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domingo, 21 de agosto de 2011

Liga Árabe condena ataques israelitas contra Gaza e pede intervenção da ONU

Fonte da imagem: AQUI.

Conflito entre Israel e palestinianos continua a subir de tom. E os Israelitas não mostram sinais de querer reduzir a intensidade das intervenções, que realizam desde há três dias, contra a Faixa de Gaza. 

Entretanto, a Liga Árabe, que se reuniu hoje, de emergência, condenou os ataques aéreos israelitas contra a Faixa de Gaza e reclamou uma intervenção das Nações Unidas de forma a colocar um fim aos ataques, que já provocaram a morte a 15 pessoas, entre os quais civis e crianças.

EURONEWS

domingo, 3 de abril de 2011

Quando matar se torna prazer


Em fevereiro de 2009, o então recém-empossado presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, determinou o envio de um reforço de 17 mil soldados para o Afeganistão. O novo contingente teve por base duas grandes formações: a 2 Brigada Expedicionária de Fuzileiros Navais, sediada em Camp Lejeune, Carolina do Norte, e a 5 Brigada Stryker da 2 Divisão de Infantaria, de Fort Lewis, Washington. Aproximadamente um ano depois, um grupo de soldados desta segunda formação viria a ser protagonista de um dos casos mais nefastos e brutais de violação dos direitos humanos ocorridos em quase dez anos de guerra no país asiático.

Ao longo dos primeiros cinco meses de 2010, um pelotão da 5 Brigada Stryker, que opera em Kandahar, no Sul afegão, teria assassinado, de forma aleatória e gratuita, civis afegãos desarmados. Além disso, o grupo é acusado de mutilar vários dos cadáveres em um remoto vilarejo da região, chamado de Mohammad Kalay. Não satisfeitos, os militares do denominado "Time da Morte" registraram a matança em dezenas de fotos, tendo chegado a postar algumas delas em sites de relacionamentos da Internet.

Segundo informação da revista norte-americana Rolling Stone, antes de os crimes de guerra tornarem-se públicos o Pentágono tomou medidas extraordinárias para suprimir as fotos da rede - desenvolvendo um enorme esforço para encontrar todos os arquivos e neutralizá-los antes que pudessem deflagrar um escândalo na escala que marcou os casos de tortura a prisioneiros iraquianos por soldados estadunidenses na prisão de Abu Ghraib, localizada em Bagdá.

Muitas destas imagens - cerca de 150 delas -, porém, foram obtidas e divulgadas pela Rolling Stone e pela revista alemã Der Spiegel. A publicação norte-americana chegou a disponibilizar as fotos em seu website, juntamente com uma reportagem especial sobre o assunto, datada de 27 de março e assinada pelo jornalista Mark Boal. Segundo a Rolling Stone, as imagens "retratam a cultura de uma linha de frente entre as tropas dos EUA em que a morte de civis inocentes é vista como motivo de comemoração".

Assim que a publicação alemã Der Spiegel chegou às bancas, no dia 21, a secretária de Estado Hillary Clinton teria telefonado ao governo afegão para falar sobre o caso. "A maioria das pessoas dentro da unidade não gostava do povo afegão", disse um dos soldados aos investigadores do Exército depois que os crimes vieram à tona. "Toda mundo diria que eles são selvagens."

"O plano era atirar para matar"

O soldado Jeremy Morlock, de 22 anos, declarou-se culpado perante a corte marcial que o julgou em 23 de março passado pela morte de três civis afegãos, crime vinculado às ações do "Time da Morte". O jovem militar, como parte de um acordo que lhe garantiria uma sentença máxima de 24 anos de prisão, também se disse culpado em outras três acusações: conspiração, obstrução à Justiça e uso de drogas. Morlock teria liderado o pelotão envolvido nos três assassinatos, ocorridos nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2010. Ao ser questionado pelos juízes se o plano era disparar com o objetivo de assustar os civis, ele foi taxativo: "Não, o plano era atirar para matar".

Morlock foi o primeiro de cinco soldados da Brigada Stryker a se submeter à corte marcial. Após o assassinato de janeiro de 2010, outro réu, o soldado Adam Winfield, do mesmo pelotão, enviou mensagens no Facebook aos seus pais dizendo que seus colegas no Afeganistão haviam executado um civil e tinham a intenção de matar outros, em uma clara indicação de que os crimes foram planejados. Winfield acrescentou que o grupo o advertira a silenciar sobre o assunto. O pai do jovem militar chegou a alertar um sargento de Fort Lewis, mas nenhuma medida foi tomada até maio, quando outra testemunha, em uma investigação sobre o consumo de drogas na unidade, reportou os assassinatos dos civis afegãos na província sulista.

Winfield é acusado de envolvimento no terceiro assassinato. Ele alega ter sido ameaçado de morte pelos companheiros caso não disparasse contra o civil afegão. Os demais acusados são os soldados Andrew Holmes e Michael Wagnon II e o sargento Calvin Gibbs, o único deles a afirmar que os mortos não eram civis, e sim combatentes talibãs.

Fonte: Correio do Povo

segunda-feira, 21 de março de 2011

O prisioneiro Bradley Manning

Ivan Lessa
Colunista da BBC Brasil

Soldado americano. Pai, idem. Mãe do País de Gales. 23 anos. 1,57 de altura. Fosse na Brasil teria o apelido de “Tampinha”. Mas é e foi nos Estados Unidos da América do Norte.

Vocês conhecem. Aquele do Obama no Municipal no Rio, no Iraque, no Afeganistão e na prisão de Guantánamo, que ele prometeu fechar e não fechou. Obama não é uma pessoa coerente. Obama nesses seus anos de mandato não tem uma única frase ou feito memorável. O mesmo não acontece com o soldado Bradley Manning.

Bradley Manning está preso desde maio do ano passado em condições dignas daquilo que eles mesmos, americanos, chamavam de Terceiro Mundo. Por que Bradley Manning está detido no que é chamado lá por eles de “prisão provisória”? Porque foi o homem que passou para o messiânico “demônio louro” (se não for uma contradição em termos) Julian Assange 250 mil comunicados diplomáticos contando, entre eles, com o notório, e mais que divulgado (conferir no YouTube), vídeo da – não há outra palavra – execução de oito civis iraquianos, entre os quais duas crianças, por soldados americanos sob instruções de um helicóptero. Foram-se oito iraquianos de maior idade ao todo.

A cena, com legendas, foi mostrada pela televisão britânica num documentário da televisão comercial, a ITV, preparado pelo esplêndido jornalista e escritor australiano John Pilger. A horripilante sequência abria o filme. Legendas nas cenas de “combate”, para ficar bem claro. Lá estão aqueles maneirismos militares a que estamos acostumados, graças ao cinema e à televisão. Tudo em meio a muita galhofa. Roger, over, out, copy that e, na ordem vital, ou letal, a sentença vinda dos ares : “Light 'em all up. Shoot.” (Mais ou menos, “Acendam eles todos. Atirem.”) Atiraram. Foram acesos os iraquianos e as duas crianças.

Bradley Manning não negou ter sido a fonte do vazamento. Sofreu a tal sentença provisória que já dura bom tempo. Não sem antes o porta-voz P.J. Crowley, da secretária de Estado, Hillary Clinton, ter declarado sabiamente que Manning não fora declarado culpado de crime algum e que sua prisão era “contraprodutiva e estúpida”. Crowley foi forçado a se demitir. Claro. Bradley Manning está preso em condições mais que divulgadas, todas dignas da mais cruenta das ditaduras.

Abaixo, a frio e a seco, o seu dia a dia. Sublinho que, se alguém conferir no YouTube, verá nos comentários uma vasta proporção a favor do regime de prisão imposto a Manning.

O soldado americano Bradley Manning, detido em Quantico, onde está situado também o FBI, sem julgamento ou condenação, não tem permissão para se exercitar em sua cela durante o dia. Não tem o direito à posse de coisa alguma.

É proibido de conversar com os guardas seus carcereiros. A cada cinco minutos, é obrigado a responder se se encontra bem e em forma. Se voltar a face para a parede durante o sono é prontamente acordado.

Bradley Manning, que, incrivelmente, ainda mantém um senso de humor, apontou para o fato de que ele poderia, se quisesse, se injuriar com suas cuecas, no que estas foram de imediato retiradas.

Só lhe são permitidas, por uns poucos minutos, visitas aos sábados e domingos. O resto da semana são 23 horas por dia de cela. Recebe ainda uma dose diária de antidepressivos.

O presidente Barack Obama não visitou qualquer delegacia ou prisão no Rio ou em Brasília. Sua senhora, a primeira-dama Michelle Obama, lidera uma campanha contra a obesidade entre crianças.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Parece de Mark Twain


Por Juan Gelman, para Página/12

El soldado Bradley Manning, analista de inteligencia acusado de filtrar documentos confidenciales y secretos del gobierno de EE.UU. –a Wikileaks, por ejemplo–, está preso desde mayo del año pasado, siempre en confinamiento solitario, ahora en el centro de detención naval de Quantico, Virginia. Encerrado 23 horas cada día en una celda de 2 por 4, a principios de este mes fue obligado a permanecer desnudo de pie frente a su celda al menos siete horas desde las 5 de la mañana. El teniente Brian Villiard, vocero del cuerpo de marines, insistió en que no podía aclarar públicamente por qué le habían incautado la ropa. Declaró a los periodistas: “Eso significaría violar la privacidad del detenido. Sería inapropiado” (www.nytimes.com, 4-3-11). Qué delicadeza.

La situación de Manning no es pasible, sin embargo, de convertirse en un cuento de Mark Twain. La única hora que no está en el calabozo es llevado a una habitación vacía en la que puede caminar, no correr. Le está prohibida la posesión de efectos personales y debe dormir en paños menores: según la explicación oficial, no es una medida punitiva, así ocurre para impedir que se suicide. Sólo que sus guardianes no le quitan la vista de encima, la vigilancia es permanente.

