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quinta-feira, 7 de março de 2019
É chata, a vida de madame
Ainda falta muito para o Brasil se livrar da herança da escravidão. A vida de madame não tem futuro. Só que muitas mulheres da classe média e da chamada alta sociedade ainda não se deram conta, escreve Astrid Prange.
Caros Brasileiros,
Será que "a grande ilusão do Carnaval" é uma ilusão? Será que não são o rei e a jardineira fantasiados que vivem uma ilusão, mas sim, pelo contrário, o público que os aplaude? Na música A felicidade, de Tom Jobim, tudo se acaba na Quarta-feira de Cinzas.
Mas, na verdade, não acaba mais não. Faz 60 anos que Tom Jobim compôs essa música maravilhosa. Em 1958, era "normal" que o rei ou a jardineira voltassem a trabalhar para um salário mínimo depois da folia, ficando quietinhos até o próximo Carnaval.
Graças à luta de muitas "jardineiras e piratas", essa "normalidade" esta acabando. Pois os filhos e netos dos "piratas e jardineiras" hoje finalmente têm mais direitos, opções profissionais e mais peso político. O Brasil da Casa grande e senzala que Gilberto Freyre descreveu mudou.
Inclino-me perante guerreiras como Odete Conceição ou Nair Jane, "relíquias" do sindicato das domésticas, que lutaram para coisas tão básicas como o direito de ter uma certidão de nascimento. Pois, sem documento, muitas empregadas domésticas não "existiam" e, consequentemente, também não tinham direito à aposentaria, mesmo depois de décadas de trabalho.
Ainda falta muito para se livrar dessa herança cultural da escravidão. Mas não tem mais volta. Nem a eleição de Bolsonaro vai mudar isso. A vida de madame não tem futuro. Só que, no Brasil, muitas mulheres da classe média e da chamada alta sociedade ainda não se deram conta disso.
Cada vez que converso com brasileiros que se mudam para a Alemanha, me lembro desses contratempos e das eternas queixas sobre empregadas que não "trabalham direito". E são muitos os brasileiros vieram para a Europa e a Alemanha, especialmente depois da última eleição.
Não é só ativista político que se sente perseguido porque luta por diretos de minorias ou direitos sociais. É muita gente que foge do clima pesado, do pessimismo, da violência e da falta de perspectivas. Inclusive os eleitores de Bolsonaro.
Independentemente dos motivos da emigração, muitos brasileiros que chegam à Alemanha se deparam aqui com uma vida de "pirata e jardineira": sobrevivem sem arrumadeira, passadeira, cozinheira, faxineira, babá, porteiro ou motorista. Encontram "piratas e jardineiras" do morro que trabalhem por aqui e se viram muito melhor do que eles.
Confesso que já presenciei cenas incríveis. Macarrão grudado e tão duro que precisava de uma faca para cortar; blusa branca que virou cor-de-rosa e azul, pois rodou junto com calça jeans na máquina de lavar roupa; e roupa de cama que nunca foi trocada.
Pergunto-me: quanto tempo ainda vai durar a ilusão brasileira de Carnaval? Quanto tempo ainda vai demorar até que grande parte da classe média brasileira se emancipe da herança da escravatura?
Admito que muita gente poderia argumentar que essa crítica minha é hipócrita. Eu mesma já me questionei. Pois, quando vivia no Brasil, também tinha a mordomia de ter uma babá para as minhas filhas. No início, me senti constrangida, mas depois fiz as pazes e tentei devolver o apoio que dela recebi.
Hoje, estou cada vez mais convencida de que a ilusão do Carnaval não é uma ilusão. É a realidade que define o dia a dia no Brasil. Só falta que o reconhecimento no Sambódromo seja estendido para os foliões do morro nos outros 360 dias do ano também.
Já em 1956 se cantava: "Pra que discutir com madame?" Quando eu era chamada de 'madame' no Brasil, me sentia ofendida. Sentia um gostinho da vingança. Percebi que levava uma vida de "madame”, mesmo sem querer. Acabou. E não sinto falta. É chata, a vida de madame.
Astrid Prange de Oliveira foi para o Rio de Janeiro solteira. De lá, escreveu por oito anos para o diário taz de Berlim e outros jornais e rádios. Voltou à Alemanha com uma família carioca e, por isso, considera o Rio sua segunda casa. Hoje ela escreve sobre o Brasil e a América Latina para a Deutsche Welle. Siga a jornalista no Twitter @aposylt e no astridprange.de.
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A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
Fonte da Imagem: http://keepwobblin.com/wp-content/uploads/2018/01/Nude_Gust_Online_1500.jpg
quinta-feira, 16 de agosto de 2018
Terra tem ainda vários anos quentes pela frente
O consolo para muitos europeus desesperados com o calor
é que 2018 seria um fenômeno isolado. Com um novo método, cientistas
abalam essa esperança: talvez seja hora de comprar um condicionador de
ar.
Deutsche Welle
Florian Sévellec, da Universidade de Brest, na França, e Sybren Drijfhout, do Instituto Meteorológico Real Neerlandês, em De Bilt, desenvolveram um modelo estatístico para prever as temperaturas globais médias no futuro próximo. Seus cálculos apontam 58% de probabilidade de os anos 2018 a 2022 serem mais quentes do que as tendências atuais. O estudo foi publicado nesta terça-feira (14/08) na revista especializada Nature Communications.
Mas "um ano quente não significa automaticamente uma onda de calor", esclareceu Sévellec à DW, portanto não é isso o que ele e seu colega estão prevendo. A previsão simplesmente fornece temperaturas globais médias, não valores regionais específicos. "Mas, no total, é mais alta a probabilidade de ficar mais quente do que mais frio."
A partir de 2022, as previsões se tornam menos confiáveis, pois o modelo não funciona bem para o futuro mais distante. Além disso, "o aquecimento terrestre não é um processo regular", lembram os pesquisadores. Apesar de os diagramas térmicos mostrarem que no longo prazo Terra se aquece, podem se intercalar anos frios, em que a temperatura média caia abaixo da tendência prevista.
O motivo para tal é o caráter caótico do clima terrestre, onde oscilações naturais estão sempre surpreendendo os climatologistas. Essa variabilidade é também responsável pela pausa no aquecimento global após 1998. Nesse período, as temperaturas globais se alteraram relativamente pouco, dando a impressão que o aquecimento estagnara – o que os céticos da mudança climática adotaram como emblema. Só em 2012 a tendência ascendente foi retomada.
O sistema de previsão agora apresentado visa registrar tais oscilações naturais e calcular quão provável é que os próximos anos sejam mais quentes ou mais frios do que se espera. É semelhante às previsões de chuva, que nunca são precisas, mas apenas um cálculo de probabilidade.
Mas, como se sabe, previsões de chuva podem se enganar estrondosamente. E quanto aos cálculos dos climatologistas? É realmente necessário investir num novo sistema de ar condicionado? Ou será melhor esperar? Isso, só se saberá no fim de 2018, ao se comparar os dados climáticos efetivos com os previstos por Sévellec e Drijfhout.
No entanto, estimativas de outros cientistas também confirmam que o planeta tem anos quentes pela frente. "Não é nenhum resultado novo", afirma Wolfgang Müller, do Instituto Max Planck de Meteorologia, em Hamburgo. E Gerhard Lux, assessor de imprensa do Serviço Alemão de Meteorologia reforça: "Faz 10 a 15 anos estamos repetindo que os períodos secos e quentes aumentarão."
Uma iniciativa de pesquisa de âmbito nacional para prognósticos climáticos de médio prazo, denominada Miklip, obteve resultados semelhantes: seu modelo climático indica uma elevação contínua da temperatura, de 2019 a, pelo menos, 2026.
A novidade do estudo recém-publicado, contudo, não são os resultados em si, mas sim o método como foram calculados, usando modelos estatísticos, uma abordagem que vem se tornando cada vem mais importante no estudo do clima.
Para fazer uma previsão, os modelos climáticos globais levam em consideração todas as características do clima terrestre pesquisadas até então. No novo método analisam-se principalmente dados passados para medir a probabilidade de que um determinado fenômeno – por exemplo, períodos de tempo quente – vá ocorrer no futuro.
"Modelos estatísticos se compõem de algoritmos simples, os quais investigam correlações simples", explica Wolfgang Müller. E o que torna essa forma de previsão especialmente atrativa é o fato de ela exigir capacidades de computação modestas.
"Uma previsão para dez anos só precisa de 22 milissegundos, podendo ser feita de modo praticamente imediato num laptop", anunciam Sévellec e Drijfhout em seu estudo. Em comparação, no sistema empregado pelo MetOffice (o serviço nacional de meteorologia do Reino Unido), a mesma previsão exige uma semana num supercomputador.
Também o Serviço Alemão de Meteorologia já opera em parte com um modelo estatístico, revela o assessor Lux, "e isso promete se tornar interessante".
Entretanto o novo modelo da dupla franco-holandesa não leva em consideração eventos regionais nem locais, sendo assim incapaz de produzir previsões para determinadas áreas. "Digamos que fique de fato mais quente, como previmos", explica Sévellec, "nós não sabemos se vai ocorrer na Europa, na África ou em outra parte. O modelo não inclui padrões regionais."
Para Müller, essa é uma grande desvantagem. "Temperaturas médias globais talvez tenham alguma utilidade para as companhias de resseguro", mas as previsões regionais é que são realmente importantes, por exemplo para tomar medidas preventivas na agricultura.
Nesse ponto, a iniciativa Miklip tem respostas bem mais diferenciadas: seus cálculos apontam que a Europa e partes da Ásia e da América do Norte são especialmente atingidas pelas temperaturas altas.
Portanto, quem está pensando em adquirir um condicionador de ar deve primeiro conferir as previsões regionais. Pois, como lembra o cientista Florian Sévellec, "pode ficar muito quente numa parte do mundo, mas ainda relativamente frio numa outra".
domingo, 16 de julho de 2017
AQUECIMENTO GLOBAL
Um dos maiores icebergs da história se desprende de plataforma na Antártida
Bloco de gelo de 5,8 mil quilômetros quadrados se
desprende do segmento Larsen C, alterando mapa do continente gelado.
Cientistas dizem que não haverá impacto no nível do mar, mas alertam
para riscos de longo prazo.
Cientistas que há anos vinham observando a crescente rachadura na plataforma Larsen C anunciaram nesta quarta-feira (12/07) que o iceberg de trilhões de toneladas finalmente se rompeu nos últimos dois dias e está agora à deriva no Mar de Weddell.
Entrevista: "Rompimento pode ter efeitos terríveis"
A ruptura acabou acontecendo mais rápido do que se esperava. Depois de avanços lentos ao longo de anos, a rachadura se prolongou por 17 quilômetros dentro de uma semana, em maio. A plataforma de gelo Larsen C foi reduzida em tamanho em um recorde de 10% e tem agora a sua menor extensão.
Embora o novo iceberg tenha pouco ou nenhum impacto imediato na região, na biodiversidade ou nos níveis do mar, os cientistas estão preocupados com os efeitos a longo prazo da separação.
Rupturas de icebergs na Antártida fazem parte de um ciclo natural. O gelo constantemente avança sobre o oceano. Como resultado, a plataforma de gelo cresce em média 700 metros por ano. Em algum momento, uma parte dela se separa, reiniciando o ciclo. Por isso, cientistas afirmam que a formação deste novo iceberg não está necessariamente ligada às alterações climáticas.
