreja é que aqueles que tiveram o “poder sagrado” se erigiram nos responsáveis e, das “comunidades de crentes”, fizeram “súditos obedientes”. A Igreja se partiu, se dividiu, uns poucos mandando e os demais obedecendo. Na Igreja deve haver, como em toda instituição humana, pessoas encarregadas da gestão dos assuntos, da coordenação, do ensino da mensagem de Jesus... Mas, de duas uma: ou Jesus viveu equivocado ou quem está equivocado somos nós. Evidentemente, o final do clero não se pode improvisar. Provavelmente, a mudança vai se produzir, não por decisões que venham de Roma, mas porque a vida e o giro que a história tomou vão nos levar a isso: a uma Igreja composta por comunidades de fiéis, conscientes de sua responsabilidade, unidos aos seus bispos (presididos pelo bispo de Roma), respeitando os diversos povos, nações e culturas. E preocupados sobretudo em tornar visível e patente a memória de Jesus. Já são muitas as comunidades que, por todo o mundo, pela falta de clérigos, são os leigos que celebram sozinhos a eucaristia. Porque são muitos os cristãos que estão persuadidos de que a celebração da eucaristia não é um privilégio dos sacerdotes, mas um direito da comunidade. O processo está em marcha. E minha convicção é que ninguém vai detê-lo.

Termino afirmando que, se digo estas coisas, não é porque pouco me importa a Igreja ou porque não a queira ver nem pintada. Pelo contrário. Precisamente porque lhe devo tanto e me importa tanto, por isso, o que mais desejo é que seja fiel a Jesus e ao Evangelho.

Leia o texto original AQUI



Observação do Blog: O texto do Sr. Castillo não expressa a opinião do Blog sobre esse tema, porém ele levanta questões importantes a serem discutidas face ao papel nefasto que a Igreja Católica tem representado em várias frentes, tais como em relação ao combate a AIDS e outras doenças transmitidas sexualmente, além dos escândalos envolvendo pedofilia, etc.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

FRASES


"O MPE fez, ao que parece, um belo trabalho. O trabalho que a Polícia Civil deixou de fazer."

Juremir Machado da Silva

Não perca o contexto. Leia AQUI todo o texto.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Afeganistão não será vencido por meios militares


BERLIM (Reuters) - O ministro da Defesa da Alemanha, Karl-Theodor zu Guttenberg, disse que o conflito no Afeganistão não pode ser vencido por meios militares e pediu por mais ajuda ao país, antes de fazer uma visita às tropas na sexta-feira.

Os comentários vêm em um momento em que a Alemanha analisa se enviará mais tropas ao país.

A Alemanha já tem 4.400 soldados no Afeganistão, o terceiro maior contingente da missão da Otan no país, e os Estados Unidos querem que Berlim e seus demais aliados enviem até 7 mil tropas adicionais.

Na semana passada, o presidente norte-americano, Barack Obama, anunciou que planeja enviar mais 30 mil soldados dos Estados Unidos ao país para conter a violência que atingiu seus piores níveis desde a derrubada do Taliban em 2001.

"O Afeganistão não será vencido por meios militares", disse Guttenberg à emissora alemã ZDF.

Ele disse que as forças da Otan precisam encontrar uma "maneira sensata" de se retirar do Afeganistão. Ele se recusou a comentar se a Alemanha atenderá ao apelo norte-americano para aumentar sua presença no país.

O ministro disse que os militares ainda são necessários para proteger as equipes de ajuda civis e para treinar as forças de segurança afegãs.

"Os soldados também estão arriscando suas vidas para que a ajuda para o desenvolvimento aconteça", disse.

(Reportagem de Sarah Marsh)

“El uso de la fuerza está justificado”

A Face da Guerra, de Salvador Dali:

El mandatario norteamericano señaló su incómoda verdad: que “el derramamiento de sangre a veces se antepone a la paz”.

Por David Usborne *

Serio y humilde, el presidente Barack Obama aceptó el Premio Nobel de la Paz ayer en Oslo y le dijo a su audiencia en el rutilante salón del ayuntamiento una incómoda verdad para ese ambiente: las “imperfecciones del hombre y los límites de la razón” significan que el derramamiento de sangre a veces se antepone a la paz. “Entiendo que la guerra no es popular. Pero también sé esto: que el concepto de que la paz es deseable no es suficiente para lograrla –dijo–. La paz requiere sacrificios.” Continuó: “No erradicaremos el conflicto violento durante nuestras vidas. Habrá momentos en que las naciones –actuando individualmente o en conjunto– encontrarán que el uso de la fuerza no sólo es necesario sino está justificado moralmente”.

Durante la ceremonia, que contó con la presencia del rey Harald V y la reina Sonia, el invitado de honor, con traje oscuro y corbata gris, no pareció del todo cómodo y tampoco desplegó el atractivo de otras ocasiones. El discurso de 35 minutos fue pronunciado escasos 10 días después de que Obama hubiera anunciado que enviaría 30.000 efectivos más a Afganistán. Pero descartó las preocupaciones de las presiones de política interna para ofrecer una meditación sobre el concepto de “guerra justa”. El Comité Nobel le otorgó el premio este año a Obama por su comienzo como presidente de Estados Unidos, en el que no solamente prohibió la tortura y se comprometió a cerrar Guantánamo, sino que le dio nueva prioridad a unir y llegar a viejos enemigos. Los críticos han llamado a este enfoque ingenuo y se preguntaron dónde están los frutos de este política exterior. La caravana de limusinas del presidente, llevándolo a él y a la primera dama, Michelle, a los altos consejeros y amigos de la familia, fue saludada por una multitud que aplaudía, pero también por una gran bandera que decía: “Obama, lo ganaste. Ahora ganátelo”.

Pero en Oslo, parte de la política exterior idealista dio lugar a un realismo más sobrio. Aplaudió el pacifismo que predicaron algunos de los anteriores ganadores del premio –citó a Martin Luther King y a Gandhi– pero añadió que no siempre el pacifismo es suficiente. “Un movimiento no violento no podría haber detenido a los ejército de Hitler. Las negociaciones no convencen a los líderes de Al Qaida para que depongan sus armas. Decir que la fuerza puede ser necesaria a veces no es un llamado al cinismo. Es un reconocimiento de la historia, las imperfecciones del hombre y los límites de la razón.”

Obama dijo que las percepciones de Estados Unidos como un agresor no bienvenido estaban arraigadas en “una sospecha reflexiva de Estados Unidos, la única superpotencia militar en el mundo”. Pero la historia será más benévola, dijo: “Cualesquiera sean los errores que hayamos cometido, el simple hecho es éste: Estados Unidos ayudó a reescribir la seguridad global durante más de seis décadas con la sangre de nuestros ciudadanos y la fuerza de nuestras armas”.

“La paz es inestable cuando a los ciudadanos se les niega el derecho a hablar libremente o profesar la religión que quieran; elegir a sus propios líderes o reunirse sin temor. Una paz justa incluye no sólo los derechos civiles y políticos, debe estar acompañada por la seguridad económica y la oportunidad. Porque la verdadera paz no es sólo estar libre del temor sino tener libertad para querer.”

“Los ‘ingredientes vitales’ para alimentarla –continuó– son acuerdos entre las naciones, instituciones fuertes, apoyo a los derechos humanos, inversión en el desarrollo. Y, sin embargo, no creo que tengamos la voluntad o la permanencia en el poder, para completar este trabajo sin algo más. Y eso es la continua expansión de nuestra imaginación moral; una insistencia de que hay algo irreductible que todos compartimos”. Concluyó: “Tratemos de lograr un mundo como debiera ser, esa chispa divina que todavía está dentro de cada uno de nosotros”.