David House, uno de sus escasos amigos, pudo verlo en una de las raras visitas permitidas y encontró que “el joven inteligente de ojos grandes parece a veces catatónico y tiene muchas dificultades para mantener una conversación sobre temas cotidianos... Para mí fue como ver a un excelente amigo sucumbir a causa de una enfermedad. Pienso que lo castigan porque el gobierno quiere quebrarlo con vistas al proceso”. Lo juzgará una corte militar y a los primeros cargos se les acaban de sumar otros 22, entre ellos el de “ayudar al enemigo”, delito que únicamente se salda con la pena de muerte.

Esta calificación no se basa en disposiciones jurídicas, sino en razones políticas. Suele ocurrir. La actitud de la Casa Blanca recuerda la del ex presidente Richard Nixon: propinó a Daniel Ellsberg, quien filtró los papeles del Pentágono que revelaron en toda su magnitud los crímenes de guerra estadounidenses cometidos en Vietnam, la definición de difusor de documentos “que dieron ayuda y fuerza al enemigo”. Eso sí, la Justicia civil no lo condenó a cumplir pena alguna y nunca lo obligaron a estar de pie y desnudo durante horas.

Este Obama. A Nixon nunca le gustaron “los soplones”, como él decía, pero el actual mandatario los elogió en el 2008, señalando que quienes filtran documentos del gobierno “son parte de una democracia saludable y se los debe proteger de represalias”. Claro que estaba en campaña electoral, la misma en la que prometió cerrar el centro de detención de Guantánamo en un año como máximo. El lunes pasado, tras dos años de suspender la medida, ordenó que la Justicia militar vuelva a procesar a los allí detenidos. Esa cárcel sigue encarcelando.

Se le achaca a Manning el haber filtrado a Wikileaks decenas de miles de cables diplomáticos que le han creado incomodidades internacionales a la Casa Blanca y, sobre todo, una profunda irritación. El video “Asesinato colateral” forma parte de esos documentos. El sitio de Assange lo dio a conocer el 5 de abril del 2010 y muestra una masacre: tropas estadounidenses entran en domicilios particulares de vecinos de un suburbio de Bagdad y dan muerte a 12 civiles y dos empleados iraquíes de la agencia Reuters.

“Vi cómo baleaban a mi abuelo, primero en el pecho y luego en la cabeza. Después mataron a mi abuela”, testimonia Eman Waleed, un niño de 9 años que sobrevivió a la matanza (www.time.com, 19-3-06). Ninguno de los responsables mediatos o directos ha sido juzgado hasta el momento y han pasado más de cinco años. Un piloto norteamericano declara impertérrito en la filmación: “La culpa es de ellos, por llevar a chicos al combate”. En la empresa “antiterrorista”, el que comete un crimen de guerra la pasa mejor que el que lo denuncia. Hasta lo condecoran.

Manning –según un chateo de origen no verificado– filtró el video y otros materiales porque le repugnaba la ferocidad impune de sus compatriotas combatientes y cuando la criticaba ante sus superiores “ellos ni querían oír hablar de eso” (www.guardian.co.uk, 4-3-11). Entendió que su manera de evitar la complicidad con los crímenes de guerra que se perpetran en Irak, Afganistán y hoy también en Pakistán era dar a conocer una información que promoviera “la discusión en todo el mundo, el debate, las reformas”. Como consecuencia, el rey desnudo lo desnuda.

Visite Hupper, o SÁTIRO.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

PALIN ACERTA TIRO NA CABEÇA DE GABRIELLE

Palin com seu rifle
"Não recue, recarregue".

Esse é o slogan de Sarah Palin, do Tea Party, movimento de extrema-direita norte-americano.

Em março último, Palin publicou em sua página da rede social Facebook um mapa dos EUA com cruzes de mira sobre regiões adeptas do Partido Democrata, assim como marcações sobre 20 parlamentares democratas, dentre os quais constava a congressista Gabrielle Giffords.

Pode ter sido um maluco que apertou o gatilho, porém quem atirou foi Palin.

domingo, 12 de dezembro de 2010

MACRI XENÓFOBO

Quatro morrem após ataque a sem-teto em parque de Buenos Aires

Quatro pessoas morreram enquanto moradores tentavam desalojar na noite desta sexta-feira cerca de mil cidadãos sem-teto, a maioria estrangeiros, que ocupam um enorme parque na zona sul de Buenos Aires. Vizinhos do Parque Indoamericano, a maioria de classe média, atacaram os sem-teto - bolivianos e paraguaios -, queimando dezenas de barracas. O ataque deixou vários feridos, segundo a TV argentina.


Uma das vítima fatais é um jovem de 19 anos que recebeu um tiro na cabeça, informou Alberto Crescenti, diretor do Serviço Médico Metropolitano de Emergência (Same). Entre os mais de dez feridos há vários baleados. Crescenti destacou que os serviços de emergência não conseguem entrar no Parque Indoamericano porque estão "atirando contra as ambulâncias".

Nos últimos três dias, os choques envolvendo os sem-teto já fizeram três mortos, sendo dois bolivianos e um paraguaio. "Não queremos uma favela no parque", gritava um grupo de pessoas, após uma assembleia que decidiu pela expulsão dos sem-teto por conta própria, sem a ajuda da polícia. Outros moradores da região bloquearam avenidas para exigir a retirada dos sem-teto do Parque Indoamericano.

A presidente argentina, Cristina Kirchner, que anunciou no início da noite a criação do ministério da Segurança, criticou a ação contra os sem-teto. "Não estou disposta a ver a Argentina entrar para o clube de países xenófobos", disse.

Kirchner mirava no prefeito de Buenos Aires, Mauricio Macri, que atribuiu os incidentes no Parque Indoamericano, sob sua jurisdição, à "imigração descontrolada" e a "organizações criminosas".

Terra

quarta-feira, 9 de junho de 2010

O MASSACRE CONTINUA

Abaixo o primeiro vídeo, divulgado em abril, com os civis iraquianos mortos:

Mesmo dps de Bush, a guerra continua - sao os bastidores de Obama

O Wikileaks que postou o célebre vídeo de helicóptero mostrando a morte de 12 civis iraquianos por soldados americanos, abriu campanha em defesa de Bradley Manning, analista de inteligência do Exército preso sob acusaçao de ter entregue o vídeo.

O site questiona duramente os jornalistas Kevin Poulsen, que noticiou a prisao na Wired, e Adrian Lamo, por terem divulgado que Manning seria a fonte, quebrando "compromisso do jornalismo".

Em conversas online, segundo Poulsen e Lamo, o analista teria dito que passou ao Wikileaks um 2o vídeo, mostrando a morte de 97 civis afegaos, e também milhares de despachos classificados do Departamento de Estado com a rubrica "negociaçoes políticas ocultas quase criminosas" (!).

Hillary Clinton e vários milhares de diplomatas ao redor do mundo terao um ataque do coraçao quando acordarem uma manha e descobrirem que todo um depósito de política externa classificada está disponível, em formato de busca, ao público (!).

Via Toda Midia

Leia o original deste artigo no BLUE BUS e veja os links recomendados.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

El asalto israelí a la 'Flota de la Libertad' amenaza con convertirse en una grave crisis internacional

Zdzislaw Beksinski:

El Consejo de Seguridad de la ONU se reunirá de urgencia para tratar el asalto | La UE y la Liga Árabe se movilizan mientras aumenta el número de países que llaman a consultas a los embajadores de Israel

La Vanguardia

La conmoción mundial ante el asalto hoy del Ejército de Israel a una flotilla de barcos con ayuda humanitaria para Gaza , que ha causado más de una decena de muertos, amenaza con convertirse en una crisis diplomática internacional. El Consejo de Seguridad de la ONU se reunirá hoy con carácter de urgencia para tratar la cuestión. La Unión Europea y la Liga Árabe, que han condenado duramente el ataque, se movilizan para mantener reuniones de urgencia tras el asalto a la "Flotilla de la Libertad" en la que viajaban tres activistas españoles que según el Gobierno español se encuantran "bien". La reacción más comedida, sin embargo, se ha producido en EE.UU. La Casa Blanca ha mostrado su preocupación pero ha evitado condenar el ataque.

Por su parte, el primer ministro israelí, Benjamin Netanyahu, ha cancelado la visita que tenía que hacer mañana a la Casa Blanca para entrevistarse con el presidente Barack Obama.

El Consejo de Seguridad de la ONU, máximo órgano de decisiones de Naciones Unidas, se reunirá a partir de las 17.00 GMT, a petición de Turquía y Libano, país que hasta hoy ejerce la presidencia temporal de ese órgano.

Mientras crece la lista de países que han convocado a los embajadores de Israel, aún no se conocen las cifras exactas de la "masacre", como la ha definido el presidente palestino, Mahmud Abás, mientras que para Hamas se trata de un "crimen contra la Humanidad".

El Ejército israelí ha reconocido la muerte de diez activistas, pero medios locales cifran las víctimas entre 14 y 20 muertos, así como entre 30 y 60 heridos, en el asalto, llevado a cabo por miembros de una unidad de elite en aguas internacionales, a unas veinte millas de la franja palestina.

Testimonios desde los barcos hablan de que los soldados israelíes descendieron sobre las cubiertas desde helicópteros abriendo fuego, mientras las imágenes de televisión mostraban la evacuación de algún cadáver, una camilla ensangrentada y restos de sangre en el suelo de la embarcación, así como los soldados israelíes que la abordaron.

La portavoz del Ejército israelí, la comandante Avital Leibowitz, aseguró que los tripulantes abrieron fuego, trataron de apuñalar y lanzaron piedras a los soldados. El asalto a la flotilla, cuya principal responsable es la ONG turca IHH, ha causado una oleada de ira en Turquía, donde unas 10.000 personas protestaron en el centro de Estambul.

El Gobierno del primer ministro Recep Tayyip Erdogan, que ha cancelado una gira en Latinoamérica por el incidente, ha avisado de que el ataque tendrá "consecuencias" y ha pedido una reunión urgente del Consejo de Seguridad de la ONU, como lo ha hecho el Líbano.

Han confirmado reuniones extraordinarias los ministros de Exteriores de la UE, esta tarde, y los países miembros de la Liga Árabe, mañana.

