quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

ALEMANHA: QUEM É O CAVALO E QUEM É O CAVALEIRO?


O Ministério alemão da Defesa do Consumidor e as secretarias estaduais (da Alemanha) se propõem a operar em conjunto no esclarecimento do escândalo da carne equina não declarada. Durante uma reunião extraordinária nesta segunda-feira (18/02) foi esboçado um plano de ação nacional de dez pontos.

Deste faria parte a imposição de rótulos de origem para carnes, em nível europeu; um sistema preventivo de alerta; e o fortalecimento das vias regionais de circulação na produção de gêneros alimentícios. O plano de ação visa esclarecer os recentes achados de carne de cavalo em produtos congelados que deveriam conter apenas carne bovina, declarou em Berlim a secretária do estado de Hessen, Lucia Puttrich.

Ela e seus colegas de pasta estudam se o plano deverá prever a aplicação de penas e multas mais severas para os infratores. A meta é tornar a falsa rotulagem tão pouco gratificante quanto possível, pois "a fraude deixa de ser atraente quando não dá lucro", observou a democrata-cristã Puttrich.

Também porco em döners

Segundo a ministra alemã da Alimentação, Agricultura e Defesa do Consumidor, Ilse Aigner, o objetivo é desvendar "onde a declaração falsa do produto ocorreu". Ela disse acreditar que mais casos virão à tona.

Uma das medidas sugeridas é a criação de um site central na internet com informações sobre produtos retirados do mercado por rotulagem enganosa. Estuda-se se os fabricantes de alimentos serão obrigados a comunicar aos órgãos estaduais eventuais suspeitas de fraude. Atualmente, a medida só é obrigatória em caso de riscos à saúde.

Além disso, a Alemanha deverá estender as análises de alimentos para além da lista de ingredientes estipulada na última semana pela União Europeia. Por exemplo: as refeições prontas deverão ser também examinadas quanto à adição de carne suína. Neste fim de semana foi constatada a presença de porco em döners – tipo de fast-food turca – em Berlim e Leipzig, fato totalmente inaceitável para os muçulmanos por questões religiosas.

Ativistas descontentes

Políticos de oposição acusam a ministra da Defesa do Consumidor de haver, até agora, impedido a adoção de normas mais severas: ainda em 2011 ela se opusera à designação de origem da carne. "Aigner tem que finalmente cuidar para que se saiba 'quem é o cavalo e quem é o cavaleiro'", exigiu a secretária-geral do Partido Social-Democrata, Andrea Nahles.

Para Jürgen Knirsch, perito da ONG ambiental Greenpeace, o plano de ação esboçado em Berlim não é o bastante. Ele quer uma melhor supervisão de toda a indústria de produção de carne, assim como o fim dos privilégios desta em relação ao Imposto de Valor Agregado (IVA). Knirsch afirma serem necessários "pelo menos outros mil fiscais de alimentos" em nível federal para conter a "máfia da carne".

O vice-diretor geral da organização de defesa do consumidor Foodwatch, Matthias Wolfschmidt, criticou a legislação federal sobre o assunto. Segundo ele, é absurdo um estado poder apenas registrar a constatação de derivados de carne equina falsamente declarados, ficando impedido de denominar os produtos que os contêm.

Problema transfronteiras

Enquanto isso, o escândalo se alastra na Alemanha. Grandes cadeias de supermercados, como Aldi Süd, Aldi Nord, Lidl e/ou seus fornecedores admitiram a presença de DNA equino em numerosas refeições prontas – de massas à bolonhesa à sopa gulache – que deveriam conter exclusivamente carne de gado.

O atual escândalo tem origem na Grã-Bretanha, e foi revelado na França e a Suécia, antes de chegar à Alemanha. As investigações são em ampla escala, já que numerosas firmas de vários países da UE estão envolvidas nas sucessivas fases de produção, e os ingredientes atravessam várias fronteiras até chegar à mesa do consumidor.

AV/dpa/afp/rtr
Revisão: Alexandre Schossler

DW.DE

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

O PAPA NÃO É MAIS POP

O legado do renunciante no Brasil

O evento mais midiático da visita do papa Bento XVI ao Brasil em 2007 foi a beatificação de um franciscano que enfrentou o poder secular na defesa de um soldado negro condenado à forca. E o de menor interesse público foi a assinatura do acordo para que o Estado brasileiro e a Santa Sé formulassem o estatuto jurídico da igreja católica no país.