Obama mantuvo un tono que no se esperaba en absoluto de él, al menos en Oslo: el de un político pragmático, más que el de visionario soñador que actualmente se le reprocha en su país. El mandatario no se mostró ayer como un soñador, sino como un fiel ejecutor de “Realpolitik”. Y es posible que sus simpatizantes en todo el mundo lamenten ese inesperado giro.

* De The Independent de Gran Bretaña. Especial para Página/12
Traducción: Celita Doyhambéhère.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

'O planeta é brutalmente poderoso. Respeite. Preserve.'



Anúncio criado pela Agência DM9 para a ONG WWF Brasil retirado de circulação, porém inscrito no Festival de Cannes.

Correio do Povo

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

A queda do feudo e da audiência global e velhas práticas


Nota do Blog: Mesmo tendo sido encomendado pelo Grupo Record, vale a pena ler o texto.

CORREIO DO POVO, 13 DE AGOSTO DE 2009

O crescimento da audiência e do faturamento comercial da Rede Record pressupõe que alguém esteja caindo em graus, números e gêneros. Quando, em um determinado mercado, um grupo começa a ficar forte, significa que hegemonias estão sendo quebradas e alguém está ficando fraco.
Quem tem acompanhado o embate entre a TV Record e a TV Globo percebe o quanto a outrora 'todo-poderosa' 'Vênus Platinada' tem tido o seu brilho embaçado pelos avanços em graus, números e gêneros de sua principal concorrente.
A Record tem mostrado a que veio: lutar e alcançar a liderança do mercado televisivo, antes dominado sem nenhuma preocupação pela Globo.
O assombro global acentuou-se ainda mais com o advento das TVs a cabo. Com esse novo cenário, a globalização, ironicamente, obrigaria a emissora a rever sua costumeira fórmula de gerar notícias para sua conveniência.
O desespero a levou a promover campanhas que beiravam o ridículo e que sugeriam tentar manter a imagem que ela mesma (Rede Globo) criou como a guardiã oficial dos interesses da Nação e da preservação da cultura – cultura esta que sugeriria a indução de um povo quanto ao que se deve vestir, falar, acreditar e em quem votar.
A tentativa dos Marinho não logrou êxito, sobretudo no campo da política, onde seu apoio ou oposição a qualquer que fosse o candidato a um cargo político passou a não fazer muita diferença.
O falecido ex-governador Leonel Brizola e o atual presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, são exemplos clássicos do apático e debilitado feudo midiático dos Marinho.
Só para relembrar, em 1982, Brizola deparou-se com um inescrupuloso inimigo – Roberto Marinho e todo o seu poder centrado nas organizações Globo. Marinho, que controlava o jornal O Globo e a Rádio Globo, fez pressão contra Brizola quando este almejava o cargo de ministro da Fazenda de João Goulart. Vale lembrar que Roberto Marinho foi um dos empresários que apoiaram o Golpe de 1964, golpe que forçou Brizola a ir para o exílio.
Em 1982, Roberto Marinho foi acusado de comandar o esquema do caso Proconsult, que visava impedir a vitória de Brizola na eleição para governador. O plano de fraude comandado por Marinho foi denunciado pelo Jornal do Brasil e abortado após Brizola denunciá-lo pessoalmente na imprensa. Em 1984, a briga com o 'império global' ganhou mais visibilidade, pois Brizola quebrou o monopólio da Rede Globo na transmissão do Carnaval, concedendo o direito de transmissão para a Rede Manchete. A emissora de Marinho então desistiu de cobrir o evento, mas a expressiva queda de audiência durante os desfiles fez a Globo recuar e aceitar transmitir o evento a partir do ano seguinte em conjunto com a Manchete.
Em 1989, Brizola, que liderava as pesquisas de opinião para eleição presidencial, sentiu-se sabotado pela Rede Globo após ter feito contra ele uma série de acusações pessoais em rede nacional.
No caso do presidente Lula, estamos tratando de uma situação atual e que dispensa nos estendermos para relembrar a notória e constante oposição da emissora dos Marinho a este governo.
A prole dos Marinho traz em sua genética esse caráter, ou seja, tentar execrar os que, em seu entender, ameaçam uma suposta hegemonia.
Outro emblemático, pérfido e lamentável episódio foi o que a Globo fez com o caso da Escola Base, atingindo seus proprietários e familiares com acusações infundadas de abuso sexual de menores.
Enquanto a 'todo-poderosa' despencava vertiginosamente, a Rede Record ascendeu, ganhou terreno, e continua avançando no mesmo mercado das desesperadas e velhas Organizações Globo.
Velha no sentido literal, em se tratando de suas tentativas de ações estratégicas que vêm desde antes, durante e após a ditadura, isto é, de métodos retrógrados que não cabem e nem funcionam na sociedade atual.
Já que estamos falando de ações ultrapassadas, que a sociedade moderna não digere, há um antigo ditado bem próprio ao péssimo e amargo momento vivido pela emissora dos Marinho: 'Enquanto os cães ladram, a caravana da Record avança' (e como avança!).
No desespero, a Rede Globo, mais uma vez, como em tantas outras em que se viu acuada de alguma forma, tenta impor o seu costumeiro estilo 'highlander', ou seja, 'só pode haver um'.
Só que o grupo Record topa o enfrentamento sem medo e sem desespero, até porque o império decadente está sendo o da Globo.
Em uma crise de identidade, fragilizada, a emissora dos Marinho parte para a leviandade, golpes e ataques inescrupulosos, como sempre lhe foi peculiar. Quando a prole dos Marinhos se vê acuada, esgotada em todos os seus recursos, a falta de alternativas somada ao seu desespero os leva a esquentar o forno do inescrúpulo e requentar os pães dormidos.
Afinal, a tradição familiar precisa ser preservada!
No entanto, eles parecem ter se esquecido de que, como já exemplificados, seus tiros têm saído pela culatra – que o diga o testemunho do presidente Lula e de todos os que são simpáticos a ele. Os ataques globais sobraram até para o novo presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes) por declarar aprovação ao governo Lula, sem falar em profissionais do jornalismo que, em suas análises políticas, sofreram pressões, chegando a casos de demissão pelo fato de, em seus comentários políticos, enaltecerem o governo federal.
A Globo, diante da Record, está se postando como um cachorro pequeno que, mediante a sua fragilidade, rosna e ataca o maior. Uma de suas maiores especialidades é requentar velhas notícias.

Carlos Oliveira
especialista em comunicação e política

segunda-feira, 22 de junho de 2009

El poder del pueblo, un arma devastadora

Vista da Cordilheira Elbruz, Irã:

Por Robert Fisk *

Ahora que el líder supremo iraní, el ayatolá Alí Jamenei, se ubicó codo a codo con su nuevo presidente oficialmente electo, Mahmud Ahmadinejad, la existencia misma del régimen islámico podría verse abiertamente cuestionada en una nación que está dividida como nunca antes entre reformistas y quienes insisten en mantener la integridad de la revolución de 1979.

Si Jamenei hubiera elegido mantenerse en un justo medio y hacer pequeñas concesiones a los incontables millones que se opusieron a Ahmadinejad en la elección y quienes sienten que no fueron tomados en cuenta, el ayatolá aún sería una figura paterna neutral.