El Vaticano expresó "gran preocupación" y "dolor" por "la inútil pérdida de vidas humanas", según su portavoz, Federico Lombardi. Francia y Alemania han mostrado su "conmoción" y han "exigido", como España e Italia, una investigación exhaustiva de lo sucedido, que también ha solicitado la jefa de la diplomacia europea, Catherine Asthon, además de pedir que se depuren responsabilidades.

Algunos miembros del Parlamento Europeo han ido más allá en su condena y han unido sus voces a las de varios mandatarios árabes y asiáticos para el desbloqueo inmediato de los accesos a Gaza. Así lo han hecho el presidente de Irán, Mahmud Ahmadineyad, y el emir de Qatar, jeque Hamad bin Jalifa al Zani, para quien "todos los que hablan de libertad, justicia y democracia están llamados ahora a hacer algo para romper este bloqueo para que no se pierda la sangre de estos mártires".

La Liga Árabe ha convocado para mañana una reunión de urgencia de su comisión permanente en El Cairo, tras calificar lo sucedido de "crimen" y de "acción terrorista". Para su secretario general, Amro Musa, el asalto es una "clara señal de que Israel no está preparado para la paz". En ese sentido, ha sorprendido que Abás, que ha decretado tres días de luto en los territorios palestinos, no suspendiera, sin embargo, las negociaciones indirectas que mantiene con Israel.

Por su parte, el jefe de Gobierno en Gaza del movimiento islamista Hamas, Ismail Haniye, convocó de urgencia a sus ministros y calificó el ataque de "brutal", mientras que la secretaría del grupo en Damasco instó a la reacción a la comunidad internacional y consideró cómplices a quienes no se pronuncian sobre esta "agresión atroz".

Tanto el ministro israelí de Defensa, Ehud Barak, como el de Exteriores, Avigdor Lieberman, han convocado esta mañana reuniones de urgencia, mientras el número dos de la diplomacia israelí, Dani Ayalón, responsabilizó de las muertes a los miembros de la flotilla. Ayalón dijo que los activistas respondieron a los soldados con armas y llegó a relacionar a los organizadores de la flotilla humanitaria con Al Qaeda.

Merkel insta a evitar una ola de violencia

Tras la intensa jornada de tensión y protestas, la canciller alemana, Angela Merkel, instó a evitar una escalada de violencia en Oriente Medio. En una comparecencia ante la prensa, Merkel dijo que había hablado por teléfono con el primer ministro israelí, Benjamin Netnuahu, y el primer ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, y había expresado ante ambos su preocupación por la situación. "He reiterado mi convicción de que hay que buscar el camino del diálogo y evitar una escalada de violencia", dijo Merkel. "Urge que Hamas reconozca el derecho a la existencia del estado de Israel pero también que Israel admita que el bloqueo a la franja de Gaza no es beneficioso", dijo Merkel. La canciller alemana, además, instó a que se haga una investigación imparcial que aclaré lo que ocurrió. "Naturalmente, se plantea la pregunta de la proporcionalidad de la reacción israelí", dijo Merkel.

Más tarde, la jefa de la diplomacia de la UE, Catherine Ashton, exigió al ministro de Exteriores de Israel, Avigdor Lieberman, que realice "de inmediato" una investigación para aclarar el trasfondo del ataque.

"Es una provocación"

El Ejército israelí informó en un comunicado que ellos no "atacaron" la flotilla humanitaria que se dirigía a la Franja de Gaza con ayuda humanitaria, sino que se limitaron a hacer cumplir la orden del Ejecutivo de Tel Aviv de impedir cualquier entrada no autorizada al enclave palestino. "No atacamos ningún barco, nos limitamos a hacer cumplir la orden del Gobierno israelí de impedir una entrada no autorizada en la Franja de Gaza que no se había coordinado con las autoridades israelíes", afirma el comunicado.

"Esta flotilla es una provocación que busca deslegitimar a Israel. Querían entregar en Gaza una carga que podrían haber enviado a través de Israel, como se hace diariamente", añadía el comunicado, recogido por CNN.

Desde mediados de 2007, cuando el Movimiento de Resistencia Islámico Hamas, al que Tel Aviv considera terrorista, se hizo con el poder en la Franja de Gaza, Israel somete a este enclave a un duro bloqueo naval y terrestre. A finales de 2008, en la operación 'Plomo Fundido, el Ejército israelí asesinó en torno a 1.300 palestinos de este territorio y provocó cuantiosos daños en sus infraestructuras básicas.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Graves incidentes por la tierra indígena


Miguel Guzmán | Lima (Perú), para La Vanguardia

El líder Aguaruna Santiago Manuin, Premio Reina Sofía por su labor ecologista, nos indicó: "La tierra es sagrada, ahí están nuestros espíritus. El bosque, el aire, el cerro son nuestros hermanos. Ellos dependen de nosotros y nosotros dependemos de ellos".

A los pocos días del terminar la 4ª Cumbre Continental de Pueblos y Nacionalidades Indígenas en el Perú, se desato una tragedia histórica y ética moral que ha significado la torpe recuperación de la carretera Fernando Belaúnde Terry tras más de 50 días de haber estado bloqueada pacíficamente por los nativos, el 05 de junio de 2009, que trajo como consecuencia la muerte de más 25 policías y una cifra de nativos no determinada aun, entre los que esta Santiago Manuin.

Gran parte de los que se encontraban presentes en la Curva del Diablo eran excombatientes del Cenepa (Guerra Perú – Ecuador) y del terrorismo comunista de las últimas décadas, a quienes se les dijo nuevamente ¡No, tú no eres peruano!, a un grupo de gente que lleva años reclamando inclusión. En realidad sólo una parte pequeña de ellos son excombatientes reconocidos por el Estado, pero sí es cierto que los pueblos indígenas lucharon en estos conflictos pese a no figurar en los Registros Públicos ni contar con Documentos de Identificación Ciudadana se sienten orgullosos por ser peruanos, además de awajun wampis.

Hace mucho que vienen reclamando dos formas de reconocimiento: una primera de tipo ciudadano, en la cual sus derechos sean respetados, ciertamente que sus derechos incluyen los derechos colectivos de los pueblos indígenas, reconocidos por el Estado peruano en letra pero ignorados plenamente en la práctica; por otro lado vienen reclamando su inclusión como nacionales, es decir el reconocimiento de pertenecer a la misma comunidad imaginada, en la que tú y yo podamos vernos a la cara sin depreciarnos o sentirnos más o menos, lo que no significa por supuesto dejar de ser awajun o wampis.

Una vez más ¡No! y se les dijo de forma brutal. Tú no peruano, tu sin derechos, tú no igual a mí, tú vida sin el mismo valor que la mía, vuelve a tu rincón del bosque y desaparece de mi vista hasta que yo y los míos lleguemos ahí a conquistarte, transformarte, eliminarte o lo que nos de la gana, pero tú, ¿reclamar derechos? ¡indio descarado!,

El Presidente Alan García en CPN declaro sobre la liberación de las carreteras: "¿Quién se creen que son? Ellos no son ciudadanos de primera clase que puedan decirnos tú no puedes pasar por acá o por allá".

El error más trágico, fue la forma brutal en la que se decidió no reconocer la categoría de ciudadano de los pueblos indígenas del Perú, anclándonos en una reiterada historia de autoritarismo cultural que al cerrar otras vías sólo deja abierta la de la protesta, pero que puede terminar reabriendo otras más trágicas aún.

Incluso las Naciones Unidas ya expresaron su "más profunda preocupación" por los enfrentamientos entre las fuerzas del orden y los nativos, por lo cual el relator especial de este organismo, James Anaya, hizo un "llamado urgente" para evitar la expiación de la violencia.

Anaya, citado por el portal en español de la BBC, exhortó al gobierno presidido por Alan García a "adoptar todas las medidas necesarias, de acuerdo con los principios internacionales de derechos humanos, para proteger los derechos y las libertades fundamentales de las personas afectadas".

Por su parte, Amnistía Internacional (AI) manifestó su temor por la seguridad de los indígenas tras las violencias protestas de la última semana.

"No está claro como les están tratando (las fuerzas de seguridad), de qué se les acusa y si tienen acceso o no a asistencia médica o legal", señaló AI en una declaración.

La organización añadió que recibió informes sobre el uso excesivo de la fuerza por parte de la Policía y que los nativos habrían secuestrado y asesinado a efectivos. Hasta este momento la Embajada ni el Gobierno Norteamericano, no se han pronunciado sobre lo ocurrido ni la importancia que tienen para los intereses de sus empresas las leyes de selva promulgadas que condicionan la vigencia del TLC firmado y que han convulsionado al Perú.