 

Bento XVI havia sido sagrado dois anos antes e, nesse pequeno extrato de seu papado, foi capaz de traduzir a missão política de que se investira.
Com a beatificação de Frei Galvão dispunha-se a mostrar que a "opção preferencial pelos pobres" não poderia ser reinvindicada exclusivamente pela banda do clero, em baixa no Vaticano, que, anos atrás, havia se irmanado com movimentos sociais para o surgimento do PT do presidente da República.
Igreja protegeu bens contra ações trabalhistas
Mas se a beatificação conferiu simbolismo à visita política de um teólogo, o capítulo mais substancioso de sua passagem foi a assinatura do acordo negociado por 17 anos entre os dois Estados.
O acordo, que acabaria virando estatuto ao final do segundo mandato Luiz Inácio Lula da Silva, não vai além do que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação prevê para o ensino religioso nem inibe a possibilidade de, um dia, o Estado descriminalizar o aborto.
A maior vitória da igreja com o texto foi a inclusão de um artigo que prevê o trabalho voluntário, sem vínculo empregatício, de leigos, padres e freiras que trabalham em instituições católicas. É nas ordens religiosas e não nas paróquias que está a maior fonte de renda da igreja. São os hospitais, escolas e imóveis dessas ordens que se viram crescentemente ameaçados pelas reclamações trabalhistas tanto de leigos quanto de padres e freiras que abandonam o hábito.
Além de um gesto de boa vontade com a Santa Sé, o governo petista agradava o comando da CNBB, de hegemonia conservadora à época e com a qual comungavam bispos como o então cardeal do Rio, d. Eusébio Scheidt, responsável pela desastrada definição do presidente: "Lula não é católico, é caótico".
Oito meses depois de promulgado o estatuto e três dias antes do segundo turno da tumultuada sucessão presidencial de 2010 o papa recebeu uma comitiva de bispos brasileiros que saíram do Vaticano com um recado para os eleitores. Não deveriam votar em candidatos que defendessem o aborto, mesma pregação do postulante do PSDB à Presidência, José Serra.
Além de ter tido fôlego curto na garantia de boas relações entre o petismo e a Santa Sé, o acordo indispôs um governo de extrato trabalhista com os movimentos sociais que abastecem de mão de obra as pastorais sociais da igreja.
Colaborou ainda para o azedume das relações entre o governo brasileiro e a cúpula eclesiástica a prosperidade dos negócios pentecostais sob o governo petista. A questão que mais parece pôr em xeque o papel da igreja na conjuntura, no entanto, é a perda de audiência católica em entre aqueles que passaram a consumir mais, seja pela ampliação do emprego e dos programas sociais, seja pela disputa com denominações mais identificadas com o ideário da prosperidade.
Se essa perda de fieis ainda não ameaça a condição de maior país católico do mundo tampouco colabora para aumentar o peso do episcopado brasileiro nos rumos de um papado voltado para a reevangelização do catolicismo europeu que Bento XVI sempre creu superior.
Pela frequência com que tem se pronunciado desde que anunciou sua renúncia, Bento XVI chegará a 28 de fevereiro, dia em que descalcará seus múleos vermelhos, como um cabo eleitoral de seu sucessor mais poderoso do que se exercesse o cargo vitalício até o fim, tolhido que parecia estar pelas intrigas da Cúria relatadas pelos mais eminentes especialistas em Vaticano.
Na homilia que deu início à quaresma pediu o fim das divisões do corpo eclesial. Como se quisesse deixar claro que o fim dessas divisões não deveria significar a prevalência de tendências mais modernizantes do catolicismo, reuniu os padres de Roma ontem e reafirmou suas críticas a leituras do Concílio Vaticano II, que "banalizaram a liturgia em nome da soberania popular".
Essas leituras criticadas pelo papa viram no concílio o início de uma maior abertura da igreja ao ecumenismo, ao diálogo com a ciência e à solidariedade com o mundo subdesenvolvido.
A maioria dos 117 cardeais que votarão no próximo conclave foi escolhida por Bento XVI e por João Paulo II, cujo papado foi fortemente influenciado pelo então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, que o sucederia.
Não se deve esperar deste conclave, portanto, uma guinada teológica. Mas a renúncia expôs as disputas mais terrenas que pressionarão o cardinalato a sinalizar punições a crimes de sexo e dinheiro. Na homilia da quaresma Bento XVI fez uma menção sutil ao condenar a "hipocrisia religiosa, o comportamento dos que querem aparentar, as atitudes que buscam os aplausos e a aprovação".
A resistência dos últimos oito anos de papado em punir bispos omissos em relação aos crimes sexuais cometidos pelos padres de suas paróquias não recebeu, de fato, aplausos nem aprovação.
A rede de sobreviventes de abusos de padres, uma ativa organização sediada nos Estados Unidos, já listou três cardeais indesejáveis - de Nova York, Tegucigalpa e Cidade do México - por serem os maiores críticos à cobertura da imprensa sobre o tema.
Na outra frente de problemas, de punição ainda mais escassa, a corrupção no Instituto para as Obras do Vaticano revela um papa imobilizado pelas intrigas da Cúria e refém de interesses que passam pela lavagem de dinheiro da máfia, de políticos e construtoras, como denunciou seu último dirigente ao demitir-se no ano passado.
Não são problemas novos mas que, nos últimos oito anos, apenas se agravaram, pondo em xeque o legado da superioridade moral da igreja católica, tão caro ao papa que se vai.
Maria Cristina Fernandes é editora de Política.

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Os estranhos visitantes do Dops




O que um representante da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) faria em um centro de torturas da ditadura civil-militar (1964-1985) duran­te madrugadas? O que levaria um cônsul dos Estados Unidos a esse mesmo lugar repetidas vezes, por longas horas?