"Este iceberg não aumentará os níveis globais do mar", disse a geofísica Daniela Jansen, do Instituto Alfred Wegener de Pesquisa Polar e Marinha em Bremerhaven, na Alemanha. "É como cubos de gelo num copo de água. Eles não aumentam a quantidade de água no copo quando derretem."
Mas a nova ruptura pode fazer com que a plataforma de gelo Larsen C se torne instável e, eventualmente, colapse. Ao norte, duas plataformas menores já passaram por esse processo. A Larsen A desapareceu em 1995. Sete anos depois, a Larsen B entrou em colapso.
Os cientistas atribuem esses dois colapsos e o recuo de várias plataformas de gelo da Antártida nas últimas décadas ao aquecimento global. "O colapso de Larsen A e de Larsen B foi associado ao aumento das temperaturas do oceano na Península Antártica", disse Jansen. "A questão agora é se a tendência vai se espalhar para o sul e desestabilizará também a Larsen C."
Os cientistas irão agora monitor a Larsen C para ver se ela manterá o ciclo natural e voltará a crescer ou se derrete ainda mais e, eventualmente, colapse. No entanto, dados do projeto da pesquisa Midas, na Universidade de Swansea, no Reino Unido, já apontaram para um eventual colapso.
Isso pode levar décadas. Mas, ao contrário dos icebergs que se desprendem da plataforma de gelo, a camada de gelo atrás dela está sobre a terra. Se esse gelo derreter, ele acrescentará água adicional ao mar, levando a um aumento nos níveis oceânicos.
Apesar do seu grande tamanho, o novo iceberg não é páreo para outros que já se desprenderam do continente gelado. Em 2000, por exemplo, o iceberg B-15, de 11 mil quilômetros quadrados, descolou-se da plataforma de gelo Ross. A própria plataforma de gelo Larsen C já deu origem a icebergs maiores, como um de 9 mil quilômetros quadrados em 1986.
Lições para o futuro
A Antártida é um sistema extremamente complexo, e os cientistas ainda não a monitoraram por tempo suficiente a ponto de detectar tendências e fazer previsões. Essa é uma das razões pelas quais a ruptura da plataforma de gelo Larsen C atraiu tanta atenção.
"Recebemos novas imagens de satélite a cada seis dias. É muito emocionante, porque agora podemos monitorar todo o processo, algo que não conseguíamos fazer antes", disse Jansen.
Ela acrescentou que as lições aprendidas com a Larsen C são muito importantes para o futuro. "Os dados nos permitem criar modelos capazes de gerar previsões de longo prazo para plataformas de gelo ainda maiores."
Os cientistas estão preocupados que o colapso das plataformas de gelo, assim como das camadas de gelo sobre a terra, possa desestabilizar as geleiras na Antártida Ocidental. A camada de gelo sobre a terra da Antártida Ocidental contém água congelada suficiente para aumentar o nível do mar em cerca de 6 metros caso derreta.
Fonte: http://www.dw.com/pt-br/um-dos-maiores-icebergs-da-hist%C3%B3ria-se-desprende-de-plataforma-na-ant%C3%A1rtida/a-39656757?maca=bra-newsletter_br_Destaques-2362-html-newsletter
quinta-feira, 2 de março de 2017
ACEITA UM ELOGIO?
DW
"Um elogio é como um beijo dado através de um véu", escreveu o autor francês Victor Hugo em seu romance Os Miseráveis. Mas, às vezes, boas intenções podem ser mal interpretadas. As coisas podem ser particularmente problemáticas em um ambiente intercultural: mal-entendidos podem brotar rapidamente, e uma declaração bem-intencionada pode ser interpretadas do jeito errado. Por ocasião do Dia Mundial do Elogio, comemorado em 1º de março, compilamos uma série de elogios curiosos:
Nariz grande e rosto pequeno
As diferenças na cultura do elogio são extensamente diferentes, por exemplo, entre o Ocidente e o Oriente. Os japoneses são um grupo notadamente reservado de pessoas, então elogios raramente são feitos. Ao mesmo tempo, eles são conhecidos por serem bem-educados com estrangeiros, mostrando respeito ao elogiar os forasteiros por suas habilidades com línguas estrangeiras, por exemplo. A pessoa que recebe o elogio, no entanto, deve se comportar de maneira modesta; do contrário, ela parecerá arrogante.
Por outro lado, é um grande acontecimento quando um homem japonês faz um elogio a uma mulher. Pode soar engraçado, mas uma possível frase galanteadora é: "Você tem um rosto pequeno." Na verdade, o tamanho da cabeça não é a questão aqui, mas sim traços delicados e proporcionais. Um ideal de beleza.
As mulheres no Japão também podem ser elogiadas quando ouvem que seus rostos são pálidos e seus narizes são grandes. A palidez pode até ser compreensível, mas um nariz grande? Bom, talvez ele ajude a tornar o resto do rosto pequeno.
Panelas, macacos e elefantes
As pessoas no Camarões gostam de usar metáforas para expressar um elogio. Alguém pode ser enaltecido quando ouve que é uma "panela velha" ("vieille marmite"), por exemplo. Não se trata de um insulto, mas de um elogio às habilidades culinárias, já que as pessoas no país consideram que panelas velhas fazem a melhor comida. E quando alguém é chamado de baobá, como a árvore de grande porte, isso significa que fez um bom trabalho e é respeitado.
Um gesto similar de respeito no Brasil é chamar alguém de "macaco velho". A expressão vem do antigo provérbio "macaco velho não põe a mão em cumbuca". A história se refere a um velho método de caçar macacos, colocando frutas no interior de uma cumbuca. Os jovens macacos colocavam as mãos dentro dos recipientes para tentar pegar o alimento e ficavam presos, tornando-se alvo fácil de caçadores. Os velhos, no entanto, eram mais experientes e não cometiam esse erro.
Em hindi, é um elogio dizer que uma mulher caminha como um elefante
As pessoas na Índia reúnem imaginação considerável ao fazer elogios. Em hindi, alguém pode dizer "Gaja Gamini" ("ela anda como um elefante") para uma mulher que esteja passando. Isso porque as pessoas não consideram os animais desajeitados, mas sim lentos e graciosos. A metáfora até mesmo despertou a imaginação de Bollywood, que produziu um filme que tem a expressão como título e onde a famosa atriz Madhuri Dixit interpreta uma sedutora "Gaja Gamini".
Fadas, pepinos e honestidade
Na região onde se fala bengali, que inclui partes da Índia e Bangladesh, costuma-se dizer a uma mulher que ela é uma "Dana Kata Pori" ("uma fada sem asas"). É dito de uma maneira simpática, é claro, como um anjo que caiu do céu. Em outras palavras: a mulher é bonita.
As pessoas na Rússia também são bastante criativas quando se trata de elogiar. Se você ouvir que está em forma como um "pepino" ("Огурчик"), isso significa que você está vivaz. "Sangue com leite" ("Кровь с молоком") também tem o mesmo efeito elogioso: significa que a pessoa tem as bochechas rosadas e está cheia de força.
Na Alemanha, elogios não são muito comuns, afirma a jornalista americana Courtney Tenz, radicada no país europeu há mais de uma década. Segundo ela, os alemães apostam na honestidade e consideram a maneira como os americanos elogiam exagerada e superficial. Um conterrâneo lhe disse sobre a Alemanha: "Considere um elogio se você não recebeu nenhuma crítica."
Mesmo que se cometa um erro ao elogiar, isso não significa que você não deve fazê-lo – afinal, nada deixa alguém mais feliz que um elogio honesto, dizem os criadores do Dia Mundial do Elogio, comemorado desde 2011. A ideia surgiu na Holanda, onde o dia é celebrado na sua versão nacional desde 2003.
Fonte: http://www.dw.com/pt-br/quando-elogios-soam-como-insultos/a-37768887?maca=bra-newsletter_br_dw-cult-6223-html-newsletter
sexta-feira, 27 de janeiro de 2017
"Democracia brasileira foi corroída", diz instituto francês
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Obra de Hieronymus Bosch |
Em relatório anual, grupo de estudos da Sciences Po levanta dúvidas se Temer chegará até o fim de 2018 e afirma que país está atolado. "Já em uma crise econômica e política, mergulha agora em uma crise de regime."
O Observatório Político da América Latina e do Caribe (OPALC), ligado ao renomado Instituto de Estudos Políticos de Paris (Sciences Po), fez um balanço sombrio sobre a crise brasileira em seu novo relatório anual sobre a região. Segundo o texto, "a alternância não eleitoral de 2016 desafia um quarto de século de consolidação democrática".
"Como na maioria dos períodos de crise que o Brasil conheceu em sua história, a solução de conflitos políticos acontece fora da arena eleitoral, em um círculo fechado das elites. Mas, desta vez, a solução não foi negociada. Ela foi imposta pelo desvio de um instrumento da democracia [o impeachment]. Agindo assim, os representantes corromperam a democracia brasileira", aponta o relatório. "Essa corrupção moral do regime constitucional foi somada a uma corrupção moral e financeira do sistema político, reforçando o descrédito da democracia."
O documento também afirma que o procedimento foi realizado de "maneira brutal, abusiva e indecente" e "teve o efeito de reforçar a polarização política e fragilizar as instituições democráticas".
O OPALC aponta que "as revelações que se sucedem no contexto da Lava Jato [...] alimentam o descrédito da classe política e fazem tremer o sistema político em seu todo". E que "ao fim de 2016, a democracia brasileira parece esfarrapada, corroída pelos excessos de seus representantes."
O documento também apontou um caráter ilegítimo na ascensão do presidente Michel Temer e de um novo projeto de reformas. "Apesar de o procedimento de destituição (impeachment) ter como objetivo punir as ações pessoais de um indivíduo, a queda de Dilma provocou um expurgo governamental e a ascensão de um projeto político que havia sido minoritário nas eleições de 2014. Nesse sentido, a alternância política que resultou da destituição pode ser qualificada como ilegítima."
De guerra fria a união sagrada
O relatório também levanta dúvidas sobre a capacidade do governo Temer. "O ano de 2016 foi concluído em um clima de profunda incerteza. A democracia brasileira está literalmente atolada. Já em uma crise econômica e política, o Brasil mergulha em uma crise de regime."
"Apresentada como uma solução para melhorar a governabilidade do país, o impeachment de Dilma acabou abrindo um período de instabilidade (...). A sociedade brasileira está mais dividida do que nunca, e a sequência do impeachment desempenhou um papel importante no reforço dessa polarização. Os antipetistas e os pró-petistas, no entanto, compartilham uma rejeição comum às suas elites políticas", diz o texto.
"Ilegítimo e impopular, o governo Temer encarna uma geração política que já chega acossada por ter usado o poder em excesso e abusado dele. Só falta um gatilho para que a 'guerra fria' se transforme em uma 'união sagrada' [referência à trégua e à aliança entre a direita e a esquerda francesas durante a Primeira Guerra] contra Temer, às custas do regime democrático".
Por fim, o relatório aponta a crise de apoio à democracia no Brasil. "O apoio à democracia passou de 54% a 32% entre 2015 e 2016. Nenhum outro país da América Latina experimentou um recuo parecido."