Al final, se despejarán las carreteras, se lloraran por los caídos, se debatirá en el Congreso la derogatoria definitiva de las leyes de selva; no obstante la falta de un diálogo transparente y el reconocimiento de la existencia de una sociedad multicultural en el Perú, los conflictos en la selva seguirán y los peruanos perderemos la oportunidad de conservar y desarrollar la Amazonía peruana.

domingo, 17 de maio de 2009

SRI LANKA: CARNIFICINA QUE O MUNDO IGNORA

Vista de Colombo, capital de Sri Lanka:

Jurandir Soares, para Correio do Povo

O mundo está diante de uma nova carnificina, mas que não tem tido muita repercussão devido à pouca importância do país, o Sri Lanka. Ali vem sendo travado um conflito, há 26 anos, que já deixou mais de 100 mil mortos, sendo 7 mil somente nos últimos três meses. A ONU classificou a situação como 'um banho de sangue'. Para variar, se trata de mais um conflito étnico.
O Sri Lanka, cujo nome significa 'ilha resplandescente', é uma antiga colônia britânica, que conseguiu sua independência na mesma ocasião que a Índia, ou seja, em 1948. Conhecida até 1972 como Ceilão, a ilha é famosa pelas especiarias, pelas pedras preciosas e pelas plantações de chá. Da população de 20 milhões de habitantes, 74% são cingaleses e 13% são tâmeis. E é justamente aí que está a razão do conflito. Os cingaleses sempre perseguiram a minoria tâmil. Em 1983, a morte de 13 soldados cingaleses por militantes tâmeis deflagrou a pior explosão de violência étnica da história do país. Centenas de tâmeis foram assassinados pela população em Colombo, a capital do país, e em várias outras cidades. Centenas de milhares de tâmeis perderam suas casas e fugiram para o sul da Índia.
Surgiu então o grupo Tigres Tâmeis, que se destaca pela violência. Se tornou o pioneiro na prática dos ataques suicidas e chegou a ter autonomia aérea e naval. Desde então, o país não teve mais paz. Desde janeiro, o governo desenvolve o que chama de 'ofensiva final' contra os rebeldes. O problema é que não morrem apenas militantes, mas também civis – velhos, mulheres, crianças, numa atrocidade que só num dia desta semana teria deixado 378 mortos e mais de 1.100 feridos. Encurralado numa área de apenas 4,5 km², o grupo separatista não permite a saída da população. A situação chegou a um ponto tão crítico que os médicos decidiram abandonar os feridos no único hospital da área sob o controle dos Tigres Tâmeis. Segundo os informes, as instalações médicas, improvisadas em uma escola, foram bombardeadas por dois dias consecutivos.
Nesta quarta-feira, finalmente, o Conselho de Segurança da ONU resolveu se manifestar. Formulou um 'pedido internacional' de cessar-fogo. Mas o apelo não foi aceito pelo governo de Colombo, que se disse disposto a levar adiante o que chama de 'ataque final' contra os Tigres Tâmeis. Imagens de satélite revelam bombardeios contínuos à zona rebelde. Segundo estimativas da ONU, 6.500 civis morreram e 14.000 foram feridos entre o fim de janeiro e meados de abril.
O histórico dos conflitos étnicos mostra que não haverá uma 'solução final'. Os tâmeis não serão exterminados. Será necessário um acordo político. Mas este, pelo que se observa, está muito longe. E até então, muita gente inocente irá morrer. E, como em todo conflito étnico, o ódio gera mais ódio e não se vislumbra uma solução que não seja a intervenção de uma força multinacional de paz. Mas, como eu disse no início, se trata de um país pequeno e sem importância. Portanto...

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Ban Ki Mun critica las ausencias en la conferencia de la ONU sobre racismo y se reúne con Ahmadineyad


Ginebra. (EFE).- El secretario general de Naciones Unidas, Ban Ki Mun, lamenta "profundamente" el boicot de nueve países a la Conferencia sobre Racismo de Naciones Unidas y afirmó que el borrador del documento adoptado por consenso es "equilibrado".

Ban Ki Mun se reunió con el presidente iraní, Mahmud Ahmadineyad, en el Palacio de Naciones de Ginebra. Coincidiendo con el encuentro, la oficina del secretario general de la ONU emitió una declaración de éste con ocasión de la próxima celebración del Día del Holocausto, en la que Ban condena la negación de la matanza de judíos por parte de los nazis y su relativización.

Ahmadineyad es el único jefe de Estado que asiste a este foro, y tiene previsto intervenir esta tarde. La presencia de Ahmadineyad ha causado la indignación de Israel, que ha llamado a consultas a su embajador en Berna en protesta por la entrevista que mantuvo anoche el presidente suizo, Hans-Rudolf Merz, con su homólogo iraní.

Ban inauguró esta mañana la Conferencia de Revisión sobre Racismo, Xenofobia e Intolerancia, que boicotean Israel, Estados Unidos, Alemania, Canadá, Italia, Holanda, Polonia, Nueva Zelanda y Australia porque temen que pueda convertirse en un foro antisemita, como denuncian que ocurrió en la primera reunión celebrada en la ciudad sudafricana de Durban hace ocho años, cuando se acusó a Israel de ser un "estado racista".

El Gobierno alemán dijo tras el arranque de la conferencia que se reserva el derecho de sumarse a la discusión final si observa un "desarrollo positivo".

"El documento es muy equilibrado y establece un marco concreto de acción en una campaña global en busca de la justicia para las víctimas del racismo en el mundo", dijo Ban respecto al texto aprobado por consenso el viernes tras arduas negociaciones.

El documento, borrador y base para la declaración oficial que debe ser aprobada durante la conferencia, no hace referencia a Israel, ni tampoco a los territorios palestinos ocupados, pero sí hace mención al Holocausto y a la necesidad de no olvidarlo.

"Soñamos con ir en una nueva dirección, pero muchos se aferran al pasado. Hablamos de buscar una nueva unidad, como los tiempos demandan, pero seguimos débiles y divididos; hablamos de tolerancia y respeto mutuo, pero señalamos con el dedo y realizamos las mismas acusaciones hoy que hace años, sino décadas", declaró Ban.

El secretario general de la ONU pidió a todos los países "que vean la conferencia como el inicio y no el final de un proceso", y reiteró su llamamiento para que todos los países participen. "A menos que participen, sus opiniones no podrán ser escuchadas o tomadas en cuenta", subrayó.

La Vanguardia

Nota do Blog: É uma posição esperada desses países que boicotam. Têm medo de enfrentar a discussão dos crimes que Israel cometeu em Gaza no início de 2009.

terça-feira, 24 de março de 2009

Israel usó a un niño de escudo humano


Por Donald Macintyre *

Un niño de 11 años fue usado como escudo humano por las tropas israelíes durante la última ofensiva en Gaza –incluso cuando estuvieron bajo fuego–, según un informe de los expertos en derechos humanos de la ONU publicado ayer. El informe dice que el 15 de enero, cuando los tanques israelíes entraban a Tel el Hawa, en la ciudad de Gaza, las fuerzas ingresaron a un edificio del cual se habían evacuado a las familias con sus pertenencias personales. Se le dijo al niño que abriera sus valijas, una de las cuales tenía un candado al que le disparó un soldado, sin herirlo, decía el informe. Luego se le ordenó que caminara frente al grupo de soldados mientras se movían por el barrio. Cuando los soldados llegaron a los cuarteles de la Cruz Roja palestina, se obligó al menor a entrar primero y cuando más tarde se disparó contra una patrulla, “el niño permanecía frente al grupo”.

El chico fue liberado cuando la unidad llegó al hospital Al Quds. El informe dice que el incidente “parece estar en directa contravención con el fallo de 2005 de la Suprema Corte de Israel sobre la ilegalidad del uso de escudos humanos”. Radhika Coomaraswamy, un enviado especial del secretario general de la ONU para la protección de niños en los conflictos, también acusó a las fuerzas de disparar sobre niños palestinos, derribar un hogar con una mujer y un niño adentro, y bombardear un edificio en el que había civiles.

Las fuerzas de defensa israelíes dijeron que los soldados habían sido instruidos para que no usaran a la población civil, y estaban llevando a cabo una “investigación a fondo” sobre su conducta durante la guerra. Pero añadían: “En general, las fuerzas hicieron el máximo esfuerzo para evitar hacer daño a los palestinos, a pesar del extenso uso que Hamas hizo de ellos como escudos humanos”. El jefe de Estado Mayor de Israel, Gabi Ashkenazy, dijo que las fuerzas de defensa esperaban una investigación criminal ordenada después que se hicieran públicas las quejas, “pero mi impresión es que actuó moral y éticamente”.

Por otro lado, los padres de un activista de paz estadounidense apelaron públicamente ayer para que se llevara a cabo una total investigación sobre cómo las fuerzas de seguridad israelíes le dispararon a su hijo en la cabeza con un lanzagases lacrimógeno de alta velocidad.

Tristan Anderson, de 38 años, está en condiciones críticas después de tres operaciones cerebrales en el hospital Tal Hashomer, en Israel, como resultado de disparos al final de una manifestación regular conjunta árabe-judía contra la barrera de separación israelí en el pueblo de Ni’lin en Cisjordania.

Los activistas dicen que los disparos –con un alcance de más de 400 metros– fueron hechos directamente contra Anderson desde unos 60 metros, cuando estaba parado con otros activistas en el centro del pueblo. Dicen que estaba bien alejado de la barrera, donde habían tenido lugar las principales protestas anteriormente, el 13 de marzo. Anderson sufrió múltiples fracturas en su cráneo, una gran herida en el lóbulo frontal y la pérdida de un ojo.

Los activistas de paz insisten en que ni Anderson ni sus compañeros más cercanos estaban tirando piedras o eran una amenaza para las fuerzas. La madre de Anderson, quien voló desde California con su marido para estar al lado del lecho de su hijo, dijo ayer que disparar a los manifestantes por la paz era “realmente terrible”. Dijo que la metralla del gas lacrimógeno estaba destinada a ser disparada para dispersar a los manifestantes, pero que en este caso había sido disparada “directamente a la cabeza”.

* De The Independent de Gran Bretaña. Especial para Página/12.

Traducción: Celita Doyhambéhère.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Soldados israelenses revelam segredos sobre guerra em Gaza


Por Jeffrey Heller, para REUTERS

JERUSALÉM - O Exército israelense foi abalado nesta quinta-feira por relatos de veteranos da guerra em Gaza sobre a morte de civis e alegações de grande desprezo aos palestinos entre os soldados.

Os soldados, formados pela academia militar, se reuniram no mês passado para discutir experiências da ofensiva israelense de 22 dias terminada em janeiro, uma campanha que palestinos e grupos de direitos humanos dizem justificar investigações sobre crimes de guerra.

Revelando detalhes do encontro, o diretor da instituição disse que os soldados descreveram uma atmosfera entre os militares de "desprezo desenfreado e violento contra os palestinos".

"Eles falaram sobre fogo injustificado contra civis palestinos. Houve conversa também sobre vandalismo de propriedade", disse Danny Zamir, diretor do programa pré-militar Yitzhak Rabin, à Rádio Israel.

O ministro da Defesa, Ehud Barak, respondeu às acusações repetindo a descrição de Israel de que suas forças armadas são a de maior moral no mundo. O militar disse que seu advogado-geral ordenou uma investigação sobre os supostos incidentes.