É sobre essas questões se que se de­bruçam atualmente os membros da Co­missão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva”. Por meio de in­vestigações, a Comissão apurou que pessoas ligadas à Fiesp e ao Consula­do eram presença constante durante os dias e as noites do Departamento Esta­dual de Ordem Política e Social de São Paulo (Dops), um dos órgãos represso­res criados pelo regime.

Para tentar esclarecer esses fatos, a Comissão Estadual da Verdade realiza­rá uma audiência pública na próxima segunda-feira (18), às 14h, na Assembleia Legislativa (Alesp), onde apresentará os documen­tos que embasaram as investigações.

Visitas frequentes

A chave para a descoberta foi uma pesquisa no “Coincidência”? Cônsul estadunidense entra no Dops cinco minutos depois do capitão Ênio Pimentel Silveira, um dos torturadores mais famosos do período - Foto: Documentos do Arquivo Público do Esta­do de São Paulo. Ao checar os livros de registro de entrada e saída do pré­dio do Dops, localizado no centro da ca­pital paulista, integrantes da Comissão Estadual da Verdade perceberam a fre­quência de dois nomes, que não faziam parte das equipes policiais: “Dr. Geral­do Rezende de Matos”, que se apresen­tava no formulário como “Fiesp”, e “Dr. Halliwell”, que assinava como “Consula­do Americano”.

Além da assiduidade, despertaram atenção os horários em que os represen­tantes da Fiesp e do consulado estaduni­dense se dirigiam ao prédio do Dops e as longas horas em que permaneciam ali.

Somente nos meses de abril a setem­bro de 1971 (os livros com os outros me­ses deste ano desapareceram), Geral­do Rezende de Matos, da Fiesp, dirigiu­se ao local 40 vezes. Em uma dessas vi­sitas, sua entrada ocorreu às 17h30min, mas não consta horário de saída. Como os funcionários da portaria trabalhavam apenas até 22h, os movimentos feitos de­pois deste horário não eram anotados. Significa, então, que Matos teria ficado além das 22h.

Já em outro registro, de 24 de abril de 1972, o representante da Fiesp entra no prédio às 18h20 e sai às 12h35 do dia se­guinte, 25 de abril. Foram cerca de 18 ho­ras no local.

“O que o cara da Fiesp ia fazer lá? Essa é a pergunta que fazemos”, explica o co­ordenador da Comissão Estadual da Ver­dade, Ivan Seixas.

Seixas, que também é ex-preso políti­co e membro da Comissão de Familiares dos Mortos e Desaparecidos Políti­cos, conta que a Comissão já pediu escla­recimentos à Fiesp sobre o assunto. A fe­deração, por sua vez, alega não ter regis­tros de Geraldo Rezende de Matos.

De acordo com investigações da Co­missão, Matos era um empresário ligado aos ramos de metalurgia, além de pos­suir uma empresa de seguros e repara­ção que atendia militares.

“A Fiesp tem que explicar isso, não es­tamos inventando nada”, destaca o pre­sidente da Comissão Estadual da Verda­de, o deputado Adriano Diogo (PT-SP). “Queremos saber por que uma pessoa que ia ao Dops, [onde] permanecia horas e madrugadas, assinava como represen­tante da Fiesp”, completa.

A Fiesp foi convidada para prestar es­clarecimentos sobre o caso na audiên­cia pública do dia 18. A reportagem en­trou em contato com a assessoria de im­prensa da federação, que não soube in­formar se a instituição estará representa­da.

Empresariado

Os vínculos do empresariado com os agentes da ditadura são assunto antigo de pesquisas e estudos. O tema é a ba­se do documentário Cidadão Boilesen (2009), dirigido por Chaim Litewski. O filme, que resgata a vida do empresário dinamarquês Henning Boilesen, desve­la não apenas as contribuições financei­ras do protagonista (então presidente do grupo Ultra) ao aparato militar, mas de diversas figuras ligadas a organizações multinacionais e instituições, incluindo a Fiesp.

Em novembro, o coordenador da Co­missão da Verdade, Cláudio Fonteles, di­vulgou um texto em que relaciona a Fiesp à produção de armas para os militares que derrubaram João Goulart da presi­dência em 1964. No documento, Fonte­les cita um relatório confi dencial produ­zido pelo Serviço Nacional de Informa­ções (SNI), hoje sob guarda do Arquivo Nacional, que descreve a criação do Gru­po Permanente de Mobilização Indus­trial (GPMI) em 31 de março de 1964, da­ta do golpe. De acordo com o documento, o órgão teve a função de fornecer “armas e equipamentos militares aos revolucio­nários paulistas”.

O caso de Geraldo Rezende de Matos, no entanto, desperta na Comissão outra suspeita. Para Seixas, é provável que as idas de Matos ao Dops visassem a troca de informações entre empresários, a po­lícia e o Exército. “Vem à cabeça de todo mundo, quando se fala em empresários e repressão, o financiamento. Mas nós não estamos trabalhando com essa hipótese. Para nós, a Fiesp ia lá entregar nomes de operários para serem reprimidos”, escla­rece Seixas.