O capítulo brasileiro no relatório foi elaborado por Frédéric Louault, vice-presidente do OPALC e professor da Universidade Livre de Bruxelas, na Bélgica.
Em entrevista à DW, Louault afirma que 2017 deve ser mais um ano imprevisível na política brasileira. Ele diz que a morte do ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, pode desacelerar a Lava Jato, mas não vai ser suficiente para parar a operação.
"Ainda vamos continuar vendo essa dinâmica de tensão entre o Judiciário e o mundo político. A operação pode perder velocidade, mas a máquina vai continuar em andamento mesmo que Temer coloque uma figura amigável no STF. Há muitos juízes e investigadores que vão continuar a trabalhar. É provável que em marco apareçam novos elementos que venham a criar dificuldades para Temer", opina.
Louault também afirma que, sem apoio popular e legitimidade, o governo Temer só pode esperar aguentar até 2018 se a economia melhorar. "Se ela não se mexer, essa frágil estabilidade do seu governo vai enfrentar ainda mais dificuldades".
No ano passado, em seu relatório sobre 2015, o OPALC já havia previsto um período difícil em 2016 por causa dos efeitos colaterais do modelo de presidencialismo de coalizão, apontando que a democracia brasileira precisava de "reformas políticas profundas para se consolidar".
Fonte: http://www.dw.com/pt-br/democracia-brasileira-foi-corro%C3%ADda-diz-instituto-franc%C3%AAs/a-37289049?maca=bra-newsletter_br_Destaques-2362-html-newsletter
segunda-feira, 2 de janeiro de 2012
A democracia e os militares: dormindo com o inimigo?
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Lea Kaufman: "Soldadinhos de Chumbo" |
Os militares deixaram o poder na América Latina já há algumas décadas, mas paradoxalmente hoje governos civis muitas vezes recorrem a eles para resolver conflitos internos.
Hoje, quando o Estado de Direito parece se consolidar em países sul-americanos que até os anos 80 eram governados por ditaduras militares, ninguém quer estragar a festa trazendo à tona presságios ruins. Mas já há algum tempo vêm se alertando que o fim da ditadura militar na Argentina, no Brasil, no Chile, no Paraguai e no Uruguai deve ser comemorado sem baixar a guarda.
O temor é que as Forças Armadas recuperem um protagonismo na sociedade que poderia pôr em risco a democracia.
Nos casos da Argentina e no Paraguai, as Forças Armadas não têm mais a posição privilegiada que outrora ostentavam. No caso argentino, isso se dá porque a ditadura militar foi muito sangrenta e pelas próprias circunstâncias que levaram ao seu colapso.
"No Paraguai, o poder que os militares têm contrasta com o que eles têm em outros lugares, não porque sejam mais democráticos, mas porque sua esfera de influência é menor", afirma o pesquisador Thomas Otter, da Universidade Georg August de Göttingen e que vive na Bolívia.
"Os problemas são diferentes: no Paraguai há menos tráfico de drogas e os índices de criminalidade são mais baixos que nos países vizinhos", diz Otter, mencionando áreas tradicionalmente de responsabilidade da polícia.
O pesquisador Peter Alterkrüger, vice-diretor do Instituto Ibero-Americano de Berlim, e grande conhecedor da história paraguaia do século 20, discorda. Ele está convencido de que, apesar do tamanho reduzido e do pequeno orçamento, as Forças Armadas são a única instituição no país com capacidade de encarar a ameaça que são os cartéis de drogas e outras organizações criminosas, armadas até os dentes.
O Exército é a nova polícia?
"Se não for o Exército, quem vai enfrentá-los se a polícia é tão mal aparelhada?", questiona Alterkrüger, observando que uma das máximas da democracia paraguaia tem sido "fortalecer o papel civil das Forças Armadas".
Exatamente por isso deve-se perguntar de que forma evolui o crescente envolvimento dos militares na vida civil, não só no Paraguai. Para alguns analistas políticos, o caminho que tomaram as relações entre civis e militares em grande parte da América do Sul é motivo de preocupação.
"No passado, em momentos de crise, não eram poucas as pessoas que sonhavam que o Exército daria um golpe para restaurar a ordem. Mas agora é no âmbito da democracia que se recorre aos militares para reforçar a segurança interna", observa a pesquisadora Claudia Zilla, do Instituto Alemão de Relações Institucionais e de Segurança (SWP, na sigla em alemão).
"Ainda que oficiais das Forças Armadas já não assumam mais o poder político nem intervenham por conta própria, como faziam antigamente, o simples fato de certos governos apelarem aos militares em vez de à policia para resolver conflitos internos é um sério problema", diz.
A naturalidade com que o Exército brasileiro declara que a perda de vidas inocentes é inevitável na "guerra" contra traficantes nas favelas do Rio de Janeiro, a repressão violenta do movimento social Mapuche por parte da polícia militar chilena e outros excessos a que os militares parecem condenados por formação quando cumprem tarefas que não são deles evidenciam o que está em jogo quando se aborda o tema.
O risco de excessos militares e a falta de controle civil
Numa análise publicada em dezembro de 2010, Zilla também observou que, no Uruguai, a predominância de militares sobre os civis no comando do Ministério da Defesa compromete o controle público da instituição militar, uma situação que é compensada apenas pela existência, no Parlamento, de uma comissão para questões de segurança que tem ingerência sobre o orçamento das Forças Armadas.
Órgãos de fiscalização semelhantes existem na Argentina e no Chile, embora nem todas as fontes de renda do Exército chileno estejam sujeitas ao controle do poder legislativo.
"Mas seria muito fácil dizer que os militares são culpados pelo atual estado das coisas. Na maioria dos casos, é um governo democrático que decide concentrar tanto poder na mão das Forças Armadas e entrar numa relação de dependência tão assimétrica", declara Zilla, enfatizando a importância de estabelecer uma definição mais precisa das funções do Exército e de fortalecer o controle civil sobre os militares. Esses objetivos só podem ser alcançados se os governos promoverem abertamente uma política de segurança mais abrangente e transparente.
Autor: Evan Romero-Castillo (ms)
Revisão: Alexandre Schossler
Deutsche Welle
quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
A Monsanto e o negócio com sementes transgênicas
Soja, milho, colza, algodão: sementes transgênicas prometem ser mais resistentes a pragas e mais produtivas. Mas ambientalistas discordam e afirmam que há riscos para a saúde. O principal alvo das críticas é a Monsanto.
"Queremos apenas um rótulo", gritam os manifestantes que marcham em direção à Casa Branca. "Oitenta por cento dos alimentos num supermercado são produzidos com ingredientes geneticamente modificados. Mas essa informação não consta [nas embalagens]", reclama Megan Westgate, chefe do projeto NONGMO e uma das organizadoras da manifestação em Washington.
Nos Estados Unidos, alimentos produzidos a partir de "organismos geneticamente modificados" – GMO, na sigla em inglês – não precisam trazer essa informação na embalagem.
A caminhada para a Casa Branca e a subsequente manifestação nos arredores do Parque Lafayette são o ponto alto da marcha Rigth2Know – "direito de saber", em português. Um dos participantes é o alemão Joseph Wilhelm, fundador da rede orgânica Rapunzel. Ele já organizou duas marchas contra os transgênicos na Alemanha. "Fiz todo o caminho de Nova York a Washington a pé", diz, orgulhoso, ao tirar os sapatos.
Monsanto como símbolo
Na verdade, Wilhelm gostaria que a marcha tivesse um outro destino: a sede da Monsanto em Saint Louis, no estado do Missouri. Para ele, a empresa é "o símbolo do desenvolvimento de sementes geneticamente manipuladas". Mas uma marcha até St. Louis chamaria pouca atenção para a questão da rotulagem dos alimentos transgênicos.
A centenária Monsanto foi refundada em 1997 como empresa agrícola. A história dela remonta a 1901. Ao seu passado pertence, entre outras coisas, a fabricação do agente laranja, o famigerado herbicida utilizado pelos militares americanos durante a Guerra do Vietnã. O agente laranja é considerado responsável por graves problemas de saúde de soldados americanos e vietnamitas.
Hoje a Monsanto se apresenta como empresa que desenvolve e vende apenas sementes e produtos agrícolas. Entre eles estão sementes de milho e de algodão resistentes a pragas, lançadas no mercado nos anos 1990.
No caso dessas sementes, "a própria planta produz o veneno", diz Wilhelm. Quando a planta é utilizada para alimentar animais, que, por sua vez, são usados como alimentos por seres humanos, "ingere-se o veneno junto", afirma. A carne de animais alimentados com produtos transgênicos não é rotulada na maioria dos países.
Outro tipo de produto são sementes, por exemplo de colza ou de soja, resistentes aos herbicidas da Monsanto, como o amplamente difundido Roundup. Esse herbicida mata todas as plantas do local onde é aplicado, exceto aquelas geneticamente modificadas pela Monsanto para serem resistentes a ele.
A Monsanto afirma que as sementes transgênicas não são prejudiciais à saúde. "Antes de serem colocadas no mercado, plantas biologicamente modificadas precisam ser submetidas a mais testes e exames do que outros produtos agrícolas" nos Estados Unidos, diz o porta-voz da Monsanto Europa, Mark Buckingham.
Preocupação com a saúde
Nem todos têm a mesma opinião. "Quando vejo o sistema regulatório para plantas geneticamente modificadas, acredito que seja insuficiente", considera Bill Freese, do Centro para Segurança Alimentar, uma organização sem fins lucrativos dos EUA que defende a agricultura sustentável.
Quando se modifica geneticamente uma planta, cria-se uma mutação, explica Freese. "A partir daí podem surgir defeitos: menor valor nutricional, toxinas em quantidade maior do que as naturalmente presentes, em quantidades pequenas e inofensivas, na planta ou até toxinas completamente novas."
Um grande problema dos transgênicos, na sua opinião, são as alergias. Devido à falta de informação nos rótulos dos alimentos, o consumidor não tem como saber posteriormente o que pode ter causado uma reação alérgica.
O presidente do Instituto Millennium de Washington, Hans Rudolf Herren, também alerta para problemas de saúde provenientes de plantas geneticamente modificadas, especialmente porque, ao contrário das promessas de empresas como a Monsanto, em longo prazo cada vez mais veneno é necessário, afirma.
"Já não basta pulverizar uma vez, pulveriza-se duas vezes e com um verdadeiro coquetel de herbicidas", diz. Segundo ele, isso ocorre porque as ervas daninhas se tornam resistentes ao veneno. Herren as chama de "super ervas daninhas".
Arma contra a fome
A favor das sementes geneticamente modificadas usa-se muitas vezes o argumento da luta contra a fome. "Modificações genéticas oferecem a agricultores e consumidores uma ampla gama de possibilidades, impossíveis de serem alcançadas com outros meios", diz Buckingham. Ele cita como exemplo a Índia, afirmando que a colheita de arroz aumentou de 300 quilos por hectare em 2002 para 524 quilos por hectare em 2009.
A ativista indiana Vandana Shiva, vencedora do Prêmio Nobel Alternativo, também participou dos protestos em Washington. Ela luta há anos contra a Monsanto e menciona o relatório O rei dos GMOs está nu, publicado por sua organização Navdanya International em outubro deste ano.