Mir Hussein Mussavi y sus seguidores se habrían negado religiosamente –en el sentido más literal de la palabra– a criticar tanto al líder supremo como a la existencia de la república islámica durante las manifestaciones de los últimos días.

Pero al reaccionar como todos los revolucionarios lo hacen aún décadas después de llegar al poder –porque el espectro de una contrarrevolución los persigue hasta la muerte–, Jamenei eligió retratar a los opositores políticos de Ahmadinejad como mercenarios potenciales, espías y agentes de los poderes extranjeros. La traición a la república islámica, desde luego, es castigada con la muerte. Pero la alianza política de Jamenei con este extraño y alucinado presidente pudo haber surgido del miedo y la ira, en partes iguales.

Durante el rezo de los viernes en la Universidad de Teherán, el líder supremo mencionó los peligros de una revolución de terciopelo. Está claro que el régimen tiene profunda preocupación ante el derrocamiento de gobiernos en el este europeo y el occidente asiático desde la caída de la Unión Soviética. El poder del pueblo, el mismo que le dio el triunfo a la revolución de 1979, es un arma devastadora. Podría decirse que la única, en el arsenal de una oposición política seria y sin armamento.

En lo que siguió al triunfo de Ahmadinejad en las urnas, sus simpatizantes conservadores se han dado a la tarea de repartir panfletos en los cuales se condenan las revoluciones laicas de Europa del Este y su contenido habla mucho de los temores del liderazgo clerical iraní. Uno de esos pasquines se titula “El sistema al intentar derrocar una república islámica con una ‘revolución de terciopelo’”. En éste se describe la manera en que Polonia, Checoslovaquia, Ucrania y otras naciones ganaron su libertad.

“Las ‘revoluciones de terciopelo’ o ‘coloridas’ son métodos de intercambio de poder en tiempos de descontento social. Las revoluciones coloridas siempre han comenzado durante una elección y los métodos que siguen son:

- “Existe una completa desesperación en la gente cuando tiene la certeza de que perderá la votación.

- “Se elige un color particular, con el único fin de que los medios occidentales identifiquen (para su público o lectores) a los opositores. Mussavi usó el verde como color de campaña y sus partidarios aún utilizan este color en sus pulseras y pañuelos.

- “Se anuncia que con anticipación se arregló la elección y este mensaje se repite sin cesar, lo cual permite que los medios occidentales, sobre todo los estadounidenses, exageren los hechos.

- “Se escriben cartas a funcionarios del gobierno para denunciar un fraude electoral. Es interesante notar que en estos proyectos ‘coloridos’, por ejemplo en Georgia, Ucrania y Kirguistán, los movimientos apoyados por Occidente han advertido del fraude antes de las elecciones en cartas escritas a los gobiernos involucrados. En el Irán islámico estas cartas fueron dirigidas al líder supremo.”

Otro volante cita un estudio –evidentemente hecho por asesores de Jamenei, y muy poco riguroso– que vaticinó que el fraude electoral se denunciaría el mismo día de la elección, que la oposición anunciaría su victoria horas antes de que concluyera el recuento y se difundiera su derrota.

Por ello los resultados electorales tendrán ya desde el principio un contexto de fraude, según el documento.

“En las etapas finales del proceso, los opositores se reúnen frente a las oficinas gubernamentales; llevan banderas coloridas en protesta por el fraude en el conteo. Esta fase de la manifestación –continúa el panfleto– está a cargo de los medios extranjeros, que se alían con el movimiento opositor con el fin de sacar buenas fotografías y engañar a la opinión pública internacional.”

Todo esto demuestra que existe una singular y obsesiva preocupación entre los discípulos del líder supremo ante la popularidad que ha cobrado la campaña poselectoral de Mussavi. La suspensión de todas las comunicaciones móviles y satelitales –lo que en una sociedad tan desarrollada como Irán debe haber costado millones de dólares– no impidió que se convocara a marchas que siempre se celebraron a la misma hora y en el mismo lugar.

Lo que ahora vemos es un régimen que está mucho más preocupado de lo que sugirió el líder supremo cuando el viernes amenazó tan descaradamente a la oposición. Tras haber rechazado cualquier diálogo político con Mussavi y sus correligionarios –unos cuantos recuentos de votos en algunos distritos no tendrán efecto en los resultados–, lo que tenemos es un régimen iraní encabezado por un líder supremo que está asustado y un presidente que habla como un niño. Esta autoridad está ahora a cargo de controlar las batallas en las calles de Irán.

Se trata de un conflicto que necesitará un milagro para resolverse. Uno de esos milagros con los que Jamenei y Ahmadinejad creen que se podrá evitar la violencia.

* De The Independent de Gran Bretaña. Especial para Página/12.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Cañizares considera peor el aborto que los abusos a menores en Irlanda por parte de la Iglesia


Barcelona. (EUROPA PRESS).- El cardenal prefecto de la Congregación por el Culto Divino y la Disciplina de los Sacramentos, Antonio Cañizares, consideró que "no es comparable" el caso de los abusos a menores en escuelas católicas irlandesas entre los años 50 y 80 con el aborto, porque el primero afecta a "unos cuantos colegios" y el segundo supone que "más de 40 millones de seres humanos se han destruido legalmente".

Sobre lo sucedido en Irlanda, dijo que estas conductas son "totalmente condenables" y hay que pedir perdón. En una entrevista a TV3, Cañizares señaló ayer que la reforma de la ley del aborto del Gobierno central tiene como punto de referencia el desconocimiento de la verdad del hombre y de los derechos humanos.

En su opinión, cuando un gobierno pretende legislar con un proyecto como este, está "debilitando los cimientos de una misma sociedad". Remarcó que el Gobierno de José Luis Rodríguez Zapatero pretende llevar a cabo un cambio social y cultural muy grande, "hacer una sociedad y una cultura totalmente nuevas".

En cuanto a las polémicas declaraciones del Papa sobre el uso del preservativo en África para combatir el Sida, compartió las tesis de Benedicto XVI porque, dijo, los preservativos no son la solución a la enfermedad, y consideró que hace falta más educación sobre la sexualidad, el matrimonio y la familia.

La ministra de Sanidad y Política Social, Trinidad Jiménez considera "muy grave" e "irresponsable" relacionar los abusos sexuales a menores con el aborto, como ha hecho el cardenal Antonio Cañizares.

Para la ministra de Sanidad, las declaraciones del cardenal "son absolutamente inadecuadas e inoportunas, porque estamos hablando de asuntos completamente diferentes y es muy grave que se compare una cosa con la otra".

"Los abusos sexuales normalmente se cometen en menores, se cometen contra su voluntad, afectan a una manera terrible a su vida, comparar una situación con otra es irresponsable y completamente inadecuado, sobre todo en una persona que ocupa una posición como la del arzobispo", ha asegurado Jiménez, tras asistir al I Premio Intregra de BBVA.

La Vanguardia

segunda-feira, 11 de maio de 2009

O debate sobre o PIB: "estamos fazendo a conta errada"


Quando o navio petroleiro Exxon Valdez naufragou nas costas do Alaska, foi necessário contratar inúmeras empresas para limpar as costas, o que elevou fortemente o PIB da região. Como pode a destruição ambiental aumentar o PIB? Simplesmente porque o PIB calcula o volume de atividades econômicas, e não se são úteis ou nocivas. Na metodologia atual, a poluição aparece como sendo ótima para a economia, e o IBAMA vai aparecer como o vilão que a impede de avançar. A análise é de Ladislau Dowbor.