Consulado

Já o “Dr. Halliwell” dos livros de regis­tros era Claris Rowley Halliwell (1918­2006), cônsul estadunidense no Bra­sil entre 1971 e 1974. Junto à Universi­dade de San Diego, na Califórnia, a Co­missão apurou que Halliwell teria inte­grado o serviço secreto dos Estados Uni­dos, a CIA.

Assim como Geraldo Rezende de Ma­tos, ele também comparecia com fre­quência aoDops, sobretudo à noite, on-de permanecia durante toda a madruga­da. De abril a setembro de 1971, Halliwell esteve no local 31 vezes, de acordo com os registros.

Em uma das idas, em 5 de abril de 1971, seu ingresso no prédio ocorreu às 12h40min da tarde, cinco minutos de­pois da entrada do capitão Ênio Pimen­tel Silveira, torturador que fi cou conhe­cido como “Dr. Ney”. Ambos permanece­ram no prédio além das 22h.

As “coincidências” não param por aí. Nesse mesmo dia, pela manhã, havia si-do preso e levado para o Dops Devanir José de Carvalho, dirigente do Movimen­to Revolucionário Tiradentes (MRT). Depois de uma série de torturas, Carva­lho faleceu em 7 de abril.

Para Ivan Seixas, não há como negar o envolvimento do cônsul com os crimes. “Nos prédios do Dops e da Oban [Ope­ração Bandeirante], quando se torturava não era segredo. O prédio inteiro ouvia, a vizinhança também. O mínimo que se pode dizer era que o ‘cara’ [cônsul] era conivente, mas eu acho que [ele] era par­ticipante”, diz Seixas. Depois de sair do Brasil, Halliwell foi cônsul estadunidense no Chile – onde, um ano antes, um golpe de Estado havia tirado do poder Salvador Allende.

“A gente acha que essas coisas são de filme de ficção científica, que ‘na minha terra não tem isso’. O ‘cara’ não estava le­vando os passaportes para a Disneylân­dia, era um agente da CIA”, ressalta o de­putado Adriano Diogo, que integrou a militância estudantil durante o regime.

Para o deputado, a revelação desses registros ajudará a contar a história des-se período e a revelar quem praticou e engendrou os crimes.“Os documentos evidenciam a existência de uma enor­me organização criminosa que se reunia nas dependências do Dops para tortu­rar as pessoas, matar e planejar seques­tros”, pontua.

Patrícia Benvenuti
Brasil de Fato

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Quem é a mulher dos comerciais de TV?


Por Leonardo Sakamoto, em seu blog:

Baseado no que nos dizem os comerciais de televisão, finalmente consegui entender quem é a mulher brasileira.

Ela é simpática, meiga, solícita. Independente, mas multitarefa. Não é que não queira a ajuda de ninguém – ela não precisa. Faz questão de trabalhar o dia inteiro e, depois, chegar em casa e cuidar de tudo e dos filhos. E, se o marido aguentar, ainda está disponível para muito sexo.

Vejamos: ela gosta de fazer uma boa faxina. Daquelas pesadas, que incluem tirar gordura do fogão, a sujeira do chão e o pó que se esconde nos vãos, desde que os produtos usados não irritem muito a pele. E que o sachê para tirar odor do vaso sanitário possa ser trocado facilmente. Afinal de contas, hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás! O que ela mais ama ganhar de presente de Dia das Mães é uma geladeira e um aspirador de pó.

E o momento em que a mulher brasileira prefere dar a geral na casa é quando os filhos clamam por atenção, querendo a velha e boa papinha de nenê com frango com hormônio ou a fralda nova que absorve o xixi antes mesmo dele ser feito. Ou no momento exato em que a horda composta pelos amigos do rebento mais velho resolve vir comer cachorro-quente e sanduíche de peito de peru ao mesmo tempo. É sempre ela, sozinha, que abre as garrafas de refrigerante, engordando a molecada.

Até porque, como sabemos, é raro homem aparecendo na cozinha em comercial. Ele só vai para preparar pratos especiais, refinados, gourmet. No dia a dia, o reino das panelas é das mulheres. Para ele, há outras tarefas: aparece com mais frequência, por exemplo, em anúncios de TVs LED de 52″ e de carros que não rodam, voam – deixando claro que tamanho e potência são o que importam de verdade. Ou nos de cerveja, como se o consumo de álcool fosse algo apartado por gênero. Aí sim, ressurge a brasileira, pelada, esbanjando sensualidade, disponível para qualquer coisa, quase pedindo: “vem cá e me beba inteira”.

Voltemos à mulher que acabou de lavar a louça com um detergente que transforma pratos em espelhos e colocar a roupa do marido do futebol na máquina de lavar com um sabão que deixa tudo muito branco. Ela, que nasceu com um cabelo maravilhosamente cacheado, aproveitou o tempinho livre que o uso de produtos de limpeza avançados lhe concedeu e o alisa inteiro com uma das incríveis chapinhas anunciadas no canal a cabo. Quer ficar igual às amigas, que são iguais às mulheres dos comerciais de TV, que são iguais às modelos, que atendem a um parâmetro traçado por uma elite de outro continente, de que liso é bom, curvo é uma droga. Tem o mesmo DNA da ideia de que branco é bom, negro é uma droga.