Segundo o documento, a Monsanto prometeria aos agricultores na Índia colheitas muito mais altas do que as citadas por Buckingham e não conseguiria manter essa promessa. Shiva diz que as sementes geneticamente modificadas não aumentaram as colheitas e que a afirmação de que menos químicos são necessários não é verdade.
Acusações em massa
As críticas concentram-se sobre a Monsanto, porque, segundo Shiva, "95% das sementes de algodão são controladas pela empresa, que possui contratos de licenciamento com 60 empresas de sementes indianas". A própria Monsanto não divulga dados sobre a sua participação em mercados fora dos EUA.
Nos Estados Unidos, segundo a Monsanto, a empresa fornece cerca de um terço das sementes de milho e nove de cada dez campos de soja são cultivados com a tecnologia Roundup Ready, da Monsanto e suas licenciadas.
Como a semente da Monsanto é patenteada, os agricultores só podem utilizá-la para um plantio. Eles não podem reivindicar o direito de guardar uma parte da colheita como semente para o próximo ano, como se faz na agricultura tradicional. Por terem de comprar sementes caras todos os anos, argumenta Shiva, muito agricultores indianos estão altamente endividados. Ela diz que 250 mil fazendeiros se mataram na Índia por causa de dívidas. "A maioria desses suicídios ocorreu em áreas de cultivo de algodão", diz.
A promessa de Obama
Um estudo do Instituto Internacional de Pesquisa em Política Alimentar (IFPRI, na sigla em inglês) não conseguiu, porém, identificar uma relação direta entre o cultivo de algodão geneticamente modificado e os suicídios dos agricultores. De acordo com o estudo, houve de fato um aumento da colheita em várias partes da Índia por causa do algodão transgênico. Perdas na colheita – que também foram registradas – foram causadas por secas ou outras condições desfavoráveis.
"Informaremos às pessoas se seus alimentos são geneticamente modificados, pois os norte-americanos devem saber o que estão comprando", prometera o então candidato à presidência dos EUA Barack Obama em 2007. Entretanto, até agora nada aconteceu nesse sentido.
A responsável pela análise e rotulagem de alimentos nos Estados Unidos é a Food and Drug Administration (FDA), mais especificamente o presidente da área de segurança alimentar. Em 2010, Obama designou um novo nome para o cargo: Michael R. Taylor. Um de seus empregos anteriores foi o de vice-presidente de políticas públicas da Monsanto.
Autora: Christina Bergmann (lpf)
Revisão: Alexandre Schossler
Deustche Welle
quinta-feira, 8 de setembro de 2011
Acordos clandestinos com regime de Kadafi constrangem CIA e MI6
Os serviços de inteligência dos Estados Unidos e do Reino Unido colaboraram ativamente com Kadafi ao enviar suspeitos líbios para serem interrogados pela polícia secreta do ditador. Prática da tortura era conhecida.
Estados Unidos e Reino Unido vivem um momento embaraçoso. Perguntas críticas recaíram sobre os dois países depois que documentos confidenciais encontrados na sede da Organização de Segurança Externa da Líbia evidenciaram uma extensa cooperação entre a CIA, Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos, o MI6, serviço de inteligência externa dos ingleses, e o serviço secreto do ex-ditador em fuga, Muammar Kadafi.
Os documentos, descobertos por membros do governo de transição na Líbia e pesquisadores do Human Rights Watch durante uma varredura nos prédios oficiais líbios, mostram que ambos os serviços ocidentais de inteligência desenvolveram relações bastante estreitas com Kadafi. Essa cooperação acontecia, inclusive, antes de o ex-líder líbio ser reabilitado junto à comunidade internacional em 2004, quando prometeu ajudar o Ocidente na guerra contra o terrorismo e renunciar às armas nucleares.
As informações também mostram que a CIA usava a Líbia como local de "rendições especiais" desde 2002. Essa política norte-americana de "rendição" consiste em enviar supostos terroristas a outros países para interrogatórios. Os arquivos indicam que os Estados Unidos não só enviaram suspeitos à Líbia para serem ouvidos pela polícia secreta de Kadafi, mas também mandaram as perguntas a serem feitas.
"Depois do 9 de Setembro, a CIA parece que se envolveu em vários países do Norte da África com treinamento de forças e fornecimento de pequenas armas com a desculpa de parar a Al Qaeda e o terrorismo", analisa Patrícia DeGennaro, professora de Segurança Internacional na Universidade de Nova York.
Segundo a pesquisadora, sabia-se da existência de campos de rendição em diversos países, inclusive no Marrocos. "Já que a Líbia estava isolada e despertava pouca atenção internacional, era fácil para a CIA usar essa localidade e não ser descoberta", adiciona DeGennaro. "Ninguém no cenário internacional levou Kadafi a sério, então era pouco provável que alguém o questionasse sobre esses locais de rendições."
A cooperação era tão profunda que o governo de George W. Bush considerou estabelecer "uma presença permanente" na Líbia, possivelmente uma prisão secreta administrada pela CIA ou um escritório clandestino da agência, onde suspeitos de terrorismo poderiam ficar presos e serem interrogados. Documentos mostram que essa "presença" foi especificada em 2004, depois do fim do isolamento diplomático de Kadafi.
Participação da CIA
Uma carta enviada pela CIA ao serviço de inteligência líbio, de 15 de abril de 2004, cita "o desenvolvimento de acordos recentes" entre os Estados Unidos e Líbia e pede aos líbios que "levem em consideração os requisitos norte-americanos para interrogatório" em relação a um suspeito terrorista não identificado. A correspondência também pede que os líbios "garantam que os direitos humanos do suspeito sejam protegidos" enquanto ele estiver detido.
Os documentos mostram que oito prisioneiros, no total, foram capturados e transportados em voos de "rendição" de volta para a Líbia entre 2004 e 2007, apesar de a cooperação entre Estados Unidos e Líbia ter continuado até 2009 – segundo informações vazadas pelo WikiLeaks. Ainda segundo as informações, senadores como John McCain e Joe Liebermann encontraram-se com Kadafi para assegurar ao ditador que os "Estados Unidos queriam fornecer à Líbia os equipamentos necessários para sua segurança."
"Os Estados Unidos abandonaram essa relação com Kadafi quando o presidente Barack Obama assumiu", diz DeGennaro."Naquela época, Obama era contra esse ideia de rendição e pretendia fechar Guantánamo e acabar com a reputação de país que fazia uso da tortura, adquirida por meio de prisões clandestinas e detenções ilegais."
Antes dessa mudança na administração, no entanto, a CIA consolidou sua presença e expandiu suas atividades na Líbia. Em outro documento de 2004, a agência norte-americana pede que o serviço de inteligência líbio permita que seus agentes questionem diversos cientistas iraquianos que viviam no país africano, numa tentativa de descobrir o destino das supostas armas de destruição em massa do Iraque. Outros dados mostram a crescente preocupação dos Estados Unidos com uma suposta célula "operacional" terrorista na Líbia, suspeita de manter contato com membros da Al Qaeda no Iraque.
O principal contato entre CIA e Líbia neste período de intensa cooperação parece ser Mussa Kussa, então chefe de inteligência e o principal suspeito de ter coordenado as atividades terroristas apoiadas pela Líbia nos anos de 1980.
Kussa, que deixou o governo de Kadafi em março último, aparece nos documentos como o principal aliado de Stephen Kappes, o segundo na hierarquia do serviço clandestino da CIA, e como negociador-chave do acordo nuclear de 2004 com a Líbia. Kussa também parece ter cultivado relações significativas com membros do serviço de inteligência britânico.
Acordo com MI5
Alguns documentos mostram que o serviço de segurança interno inglês, o MI5, negociou informações com cidadãos líbios opositores a Kadafi baseados no Reino Unido em troca de revelações feitas por terroristas suspeitos que estavam sendo questionados na Líbia sob a condição de "rendição extraordinária".
Os ingleses conheciam bem a reputação da Líbia de torturar seus prisioneiros, mas pareciam não se preocupar com as práticas usadas para extrair informações que eles recebiam, o que sugere cumplicidade do Reino Unido.
O MI6, serviço britânico de inteligência externa, segundo os documentos, trabalhou com a CIA na entrega de terroristas suspeitos à Líbia, incluindo o comandante de segurança dos rebeldes líbios em Trípoli, Abdul Hakim Belhaj. Ele era um membro dissidente de liderança no LIFG, grupo armado islâmico líbio, e considera processar os governos norte-americano e inglês pelo suposto tratamento brutal. A LIFG é uma organização listada como grupo terrorista pelos Estados Unidos que teria ligações com a Al Qaeda.
Um documento registra uma conversa entre um oficial sênior do MI6 e um homólogo líbio, na qual o agente inglês elogia a maneira como os espiões do serviço britânico informaram ao serviço de inteligência norte-americano e líbio sobre os disfarces de Belhaj, o que possibilitou sua prisão em Bangkok, em 6 de março de 2004.
Belhaj alega que foi torturado pela CIA e que recebeu injeções de soro da verdade antes de ser colocado no voo de volta a Trípoli para um interrogatório, onde ele diz que foi primeiro interrogado pelo MI6 e, depois, passou a ficar sob custódia da Líbia.
"O MI6 estava buscando acesso aos detentos associados ao movimento jihadista na Líbia, na tentativa de obter informações sobre, primeiramente, suspeitos terroristas líbios conhecidos e, em segundo lugar, suspeitos terroristas de outras nacionalidades com os quais os líbios pudessem ter tido contato no Sudão, Argélia ou Afeganistão", comenta Alia Brahimi, especialista em Oriente Médio e autor.
Em outra revelação embaraçosa para o Reino Unido, Saadi e Khamis Kadafi, filhos do ex-ditador, são convidados a visitar a sede do Serviço Aéreo Especial (SAS, do inglês), importante regimento das Forças Armadas inglesas, além do serviço homólogo da Marinha, SBS, em julho de 2006. Apesar do convite, a visita nunca aconteceu. Os dois filhos de Kadafi iriam se encontrar com oficiais do alto escalão britânico durante a visita e havia conversas agendadas com representantes dos maiores fabricantes ingleses de armas durante a passagem deles pelo Reino Unido.
Tortura
Os documentos reveladores vêm à tona num momento em que os serviços de segurança britânicos estão sob crescente escrutínio, diante de uma investigação sobre o papel do Reino Unido em rendições forçadas e o conhecimento dos serviços de segurança sobre a prática da tortura e maus tratos a suspeitos de terrorismo.
O chamado inquérito Gibson, criado pelo juiz inglês Peter Gibson, anunciou que irá "considerar como parte do trabalho acusações de envolvimento do Reino Unido em entregas de suspeitos à Líbia" e que tem o apoio do primeiro-ministro, David Cameron. O líder britânico congratulou uma investigação mais ampla sobre as denúncias "significativas" de que o MI6 e MI5 teriam "se aproximado demais" da Líbia.
"O que essas organizações de inteligência fizeram foi ilegal e desumano. David Cameron está certo de começar uma investigação, o governo Obama e o Congresso norte-americano não deveriam hesitar em seguir esse exemplo", comenta DeGennaro.