Trechos da discussão dos veteranos foram divulgados nesta quinta-feira na primeira página do jornal israelense esquerdista Haaretz. A reportagem disse que revelar os "segredos sujos" tornaria mais difícil aos israelenses repudiar tais alegações como propaganda palestina.

Não é comum que soldados israelenses manifestem-se livremente sobre a morte de civis palestinos na operação lançada em dezembro por Israel na Faixa de Gaza, controlada pelo Hamas, com o objetivo declarado de cessar os ataques com foguetes do grupo militante contra alvos israelenses.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

"Exterminem todos os brutos": Gaza 2009


O poder dos homens do Hamas permanece intacto, e a maior parte dos que sofreram em Gaza é de civis: um resultado positivo, segundo uma doutrina muito bem difundida, a do terrorismo de Estado. Israel calculou que seria vantajoso parecer que “estava ficando louco”, causando terror largamente desproporcional à população. O recado era claro: deixem de apoiar o Hamas. Enquanto isso, observamos calmamente um evento raro na história, que o velho sociólogo israelense, Baruch Kimmerling, chamou de “politicídio”, o assassinato de uma nação.

Noam Chomsky, em CARTA MAIOR

Artigo publicado originalmente no site de Noam Chomsky, em 19 de janeiro de 2009, um dia antes da posse do presidente dos EUA, Barack Obama.

No sábado, 27 de dezembro, teve início o mais recente ataque de EUA-Israel contra palestinos desamparados. O ataque foi meticulosamente planejado, por mais de seis meses, de acordo com a imprensa israelense. O plano tinha dois componentes: militar e propaganda. Baseou-se nas lições da invasão israelense do Líbano em 2006, que foi considerada pobremente planejada e mal divulgada. Podemos, então, estar razoavelmente confiantes em que a maior parte do que vem sendo feito e dito foi intencional e programado.

Isso certamente inclui o momento do ataque: pouco antes do meio-dia, quando as crianças estavam retornando da escola e multidões circulavam nas ruas densamente povoadas da Cidade de Gaza. Levou apenas poucos minutos para matar mais de 225 pessoas e ferir 700, um auspicioso começo de massacre em massa de civis indefesos, presos numa minúscula jaula sem saída.

Na sua retrospectiva “Inventário das Conquistas da Guerra de Gaza”, o correspondente do New York Times, Ethan Bronner, citou um dos mais significativos desses ganhos. Israel calculou que seria vantajoso parecer que “estava ficando louco”, causando terror largamente desproporcional, uma doutrina cujos traços remontam aos anos 50. “Os palestinos em Gaza entenderam a mensagem no primeiro dia”, escreveu Bronner, “quando os aviões de guerra de Israel atacaram numerosos alvos simultaneamente no meio da manhã de um sábado. Uns 200 morreram instantaneamente, surpreendendo o Hamas e na verdade toda Gaza”. A tática do “estava ficando louco” aparentemente tinha sido bem sucedida, concluiu Bronner: há “certas indicações de que a população de Gaza sentiu tanta dor com essa guerra que buscará pôr um freio no Hamas”, o governo eleito. Essa é outra velha doutrina do terrorismo de estado. Eu não lembro, incidentalmente, da retrospectiva do Times “Inventário das Conquistas da Guerra da Chechênia”, ainda que nesta os ganhos tenham sido grandiosos.

O meticuloso plano também incluía o término do assalto, cuidadosamente marcado para logo antes da posse, a fim de minimizar a (remota) ameaça de que Obama pudesse dizer algumas palavras críticas a esses viciosos crimes apoiados pelos EUA.

Duas semanas depois do Sabbath que inaugurou o assalto, com Gaza já espatifada e com o número de mortos chegando a 1000, a agência das Nações Unidas UNRWA, da qual muitos habitantes de Gaza dependem para sobreviver, anunciou que o exército israelense proibiu o carregamento de ajuda para Gaza, alegando que as estradas estavam fechadas devido ao Sabbath. Para honrar o dia sagrado, aos palestinos no limite de sobrevivência deveriam ser negados comida e medicamentos, enquanto centenas podem ser massacrados pelos aviões de bombardeio norte-americanos e por helicópteros.

Crueldade e cinismo em notas de rodapé

A rigorosa observância do Sabbath nesse duplo sentido atraiu pouco noticiário. O que faz sentido. Nos anais da criminalidade norteamericana-israelense, tamanha crueldade e tamanho cinismo merecem pouco mais que uma nota de rodapé. São também familiares. Para citar um paralelo relevante, em Junho de 1982 a invasão israelense apoiada pelos EUA no Líbano começou com um bombardeio do campo de refugiados palestinos de Sabra e Shatila, que depois iriam se tornar famosos como lugares de massacres terríveis supervisionados pelas IDF (Forças de “Defesa” Israelenses, o exército de Israel). O bombardeio atingiu o hospital local – o hospital de Gaza – e matou mais de 200 pessoas, de acordo com o relato de uma testemunha ocular, um acadêmico norte-americano especialista em Oriente Médio. O massacre foi o ato inicial de uma invasão que chacinou entre 15 e 20 mil pessoas e destruiu a maior parte do sul do Líbano e Beirute, e se realizou com o crucial apoio militar e diplomático dos EUA. Isso inclui vetos nas resoluções do Conselho de Segurança visando a deter a agressão criminosa que estava sendo cometida, e mal escondida, para defender Israel da ameaça de um acordo político pacífico, contrário a muitas fabricações convenientes relativas ao sofrimento dos israelenses sob intensos foguetes, uma fantasia de apologistas.

Tudo isso é normal e bastante discutido abertamente pelos altos oficiais israelenses. Trinta anos atrás o alto comandante do exército israelense, Mordechai Gur observou que desde 1948 “temos lutado contra uma população que vive em vilas e cidades”. Como o mais proeminente analista militar, Zeev Schiff resumiu em suas observações, “o exército israelense sempre atacou populações civis, proposital e conscientemente...o exército”, disse ele, “nunca distinguiu alvos civis [de militares]...mas propositalmente atacou alvos civis”. As razões foram apresentadas pelo distinto homem de estado Abba Eban: “havia um projeto racional, em última análise alcançado, de que as populações afetadas iriam fazer pressão para que as hostilidades cessassem”. O efeito, como Eban entendeu bem, seria permitir a Israel implementar, sem distúrbios, seus programas de expansão ilegal e de repressão áspera.

Eban estava comentando uma análise do primeiro ministro Begin, do governo trabalhista, sobre os ataques desferidos contra civis, apresentando um quadro, disse Eban, “em que Israel brutalmente inflinge morte e aflição em populações civis, num estado de ânimo reminiscente de regimes que nem o senhor Begin nem eu ousaríamos mencionar os nomes”. Eban não contestava os fatos analisados por Begin, mas o criticava por tê-los exposto publicamente. Não concernia a Eban, nem a seus admiradores, que sua defesa do sólido terror de estado também seja reminiscente de regimes que ele não ousaria mencionar o nome.

A tentativa de "educar" o Hamas

As justificações de Eban do terror de estado são tomadas como convincentes por autoridades respeitadas. Enquanto o recente ataque israelo-estadunidense ainda fazia barulho, o colunista do Times, Thomas Friedman, explicava que a tática atual de Israel, como aquela adotada durante a invasão do Líbano em 2006, estava baseada num princípio louvável: “tentar educar” o Hamas, ao inflingir perdas pesadas aos seus militantes e sofrimentos terríveis à população de Gaza”. Isso se compreende em termos pragmáticos, como foi o caso no Líbano, em que “a única dissuasão de longo prazo foi expor os civis – as famílias e empregados dos militantes – a calamidades, para que eles não apóiem o Hizbollah no futuro”. E, por uma lógica similar, o esforço de Bin Laden para “educar” os americanos no 11 de Setembro foi altamente louvável, bem como os ataques nazistas a Lídice e Oradour, a destruição que Putin causou em Grozny, e outras notáveis tentativas de “educação”.

Israel tem envidado esforços para tornar clara sua dedicação a esses princípios reguladores. O correspondente do New York Times, Stephen Erlanger, reporta que os grupos israelenses de direitos humanos estão “perturbados com os ataques israelenses em prédios que acreditam devam ser classificados como civis, como o parlamento, as delegacias de polícia e o palácio presidencial” - e, podemos acrescentar, vilas, casas, campos de refugiados densamente povoados, sistemas de água e esgoto, hospitais, escolas e universidades, mesquitas, instalações de ajuda humanitária das Nações Unidas, ambulâncias e na verdade qualquer coisa que possa aliviar a dor de vítimas sem valor. Um oficial sênior da inteligência do IDF explicou que o exército “atacou ambos os aspectos do Hamas – sua ala de resistência ou militar e seu dawa, ou ala social”, esta última, um eufemismo para a sociedade civil. “Ele argumentou que o Hamas era um todo”, continua Erlanger, “e, numa guerra, seus instrumentos de controle político e social eram alvos tão legítimos com o são seus abrigos dos foguetes”.

Nem Erlanger nem seus editores acrescentaram qualquer comentário quanto à defesa aberta e à prática de terrorismo em massa alvejando civis, embora correspondentes e colunistas afirmem sua tolerância e mesmo a defesa de crimes de guerra, como já se notou. Mas, para manter a regra, Erlanger não deixa de enfatizar que os foguetes do Hamas são “uma óbvia violação do princípio de discriminação e se encaixa na clássica definição de terrorismo”.

Assim como outros especialistas em Oriente Médio familiarizados com a região, Fawwaz Gerges observa que “o que os oficiais israelenses e seus aliados americanos não avaliam é que o Hamas não é apenas uma milícia armada, mas um movimento social com uma grande base popular profundamente consolidada na sociedade”. Portanto, quando eles levam ao cabo seus planos de destruir a “ala social” do Hamas, estão visando a destruir a sociedade palestina.

Talvez Gerges esteja sendo gentil demais. É muitíssimo improvável que os oficiais israelenses e norte-americanos – ou a mídia e outros colunistas – não tenham uma avaliação desses fatos. Antes, eles implicitamente adotam a perspectiva tradicional daqueles que monopolizam os meios de violência: com um soco norte-americano esmagamos toda oposição, e se o saldo civil de nossos ataques brutais é pesado, também é bom: pode ser que os sobreviventes venham a ser convenientemente educados.