Ladislau Dowbor (*), para Carta Maior

"Crescer por crescer, é a filosofia da célula cancerosa" - Banner colocado por estudantes, na entrada de uma conferência sobre economia.

PIB, como todos devem saber, é o produto interno bruto. Para o comum dos mortais que não fazem contas macroeconômicas, trata-se da diferença entre aparecerem novas oportunidades de emprego (PIB em alta) ou ameaças de desemprego (PIB em baixa). Para o governo, é a diferença entre ganhar uma eleição e perdê-la. Para os jornalistas, é uma ótima oportunidade para darem a impressão de entenderem do que se trata. Para os que se preocupam com a destruição do meio-ambiente, é uma causa de desespero. Para o economista que assina o presente artigo, é uma oportunidade para desancar o que é uma contabilidade clamorosamente deformada.

Peguemos o exemplo de uma alternativa contábil, chamada FIB. Trata-se simplesmente um jogo de siglas, Felicidade Interna Bruta. Tem gente que prefere felicidade interna líquida, questão de gosto. O essencial é que inúmeras pessoas no mundo, e técnicos de primeira linha nacional e internacional, estão cansados de ver o comportamento econômico ser calculado sem levar em conta – ou muito parcialmente – os interesses da população e a sustentabilidade ambiental. Como pode-se dizer que a economia vai bem, ainda que o povo va mal? Então a economia serve para quê?

No Brasil a discussão entrou com força recentemente, em particular a partir do cálculo do IDH (Indicadores de Desenvolvimento Humano), que inclui, além do PIB, a avaliação da expectativa de vida (saúde) e do nível da educação. Mais recentemente, foram lançados dois livros básicos, Reconsiderar a riqueza, de Patrick Viveret, e Os novos indicadores de riqueza de Jean-Gadrey e Jany-Catrice. Há inúmeras outras iniciativas em curso, que envolvem desde o Indicadores de Qualidade do Desenvolvimento do IPEA, até os sistemas integrados de indicadores de qualidade de vida nas cidades na linha do Nossa São Paulo. O movimento FIB é mais uma contribuição para a mudança em curso. O essencial para nós, é o fato que estamos refazendo as nossas contas.

As limitações do PIB aparecem facilmente através de exemplos. Um paradoxo levantado por Viveret, por exemplo, é que quando o navio petroleiro Exxon Valdez naufragou nas costas do Alaska, foi necessário contratar inúmeras empresas para limpar as costas, o que elevou fortemente o PIB da região. Como pode a destruição ambiental aumentar o PIB? Simplesmente porque o PIB calcula o volume de atividades econômicas, e não se são úteis ou nocivas. O PIB mede o fluxo dos meios, não o atingimento dos fins. Na metodologia atual, a poluição aparece como sendo ótima para a economia, e o IBAMA vai aparecer como o vilão que a impede de avançar. As pessoas que jogam pneus e fogões velhos no rio Tieté, obrigando o Estado a contratar empresas para o desassoreamento da calha, contribuem para a produtividade do país. Isto é conta?

Mais importante ainda, é o fato do PIB não levar em conta a redução dos estoques de bens naturais do planeta. Quando um país explora o seu petróleo, isto é apresentado como eficiência econômica, pois aumenta o PIB. A expressão “produtores de petróleo” é interessante, pois nunca ninguém conseguiu produzir petróleo: é um estoque de bens naturais, e a sua extração, se der lugar a atividades importantes para a humanidade, é positiva, mas sempre devemos levar em conta que estamos reduzindo o estoque de bens naturais que entregaremos aos nossos filhos. A partir de 2003, por exemplo, não na conta do PIB mas na conta da poupança nacional, o Banco Mundial já não coloca a extração de petróleo como aumento da riqueza de um país, e sim como a sua descapitalização. Isto é elementar, e se uma empresa ou um governo apresentasse a sua contabilidade no fim de ano sem levar em conta a variação de estoques, veria as suas contas rejeitadas. Não levar em conta o consumo de bens não renováveis que estamos dilapidando deforma radicalmente a organização das nossas prioridades. Em termos técnicos, é uma contabilidade grosseiramente errada.

A diferença entre os meios e os fins na contabilidade aprece claramente nas opções de saúde. A Pastoral da Criança, por exemplo, desenvolve um amplo programa de saúde preventiva, atingindo milhões de crianças até 6 anos de idade através de uma rede de cerca de 450 mil voluntárias. São responsáveis, nas regiões onde trabalham, por 50% da redução da mortalidade infantil, e 80% da redução das hospitalizações. Com isto, menos crianças ficam doentes, o que significa que se consome menos medicamentos, que se usa menos serviços hospitalares, e que as famílias vivem mais felizes. Mas o resultado do ponto de vista das contas econômicas é completamente diferente: ao cair o consumo de medicamentos, o uso de ambulâncias, de hospitais e de horas de médicos, reduz-se também o PIB. Mas o objetivo é aumentar o PIB ou melhorar a saúde (e obem-estar) das famílias?

Todos sabemos que a saúde preventiva é muito mais produtiva, em termos de custo-benefício, do que a saúde curativa-hospitalar. Mas se nos colocarmos do ponto de vista de uma empresa com fins lucrativos, que vive de vender medicamentos ou de cobrar diárias nos hospitais, é natural que prevaleça a visão do aumento do PIB, e do aumento do lucro. É a diferença entre os serviços de saúde e a indústria da doença. Na visão privatista, a falta de doentes significa falta de clientes. Nenhuma empresa dos gigantes chamados internacionalmente de “big pharma” investe seriamente em vacinas, e muito menos em vacinas de doenças de pobres. Ver este ângulo do problema é importante, pois nos faz perceber que a discussão não é inocente, e os que clamam pelo progresso identificado com o aumento do PIB querem, na realidade, maior dispêndio de meios, e não melhores resultados. Pois o PIB não mede resultados, mede o fluxo dos meios.

É igualmente importante levar em consideração que o trabalho das 450 mil voluntárias da Pastoral da Criança não é contabilizado como contribuição para o PIB. Para o senso comum, isto parece uma atividade que não é propriamente econômica, como se fosse um bandaid social. Os gestores da Pastoral, no entanto, já aprenderam a corrigir a contabilidade oficial. Contabilizam a redução do gasto com medicamentos, que se traduz em dinheiro economizado na família, e que é liberado para outros gastos. Nesta contabilidade corrigida, o não-gasto aparece como aumento da renda familiar. As noites bem dormidas quando as crianças estão bem representam qualidade de vida, coisa muitíssimo positiva, e que é afinal o objetivo de todos os nossos esforços. O fato da mãe ou do pai não perderem dias de trabalho pela doença dos filhos também ajuda a economia. O Canadá, centrado na saúde pública e preventiva, gasta 3 mil dólares por pessoa em saúde, e está em primeiro lugar no mundo neste plano. Os Estados Unidos, com saúde curativa e dominantemente privada, gastam 6,5 mil, e estão longe atrás em termos de resultados. Mas ostentam orgulhosamente os 16% do PIB gastos em saúde, para mostrar quanto esforço fazem. Estamos medindo meios, esquecendo os resultados. Neste plano, quanto mais ineficientes os meios, maior o PIB.