A especialista acredita que, "infelizmente, isso traria implicações para membros do Congresso e à antiga administração", no caso dos Estados Unidos. "Senadores poderosos como John McCain, que provavelmente sabiam muito bem o que estava acontecendo, nunca permitiriam que uma investigação do tipo fosse feita", conclui DeGennaro.
Autor: Nick Amies (np)
Revisão: Roselaine Wandscheer
Deutsche Welle
Estados Unidos e Reino Unido vivem um momento embaraçoso. Perguntas críticas recaíram sobre os dois países depois que documentos confidenciais encontrados na sede da Organização de Segurança Externa da Líbia evidenciaram uma extensa cooperação entre a CIA, Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos, o MI6, serviço de inteligência externa dos ingleses, e o serviço secreto do ex-ditador em fuga, Muammar Kadafi.
Os documentos, descobertos por membros do governo de transição na Líbia e pesquisadores do Human Rights Watch durante uma varredura nos prédios oficiais líbios, mostram que ambos os serviços ocidentais de inteligência desenvolveram relações bastante estreitas com Kadafi. Essa cooperação acontecia, inclusive, antes de o ex-líder líbio ser reabilitado junto à comunidade internacional em 2004, quando prometeu ajudar o Ocidente na guerra contra o terrorismo e renunciar às armas nucleares.
As informações também mostram que a CIA usava a Líbia como local de "rendições especiais" desde 2002. Essa política norte-americana de "rendição" consiste em enviar supostos terroristas a outros países para interrogatórios. Os arquivos indicam que os Estados Unidos não só enviaram suspeitos à Líbia para serem ouvidos pela polícia secreta de Kadafi, mas também mandaram as perguntas a serem feitas.
"Depois do 9 de Setembro, a CIA parece que se envolveu em vários países do Norte da África com treinamento de forças e fornecimento de pequenas armas com a desculpa de parar a Al Qaeda e o terrorismo", analisa Patrícia DeGennaro, professora de Segurança Internacional na Universidade de Nova York.
Segundo a pesquisadora, sabia-se da existência de campos de rendição em diversos países, inclusive no Marrocos. "Já que a Líbia estava isolada e despertava pouca atenção internacional, era fácil para a CIA usar essa localidade e não ser descoberta", adiciona DeGennaro. "Ninguém no cenário internacional levou Kadafi a sério, então era pouco provável que alguém o questionasse sobre esses locais de rendições."
A cooperação era tão profunda que o governo de George W. Bush considerou estabelecer "uma presença permanente" na Líbia, possivelmente uma prisão secreta administrada pela CIA ou um escritório clandestino da agência, onde suspeitos de terrorismo poderiam ficar presos e serem interrogados. Documentos mostram que essa "presença" foi especificada em 2004, depois do fim do isolamento diplomático de Kadafi.
Participação da CIA
Uma carta enviada pela CIA ao serviço de inteligência líbio, de 15 de abril de 2004, cita "o desenvolvimento de acordos recentes" entre os Estados Unidos e Líbia e pede aos líbios que "levem em consideração os requisitos norte-americanos para interrogatório" em relação a um suspeito terrorista não identificado. A correspondência também pede que os líbios "garantam que os direitos humanos do suspeito sejam protegidos" enquanto ele estiver detido.
Os documentos mostram que oito prisioneiros, no total, foram capturados e transportados em voos de "rendição" de volta para a Líbia entre 2004 e 2007, apesar de a cooperação entre Estados Unidos e Líbia ter continuado até 2009 – segundo informações vazadas pelo WikiLeaks. Ainda segundo as informações, senadores como John McCain e Joe Liebermann encontraram-se com Kadafi para assegurar ao ditador que os "Estados Unidos queriam fornecer à Líbia os equipamentos necessários para sua segurança."
"Os Estados Unidos abandonaram essa relação com Kadafi quando o presidente Barack Obama assumiu", diz DeGennaro."Naquela época, Obama era contra esse ideia de rendição e pretendia fechar Guantánamo e acabar com a reputação de país que fazia uso da tortura, adquirida por meio de prisões clandestinas e detenções ilegais."
Antes dessa mudança na administração, no entanto, a CIA consolidou sua presença e expandiu suas atividades na Líbia. Em outro documento de 2004, a agência norte-americana pede que o serviço de inteligência líbio permita que seus agentes questionem diversos cientistas iraquianos que viviam no país africano, numa tentativa de descobrir o destino das supostas armas de destruição em massa do Iraque. Outros dados mostram a crescente preocupação dos Estados Unidos com uma suposta célula "operacional" terrorista na Líbia, suspeita de manter contato com membros da Al Qaeda no Iraque.
O principal contato entre CIA e Líbia neste período de intensa cooperação parece ser Mussa Kussa, então chefe de inteligência e o principal suspeito de ter coordenado as atividades terroristas apoiadas pela Líbia nos anos de 1980.
Kussa, que deixou o governo de Kadafi em março último, aparece nos documentos como o principal aliado de Stephen Kappes, o segundo na hierarquia do serviço clandestino da CIA, e como negociador-chave do acordo nuclear de 2004 com a Líbia. Kussa também parece ter cultivado relações significativas com membros do serviço de inteligência britânico.
Acordo com MI5
Alguns documentos mostram que o serviço de segurança interno inglês, o MI5, negociou informações com cidadãos líbios opositores a Kadafi baseados no Reino Unido em troca de revelações feitas por terroristas suspeitos que estavam sendo questionados na Líbia sob a condição de "rendição extraordinária".
Os ingleses conheciam bem a reputação da Líbia de torturar seus prisioneiros, mas pareciam não se preocupar com as práticas usadas para extrair informações que eles recebiam, o que sugere cumplicidade do Reino Unido.
O MI6, serviço britânico de inteligência externa, segundo os documentos, trabalhou com a CIA na entrega de terroristas suspeitos à Líbia, incluindo o comandante de segurança dos rebeldes líbios em Trípoli, Abdul Hakim Belhaj. Ele era um membro dissidente de liderança no LIFG, grupo armado islâmico líbio, e considera processar os governos norte-americano e inglês pelo suposto tratamento brutal. A LIFG é uma organização listada como grupo terrorista pelos Estados Unidos que teria ligações com a Al Qaeda.
Um documento registra uma conversa entre um oficial sênior do MI6 e um homólogo líbio, na qual o agente inglês elogia a maneira como os espiões do serviço britânico informaram ao serviço de inteligência norte-americano e líbio sobre os disfarces de Belhaj, o que possibilitou sua prisão em Bangkok, em 6 de março de 2004.
Belhaj alega que foi torturado pela CIA e que recebeu injeções de soro da verdade antes de ser colocado no voo de volta a Trípoli para um interrogatório, onde ele diz que foi primeiro interrogado pelo MI6 e, depois, passou a ficar sob custódia da Líbia.
"O MI6 estava buscando acesso aos detentos associados ao movimento jihadista na Líbia, na tentativa de obter informações sobre, primeiramente, suspeitos terroristas líbios conhecidos e, em segundo lugar, suspeitos terroristas de outras nacionalidades com os quais os líbios pudessem ter tido contato no Sudão, Argélia ou Afeganistão", comenta Alia Brahimi, especialista em Oriente Médio e autor.
Em outra revelação embaraçosa para o Reino Unido, Saadi e Khamis Kadafi, filhos do ex-ditador, são convidados a visitar a sede do Serviço Aéreo Especial (SAS, do inglês), importante regimento das Forças Armadas inglesas, além do serviço homólogo da Marinha, SBS, em julho de 2006. Apesar do convite, a visita nunca aconteceu. Os dois filhos de Kadafi iriam se encontrar com oficiais do alto escalão britânico durante a visita e havia conversas agendadas com representantes dos maiores fabricantes ingleses de armas durante a passagem deles pelo Reino Unido.
Tortura
Os documentos reveladores vêm à tona num momento em que os serviços de segurança britânicos estão sob crescente escrutínio, diante de uma investigação sobre o papel do Reino Unido em rendições forçadas e o conhecimento dos serviços de segurança sobre a prática da tortura e maus tratos a suspeitos de terrorismo.
O chamado inquérito Gibson, criado pelo juiz inglês Peter Gibson, anunciou que irá "considerar como parte do trabalho acusações de envolvimento do Reino Unido em entregas de suspeitos à Líbia" e que tem o apoio do primeiro-ministro, David Cameron. O líder britânico congratulou uma investigação mais ampla sobre as denúncias "significativas" de que o MI6 e MI5 teriam "se aproximado demais" da Líbia.
"O que essas organizações de inteligência fizeram foi ilegal e desumano. David Cameron está certo de começar uma investigação, o governo Obama e o Congresso norte-americano não deveriam hesitar em seguir esse exemplo", comenta DeGennaro.
A especialista acredita que, "infelizmente, isso traria implicações para membros do Congresso e à antiga administração", no caso dos Estados Unidos. "Senadores poderosos como John McCain, que provavelmente sabiam muito bem o que estava acontecendo, nunca permitiriam que uma investigação do tipo fosse feita", conclui DeGennaro.
Autor: Nick Amies (np)
Revisão: Roselaine Wandscheer
Deutsche Welle
quinta-feira, 1 de setembro de 2011
Bonn instala parquímetro para cobrar imposto de prostitutas
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Rua de Bonn na Primavera |
A cidade de Bonn, no oeste da Alemanha, implantou uma forma inusitada de cobrar imposto de prostitutas na rua: adaptou um parquímetro para cobrar "imposto sexual diário".
A prostituição é regulamentada na Alemanha, e existem diferentes regras tributárias, dependendo da região. Mas com o caixa eletrônico de imposto sexual, Bonn é pioneira. Outras cidades já consideraram a ideia "interessante".
O equipamento, um parquímetro adaptado, foi instalado na zona de prostituição da cidade no fim de semana. O bilhete diário de imposto custa seis euros e vale das 20h15 às 6h. Segundo a prefeitura de Bonn, em três noites foram arrecadados 264 euros. Segundo estimativas, uma em cada duas profissionais do sexo utilizou o caixa automático para comprar o bilhete de imposto.
Segundo a porta-voz da prefeitura de Bonn, Monika Frömbgen, o movimento de prostituição na rua onde foi instalada máquina, longe do centro da cidade, não é grande. Em média, cerca de 20 mulheres oferecem serviços sexuais na única rua onde a prostituição é permitida em Bonn, a Immenburgstrasse, onde foi instalado o único caixa para recolhimento do imposto.
O município instituiu o imposto sexual no início de 2011. Segundo a prefeitura, a arrecadação anual com a contribuição deve chegar a 200 mil euros por ano. "Até onde sabemos, existem 200 prostitutas em Bonn, das quais umas 20 trabalham nas ruas, mas certamente há casos não declarados, que trabalham em casa", diz Frömbgen. A dificuldade de cobrar imposto das garotas de programa na rua levou à instalação do caixa eletrônico.
Associações de prostitutas são contra
A Aliança de Serviços de Aconselhamento para Profissionais do Sexo (Bufas, do alemão) rejeita o "tratamento fiscal diferenciado" e também o bilhete de imposto diário. "Nós somos contra essas regras especiais e a favor da igualdade entre todos os trabalhadores, inclusive na arrecadação de impostos", diz Beate Leopold, funcionária do centro de aconselhamento Cassandra em Nürnberg, associada à Bufas. Segundo ela, as prostitutas deveriam, como qualquer outro trabalhador, pagar imposto de renda individual.