Ela ainda aproveita alguns segundos para untar a barriga com gel emagrecedor, tomar alguns comprimidos feitos com esterco de besouro caolho da Serra da Mantiqueira que prometem emagrecer e depilar a perna com emplastos coloridos que ninguém provou que não são carcinogênicos. Está cansada, mas sabe como o marido fica depois de tanto comercial de cerveja. Quer agradá-lo. Coitado, trabalha tanto, né? Corre ao banheiro e esconde o tempo, o cansaço e a idade com maquiagens mil. Diante do espelho, ao ver outra mulher que não ela, uma mulher que ela tem certeza que viu diz desses na TV, sorri.

Então, respira fundo para poder aceitar a vida que os comerciais lhe garantiram ser o modelo de felicidade. Deita-se na cama, enquanto espera. E viaja para bem longe. Sozinha.

Pena que, infelizmente, antidepressivo não aparece em comercial de TV. Ainda.
 
Extraído do Blog do Miro.

Fonte da imagem AQUI.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Conheça 10 transgênicos que já estão na cadeia alimentar


Thomas Pappon *

No final de dezembro passado, a agência que zela pela segurança alimentar nos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA) aprovou para consumo um tipo de salmão geneticamente modificado, reacendendo o debate sobre a segurança dos transgênicos e suas implicações éticas, econômicas sociais e políticas. 

É a primeira vez que um animal geneticamente modificado é aprovado para consumo humano.

Mas muitos consumidores nos Estados Unidos, Europa e Brasil, regiões em que os organismos geneticamente modificados (OGMs) em questão de poucos anos avançaram em velocidade surpreendente dos laboratórios aos supermercados, passando por milhões de hectares de áreas cultiváveis, continuam desconfiados da ideia do homem cumprindo um papel supostamente reservado à natureza ou à evolução - e guardam na memória os efeitos nocivos, descobertos tarde demais, de "maravilhas" tecnológicas como o DDT e a talidomida.

Boa parte do público ainda teme possíveis efeitos negativos dos transgênicos para a saúde e o meio ambiente.

Pesquisas de opinião nos Estados Unidos e na Europa, entretanto, indicam que a resistência aos OGMs tem caído, refletindo, talvez, uma tendência de gradual mudança de posição da percepção pública.

As principais academias de ciências do mundo e instituições como a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) são unânimes em dizer que os transgênicos são seguros e que a tecnologia de manipulação genética realizada sob o controle dos atuais protocolos de segurança não representa risco maior do que técnicas agrícolas convencionais de cruzamento de plantas.

O salmão transgênico, que pode chegar às mesas de jantar em 2014, será o primeiro animal geneticamente modificado (GM) consumido pelo homem.

Vários produtos GM já estão nos supermercados, um fato que pode ter escapado a muitos consumidores - apesar da (discreta) rotulagem obrigatória, no Brasil e na UE, de produtos com até 1% de componentes transgênicos.

A BBC Brasil preparou uma lista com 10 produtos e derivados que busca revelar como os transgênicos entraram, estão tentando ou mesmo falharam na tentativa de entrar na cadeia alimentar.

MILHO

Com as variantes transgênicas respondendo por mais de 85% das atuais lavouras do produto no Brasil e nos Estados Unidos, não é de se espantar que a pipoca consumida no cinema, por exemplo, venha de um tipo de milho que recebeu, em laboratório, um gene para torná-lo tolerante a herbicida, ou um gene para deixá-lo resistente a insetos, ou ambos. Dezoito variantes de milho geneticamente modificado foram autorizadas pelo CTNBio, órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia que aprova os pedidos de comercialização de OGMs.

O mesmo pode ser dito da espiga, dos flocos e do milho em lata que você encontra nos supermercados. Há também os vários subprodutos – amido, glucose – usados em alimentos processados (salgadinhos, bolos, doces, biscoitos, sobremesas) que obrigam o fabricante a rotular o produto.

O milho puro transgênico não é vendido para consumo humano na União Europeia, onde todos os legumes, frutas e verduras transgênicos são proibidos para consumo – exceto um tipo de batata, que recentemente foi autorizado, pela Comissão Europeia, a ser desenvolvido e comercializado. Nos Estados Unidos, ele é liberado e não existe a rotulação obrigatória.

ÓLEOS DE COZINHA

Os óleos extraídos de soja, milho e algodão, os três campeões entre as culturas geneticamente modificadas – e cujas sementes são uma mina de ouro para as cerca de dez multinacionais que controlam o mercado mundial – chegam às prateleiras com a reputação “manchada” mais pela sua origem do que pela presença de DNA ou proteína transgênica. No processo de refino desses óleos, os componentes transgênicos são praticamente eliminados. Mesmo assim, suas embalagens são rotuladas no Brasil e nos países da UE.

SOJA

No mundo todo, o grosso da soja transgênica, a rainha das commodities, vai parar no bucho dos animais de criação - que não ligam muito se ela foi geneticamente modificada ou não. O subproduto mais comum para consumo humano é o óleo (ver acima), mas há ainda o leite de soja, tofu, bebidas de frutas e soja e a pasta misso, todos com proteínas transgênicas (a não ser que tenham vindo de soja não transgênica). No Brasil, onde a soja transgênica ocupa quase um terço de toda a área dedicada à agricultura, a CTNBio liberou cinco variantes da planta, todas tolerantes a herbicidas – uma delas também é resistente a insetos.