Uma outra forma de aumentar o PIB é reduzir o acesso a bens gratuitos. Na Riviera de São Lourenço, perto de Santos, as pessoas não têm mais livre acesso à praia, a não ser através de uma séria de enfrentamentos constrangedores. O condomínio contribui muito para o PIB, pois as pessoas têm de gastar bastante para ter acesso ao que antes acessavam gratuitamente. Quando as praias são gratuitas, não aumentam o PIB. Hoje os painéis publicitários nos “oferecem” as maravilhosas praias e ondas da região, como se as tivessem produzido. A busca de se restringir a mobilidade, o espaço livre de passeio, o lazer gratuito oferecido pela natureza, gera o que hoje chamamos de “economia do pedágio”, de empresas que aumentam o PIB ao restringir o acesso aos bens. Temos uma vida mais pobre, e um PIB maior.

Este ponto é particularmente grave no caso do acesso ao conhecimento. Trata-se de uma área onde há excelentes estudos recentes, como A Era do Acesso, de Jeremy Rifkin; The Future of Ideas, de Lawrence Lessig; O imaterial, de André Gorz, ou ainda Wikinomics, de Don Tapscott. Um grupo de pesquisadores da USP Leste, com Pablo Ortellado e outros professores, estudou o acesso dos estudantes aos livros acadêmicos: o volume de livros exigidos é proibitivo para o bolso dos estudantes (80% de famílias de até 5 salários mínimos), 30% dos títulos recomendados estão esgotados. Na era do conhecimento, as nossas universidades de linha de frente trabalham com xerox de capítulos isolados do conjunto da obra, autênticos ovnis científicos, quando o MIT, principal centro de pesquisas dos Estados Unidos, disponibiliza os cursos na íntegra gratuitamente online, no quadro do OpenCourseWare (OCW) (1). Hoje, os copyrights incidem sobre as obras até 90 anos após a morte do autor. E se fala naturalmente em “direitos do autor”, quanto se trata na realidade de direitos das editoras, dos intermediários.

É impressionante investirmos por um lado imensos recursos públicos e privados na educação, e por outro lado empresas tentarem restringir o acesso aos textos. O objetivo, é assegurar lucro das editoras, aumentando o PIB, ou termos melhores resultados na formação, facilitando, e incentivando (em vez de cobrar) o aprendizado? Trata-se, aqui também, da economia do pedágio, de impedir a gratuidade que as novas tecnologias permitem (acesso online), a pretexto de proteger a remuneração dos produtores de conhecimento.

Outra deformação deste tipo de conta é a não contabilização do tempo das pessoas. No nosso ensaio Democracia Econômica, inserimos um capítulo “Economia do Tempo”. Está disponível online, e gratuitamente. O essencial, é que o tempo é por excelência o nosso recurso não renovável. Quando uma empresa nos obriga a esperarmos na fila, faz um cálculo: a fila é custo do cliente, não se pode abusar demais. Mas o funcionário é custo da empresa, e portanto vale a pena abusar um pouco. Isto se chama externalização de custos. Imaginemos que o valor do tempo livre da população econômicamente ativa seja fixado em 5 reais. Ainda que a produção de automóveis represente um aumento do PIB, as horas perdidas no trânsito pelo encalacramento do trânsito poderiam ser contabilizadas, para os 5 milhões de pessoas que se deslocam diariamente para o trabalho em São Paulo, em 25 milhões de reais, isto calculando modestos 60 minutos por dia. A partir desta conta, passamos a olhar de outra forma a viabilidade econômica da construção de metrô e de outras infraestruturas de transporte coletivo. E são perdas que permitem equilibrar as opções pelo transporte individual: produzir carros realmente aumenta o PIB, mas é uma opção que só é válida enquanto apenas minorias têm acesso ao automóvel. Hoje São Paulo anda em primeira e segunda, gastando com o carro, com a gazolina, com o seguro, com as doenças respiratórias, com o tempo perdido. Os quatro primeiros itens aumentam o PIB. O último, o tempo perdido, não é contabilizado. Aumenta o PIB, reduz-se a mobilidade. Mas o carro afinal era para quê?

Alternativas? Sem dúvida, e estão surgindo rapidamente. Não haverá o simples abandono do PIB, e sim a compreensão de que mede apenas um aspecto, muito limitado, que é o fluxo de uso de meios produtivos. Mede, de certa forma, a velocidade da máquina. Não mede para onde vamos, só nos diz que estamos indo depressa, ou devagar. Não responde aos problemas essenciais que queremos acompanhar: estamos produzindo o quê, com que custos, com que prejuizos (ou vantagens) ambientais, e para quem? Aumentarmos a velocidade sem saber para onde vamos não faz sentido. Contas incompletas são contas erradas.

Como trabalhar as alternativas? Há os livros mencionados acima, o meu preferido é o de Jean Gadrey, foi editado pelo Senac. E pode ser utilizado um estudo meu sobre o tema, intitulado Informação para a Cidadania e o Desenvolvimento Sustentável. Porque não haverá cidadania sem uma informação adequada. O PIB, tão indecentemente exibido na mídia, e nas doutas previsões dos consultores, merece ser colocado no seu papel de ator coadjuvante. O objetivo é vivermos melhor. A economia é apenas um meio. É o nosso avanço para uma vida melhor que deve ser medido.

* Ladislau Dowbor é doutor em Ciências Econômicas pela Escola Central de Planejamento e Estatística de Varsóvia, professor titular da PUC de São Paulo e consultor de diversas agências das Nações Unidas. É autor de “Democracia Econômica”, “A Reprodução Social: propostas para uma gestão descentralizada”, “O Mosaico Partido: a economia além das equações”, “Tecnologias do Conhecimento: os Desafios da Educação”, todos pela editora Vozes, além de “O que Acontece com o Trabalho?” (Ed. Senac) e co-organizador da coletânea “Economia Social no Brasil“ (ed. Senac) Seus numerosos trabalhos sobre planejamento econômico e social, inclusive o artigo Informação para a Cidadania mencionado acima, estão disponíveis no site http://dowbor.org – Contato: ladislau@dowbor.org

(1) O material do MIT pode ser acessado no site www.ocw.mit.edu; Em vez de tentar impedir a aplicação de novas tecnologias, como aliás é o caso das empresas de celular que lutam contra o wi-fi urbano e a comunicação quase gratuita via skype, as empresas devem pensar em se reconverter, e prestar serviços úteis ao mercado. A IBM ganhava dinheiro vendendo computadores, e quando este mercado se democratizou com o barateamento dos computadores pessoais migrou para a venda de softwares. Estes hoje devem se tornar gratuitos (a própria IBM optou pelo Linux), e a empresa passou a se viabilizar prestando serviços de apoio informático. Travar o acesso aumenta o PIB, mas empobrece a sociedade.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Dom Dadeus polemiza com judeus


CORREIO DO POVO
PORTO ALEGRE, SEXTA-FEIRA, 27 DE MARÇO DE 2009

A declaração do arcebispo metropolitano, dom Dadeus Grings, de que 'morreram mais católicos do que judeus no Holocausto', provocou reação da comunidade judaica no Estado. Por meio de nota, o presidente da Federação Israelita do RS, Henry Chmelnitsky, lamentou as afirmações do arcebispo. 'Reduzir ou relativizar o Holocausto agride a memória de milhões de mortos numa guerra iniciada pelo fanatismo e pela intolerância', diz a nota.
A entrevista com o arcebispo foi publicada na edição da revista Press, que começou a circular nesta semana. Na reportagem, o líder da Igreja Católica foi além. 'Os judeus falam em 6 milhões de mortos. O nazismo matou 22 milhões de pessoas. Eles se dizem as maiores vítimas do Holocausto. Mas as maiores vítimas foram os ciganos. Foram exterminados. Isso eles não falam. Os judeus têm a propaganda do mundo', declarou à revista.
Para Chmelnitsky, as afirmações agridem não somente os judeus, mas também homossexuais e tantos outros. 'Esperamos que dom Dadeus reflita suas declarações. Ele é um homem de fé e paz', diz a nota.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Agências que atuam em Gaza protestam contra a BBC

Sede da BBC (Londres):

Fonte: BBC
Um grupo que reúne entidades de direitos humanos e ONGs britânicas protestou neste sábado contra uma decisão da BBC de não transmitir um apelo para ajudar os palestinos na Faixa de Gaza.