A prefeitura de Bonn não vê problema em seu imposto sexual e no bilhete eletrônico. "Os municípios têm liberdade para decidir sobre os próprios impostos e nós estamos legalmente autorizados a cobrar essa taxa", disse Frömbgen. Quem for flagrado sem o bilhete de imposto pode pagar multa.
A medida serviu para regulamentar o comércio do sexo na cidade, depois de muitos protestos de moradores, explica Frömbgen. A área de prostituição, que fica ao lado de um sex shop e de um estacionamento público, foi reduzida a um trecho da rua e a atividade é proibida durante o dia. Além disso, a cidade construiu cabines de madeira, que podem ser utilizadas pelas mulheres e seus clientes.
FF/dpa
Revisão: Roselaine Wandscheer
Deutsche Welle
sexta-feira, 26 de agosto de 2011
Indígenas lançam manifesto contra os riscos dos "negócios verdes"
Numa mobilização inédita, indígenas de nove países na América do Sul lançam manifesto e alertam para o risco de ações criminosas na Amazônia. Comunidades também denunciam assédio de empresas que buscam lucro ilícito.
Deutsche Welle
Indígenas esbarram frequentemente na dificuldade de serem ouvidos. "A maioria das autoridades ignora o nosso conhecimento tradicional, que vem dos ancestrais, acha que é bobagem. Mas queremos mostrar que entendemos sobre tudo isso que está acontecendo. Queremos colaborar com todo o processo de discussão sobre a crise climática e temos muito a contribuir", garante Sônia Guajajara, da COIAB (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira).Com o objetivo de chacoalhar a opinião internacional, uma mobilização inédita reuniu povos indígenas da Amazônia e organizações nacionais de nove Estados na América do Sul com o objetivo de chamar a atenção para problemas já conhecidos por todos os governos: "A crise climática e ambiental é gravíssima, em pouco tempo será irreversível, os poderes globais e nacionais não podem nem querem detê-la, e pior, pretendem aproveitá-la com mais 'negócios verdes' mesmo que ponham em perigo todas as formas de vida."
O texto faz parte do manifesto assinado por organizações do Brasil, Bolívia, Equador, Colômbia, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Venezuela e Suriname. O grupo cansou do vocabulário suave e denuncia a "hipocrisia e contradição nas políticas globais e nacionais sobre florestas".
Segundo o documento, essa hipocrisia é vista em declarações, planos, pequenos projetos "sustentáveis" que têm um efeito reverso. E os impactos negativos da longa lista de atividades no território amazônico – entre elas o desmatamento, exploração de minérios, de hidrocarbonetos, megahidrelétricas, pecuária extensiva, biopirataria e roubo dos conhecimentos ancestrais – atingem em cheio as populações indígenas.
Cautela a favor do clima
Uma das grandes ameaças vistas pelos indígenas é o processo de negociação do mecanismo REDD (Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação). Eles alegam que essa ferramenta, que ainda está em fase de elaboração como arma contra o aquecimento global, corre o risco de beneficiar aqueles que sempre desmataram e degradaram.
"Nós defendemos que o REDD seja revertido em benefício coletivo, e não em recursos financeiros que irão parar nas mãos daqueles que buscam exclusivamente o dinheiro", explica Guajajara. "Nós, os índios, buscamos a valorização e o reconhecimento pelo serviço prestado ao meio ambiente, porque sempre conservamos a floresta", continua.
Em busca dos créditos de carbono, vendidos para indústrias que buscam compensar suas emissões, as abordagens nas comunidades indígenas são cada vez mais intensas, afirma a COICA (Coordenação das Nações Indígenas da Amazônia). Os índios relatam que ONGs com intenções duvidosas incentivam as comunidades a assinar contratos sem que as lideranças locais compreendam exatamente o que está escrito.
"Experiências no Peru e na Bolívia mostram casos de abuso e má-fé, e várias comunidades estão sofrendo muito para reverter algumas situações", relata Edwin Vasquez Campos, coordenador da COICA no Peru. Os chamados "caçadores de carbono" procuram tirar vantagens de frágeis leis locais com o intuito de fazer dinheiro.
Denúncia contra a indústria
É o que aconteceu com o grupo indígena dos Matsés, no Peru. Após serem assediados pela empresa Sustainable Carbon Resources Limited, representada pelo australiano David John Nilsson, a Aidesp, organização nacional dos indígenas peruanos, pediu a intervenção da Justiça para evitar uma tragédia.
Segundo relata um documento publicado em abril último, Nilsson tentou coagir os índios a assinarem um contrato de negócios de carbono que daria total poder à empresa sobre os 420 mil hectares de mata preservada. O empresário teria apresentado um documento em inglês e oferecido a quantia de 10 mil dólares aos indígenas.
A reportagem da Deutsche Welle tentou falar com a Sustainable Carbon Resources Limited, mas o único contato público disponível é uma página na internet que está "em construção".
Tendo em vista casos como o registrado no Peru, o manifesto assinado por grupos de nove países recomenda que Estados e bancos assumam sua responsabilidade para frear a expansão dos "ladrões de REDD" e rejeitem empresas e ONGs fraudadoras denunciadas pelos povos indígenas.
Expectadores e financiadores
Num encontro de cúpula de lideranças indígenas, realizado em Manaus na semana passada, estiveram presentes representantes das Nações Unidas, do Banco Mundial, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e agências de cooperação, inclusive da Alemanha, além de cientistas do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas).
Peter Hilliges, do banco de desenvolvimento alemão KfW, que financia projetos na Amazônia, leu o manifesto dos indígenas e afirma que os direitos desses povos são levados em consideração tanto nas negociações climáticas quanto nas atividades que recebem dinheiro do banco.
"O KfW se preocupa em ser um agente neutro, não se posicionando nem do lado dos indígenas nem da iniciativa privada tampouco de algum governo. Nós procuramos, em meio a diferentes interesses e necessidades, encontrar sempre uma solução pragmática e realizável", disse em entrevista à Deutsche Welle.
Autora: Nádia Pontes
Revisão: Carlos Albuquerque
Comentário do Blog: Interessante que essas notícias não saem na "grande" mídia brasileira, também conhecida como PIG (Partido da Imprensa Golpista).
sexta-feira, 12 de agosto de 2011
50 anos após construção do Muro de Berlim, paredões ainda separam povos
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Muro israelense: vergonha da humanidade. |
O Muro de Berlim, cujas obras começaram há meio século, não existe mais. No entanto, em algumas regiões do planeta cercas e muros com extenso policiamento e alta tecnologia continuam separando pessoas.
O Chipre foi dividido em 1974, como resultado de longos anos de tensões e conflitos sangrentos entre gregos e turcos. A chamada linha verde, que separa as duas partes da ilha, tem cerca de 180 quilômetros de comprimento. Ela passa pelo meio da capital comum, Nicósia, que desde a queda do Muro de Berlim é a última capital dividida do mundo.
Desde 2003, a situação está mais tranquila em Nicósia, após a Turquia ter aberto a fronteira para passagens diárias. Mesmo depois da integração do lado grego de Chipre à União Europeia, não há perspectiva para o fim da divisão.
Muro de proteção contra imigrantes
"Muro da vergonha". Assim ativistas de direitos humanos chamam a construção que marca a fronteira entre os EUA e o México. Uma barreira de 3 mil quilômetros de comprimento feita de placas de metal, arame farpado, detectores de movimento e câmeras de infravermelho.
Dezenas de milhares de policiais tentam impedir a imigração ilegal. Mas os imigrantes provenientes do México, Guatemala e Honduras tentam passar mesmo assim, arriscando as próprias vidas.
Imigrantes se escondem de guardas dos EUA na divisa com o México. Fronteira tem quase 400 mortes por ano
As fortificações de fronteira os obrigam a entrar cada vez mais no deserto. Cerca de 400 imigrantes morrem a cada ano tentando chegar aos Estados Unidos. Uma cifra maior do que a registrada nos 28 anos do Muro de Berlim.
Cerca na entrada da Europa
Ceuta e Melilla fazem parte da Espanha e, portanto, da União Europeia. Mas ambos ficam no continente africano. Esses enclaves do bem-estar são destino de migrantes de toda a África. Cercas de arame farpado, torres de guarda, detectores de movimento, câmeras de infravermelho e guardas armados impedem a entrada ilegal de migrantes africanos.
Os fundos para o financiamento das barreiras foram disponibilizados, em maior parte, no âmbito do Tratado de Schengen da UE. Apesar das medidas de alta segurança, há sempre tentativas de refugiados para passar pela cerca.
Parede no Oriente Médio
Uns o chamam de "muro antiterrorista", outros o veem como o "novo Muro de Berlim". Para se proteger contra ataques terroristas de extremistas palestinos, Israel separou grande parte da Cisjordânia do território israelense com paredes e cercas. No entanto, a barreira de separação avança, em parte, profundamente sobre território palestino, separa agricultores de seus campos e obriga as pessoas a grandes desvios.
De acordo com as autoridades israelenses, a barreira de separação reduziu o número de ataques terroristas. Internacionalmente, esta forma de proteção das fronteiras permanece controversa. O Tribunal Internacional em Haia ressalta, em seu relatório sobre a construção do muro, que a edificação limita muito o direito dos palestinos à autodeterminação.
Coreia, área nevrálgica da Guerra Fria
Uma fronteira fortemente equipada, as tropas capitalistas e comunistas face a face e o medo constante de uma escalada de violência. A Coreia do Sul foi, assim como a Alemanha, dividida com o fim da Segunda Guerra Mundial, numa decisão conjunta dos Estados Unidos e da União Soviética. Os coreanos, que até a divisão em 1945 estavam sob ocupação japonesa, não foram consultados.
Até hoje, ambos os lados sofrem as consequências. A fronteira é praticamente impossível de ser transposta. O povo da Coreia do Norte vive isolado, sem poder deixar um país pobre, de regime ditatorial. De vez em quando acontecem confrontos entre os exércitos do sul e do norte. Não há perspectiva para um fim da divisão.
Caxemira: 500 quilômetros de arame farpado
Uma barreira de três metros de altura atravessa mais de 500 quilômetros da região de Caxemira. Com as cercas elétricas e de arame farpado, a Índia quer impedir que terroristas vindos da parte paquistanesa passem a linha de cessar-fogo. A cerca é um problema para o processo de paz entre Índia e Paquistão porque as pessoas na Caxemira temem que a intenção da Índia seja dividir a região para sempre.
Autores: Nils Naumann/Claudia Brandt (md)
Revisão: Roselaine Wandscheer
DW
sexta-feira, 10 de junho de 2011
ESCREVEU LIVRO SOBRE JOÃO GILBERTO E MORREU
Livro de jornalista alemão tenta desvendar o enigma João Gilberto
Quando o repórter Marc Fischer resolveu embarcar para o Brasil, no final de 2010, tinha em mente uma obsessão das mais irrealizáveis: "Na verdade, fui para o Rio por causa de Hobalala. João tinha que tocá-la para mim", declarou o jornalista e romancista alemão ao semanário Die Zeit.