MAMÃO PAPAYA

Os Estados Unidos são o maior importador de papaya do mundo – a maior parte vem do México e não é transgênica. Mas muitos americanos apreciam a papaya local, produzida no Havaí, Flórida e Califórnia. Cerca de 85% da papaya do Havaí, que também é exportada para Canadá, Japão e outros países, vem de uma variedade geneticamente modifica para combater um vírus devastador para a planta. Não é vendida no Brasil, nem na Europa.

QUEIJO

Aqui não se trata de um alimento derivado de um OGM, mas de um alimento em que um OGM contribuiu em uma fase de seu processamento. A quimosina, uma enzima importante na coagulação de lacticínios, era tradicionalmente extraída do estômago de cabritos – um procedimento custoso e "cruel". Biotecnólogos modificaram micro-organismos como bactérias, fungos ou fermento com genes de estômagos de animais, para que estes produzissem quimosina. A enzima é isolada em um processo de fermentação em que esses micro-organismos são mortos. A quimosina resultante deste processo - e que depois é inserida no soro do queijo – é tida como idêntica à que era extraída da forma tradicional. Essa enzima é pioneira entre os produtos gerados por OGMs e está no mercado desde os anos 90. Notem que o queijo, em todo seu processo de produção, só teve contato com a quimosina - que não é um OGM, é um produto de um OGM. Além disso, a quimosina é eliminada do produto final. Por isso, o queijo escapa da rotulação obrigatória.

PÃO, BOLOS e BISCOITOS

rigo e centeio, os principais cereais usados para fazer pão, continuam sendo plantados de forma convencional e não há variedades geneticamente modificadas em vista. Mas vários ingredientes usados em pão e bolos vêm da soja, como farinha (geralmente, nesse caso, em proporção pequena), óleo e agentes emulsificantes como lecitina. Outros componentes podem derivar de milho transgênico, como glucose e amido. Além disso, há, entre os aditivos mais comuns, alguns que podem originar de micro-organismos modificados, como ácido ascórbico, enzimas e glutamato. Dependendo da proporção destes elementos transgênicos no produto final (acima de 1%), ele terá que ser rotulado.

ABOBRINHA

Seis variedades de abobrinha resistentes a três tipos de vírus são plantadas e comercializadas nos Estados Unidos e Canada. Ela não é vendida no Brasil ou na Europa.

ARROZ

Uma das maiores fontes de calorias do mundo, mesmo assim, o cultivo comercial de variedades modificadas fica, por enquanto, na promessa. Vários tipos de arroz estão sendo testados, principalmente na China, que busca um cultivo resistente a insetos. Falou-se muito no golden rice, uma variedade enriquecida com beta-caroteno, desenvolvida por cientistas suíços e alemães. O "arroz dourado", com potencial de reduzir problemas de saúde ligados à deficiência de vitamina A, está sendo testado em países do sudeste asiático e na China, onde foi pivô de um recente escândalo: dois dirigentes do projeto foram demitidos depois de denúncias de que pais de crianças usadas nos testes não teriam sido avisados de que elas consumiriam alimentos geneticamente modificados.

FEIJÃO

A Empresa Brasileira para Pesquisa Agropecuária (Embrapa), ligada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, conseguiu em 2011 a aprovação na CTNBio para o cultivo comercial de uma variedade de feijão resistente ao vírus do mosaico dourado, tido como o maior inimigo dessa cultura no país e na América do Sul. As sementes devem ser distribuídas aos produtores brasileiros - livre de royalties – em 2014, o que pode ajudar o país a se tornar autossuficiente no setor. É o primeiro produto geneticamente modificado desenvolvido por uma instituição pública brasileira.

SALMÃO

Após a aprovação prévia da FDA, o público e instituições americanos têm um prazo de 60 dias (iniciado em 21 de dezembro) para se manifestar sobre o salmão geneticamente modificado para crescer mais rápido. Em seguida, a agência analisará os comentários para decidir se submete o produto a uma nova rodada de análises ou se o aprova de vez. Francisco Aragão, pesquisador responsável pelo laboratório de engenharia genética da Embrapa, disse à BBC Brasil que tem acompanhado o caso do salmão "com interesse", e que não tem dúvidas sobre sua segurança para consumo humano. "A dúvida é em relação ao impacto no meio ambiente. (Mesmo criado em cativeiro) O salmão poderia aumentar sua população muito rapidamente e eventualmente eliminar populações de peixes nativos. As probabilidades de risco para o meio ambiente são baixas, mas não são zero...na natureza não existe o zero".

E ESTES NÃO "DERAM CERTO"…

A primeira fruta aprovada para consumo nos Estados Unidos foi um tomate modificado para aumentar sua vida útil após a colheita, o "Flavr Savr tomato". Ele começou a ser vendida em 94, mas sua produção foi encerrada em 97, e a empresa que o produziu, a Calgene, acabou sendo comprada pela Monsanto. O tomate, mais caro e de pouco apelo ao consumidor, não emplacou. O mesmo ocorreu com uma batata resistente a pesticidas, lançada em 95 pela Monsanto: a New Leaf Potato. Apesar de boas perspectivas iniciais, ele não se mostrou economicamente rentável o suficiente para entusiasmar fazendeiros e foi tirada do mercado em 2001.