O protesto reuniu cerca de 200 pessoas em frente ao prédio da Broadcasting House, no centro de Londres.

A BBC alega que a transmissão do apelo do Comitê de Desastres Emergenciais (DEC, na sigla em inglês), uma coalizão de 13 agências humanitárias, comprometeria a imparcialidade de sua cobertura do conflito entre palestinos e israelenses.

Segundo o diretor-geral da organização, Mark Thompson, a divulgação do apelo nos canais de rádio e televisão poderia ameaçar a confiança do público na imparcialidade da BBC.

Crítica

A decisão foi criticada pelas entidades do DEC e pelo governo britânico.

Segundo o secretário britânico do Desenvolvimento Internacional, Douglas Alexander, o público sabe distinguir o apoio à ajuda humanitária de uma cobertura parcial sobre o conflito.

Ele pediu a todas as empresas de comunicação para que considerem “o grande sofrimento humano que ainda ocorre em Gaza” na hora de decidir sobre a transmissão do apelo.

O ministro da Saúde britânico, Ben Bradshaw, que já trabalhou como jornalista na BBC, também criticou a decisão da BBC. Segundo ele, a decisão é “inexplicável” e as razões dadas pela direção da empresa seriam “muito fracas”.

Durante o protesto, o político britânico Tony Benn disse que a decisão “trai as obrigações que a BBC deve como um serviço público”.

Outras emissoras britânicas, como a ITV e a Sky haviam concordado em não exibir o apelo.

Depois dos protestos, no entanto, a ITV, o Channel Four e o Five, optaram por transmitir a campanha.

A Sky afirmou que ainda está analisando o pedido da DEC.

Imparcialidade

A chefe de operações da BBC, Caroline Thomson, disse que a empresa é sempre muito cuidadosa ao decidir sobre a transmissão de apelos como esse.

“Temos que ter certeza de duas coisas quando decidimos exibir os apelos: primeiro, que o dinheiro será repassado para as pessoas que precisam. Segundo, que podemos transmitir dentro de nossos princípios editoriais e sem afetar a percepção do público sobre a nossa imparcialidade”, disse Thomson.

Ela afirmou ainda que, em conflitos controversos como a recente crise em Gaza, a imparcialidade é uma grande questão para a BBC.

O presidente da Iniciativa Muçulmana Britânica, Mohammed Sawalha, disse que a BBC deveria se “envergonhar da cobertura sobre a agressão de Israel”.

Segundo ele, a empresa fracassou em mostrar o sofrimento do lado palestino e agora estaria preocupada com a imparcialidade.

“A BBC não foi imparcial ao longo da crise”, disse ele.

COMENTÁRIO REDUNDANTE DO OMAR: A publicação dessa notícia no próprio sítio da BBC deixa margem a algumas interpretações. Uma delas é de que parece haver uma disputa a respeito de sua linha editorial.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Un desempate bien argentino


Cuando Boca, San Lorenzo y Tigre ganaron su último partido del campeonato, muchos pensamos en lo excitante que podía resultar la definición del campeonato Apertura. Luego de cuatro décadas, el fútbol doméstico volvía a tener la chance de jugar verdaderas finales en las cuales los tres equipos que quedaron en la cima se enfrentarían para definir al campeón.

Sin embargo en la Argentina somos especialistas en complejizar lo sencillo y en ponerle palos a la rueda, pero si encima todo deviene de un ambiente tan cuestionado por su olor nauseabundo como es el de la AFA , mucho peor.

Si existían altas probabilidades de que hubiera definición con partidos desempate, la pregunta surge por sí sola a la luz de varias decisiones: ¿por qué se hizo todo tan mal? ¿Por qué tantas desprolijidades y tanto misterio?

Para empezar el sorteo fue innecesario. Se sabe que si un título debe dirimirse entre tres equipos, el sentido común marca que el perdedor del primer partido automáticamente queda determinado para jugar el segundo y así darle valor al último encuentro. En un ataque de transparencia aún sabiendo que existía la posibilidad de desvirtuar la definición, los dirigentes optaron por el azar de las bolillas, pero como nada puede ser totalmente cristalino, en vez de hacer un sorteo público para que toda la prensa pudiera certificar lo hecho, lo hicieron en absoluto misterio y hermética confidencialidad.

Como alguna vez dijo el general "los hombres son buenos pero si se los controla son mejores".La idea de ser y parecer no tiene arraigo en los pasillos de la calle Viamonte y entonces todo se hizo a medias. Innecesario.

Por otra parte los posibles escenarios de los encuentros también pasaron a ser un tópico de conversación. Que River es imposible por sus recitales y su pésimo campo de juego (¿se acuerdan cuando el Monumental era un estadio modelo para todos?), que en La Plata es complicado por el traslado de las hinchadas, que en Vélez si se puede pero solo si San Lorenzo no está en condiciones de dar la vuelta debido a su rivalidad con la gente de Liniers. Conclusión: un partido en la Capital Federal en Liniers y otros dos en Avellaneda en la cancha de Racing. Otro cambalache.

Un nuevo motivo de conflicto fue la fecha de los partidos. San Lorenzo enfrentó a Tigre el miércoles y vuelve a jugar setenta y dos horas más tarde ante Boca. Es verdad que así estaba predeterminado, pero lo más equitativo hubiera sido que antes de comenzar el triangular final todos tuvieran una semana de descanso y no solamente un equipo. Ya se sabe que la previsión no es un elemento que destaca a los dirigentes del fútbol argentino y entonces todo tiene que ser comprimido y rápido para terminar antes de las fiestas. Un bochorno.

Hay más. La entradas no se quisieron quedar afuera de tamaño desconcierto y pidieron protagonismo. A las distintas parcialidades se les entregó y entregará una ínfima parte de la capacidad total que tienen los estadios en donde se juegan los partidos. Daba pena ver casi medio estadio de Vélez vacío como consecuencia de la limitación del expendio de localidades. Justo para los tramos decisivos del campeonato muchísimos hinchas tiene que quedarse afuera. Insólito.

Pero queda la perla final. El sábado San Lorenzo irá por el título luego de su triunfo ante Tigre. Polémicas al margen por penales no cobrados y expulsiones decretadas, se supone que la victoria le dio al Ciclón muchas chances de vuelta olímpica. Sin embargo solo los tres puntos le garantizarán al equipo de Russo el título y lo que es más increíble, preste mucha atención, a Boca un empate lo favorece más que una victoria, ya que en caso de igualdad automáticamente Tigre quedará eliminado y jugará su último partido sin posibilidad alguna mientras que una imposición xeneize todavía le dejará una luz de esperanza al conjunto de Cagna. Sí, leyó bien. ¡A Boca por la suma de los puntos lo beneficia más empatar que ganar el partido! Absurdo.