A canção Hô-bá-lá-lá, uma das poucas composições que se conhece da própria lavra de João Gilberto, entrou na vida de Fischer na época em que ele trabalhava na revista Tempo, em meados da década de 90. A quarta faixa de Chega de Saudade, lendário álbum de estreia do mestre zen da música brasileira, lançado em 1959, marcou a iniciação do autor alemão nas paragens metafísicas sugeridas pela Bossa Nova.
O sonho de Fischer acabou não vingando, mas a viagem para os trópicos resultaria num livro muito curioso, que a editora Rogner & Bernhard, de Berlim, acaba de pôr na praça. Com o título de Hobalala – auf der Suche na João Gilberto (Hobalala – à Procura de João Gilberto), a reportagem tenta desvendar esse enigma que atende pelo nome de João Gilberto Prado Pereira de Oliveira.
Cinco semanas
O jornalista conversou com o pianista João Donato, com Roberto Menescal, ouviu também a jovem namorada de João Gilberto, Cláudia, com quem o artista teve uma filha. O grande talento de Fischer como narrador, dando ares literários aos seus cultuados textos jornalísticos, somado à relevância que João Gilberto tem no cenário da música internacional, parecem garantir o sucesso de vendas desse novo livro da Rogner & Bernhard, editora que tem diversos títulos musicais em seu catálogo, como Basement Blues, de Greil Marcus sobre Bob Dylan, e A Love Supreme, escrito por Ashley Kahn sobre o disco homônimo de John Coltrane.
"O grande, velho Roberto Menescal estava sentado em sua enorme escrivaninha e tocava seu violão quando eu cheguei. Ele trajava uma jaqueta do exército e uma barba branca e se parecia demais com Ernest Hemingway. Assim como ele, Menescal antigamente também ia com seus amigos da Bossa Nova para o mar e pescavam um peixe atrás do outro. (…) João Gilberto nunca se fazia presente nessas viagens. Ele odeia o mar. Não toma banho nele, não nada, não veleja…", escreve o habilidoso Fischer.
A procura de Fischer por João Gilberto se espalha pelas 220 páginas que enaltecem a genialidade do artista que formatou o caráter intimista da Bossa Nova, endossando o quão misterioso é o nobre cidadão de Juazeiro, interior da Bahia.
Morte inesperada
Em abril, poucos dias antes do livro ser lançado, a notícia do falecimento de Fischer, aos 40 anos, estarreceu a todos na imprensa alemã. Como autor de livros aplaudidos como Fragen, die wir unseren Eltern stellen sollten (solange sie noch da sind) (em português "Perguntas que a gente deveria fazer aos nossos pais (enquanto eles ainda estão aí)"), Jäger (Caçador) ou Eine Art Idol (Um tipo de ídolo), Fischer impressionava seus leitores com seu estilo muito peculiar de encarar os fenômenos da cultura pop.
Numa certa ocasião, em que tinha que escrever sobre o norte-americano Lenny Kravitz, Fischer preferiu discorrer sobre deus e o diabo. Em entrevista com a artista islandesa Björk para a Tempo, o jornalista aprontou outra, roubando o papel de protagonista da cantora e subindo num telhado com ela para entrevistá-la. Na foto da matéria aparecem os dois, entrevistador e entrevistada.
A cantora e compositora carioca Joyce foi uma das pessoas entrevistadas por Fischer para o livro Hobalala. No blog da artista brasileira, ela ressaltou as qualidades do jornalista , com quem se encontrou num café em Ipanema, em dezembro último: "Foi uma ótima conversa, como geralmente acontece quando o repórter conhece o assunto do qual está falando. (…) Ele era um estudioso do assunto, conhecia tudo, e queria simplesmente o approach pessoal dos entrevistados para o livro que ele poderia perfeitamente ter feito, sem precisar se dar ao trabalho de falar com a gente".
O jornalista paulistano Zuza Homem de Mello declarou certa vez que "dificilmente alguém se atreveria a escrever sobre João Gilberto sem admirá-lo intensamente, sem se ter extasiado em seus recitais ou com seus discos". Era o caso de Marc Fischer, desde o dia em que escutou Hô-bá-lá-lá.
Autor: Felipe Tadeu
Revisão: Alexandre Schossler
Deutsche Welle
quarta-feira, 20 de abril de 2011
Um ano depois, efeito de catástrofe ainda é presente no Golfo do México
Há exatamente um ano teve início uma catástrofe ambiental que marcou a história norte-americana. A petrolífera BP diz que reagiu de maneira apropriada, mas os efeitos do vazamento de petróleo ainda estão presentes.
Os vestígios da explosão da plataforma Deepwater Horizon no Golfo do México, no dia 20 de abril de 2010, já não são mais tão visíveis a olho nu – e esse é um dos motivos pelo qual o assunto gera tanta controvérsia. Se a BP não comenta abertamente os efeitos do vazamento, 12 meses depois do acidente, o Greenpeance não hesita em dizer que o derrame "foi o pior desastre ambiental da história no continente."
Num documentário de 20 minutos produzido pela BP, muito se fala sobre as ações adotadas pela empresa para conter a mancha de petróleo, mas pouco sobre a implicação da catástrofe na vida das pessoas que vivem no local.
"Eu sei que levará tempo para ganharmos novamente a confiança das pessoas. Mas tomaremos atitudes, em vez de palavras. Espero que isso demonstre que nós sentimos muito, que aprendemos a lição, que estamos empenhados em conquistar novamente a confiança da população", afirma na abertura do filme o chefe do grupo, Bob Dudley, que assumiu o posto de Tony Hayward, destituído do cargo três meses depois da explosão.
Os efeitos no ecossistema
Em resposta ao acidente e às incertezas que se seguiram, o Greepeace enviou ao Golfo do México um navio com pesquisadores norte-americanos independentes, que permaneceram na região por três meses. "Ainda não chegamos a todas as conclusões. Mas alguns sinais são evidentes", diz o relatório publicado um ano depois da catástrofe.
Ainda há muito óleo escondido nas águas. "Em janeiro de 2011, pesquisadores da Universidade do Sul da Flórida encontraram uma camada de sedimento de óleo cinco vezes mais espessa do que a camada detectada em agosto de 2010, e que se espalha por muitas milhas em todas as direções."
Em março de 2011, um estudo publicado no jornal Conservation Biology concluiu que a mortandade de golfinhos e baleias em decorrência do vazamento pode ter sido 50 vezes maior do que o estimado originalmente.
E esses são apenas alguns dos efeitos observados – cientistas acreditam que muita informação ainda não veio à tona. Pesquisadores que trabalharam na coleta de dados sobre a mortandade de peixes, contratados pelo Serviço Nacional de Pesca Marinha dos Estados Unidos, disseram que "nenhuma informação ou resultado de pesquisa pode ser divulgado, apresentado ou discutido sem aprovação", diz o relatório do Greenpeace, sugerindo um estado de censura no órgão federal.
Pesca e outros perigos
A indústria pesqueira da região ainda tenta se recuperar do forte baque. Por quatro meses, os pescadores ficaram impedidos de trabalhar – e ainda hoje a quantidade de barcos em atividade é visivelmente menor, dizem associações locais.
Aqueles que voltaram a pescar têm dificuldade em encontrar novos compradores. Segundo uma pesquisa feita pela associação de comércio Greater New Orleans, mais de 50% dos norte-americanos passaram a perguntar, no momento da compra, a origem do peixe ou fruto do mar.
Segundo a ONG ambientalista Lean (rede de ação ambiental da Louisiana, na sigla em inglês), um número alarmante de moradores da costa do Golfo com graves problemas de saúde foi registrado depois do desastre de abril de 2010.
As queixas são feitas também por pessoas que trabalharam nas operações de limpeza do petróleo, assim como por mergulhadores e pescadores. As reclamações incluem coceira nos olhos, hemorragias nasais, problemas respiratórios, espirros e tosse incessantes.
O lado empresarial
A BP não nega os estragos do acidente no Golfo do México. A experiência de sanar o problema, segundo a própria empresa, "não tinha precedentes, nunca tinha sido registrada em nenhum lugar do mundo". O documentário ressalta todo o trabalho de engenharia que se desenvolveu para conter o vazamento do poço – operações que "foram mais complexas do que trabalhar na Lua", diz um engenheiro da empresa.
Durante os meses que sucederam ao colapso da plataforma, "um ano de mudanças", afirma a BP, a companhia diz ter adotado mudanças fundamentais para aumentar a segurança na exploração de petróleo, unificando operações para uma atuação mais responsável.
Onze funcionários morreram em decorrência da explosão da Deepwater Horizon. Foram 87 dias de vazamento, até que o poço fosse selado. Estima-se que 780 milhões de litros de petróleo cru tenham contaminado o meio ambiente. A BP continua negociando com as autoridades norte-americanas para retomar as operações de exploração de petróleo nas águas profundas do Golfo do México.
Autora: Nádia Pontes
Revisão: Carlos Albuquerque
Revisão: Carlos Albuquerque
domingo, 13 de março de 2011
Depois do terremoto, catástrofe nuclear ameaça Japão
Depois de um terremoto e de um tsunami, o Japão enfrenta agora a ameaça de uma catástrofe nuclear. Falta de energia após terremoto dificulta refrigeração de reator, que ameaça derreter e provocar uma tragédia.
A usina nuclear japonesa Fukushima Daiichi I é um reator de água fervente. Barras de combustível dentro do reator produzem calor através da fissão nuclear. Com isso a água é aquecida e faz girar uma turbina que gera eletricidade. A água é, então, resfriada e bombeada de volta para para o reator para ser aquecida novamente.
O interior de um reator como esse é composto de longos tubos, dentro dos quais as barras de combustível são armazenadas. Dentro dessas barras há urânio enriquecido. Quando o urânio radioativo se decompõe, grandes quantidades de energia são liberadas e aquecem a água ao seu redor. Ao mesmo tempo, nêutrons energizados são liberados e desencadeiam novas fissões nucleares nas barras de combustível adjacentes.
Para controlar ou parar o processo, são instaladas as chamadas hastes de controle, que absorvem os nêutrons liberados. Em um desligamento da usina nuclear, as hastes de controle são inseridas dentro do reator. Novas fissões nucleares são evitadas. O reator se resfria, no entanto não rápido o suficiente. O ciclo da água deve continuar sendo bombeado com energia para continuar o resfriamento do sistema.
A falta de energia leva a uma situação crítica. A pressão e a temperatura dentro do reator continuam subindo. Se não for possível interromper esse processo, a pressão e o calor podem causar danos ou mesmo destruir completamente o invólucro das barras de combustível.
Nessa fase, o conteúdo das barras de combustível, urânio e o produto de sua fissão, como o césio, afundam, o que pode levar a explosões nucleares descontroladas, que geram mais calor e pressão. No final do processo, o reator inteiro pode explodir, como ocorreu há quase 25 anos em Tchernobil. Essa fase é conhecida como o pior cenário possível. O conjunto dos produtos radioativos decompostos acaba sendo liberado para a atmosfera por uma explosão.
Em Fukushima, o circuito de segurança foi interrompido por falta de energia após o terremoto. O segundo nível de segurança, com geradores a diesel, também falhou. O resfriamento pôde ser mantido apenas por baterias elétricas, cujo tempo de funcionamento é limitado.