"São vileiros com armas"

Os oficiais israelenses entendem claramente que estão destruindo a sociedade civil palestina. Ethan Bronner cita um coronel israelense que diz que ele e seus homens não estão muito “impressionados com os combatentes do Hamas”. “São vileiros com armas”, declarou um atirador num blindado de transporte da tropa. Eles parecem com essas vítimas da criminosa operação “mão de ferro” do IDF no sul ocupado do Líbano, em 1985, dirigida por Shimon Peres, um dos maiores líderes terroristas da era da “Guerra contra o Terror” de Reagan. Durante essas operações, os comandantes israelenses e os analistas de estratégia explicaram que as vítimas eram “vileiros terroristas” difíceis de erradicar, porque “esses terroristas operam com o apoio da maior parte da população local.” Um comandante israelense reclamou que “o terrorista... tem muitos olhos aqui, porque ele vive aqui”, enquanto o correspondente militar do Jerusalém Post descreveu os problemas que as forças israelenses enfrentaram, combatendo “mercenários terroristas”, “fanáticos suficientemente dedicados a suas causas a ponto de correrem o risco de serem mortos enquanto lutam contra as IDF”, que deve “manter a ordem e a segurança” no sul ocupado do Líbano, a despeito 'do preço' que os seus habitantes terão de pagar”. O problema tem sido familiar aos dos norte-americanos no Vietnã do Sul, aos dos russos no Afeganistão, aos dos alemães na Europa ocupada, e a outros agressores que vêem a si como implementando a doutrina Gur-Eban-Friedman.

Gerges acredita que o terror israelo-norte-americano vai fracassar. O Hamas, ele escreve, “não pode ser exterminado sem que 500 mil palestinos sejam massacrados. Se Israel for bem sucedido matando os líderes mais antigos do Hamas, uma nova geração, mais radical que essa, rapidamente os substituirá. Hamas é um fato da vida. Ele não vai desaparecer, e não vai levantar a bandeira branca, não importa quantas perdas sofra”.

Talvez, mas sempre há uma tendência a subestimar a eficácia da violência. É particularmente esquisito que uma crença como essa se sustente nos EUA. Por que eles estão aqui?

O Hamas é frequentemente descrito como “apoiado pelo Irã, que quer a destruição de Israel”. Será difícil encontrar algo como “democraticamente eleito Hamas, que há muito vem demandando um acordo pelos dois estados com base no consenso internacional” - bloqueado por trinta anos pelos EUA e Israel, que rejeitam o direito dos palestinos à autodeterminação. Tudo isso é verdade, mas não é útil para a agenda [Party Line], portanto, é dispensável.

Esses detalhes mencionados acima, ainda que menores, nos ensinam algo a respeito de nós mesmos e de nossos clientes. Entre outras coisas. Para mencionar uma delas, quando o último assalto israelo-norte-americano em Gaza começou, um pequeno barco, o Dignity, estava a caminho de Gaza, vindo do Chipre. Os médicos e ativistas dos direitos humanos que estavam a bordo pretendiam furar o bloqueio criminoso de Israel e levar suprimentos médicos à população aprisionada. A Marinha Israelense interceptou o barco em águas internacionais, bateu e quase o afundou, até o Dignity se dirigisse a duras penas para o Líbano. Israel publicou suas mentiras de rotina, refutada por jornalistas e passageiros a bordo, inclusive o correspondente da CNN, Karl Penhaul, e a representante norte-americana, ex-candidata a presidente pelo Partido Verde, Cynthia McKinney.

Esse é um crime sério – muito pior, por exemplo, do que sequestrar barcos na costa da Somália. Foi pouco noticiado. A aceitação tácita desses crimes reflete o entendimento de que Gaza é um território ocupado, e que Israel está autorizado a implementar seus programas de punição da população civil por desobedecer aos seus comandos – sob os pretextos aos quais sempre retornamos, quase universalmente aceitos, mas claramente frouxos.

Mais uma vez, a falta de atenção faz sentido. Por décadas Israel vem sequestrando barcos em águas internacionais entre o Chipre e o Líbano, matando ou sequestrando passageiros, algumas vezes levando-os para as prisões de Israel, inclusive para prisões secretas e câmaras de tortura, para tomá-los como reféns durante anos. Se essas práticas são rotina, por que tratar um novo crime com mais do que um bocejo? O Chipre e o Líbano reagem bastante, mas o que são esses países na ordem das coisas?

Ditadura egípcia, o mais vergonhoso dos regimes árabes

Quem se preocupa, por exemplo, se o editor do Libano Daily Star, geralmente pró-ocidente, escreve que “algo como um milhão e meio de pessoas em Gaza estão sendo submetidas à administração assassina de uma das mais avançadas tecnologicamente, mas moralmente regressivas, máquinas de guerra”? É frequentemente sugerido que os palestinos se tornaram para o mundo árabe o que os judeus eram para a Europa no período pré-Segunda Guerra, e há algo de verdadeiro nessa interpretação. Como algo tão repugnantemente adequado, que, assim como europeus e norte-americanos viraram as costas quandos os nazis perpetravam o holocausto, os árabes estão buscando um jeito de não fazer nada, enquanto os israelenses massacram as crianças palestinas”. Talvez o mais vergonhoso dos regimes árabes seja a brutal ditadura egípcia, a beneficiária de muita ajuda militar norte-americana, além de Israel.

De acordo com a imprensa libanesa, Israel ainda “sequestra rotineiramente civis libaneses do lado libanês da Linha Azul [a fronteira internacional], mais recententemente em Dezembro de 2008". E, é claro, “os aviões israelenses invadem o espaço aéreo libanês, numa violação diária da Resolução 1701 das Nações Unidas” (O acadêmico libanês Amal Saad-Ghorayeb, Daily Star, 13 de Janeiro). Isso também vem acontecendo há muito tempo. Quando condenou a invasão do Líbano em 2006, o proeminente analista estratégico israelense, Zeev Maoz, escreveu na imprensa israelense que:

“Israel violou o espaço aéreo libanês ao levar a cabo missões de reconhecimento quase diariamente, desde a retirada do sul do Líbano, seis anos atrás. É verdade que esses sobrevôos de reconhecimento não causaram quaisquer baixas, mas uma violação de fronteira é uma violação de fronteira. Aqui, também, Israel não tem a moral elevada”.

E em geral não há base para o “consenso estabelecido em Israel de que a guerra contra o Hizbollah no Líbano seja apenas uma guerra moral e justa”, um consenso “baseado numa memória seletiva de curto prazo, numa perspectiva introvertida e segundo critérios dúbios. Essa não é uma guerra justa, o uso da força é excessivo e indiscriminado, e seu fím último é a extorsão”.

Como Maoz também lembra aos seus leitores israelenses que sobrevôos com bombas de som para aterrorizar libaneses são os menores dos crimes de Israel no Líbano, aparte as cinco invasões desde 1978:

“Em 28 de julho de 1988 as Forças Especiais Israelenses sequestraram Sheikh Obeid, e em 21 de maio de 1994 Israel sequestrou Mustafa Dirani, responsável pela captura do piloto israelense Ron Arad [quando ele estava bombardeando o Líbano em 1986]. Israel mantém cativos esses e mais 20 libaneses capturados em circunstâncias não esclarecidas na prisão por longos períodos, sem julgamento. Eles foram usados como 'moeda de barganha' humana. Aparentemente, quando o Hizbollah sequestra israelenses para fins de 'troca' de prisioneiros se trata de algo moralmente repreensível, e militarmente passível de penalidade; mas não se é Israel que está fazendo exatamente a mesma coisa” e numa escala muito maior e ao longo de muitos anos.

As práticas corriqueiras de Israel são significativas mesmo se não levamos em conta o que elas revelam da criminalidade israelense e do apoio que o Ocidente lhe dá. Como indica Maoz, essas práticas revelam a completa hipocrisia da exigência standard de que Israel tinha o direito de invadir o Líbano mais uma vez, em 2006, quando soldados israelenses foram capturados na fronteira, na primeira violação de fronteira protagonizada pelo Hizbollah nos seis anos que se seguiram à retirada de Israel do sul do país que ocupou, violando as ordens do Conselho de Segurança da ONU e retrocedendo 22 anos, enquanto durante esses seis anos Israel violou a fronteira quase diariamente com impunidade e silêncio, do lado de cá.

Mais uma vez, a hipocrisia é rotina. Então Thomas Friedman, enquanto explica como essa sub-raça deve ser “educada” pela violência terrorista, escreve que a invasão israelense do Líbano em 2006, destruindo de novo a maior parte do sul do país e Beirute e matando mais 1000 civis é apenas um ato de autodefesa, respondendo ao crime do Hizbollah de “lançar-se numa guerra não provocada através da fronteira Israel-Líbano reconhecida pelas Nações Unidas, depois da retirada unilateral de Israel do Líbano”.

Deixando de lado a mentira, ataques terroristas muito mais destrutivos e mortíferos contra israelenses do que qualquer um que tenha sido desferido estariam plenamente justificados, em resposta às práticas israelenses no Líbano e em alto mar, que excedem vastamente o crime do Hizbollah de capturar dois soldados na fronteira. O veterano especialista em Oriente Médio do NYT certamente sabe desses crimes, ao menos se leu o próprio jornal em que escreve: por exemplo, o parágrafo 18 de uma história de trocas de prisioneiros em Novembro de 1983 que observa, casualmente, que 37 dos prisioneiros árabes “tinham sido capturados recententemente pela Marinha Israelense enquanto tentavam ir do Chipre a Trípoli”, no norte de Beirute.

"Isso somos nós e aquilo, eles"

É claro que todas essas conclusões sobre ações adequadas contra os ricos e poderosos estão baseadas num vício fundamental: isso somos nós e aquilo, eles. Esse é um princípio crucial, profundamente enraizado na cultura Ocidental, suficiente para solapar até a mais precisa analogia e o mais impecável raciocínio.