Como queda claro, la improvisación es ley en el fútbol argentino y todo siempre queda supeditado a la decisión final de su emperador. Las elecciones en Newell´s finalizando la tiranía y cerrándole todas las puertitas al señor López y la aplastante derrota de la oposición en Independiente sostenida desde el corralón de Sarandí, nos dieron una pequeña brisa de aire fresco como para creer en algo distinto. Tal vez el año próximo traiga nuevos vientos, aunque más que esperanzador el deseo suena utópico. Papa Noel sabe que todo pasa, pero lo suyo son los regalos y no los milagros. El tipo está demasiado ocupado y lamentablemente no es fanático del futbol.

Román Iucht, para La Nacion

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

"Por que o Brasil compra armas?", questiona Hans Blix


Hans Blix, ex-inspetor de armas da ONU, prevê em entrevista à DW-WORLD.DE um "fantástico desenvolvimento econômico" para o Brasil e critica a linha armamentista do governo brasileiro.

DW-WORLD.DE: Nos últimos anos, os gastos com a compra de armas em todo o mundo duplicaram. A luta contra o terrorismo explica tal aumento? É uma estratégia correta combater o terrorismo com bombas e tanques?

Hans Blix: Certamente não. Você não combate o terrorismo com aeronaves de guerra ou armas nucleares. É preciso tratar da questão a partir de uma cooperação entre forças policiais e serviço de inteligência. Você não precisa de um grande programa militar para isso. É preciso reconhecer que o complexo militar industrial nos EUA é muito forte. Já o ex-presidente norte-americano Eisenhower alertava para o fato de que eles estavam interessados em construir máquinas de destruição.

Espero que a opinião pública norte-americana e os contribuintes se cansem disso. A administração Bush viveu muito bem às custas do 11 de setembro. Houve uma reação tremenda aos atentados, mas esse temor e afã por ser cada vez mais forte conduz a um tremendo desperdício. Acho que todo o mundo está contra o terrorismo. Ou seja, não vai haver nenhuma dificuldade em estabelecer uma cooperação com os russos ou com os chineses neste sentido.

Como resultado da crise financeira internacional, especialistas norte-americanos alertam para o perigo de que haverá uma expansão armamentista no Oriente Médio, bem como guerras por recursos naturais básicos como a água. O senhor concorda com essa previsão?

Não de fato. É verdade que a escassez de recursos naturais, a competição global pelo petróleo e a competição regional pela água podem, certamente, acentuar o conflito e levar a controvérsias. Apesar disso, podemos ver que o Oriente Médio, onde há petróleo e gás natural, tem sido uma das áreas mais explosivas do mundo. Podemos ver a competição pela Ásia Central, uma região onde há petróle e gás e pela qual os EUA nutrem interesses militares. No entanto, sou um pouco cético em relação à possibilidade de que a luta pelo acesso ao petróleo leve realmente a conflitos armados.

É claro que os EUA têm tropas estacionadas na Arábia Saudita, eles têm muitas tropas no Oriente Médio e querem manter também tropas no Iraque. Mas enfrentarão um conflito armado, digamos, com a Índia ou com a China no Oriente Médio? Duvido. Acho que essa competição vai ser resolvida através do mercado. Através da demanda, quando a Índia e a China estiverem querendo pagar mais pelo petróleo e os norte-americanos tiverem também que pagar mais pelo petróleo no Oriente Médio. Duvido de que seja plausível um confronto militar na região.

Os EUA irão decair como potência mundial? Quais conseqüências e riscos poderão surgir daí?

Há um estudo da CIA que prevê que o poder econômico e a influência dos EUA irão diminuir em relação a emergentes como a China e a Índia, mas eles também prevêem que os EUA continuarão sendo, de forma absoluta, a potência militar suprema no mundo. E é possivel que assim seja, se quiserem pagar por isso. A questão é se isso lhes terá utilidade.

Creio que a competência pelo petróleo poderá mais provavelmente se traduzir em uma guerra de preços do que de armas. Há pessoas que dizem que sou ingênuo ao pensar assim, mas não vejo nenhuma situação na qual poderia haver um enfrentamento militar entre os EUA e a China.

Haverá um mundo multipolar, em que outros países emergentes como o Brasil, a Índia, o México e a Rússia, e talvez a Venezuela e outros países menores, também terão voz e poderáo exercer influência em conflitos como o que existe entre o Irã e os EUA?

Haverá mais multipolarização. Já há no momento. E certamente países como o Brasil estão a caminho de se converter em algo grande. Mas isso vai levar um certo tempo e, mesmo nesse mundo, você poderá indentificar os pesos pesados. Se você olha para a União Européia agora, quem está negociando com o Irã? O Reino Unido, a França e a Alemanha. Fora da UE, há norte-americanos, russos e um pouco a China, mas não são os pequenos.

O senhor mencionou o Brasil, um país que vem comprando armas nos últimos anos. Como o senhor vê essa situação?

Admiro o Brasil por sua vitalidade. Acho que os brasileiros vão ter um desenvolvimento econômico fantástico, mas tenho minhas dúvidas a respeito da utilidade de qualquer armamento para o país. Eles estão discutindo a respeito de um submarino nuclear. É um custo tremendo, o país poderia usar o dinheiro para algo melhor.

Muitos desses países estão agora comprando aviões de guerra por preços exorbitantes. Não vejo sentido nisso. Quem vai atacar o Brasil?

Eva Usi, para Deutsche Welle

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Previsões sobre mudanças climáticas são imprecisas


Um grupo de cientistas suíços e britânicos comparou estudos sobre as mudanças climáticas. Quase todos os pesquisados dão a culpa ao CO2, mas não há consenso quanto ao aumento exato da temperatura no futuro.

"Os trabalhos dos últimos dez anos fizeram muitas revelações fascinantes sobre nosso sistema climático, mas não fornecem qualquer certeza sobre o aquecimento máximo no longo prazo", conclui o estudo.

Para os líderes políticos e econômicos, a síntese publicada recentemente na versão eletrônica do Journal Nature Geoscience pode servir de orientação para os próximos passos.

Os professores Reto Knutti, do Instituto de Estudos da Atmosfera e do Clima da Escola Politécnica Federal de Zurique (ETH), e Gabriele Hegerl, da Faculdade de Geociências de Edinburgh (Escócia) compararam modelos climáticos e resultados de pesquisas dos últimos cem anos.

A comparação mostra que a maioria dos cientistas prevê que a temperatura média global pode aumentar entre 2 °C e 4,5 °C, se a concentração de CO2 na atmosfera se duplicar, o que poderá acontecer até o final do século.

As previsões sobre o aumento máximo da temperatura, no entanto, são bem divergentes. Alguns estimam que a atmosfera terrestre possa sofrer um aquecimento de até 10 °C.

Ainda que esta probabilidade seja mínima, as conseqüências seriam catastróficas, diz Knutti à swissinfo. "Uma catástrofe é improvável, mas essa situação é interessante porque levanta a questão sobre como se deve lidar com um risco improvável, mas extremamente perigoso."

Segundo Knutti, "nós reprimimos essa questão no cotidiano, mas devemos estar preparados para um acontecimento desses. Afinal, também pagamos seguros para o caso improvável de que algo aconteça".

Sensitividade climática

Para prever mudanças num futuro remoto, a equipe examinou a assim chamada sensitividade climática, o efeito do CO2 sobre o sistema climático.