No reator, a temperatura da água subiu. Através da evaporação, a pressão aumentou. Para evitar uma explosão, a primeira tentativa foi expelir o vapor levemente radioativo através de uma válvula.
Mas essa opção foi apenas parcialmente bem sucedida. Caso ocorra uma fissão nuclear e, com isso, o colapso, as pessoas no Japão podem apenas torcer para que um vento leve embora a nuvem radioativa, soprando-a em direção ao Pacífico.
Autor: Sybille Golte (ff)
Revisão: Marcio Damasceno
DW
quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011
Comércio mundial de armas cresceu durante a crise econômica
Levantamento feito por um instituto sueco aponta crescimento de 8% nas vendas de armas pelas cem maiores fabricantes do mundo em 2009, superando o valor de 400 bilhões de dólares.
Enquanto o mundo sofria os solavancos da crise econômica, um setor passou incólume pela recessão: o de produção e comércio de armas. Um estudo divulgado nesta segunda-feira (21/02) na Suécia revelou que a venda de armamentos cresceu 8% em 2009, segundo ano da crise financeira mundial.
O levantamento é divulgado anualmente pelo Instituto Internacional de Pesquisas para a Paz de Estocolmo (Sipri, na sigla em inglês). Segundo dados reunidos pela entidade, os negócios feitos pelos fabricantes de armamentos atingiram um volume de 401 bilhões de dólares naquele ano, com um crescimento de 14,8 bilhões em relação a 2008.
A explicação para essa elevação, segundo a especialista do Sipri Susan Jackson, não foge do usual. "Os gastos do governo dos Estados Unidos em bens e serviços militares são um fator-chave para o aumento nas vendas de armas pelas fabricantes norte-americanas e pelas empresas europeias ocidentais com um pé no mercado norte-americano."
Brasil entre os compradores
Já Jan Grebe, especialista do Bonn International Center for Convertion, o Bicc, apresenta outras explicações. As pressões sobre os orçamentos militares de países europeus e dos Estados Unidos levaram as fabricantes a dar mais atenção a outros mercados.
"Esse quadro levou as empresas a exportar ainda mais para outros países não europeus, para que conseguissem vender essa quantidade", avalia Grebe. Esse comércio, apesar das restrições políticas, não é difícil porque há nações aptas a gastar grandes somas em compras de armas, argumenta.
Grebe cita os mercados emergentes e os produtores de petróleo do Oriente Médio. "O Brasil está comprando grande quantidade de armas (tanques alemães e submarinos franceses), que só podem ser pagas porque o país tem recursos financeiros disponíveis e vontade política para gastar esse dinheiro na modernização de suas Forças Armadas", pontua o especialista.
Sem a China
A China, que tem exercido um papel protagonista em quase todos os assuntos internacionais, não aparece na lista das cem maiores fabricantes de armas feita pela organização sueca.
Mas isso não se deve ao fato de os chineses não produzirem armamentos, pelo contrário: o Sipri observa que há empresas no país com forte potencial para figurar entre as cem maiores do mundo. No entanto, a falta de dados comparáveis e suficientemente precisos impede que a organização avalie a situação chinesa.
E ainda: "Há empresas em outros países, como o Cazaquistão e Ucrânia, que podem ser grandes o suficiente para aparecer entre as cem mais se os dados estivessem disponíveis, mas isso é menos provável", diz o Sipri em nota.
As maiores
Entre as cem fabricantes listadas pela organização com base em Estocolmo, 45 estão em solo norte-americano e são responsáveis por 61,5% das vendas contabilizadas no estudo. Cinco empresas alemãs aparecem na lista, nas posições 32º, 50º, 53º e 82º. A maior delas, Rheinmetall, faturou 2,64 bilhões de dólares em 2009 com vendas de armamentos.
Além das alemãs, 28 outras empresas europeias são mencionadas entre as maiores, localizadas em países como Finlândia, França, Itália, Noruega, Espanha, Suíça, Suécia e Reino Unido. Juntas, elas geraram 120 bilhões de dólares em 2009.
Dez companhias do ranking estão localizadas na Ásia e cinco no Oriente Médio – Israel, Kuwait e Turquia. Na lista do Sipri não aparecem indústrias localizadas na América Latina ou na África.
Autora: Nádia Pontes
Revisão: Alexandre Schossler
Deutsche Welle
sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
Congresso de hackers explora lados político e lúdico da ciberpirataria
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Logo do Chaos Computer Club |
"Ser hacker é um estilo de vida, fazer mais perguntas, tentar entender", diz Chaos Computer Club, que se reuniu em Berlim, abordando temas como censo e armazenamento de dados, mas também ensinando como arrombar cadeados.
Sob a sigla 27C3, transcorreu de 27 a 30 de dezembro em Berlim o 27º Chaos Communication Congress, o encontro anual do grupo de hackers Chaos Computer Club (CCC), maior grupo europeu de hackers.
Baseado na Alemanha, o clube se autodefine como "uma comunidade galáctica de formas de vida, independente de idade, sexo, raça ou orientação social, movendo-se entre fronteiras em prol da liberdade de informação".
Em palestras e oficinas, os 3 mil participantes se informaram sobre temas políticos e técnicos, desde censura, vigilância de dados e direitos autorais até segurança em telefonia pela internet (VoIP) e métodos para piratear smartphones.
"Torpedo da morte"
Por exemplo, no dia de abertura do congresso, Collin Mulliner and Nico Golde, dois especialistas em segurança de celulares da Universidade Técnica de Berlim, apresentaram o que designam como SMS of death (torpedo da morte): inundando telefones celulares com mensagens maliciosas, eles descobriram erros de programação nos aplicativos de leitura de textos.
Em certos casos, esses bugs permitem congelar o aparelho, forçando-o a reinicializar-se continuamente. Um ataque em grande escala poderia até mesmo causar o colapso de toda uma rede de telefonia móvel, ao induzir dezenas de milhares de telefones a se reconectarem simultaneamente, teorizaram Mulliner e Golde.
Vítimas em potencial seriam todos os aparelhos de gerações mais antigas, que não sejam smartphones, das firmas Sony Ericsson, Samsung, Motorola, Micromax e LG.
"Chaos" criativo
Fundado em 1981, o Chaos Computer Club é o mais antigo clube de ciberpiratas do mundo. Desde então, ele tem se destacado por expor falhas de segurança informática e por questionar a tendência generalizada à vigilância de dados acirrada, a partir dos atentados de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos.
Em março de 2008, num protesto contra o uso crescente de dados biométricos por parte das autoridades, membros do CCC obtiveram as impressões digitais do então ministro alemão do Interior Wolfgang Schäuble, e as divulgaram. Para tal, retiraram as marcas de um copo d'água usado pelo político conservador durante um evento público.
No congresso de 2007, o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, apresentou um projeto inicial do agora controvertido site dedicado à revelação de documentos oficiais de potencial interesse público. Lá, Assange conheceu Daniel Domscheit-Berg, um integrante do CCC considerado, até poucos meses atrás, o número dois do WikiLeaks.
Apoio ao WikiLeaks
Embora os dois grupos não sejam oficialmente associados, Frank Rosengart, porta-voz do CCC, confirma que sua organização apoia o WikiLeaks. Ambos perseguem metas semelhantes, sobretudo no que concerne a uma maior transparência no governo, ou o que Rosengart denomina "governo legível em máquina" (machine-readable government).
"Para nós, o WikiLeaks é a forma certa de agir: divulgar informação", comentou o porta-voz. "Manter a privacidade, manter as fontes anônimas é uma parte muito importante do software e uma boa forma de pirataria, para revelar o jogo de um sistema que funciona dessa maneira."
Segundo Rosengart, os congressos são, acima de tudo, um ponto de encontro favorável à colaboração técnica, como foi o caso com o WikiLeaks. "Há muitos projetos acontecendo – por exemplo, de programação de código aberto – e algumas pessoas se encontram aqui. Elas se conhecem online, trabalham, programam softwares juntas, mas se encontram aqui pela primeira vez, na vida real."
Recenseamento invasivo
Um dos focos do 27C3 é o armazenamento oficial de dados, que tem crescido dramaticamente nos últimos nove anos. Com o fim declarado de prevenir novos atentados terroristas, diversos governos, entre os quais o alemão e o estadunidense, passaram a armazenar um maior número de dados sobre os seus cidadãos.
O AK Vorrat – Grupo de Trabalho para Armazenamento de Dados – combate justamente nesse front. Sua campanha contra a lei de retenção de dados na Alemanha, em 2008, contribuiu para que ela fosse declarada inconstitucional, dois anos mais tarde.
Atualmente, a principal preocupação do AK Vorrat é o censo de 2011 no país, sobretudo as perguntas invasivas dirigidas às pessoas de fé muçulmana. Ele chama a atenção para o fato de que os dados coletados não serão anonimizados antes de quatro ou seis anos, e teme seu mau uso por parte de políticos.
Algoritmos para a vigilância
Porém, é claro, os interesses do encontro dos hackers internacionais ultrapassam as fronteiras da Alemanha. O Fórum de Informáticos pela Paz e Responsabilidade Social (FIFF) denunciou o Indect, um projeto de pesquisa em nível europeu que desenvolve tecnologias de vigilância para os governos.
Iniciado pela Plataforma Polonesa de Segurança Nacional, ele tem como meta "desenvolver algoritmos e métodos novos, avançados e inovadores para combater o terrorismo e outras atividades criminosas que afetem a segurança dos cidadãos" – como consta de seu site.
De acordo com Kai Nothdurft, membro da FIFF, o Indect coleta informações de diferentes origens, desde websites e redes sociais a bancos de dados governamentais e filmagens de manifestações políticas feitas por UAVs (veículos aéreos não tripulados).
"Eles combinam dados com imagens de câmeras de vigilância em locais públicos e usam reconhecimento facial", alertou. "Isso é uma coisa muito perigosa, pois todas essas técnicas se potencializam, ao serem combinadas." A FIFF é uma ONG alemã que se dedica em especial a questões de privacidade e segurança, assim como ao emprego de tecnologia em armas, robôs e na ciberguerra.
"Hacking": um estilo de vida
Embora os temas políticos sejam o grande foco do congresso de ciberpirataria, há espaço para workshops práticos e divertidos, ensinando a recuperar dados de um disco rígido quebrado ou como piratear o console de jogos Playstation 3. Há até mesmo um estande do clube alemão dos arrombadores de fechadura.
"Entrar por uma porta ou abrir um cadeado de que não se possui a chave é também uma técnica de hacking", explica uma afiliada do grupo, de pseudônimo Snow Goose. Mas ela insiste que o clube tem regras éticas: "Não ensinamos ninguém a entrar na casa de outras pessoas. Arrombe sempre só as suas próprias fechaduras!"
Curiosidade, investigação tecnológica, consciência cívica e ética parecem ser o que une os mais diferentes hackers. Para Frank Rosengart, trata-se, acima de tudo, de um estilo de vida.
"Piratear é fazer mais perguntas, tentar entender, usar dispositivos eletrônicos de forma diferente do que está no manual. Acho que temos que nos aventurar por aí com esse tipo de estilo de vida e tentar fazer um mundo melhor", resume o porta voz do Chaos Computer Club.
Autoria: Cinnamon Nippard / Augusto Valente
Revisão: Carlos Albuquerque
Revisão: Carlos Albuquerque
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