* Da BBC Brasil em Londres

Fonte da imagem AQUI.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

A MAIORIA DE OBAMA



La mayoría de Obama  

Harold Meyerson · · · · · 


“Nosotros somos aquellos a los que esperábamos. Somos nosotros el cambio que buscamos”, declaró el candidato Barack Obama en 2008. En aquel momento, sus comentarios se recibieron con críticas: que si eran narcisistas, que si eran tautológicos, que si no tenían mucho sentido…


Pero tras la reelección de Obama en 2012 y su segundo discurso inaugural, sus observaciones de 2008 parecen menos una declaración ensimismada que algo profético. Hay una mayoría de Obama en la política norteamericana, simbolizada en el gentío del Mall [el gran paseo frente al Capitolio de Washington], cuya existencia es consecuencia tanto de los profundos cambios en la composición y valores de nuestro país como causa de cambios aún por llegar.


Esa mayoría, como dejó claro el presidente en sus observaciones, no existiría de no haber sido por las luchas de los norteamericanos por ampliar nuestra creencia fundacional en la igualdad de todos los hombres. El impulso por extender la igualdad, declaró en la línea más vibrante de su discurso “es la estrella que aún nos guía, como guió a nuestros antepasados en Seneca Falls, en Selma y en Stonewall”. [1]


Nuestra historia, sostuvo Obama, es una historia de adaptación de nuestros ideales a un mundo cambiante. Su discurso (al igual que libros recientes como el de Michael Lind y mi colega del Washington Post, E.J. Dionne Jr.) [2] reivindica una historia que no sea la de las tergiversaciones tanto de los originalistas constitucionales como de los fantasiosos “libertarios”. “La fidelidad a nuestros principios fundadores requiere nuevas respuestas a nuevos retos”, afirmó el presidente. “Preservar nuestras libertades individuales exige acción colectiva en última instancia. Pues el pueblo norteamericano no puede enfrentarse a la exigencias del mundo de hoy más de lo que podrían haberse enfrentado los soldados norteamericanos a las fuerzas del fascismo y el comunismo con mosquetes y milicias”.


Habiendo dejado establecido que el arco moral y práctico de la historia norteamericana se vence del lado de la igualdad, Obama se comprometió a impulsar aun más las demandas de igualdad, para terminar con la inferioridad salarial de las mujeres trabajadoras, la supresión del voto que obliga a algunos norteamericanos, generalmente de las minorías, a esperar horas y horas para poder depositar su voto, la deportación de inmigrantes que contribuirían, si no, a levantar la economía, y las leyes que prohíben casarse a los gays norteamericanos.


No obstante, tal como reconoció el presidente, está aumentando la igualdad social, aun cuando la relativa igualdad económica que antaño definía la vida norteamericana haya retrocedida rápida y enormemente. “Nuestro país no puede tener éxito”, afirmó, “cuando a unos cuantos, cada vez menos, les va muy bien y una mayoría cada vez más numerosa apenas tiene para poder arreglárselas”. Para ello, Obama recomendó poner al día nuestros impuestos y reformar nuestras escuelas, pero estas medidas no son suficientes para transformar nuestra nación en un país que, tal como dijo el presidente, “recompense el esfuerzo y la determinación de todos y cada uno de los norteamericanos”. La mengua de la clase media constituye, junto al cambio climático, el asunto más espinoso en la agenda del presidente y exige soluciones de largo alcance más allá de cualquiera de las expuestas por él. Los trabajadores norteamericanos deben recuperar el poder del que antaño disponían para negociar colectivamente sus salarios, pero eso no es más que el principio de la lista de reformas económicas que resultan tan difíciles de alcanzar como necesarias para volver a crear un país financieramente dinámico.


El presidente concluyó su discurso pidiendo a sus partidarios que se le sumaran para contribuir a “configurar los debates de nuestro tiempo”. El mayor error que cometió Obama cuando ocupó su cargo consistió en disolver efectivamente la organización de millones de norteamericanos que habían trabajado en pro de su elección, en parte por temor a que pudiera molestar a miembros del Congreso cuyo voto necesitaba para sus políticas. No desea ahora ese desarme unilateral; sus operativos esperan mantener sobre el terreno a ese ejército de voluntarios de la campaña de 2012 para las batallas legislativas que quedan por delante. Las legiones de Obama han demostrado que pueden ganar elecciones, y esto importa bastante más, ha aprendido el presidente, que cualquier vestigio de buena voluntad que pueda conseguir remitiéndose al Congreso.