Enquanto escrevo, um outro barco se dirige de Chipre para Gaza, “levando suprimentos médicos de urgência em caixas seladas, verificadas pelas alfândegas no Aeroporto Internacional de Larnaca e no Porto de Larnaca”, dizem os organizadores. Os passageiros incluem membros do Parlamento Europeu e médicos. Israel tem sido notificado do seu intento humanitário. Com suficiente pressão popular, eles devem conseguir realizar sua missão em paz.

Os novos crimes que os EUA e Israel vêm cometendo em Gaza nas últimas semanas não se encaixam facilmente em nenhuma categoria standard – à exceção da categoria familiaridade. Eu acabei de dar vários exemplos, e vou retornar a outros. Literalmente, os crimes caem sob a categoria oficial das definições governamentais dos EUA de “terrorismo”, mas essa designação não captura sua enormidade. Eles não podem ser chamados de “agressão”, porque estão sendo conduzidos em território ocupado, como os EUA tacitamente concede. Na sua história geral dos assentamentos israelenses em territórios ocupados, os Senhores da Terra [Lords of the Land], Idit Zertal e Akiva Eldar dizem que, depois de Israel ter retirado suas forças de Gaza em agosto de 2005, o território arruinado não foi liberado “por nem sequer um dia do controle militar israelense ou do preço da ocupação que seus habitantes pagam todos os dias...Israel deixou para trás terra arrasada, serviços devastados e pessoas sem presente nem futuro. Os assentamentos foram destruídos num movimento não generoso de um ocupante não esclarecido, que de fato continua a controlar o território e mata e molesta seus habitantes por meio de seu formidável poder militar” - exercido com extrema selvageria, graças ao apoio fime e à participação dos EUA.

O ataque israelo-norte-americano em Gaza intensificou-se em janeiro de 2006, poucos meses depois da retirada formal dos assentamentos, quando os palestinos cometeram um verdadeiro crime hediondo: eles votaram “errado” numa eleição livre. Como outros, os palestinos aprenderam que não se desobedece impunemente aos comandos do Senhor, que continua a tagarelar seu “anseio por democracia”, sem suscitar ridículo nas classes educadas, outra conquista impressionante.

À medida que os termos “agressão” e “terrorismo” são inadequados, algum termo novo é necessário para a tortura sádica e covarde de um povo enjaulado, sem possibilidade de escapar, enquanto estão sendo reduzidos a pó pelo mais sofisticado dos produtos da tecnologia militar norte-americana – usado na violação de leis internacionais e mesmo das próprias leis norte-americanas, mas por auto-declarados estados fora-da-lei, o que é apenas mais uma tecnicalidade menor.

Também é tecnicalidade menor o fato de que em 31 de dezembro, enquanto os habitantes aterrorizados de Gaza procuravam desesperadamente abrigo do ataque brutal, Washington contratou um navio mercante alemão para transportar da Grécia para Israel um pesado carregamento de 3000 toneladas de munição “não identificada”. Essa expedição “segue o fretamento de um navio comercial que transporta dos EUA para Israel um carregamento muito maior de material bélico, antes do ataques aéreos de dezembro sobre a faixa de Gaza”, disse a Reuters.

Tudo isso mais 21 milhões de dólares em ajuda militar norte-americana fornecida pela administração Bush a Israel, a maioria sob a forma de subvenções. “A intervenção de Israel na Faixa de Gaza foi fortemente alimentada pelas armas fornecidas pelos EUA, pagas com dinheiro dos contribuintes”, informou a New American Foundation, que monitora o comércio de armamento. A última expedição foi interditada por uma decisão do governo grego de impedir a utilização de seus portos para “aprovisionamento do exército de Israel”.

A resposta da Grécia aos crimes israelenses apoiados pelos EUA é bastante diferente da performance covarde da maior parte dos dirigentes da Europa. Essa distinção mostra que Washington talvez tenha sido bastante realista ao tomar a Grécia como parte do Oriente Médio, não da Europa, até o golpe em 1974 da ditadura fascista sustentada pelos EUA. Pode ser que a Grécia seja civilizada demais para fazer parte da Europa.

Caso alguém tenha achado o momento da entrega das armas a Israel curioso, o Pentágono tem uma resposta: o carregamento chegaria muito tarde para que desse tempo de ser usado no ataque à Faixa de Gaza, e o material militar, o que quer que ele seja, devia estar pré-posicionado em Israel para o uso do exército norte-americano. Talvez seja exatamente isso. Um dos numerosos serviços que Israel oferece a seu patrão é o de lhe fornecer uma base militar na periferia de uma das maiores fontes energéticas do mundo. Pode portanto servir de base avançada para uma agressão dos EUA – ou, para utilizar termos técnicos, para “defender a região do Golfo” e “assegurar sua estabilidade”.

O enorme fluxo de armas para Israel serve a muitos propósitos. O analista político do Oriente Médio, Mouin Rabbani, observa que Israel pode testar novas armas contra alvos indefesos. Isso serve a Israel e aos EUA “duplamente, de fato, uma vez que as versões de menor performance dessas mesmas armas são vendidas com preços inflacionados aos estados árabes, que contribuem eficazmente para a indústria miliar dos EUA e para as subvenções militares norte-americanas, em Israel”. Essas são funções suplementares que Israel exerce num Oriente Médio dominado pelos Estados Unidos, e uma das razões pelas quais Israel é tão favorecido pelas autoridades estatais [dos EUA], juntamente a uma série de corporações norte-americanas de alta tecnologia e, é claro, a indústrias militares e de inteligência.

As armas e treinamentos dos EUA desempenharam papel em 20 das 27 maiores guerras em 2007

Deixando Israel de lado, os EUA são de longe o maior fornecedor de armas do mundo. O relatório recente da New American Foundation conclui que “as armas e treinamentos dos EUA desempenharam papel em 20 das 27 maiores guerras em 2007”, obtendo uma receita de 23 bilhões de dólares que aumentou para 32 bilhões, em 2008. É pouco impressionante que, dentre as inúmeras resoluções da ONU a que os EUA se opôs na sessão de dezembro de 2008 estava uma solicitando regulação do comércio de armas. Em 2006, só os EUA votou contra o tratado, mas em novembro de 2008 ganhou um novo parceiro: Zimbábue.

Também houve outros votos notáveis na sessão de dezembro da ONU. Uma resolução relativa ao “direito do povo palestino à autodeterminação” foi aprovada por 173 a 5 (EUA, Israel, dependências das Ilhas Pacíficas; os EUA e Israel com pretextos evasivos). O voto reafirma a postura de rejeição israelo-norte-americana, enveredando no isolamento internacional. Da mesma maneira, uma resolução defendendo a “liberdade universal de viajar e a importância vital do reagrupamento familiar” foi adotada com a oposição de Israel, EUA e as dependências das Ilhas Pacíficas, presumivelmente com os palestinos na cabeça.

Votando contra o direito ao desenvolvimento, os EUA perderam Israel mas ganharam a Ucrânia. Votando contra o “direito à alimentação”, os EUA esteve sozinho, um fato particularmente notável, diante da enorme crise alimentar, obscurecendo a crise financeira que ameaça as economias ocidentais.

Há boas razões por que o registro desses votos é consistentemente escondido e despachado para o recôndito da memória de toda mídia e dos intelectuais conformistas. Não seria inteligente revelar ao público o que os votos de seus representantes implicam. No caso presente seria claramente inútil deixar o público saber que a postura de rejeição de Israel e dos EUA, impedindo um acordo de paz há muito defendido pelo mundo, chega ao extremo de negar aos palestinos até mesmo o direito abstrato de autodeterminação.

Um dos heróicos voluntários em Gaza, o médico norueguês Mads Gilbert descreve a cena de horror como uma “guerra total dirigida contra a população civil de Gaza”. Ele avalia que metade das perdas é de mulheres e crianças. Dentre os homens, quase todos também são civis, em padrões civilizados. Gilbert informa que mal viu, dentre as centenas de corpos, uma perda militar. O IDF concorda. O Hamas “ou combate de longe ou não combate, simplesmente”, disse Ethan Bronner, enquanto informa, “inventariando os ganhos” do ataque israelo-norte-americano.

Então, o poder dos homens do Hamas permanece intacto, e a maior parte dos que sofreram é de civis: um resultado positivo, segundo uma doutrina muito bem difundida.

Essas estimativas foram confirmadas pelo sub-secretário geral da ONU para assuntos humanitários, John Holmes, que informou ser uma “estimativa confiável” a de que a maior parte dos civis mortos eram mulheres e crianças, numa crise humanitária que “está piorando a cada dia, enquanto a violência continua”. Mas poderíamos ficar confortáveis com as palavras da Ministra israelense para Assuntos Estrangeiros, Tzipi Livni, a pomba pacifista da atual campanha eleitoral, que assegurou ao mundo que não há “crise humanitária” em Gaza, graças à benevolência israelense.

Como outros que se preocupam com seres humanos e seus destinos, Gilbert e Holmes imploraram por um cessar-fogo. Mas não agora. “Nas Nações Unidas, os EUA impediu o Conselho de Segurança de fazer uma declaração formal no sábado à noite, pedindo um imediato cessar-fogo”, mencionou, de passagem, o NYT. A razão oficial era que “não há indicação de que o Hamas iria respeitar qualquer acordo”. Nos anais das justificações do deleite de massacrar, essa deve estar entre as mais cínicas. Isso tudo certamente sob Bush e Rice, que seriam em breve substituídos por Obama, o qual repete com compaixão que “se os mísseis caíssem sobre minhas duas filhas dormindo, eu faria tudo para pôr um fim nisso”. Ele fazia referência às crianças israelenses, não às centenas de crianças aos pedaços, na Faixa de Gaza, com armas dos EUA. Além disso, Obama manteve seu silêncio.

Poucos dias depois, sob intensa pressão internacional, os EUA sustentaram uma resolução do Conselho de Segurança apelando a um “cessar-fogo duradouro”. Essa resolução passou por 14 a 0; os EUA se absteve. Os falcões de Israel e dos EUA ficaram enraivecidos porque os EUA não opôs seu veto, como de hábito. A abstenção, contudo, foi suficiente para dar a Israel, senão uma luz verde, pelo menos uma amarela, na escalada de violência a qual se dedicou com afinco até a posse de Obama, conforme o previsto.