Segundo Knutti, as primeiras estimativas foram feitas há mais de 100 anos. Em antigos estudos sobre a constituição da molécula de CO2, os pesquisadores descobriram que ela tem influência sobre a incidência dos raios solares. Eles calcularam um aumento de temperatura de 5 °C.

Knutti e Hegerl constataram que a maioria dos 100 estudos por eles analisados foram realizados nos últimos 30 anos.

"Diferentes pessoas seguiram caminhos diversos para calcular a vulnerabilidade com que o clima reage a mudanças do teor do CO2. Nós fizemos um resumo disso", explica Kutti.

"O quadro que constatamos é bastante equilibrado e preciso. De fato, o que nós sabemos não promete coisa boa", adverte. O estudo sucede o quarto relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), de 2007, que analisou principalmente a pesquisa sobre mudanças climáticas e aponta tendências.

Os atuais aumentos de temperatura de 0,2 °C por década devem continuar nos próximos 20 anos. Deverá chover mais no inverno em regiões de altas latitudes e menos nas regiões subtropicais.

Oscilações extremas da meteorologia, com ondas de calor, períodos de seca e enchente devem se tornar mais freqüentes. O nível do mar aumentará até 3 mm por ano, o gelo antártico e a neve eterna continuarão derretendo.

"O que acontecerá no curto prazo é relativamente bem conhecido. A evolução no longo prazo é mais incerta. Nem daqui a dez anos teremos certeza sobre isso", dizem os autores.

Não há desculpa

A equipe concluiu que suas descobertas oferecem uma base objetiva para discussões e para a definição dos rumos de políticas governamentais para o meio-ambiente.

"O que devemos fazer? Como devemos tomar decisões na política ambiental? Penso que essa é a parte mais interessante do estudo", diz Knutti.

Ele ressaltou que a comunidade internacional precisa tomar medidas urgentes e não esperar durante anos até que os pesquisadores cheguem a um consenso sobre os efeitos das mudanças climáticas.

"O CO2 tem vida longa. Uma vez presente na atmosfera, ele permanece por muito tempo. Se quisermos aprovar a redução do CO2 a um determinado nível, devemos fazê-lo rapidamente", diz.

"Precisamos atingir uma redução de 80% do CO2 até o final do século. Se não conseguirmos isso, um aquecimento de aproximadamente 2 °C será inevitável. A incerteza não deve servir de descupa para não tomar uma decisão. "

swissinfo, Jessica Dacey

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Gilmar Mendes, quem são os terroristas?


Ao afirmar que “terrorismo também é crime imprescritível”, em alusão aos que participaram da luta armada contra o regime de 64, o ministro demonstrou que segue a semântica da ditadura militar. Um olhar menos indulgente sobre a ditadura lhe permitiria ver um regime que tinha como metodologia o terrorismo de Estado.

Gilson Caroni Filho, para Agência Carta Maior

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, tem se notabilizado por um sentimento de urgência no que julga ser seu principal papel como magistrado: dar sustentação jurídica às teses da oposição parlamentar e seu braço midiático no combate ao governo Lula. Mas o faz de forma tão atabalhoada que constrange até mesmo os “bons companheiros”.

Mendes tem sido alvo de crítica até de contumazes articulistas da grande imprensa, uma vez que o primarismo de suas manifestações desnuda, e expõe ao ridículo, uma estratégia traçada para se manter ativa até 2010. Não foi por outro motivo que o jornalista Elio Gaspari, conhecido pelo antipetismo raivoso, escreveu em sua coluna, na Folha de São Paulo, do último domingo:

“O ministro Gilmar Mendes, presidente do STF, precisa decidir qual é seu lugar no estádio. Ele pode ficar na tribuna de honra, de toga, lendo votos capazes de servir de lição. Pode também vestir as camisas dos times de sua preferência, indo disputar a bola no gramado. Não pode fazer as duas coisas”.

O alerta de Gaspari se respalda na experiência de quem conhece o jogo e tem noção mais acurada do "timing" exigido. Sabe que um juiz que emite prejulgamentos sobre processo em que terá que se manifestar oficialmente se expõe à perda de legitimidade. A judicialização da política guarda similitudes profundas com o noticiário editorializado. E a afinidade de dois campos distintos, quando se torna muito evidente, produz estragos consideráveis para os objetivos das forças conservadoras.

Ao afirmar que “terrorismo também é crime imprescritível”, em alusão aos que participaram da luta armada contra o regime de 64, o ministro demonstrou que segue a semântica da ditadura militar que recomendou aos jornais da grande imprensa a classificação de “terroristas” a todas as ações armadas praticadas por guerrilheiros. Em questão, além da isenção do presidente do Supremo, está seu embasamento conceitual sobre terrorismo.

Diante da confusão, é preciso discutir o que se entende como terror. Afinal, a resistência armada contra a opressão é admitida até pela Carta de Direitos Humanos da ONU. Qual a diferença disso em relação a atos terroristas tal como são definidos pelo direito internacional?

Como indagou o jornalista Cid Benjamim, em artigo publicado em 2001, no Jornal do Brasil, ”teria sido Marighella um terrorista, tal como os autores dos atentados nos Estados Unidos? Teria sido Lamarca um terrorista? E os sandinistas, que derrubaram a ditadura de Somoza? Estadistas hoje respeitados, que lideraram revoluções armadas – como Fidel Castro, por exemplo – foram também terroristas? E os combatentes da Resistência Francesa, também eram eles terroristas?”

Seria interessante o presidente da mais alta corte do país ser apresentado aos protocolos das convenções de Genebra, onde não se confunde terrorismo com direito à resistência, pois neste "não se verifica a intenção de intimidação da sociedade, mesmo porque o que se pretende com o exercício de tal prerrogativa é exatamente o maior apoio possível da maioria da sociedade em favor da causa patrocinada”.

Um olhar menos indulgente sobre a ditadura de 1964 lhe permitiria ver um regime que tinha como metodologia o terrorismo de Estado. Altos comandantes militares fortaleciam e protegiam da vista da opinião pública e da precária justiça existente - com represálias e censuras - os centros de torturas e seus protagonistas mais conhecidos, como o falecido delegado Sérgio Fleury.

Com o governo Médici, o aparato repressivo chegou ao auge com a criação da Operação Bandeirantes. Ler sobre o caso Parasar, capitaneado pelo brigadeiro João Paulo Burnier, para que o serviço de salvamento da FAB entrasse na repressão política, matando ou jogando no alto-mar os corpos dos opositores políticos, talvez servisse como bom exercício de reflexão para Gilmar Mendes. Quem sabe contextualizando a tortura, o ministro não se dê conta de que anistiar quem a praticou seja defender o real terrorismo? É isso que a sociedade espera do judiciário brasileiro? Que se torne uma instituição típica de países conhecidos pela violação de direitos humanos?

Talvez seja o caso de recomendar ao ministro a leitura de “Eros e Civilização”. Nele, Herbert Marcuse afirma categoricamente:

“Esquecer é também perdoar o que não seria perdoado se a justiça e a liberdade prevalecessem. Esse perdão reproduz as condições que reproduzem injustiça e escravidão: esquecer o sofrimento passado é perdoar as forças que o causaram - sem derrotar essas forças”.

É disso que se trata. Ou acertamos nossas contas com o passado - e desse acerto reunimos condições para avançar - ou ficamos refém de um simulacro de democracia.

Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Observatório da Imprensa.