La Mayoría de Obama — su existencia y movilización — es lo que le permitió al presidente pronunciar un discurso tan ideológico. No se había pronunciado una alocución inaugural así desde que Ronald Reagan juró el cargo en 1981, exigiendo el recorte de los programas gubernamentales y con la seguridad de saber que buena parte de clase trabajadora blanca había abandonado sus lealtades para con los demócratas y respaldaba su ataque al sector público y los derechos de las minorías. El lunes, Obama, sabiendo de seguro que las minorías se habían unido a otros grupos progresistas para formar una nueva coalición de gobierno, dio voz a sus demandas de garantías de igualdad y de preservar y ampliar los esfuerzos del gobierno para hacer frente a los desafíos del país. Al abandonar el estrado, se detuvo y se volvió para maravillarse de las multitudes, de la nueva mayoría norteamericana que representaban. Eran aquellos a los que él, y nosotros, estábamos esperando.

Notas del t.:

[1] De forma tan simbólica como eufónica, Obama sintetiza aquí la causa feminista en Seneca Falls, localidad del estado de Nueva York, donde se celebró en 1848 la primera convención por los derechos de la mujer; el movimiento por los derechos civiles en Selma, población del estado de Alabama y escenario de una de las primeras marchas del  contra la segregación racial en 1965; y la lucha de liberación de los homosexuales en Stonewall, el bar de la ciudad de Nueva York en el que comenzó en junio de 1969 la revuelta contra el acoso policial a la comunidad gay.

[2] Michael Lind, Land of Promise: An Economic History of the United States, HarperCollins, 2012; E.J. Dionne, Jr., Our Divided Political Heart: The Battle for the American Idea in an Age of Discontent, Nueva York, Bloomsbury, 2012.

Harold Meyerson es un veterano y reconocido periodista estadounidense, director ejecutivo de la revista The American Prospect y columnista de The Washington Post

Traducción para www.sinpermiso.info: Lucas Antón

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domingo, 3 de fevereiro de 2013

A VIDA DOS NOSSOS FILHOS

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Por Roberto Gonçalves de Lima*

Nós criamos nossos filhos com medo. Os ensinamos a viver a partir do medo. Medo de atravessar a rua e ser atropelado em cima da faixa de segurança, de se dirigir a um policial pedindo ajuda e acabar levando um tiro, de sofrer um acidente e não obter o socorro adequado do plano de saúde que pagamos religiosamente há vinte anos, de morrer asfixiado em uma boate superlotada para dar uma noite de lucro maior aos seus donos irresponsáveis.


Pais preocupados da classe média passam madrugadas levando e trazendo seus filhos de festas, casas de amigos, casas noturnas, com medo que sejam colhidos pela morte num acidente de trânsito, numa overdose, ou num assalto. Pais que não têm carro simplesmente não encontram alternativa outra que não seja vibrar com muita força todas as células do próprio corpo em orações infindáveis, até que ouçam o barulho da chave na porta de casa.

Mas por que estamos vivendo assim? Em nome de que?

O que a tragédia de Santa Maria mostra é a face mais podre, mas inexplicável do capitalismo, pois em função de algum lucro a mais, empreendedores de todos os tipos de negócio são capazes de menosprezar as mínimas condições de segurança, o que significa que são capazes de menosprezar a vida sem o menor pudor, desde que isso assegure mais dinheiro.

Quando deixamos de considerar o dinheiro como um meio de ganhar a vida, e passamos a considerar a vida um meio de ganhar dinheiro, sobretudo a vida dos outros, é que algo operou em nós uma inversão perversa que só pode levar, necessariamente, à implosão do sentido de sociedade, de civilização e de humanidade.

O que presenciamos diariamente é a busca desenfreada do lucro nos jogando em uma arena de feras desesperadas lutando pela sobrevivência, e é isso que chamamos hoje em dia de Cidade. Mas por que mesmo estamos fazendo isso?

A agenda do Capital, executada com disciplina pelos meios de comunicação, faz com que nós, os socialistas, passemos o tempo todo tentando justificar a necessidade de um Estado regulador e de mecanismos de controle social a partir dos possíveis resultados econômicos positivos que isso traria. Está errado, ao menos está manco, incompleto.

Deveríamos perder mais tempo mostrando para a sociedade que sua participação e fiscalização efetiva sobre os processos e instituições mais relevantes, como parte constitutiva de um Estado regulador, pode e deve ser o instrumento adequado para a valorização da vida, ou mais, pode e deve ser parte de uma estratégia maior para recuperar a vida como centro gerador de sentido, tanto nas ações do governo como do mercado, o que inclui os donos de boate, e que essa é a grande proposta da esquerda para esse planeta: trazer a vida para o centro organizador da vida.

Há uma agenda abandonada pela esquerda, que só pontua de quando em vez em grandes eventos como a Rio+20, ou quando uma tragédia traz à tona a necessidade de debater os parâmetros pelos quais orientamos nosso comportamento em sociedade.

Precisamos retomar essa agenda e mostrar que nunca haverá solução efetiva para tragédias como a de Santa Maria, enquanto a ganância e o lucro estiverem definindo e justificando os nossos padrões de comportamento, que não haverá perspectiva de deixarmos de criar nossos filhos pelo medo, enquanto o respeito à vida, não só a humana, não for o sentido definidor do Direito, da Política, da Economia, da Educação, da Arte e de tudo mais que produzimos para tornar melhor a vida dos nossos filhos.

*Roberto Gonçalves de Lima é dramaturgo e gestor cultural.