Quando o cessar-fogo (teoricamente) entrou em vigor em 18 de janeiro, o Centro Palestino para os Direitos Humanos publicou as cifras do último dia do ataque: 54 palestinos assassinados, incluindo 43 civis desarmados, 17 deles crianças, enquanto o IDF continuou a bombardear casas de civis e escolas da ONU. O número de mortos, eles estimaram, chegou a 1184, incluindo 844 civis, dentre os quais 281 crianças. O IDF continuou a usar bombas incendiárias ao longo da Faixa de Gaza, e a destruir casas e terras cultivadas, forçando civis a deixarem suas casas. Poucas horas depois, a Reuters informou que mais de 1300 tinham sido mortos. A equipe do Centro Al Mezan, que monitora cuidadosamente as baixas e a destruição, visitou áreas que estavam antes inacessíveis por causa do pesado e incessante bombardeio. Eles descobriram dúzias de corpos de civis em decomposição sob as pedras de casas destruídas ou removidas pelas escavadoras israelenses. Quarteirões urbanos inteiros desapareceram.

O número de mortos e feridos certamente está subestimado. E é pouco provável que venha a se instaurar qualquer inquérito sobre essas atrocidades. Crimes de inimigos oficiais estão sujeitos a investigações rigorosas, mas os nossos próprios são sistematicamente ignorados. A prática comum, de novo e compreensível, da parte dos senhores.

A Resolução do Conselho de Segurança pediu a interrupção da chuva de armas em Gaza. Os EUA e Israel (Rice-Livni) rapidamente chegaram a um acordo sobre as medidas para assegurar esse fim, concentrando-se nas armas iranianas. Não há necessidade de interromper o contrabando de armas dos EUA para Israel, porque não há contrabando: o imenso fluxo de armas é bastante público, mesmo quando não é reportado, como no caso da expedição de armas anunciada enquanto ocorria a matança em Gaza.

A Resolução também pedia que se “assegurasse a reabertura sustentável dos pontos de passagem, com base no Acordo sobre os Movimentos e Acesso (AMA) assinado em 2005, entre a Autoridade Palestina e Israel”. Esse acordo estipulava que os acessos para Gaza seriam abertos de maneira contínua e que Israel permitiria a passagem dos bens e das pessoas entre a Cisjordânia e a Faixa de Gaza.

O acordo Rice-Livni não disse coisa alguma quanto a esse aspecto da Resolução do Conselho de Segurança. EUA e Israel já tinham de fato abandonado o Acordo de 2005 como parte da punição aos palestinos por eles terem votado errado na eleição de janeiro de 2006. Na entrevista coletiva de Rice depois do Acordo Rice-Livni, ela enfatizou os esforços constantes para solapar os resultados de uma eleição livre no mundo árabe. “Há muito o que pode ser feito”, disse ela, “para tirar Gaza do reino de trevas do Hamas e a trazer para a luz que a boa governança da Autoridade Palestina pode conduzir” - ao menos enquanto esta permanecer como um cliente leal, tomado pela corrupção e dedicado a conduzir uma repressão severa, quer dizer, obediente.

EUA e Israel entregaram ao Irã uma doce vitória

Retornando de uma viagem ao mundo árabe, Fawwaz Gerges afirmou com força aquilo que outros já haviam reportado sobre o tema. O efeito da ofensiva israelo-norte-americana em Gaza tem sido o enfurecimento das populações e o surgimento de amargura e ressentimento dos agressores e de seus colaboradores. “É suficiente dizer que os países árabes assim chamados de moderados (isto é, aqueles que seguem as ordens de Washington) estão na defensiva, e que a resistência conduzida pelo Irã e pela Síria é a maior beneficiária. Mais uma vez, Israel e a administração Bush entregaram à liderança iraniana uma doce vitória”. Mais ainda, “o Hamas provavelmente emergirá como força política mais poderosa do que antes e vai provavelmente ultrapassar o Fatah, o aparelho de governo do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas”, o favorito de Rice.

Vale a pena ter em mete que o mundo árabe não está escrupulosamente protegido da única tevê que transmite ao vivo a cobertura do que está acontecendo em Gaza, a saber, a “calma e equilibrada análise do caos e da destruição”, feita pelos extraordinários repórteres da al-Jazeera, que oferece “uma alternativa inflexível aos canais terrestres”, como informou o Financial Times. Em 105 países que carecem das nossas eficientes modalidades de autocensura, as pessoas podem ver o que está acontecendo 24 por dia, e o impacto deve ser muito grande. Nos EUA, o NYT informa que “o quase total blackout a al-Jazeera se deve sem dúvida às críticas agudas que a emissora recebeu do governo dos EUA, nas primeiras etapas da guerra no Iraque, por sua cobertura da invasão norte-americana”. Cheney e Rumsfeld objetaram, então, obviamente, a mídia independente só poderia obedecer.

Há debates bastante sóbrios a respeito do que os ataques visavam a alcançar. Alguns objetivos são comumente discutidos. Entre eles, a retomada da chamada “capacidade de dissuasão” que Israel perdeu nos seus fracassos no Líbano, em 2006 – isto é, a capacidade de aterrorizar qualquer opositor potencial até sua submissão. Há, contudo, objetivos mais fundamentais que tendem a ser ignorados, ainda que eles também pareçam razoavelmente óbvios quando damos uma olhada na história recente.

Israel deixou Gaza em setembro de 2005. Os linha-dura racionais, como Ariel Sharon, o santo padroeiro do movimento dos assentados, entendeu que seria sem sentido subsidiar alguns milhares de assentamentos israelenses nas ruínas de Gaza, protegidos pelo IDF enquanto usam muita terra com recursos escassos. Faria mais sentido tornar Gaza uma das maiores prisões do mundo e transferir os assentamentos para a Cisjordânia, território muito mais valioso, onde Israel é bastante explícito quanto a suas intenções, nas palavras e ainda mais nos atos.

Um objetivo é anexar a terra árabe, o abastecimento de água, e seus agradáveis subúrbios de Jerusalém e Tel Aviv que ladeiam o muro de separação, irrelevantemente declarado ilegal pela Corte Internacional de Justiça. Isso inclui uma Jerusalém vastamente expandida, em violação às solicitações do Conselho de Segurança que datam de 40 anos, também irrelevante. Israel também está tomando para si o Vale do Jordão, algo como um terço da Cisjordânia. O que resta está, portanto, aprisionado e, mais ainda, partido em dois fragmentos por assentamentos judaicos que dividiram o território em 3 pedaços: um no leste da Grande Jerusalém, passando pela cidade de Ma'aleh Adumim, desenvolvida durante os anos Clinton para separar a Cisjordânia; e dois no norte, passando pelas cidades de Ariel e Kedumim. O que sobra para os palestinos está segregado por centenas de checkpoints, a imensa maioria deles, ilegais.

Os checkpoints não tem relação com a segurança de Israel, e se algum deles visa a salvaguardar assentamentos é completamente ilegal, como determina a Corte Internacional de Justiça. Na realidade, o seu maior objetivo é aterrorizar a população palestina e fortificar o que o pacifista isralense Jeff Halper chama de “matriz de controle”, constituída para tornar a vida insuportável para as “bestas-bípedes” que ficarão como “baratas tontas drogadas correndo dentro de uma garrafa” se pretenderem manter suas casas e sua terra. Tudo isso é bastante justo, porque eles são “como gafanhotos, em comparação conosco”, portanto, suas cabeças podem ser “amassadas contra pedras e muros”. Essa terminologia provém do alto comando político e militar israelense, neste caso, reverenciados como “príncipes”. E atitudes moldam políticas.

As pregações das autoridades rabínicas

Os delírios dos comandos militar e político são peixe pequeno se comparados às pregações das autoridades rabínicas. Elas não são figuras marginais. Ao contrário, exercem alta influência no exército e no movimento dos assentados, os quais Zertal e Eldar descrevem como os “senhores da terra”, com enorme impacto na política. Os soldados que estavam lutando no norte de Gaza foram agraciados com uma visita “inspiradora” de dois rabinos importantes, que lhes explicaram que não havia “inocentes” em Gaza, de modo que todos eram alvos legítimos, citando uma passagem dos Salmos, pedindo a Deus que pegue as crianças dos opressores de Israel e as jogue contra as pedras.

Os rabinos não estavam caminhando em terreno desconhecido. Um ano antes, o ex-líder da comunidade sefaradí escreveu ao Primeiro Ministro Olmert, informando-o que todos os civis em Gaza são coletivamente culpados pelos ataques de foguetes, de modo que não havia “absolutamente qualquer proibição moral contra a matança indiscriminada de civis durante uma potencial ofensiva militar massiva em Gaza, visando a interromper o lançamento dos foguetes”, conforme reportou o Jerusalem Post. Seu filho, o grande rabino de Safed, explicou mais elaboradamente:

“Se eles não pararem depois de matarmos 100, então temos de matar mil, e se depois de 1000 não pararem, então devemos matar 10 000. Se ainda assim eles não pararem, devemos matar 100 000, mesmo um milhão. O que quer que tenha de ser feito para fazer eles pararem”.

Pontos de vista similares são expressos por proeminentes figuras seculares americanas. Quando Israel invadiu o Líbano em 2006, o professor da Faculdade de Direito da Universidade Harvard, Alan Dershowitz, explicou no Huffington Post, um jornal liberal online, que todos os libaneses são alvos legítimos da violência de Israel. Os cidadãos libaneses estão “pagando o preço” por apoiarem o “terrorismo” - isto é, por apoiarem a resistência à invasão israelense. De acordo com esse raciocínio, os civis libaneses não são mais imunes do que os austríacos que apoiaram os nazis. A fatwa do rabino sefaradí se lhes aplica. Num vídeo no site do Jerusalem Post, Dershowitz chega a ridicularizar a excessiva comparação de mortos palestinos a israelenses: deveria ser aumentada de 1000 para um, disse ele, ou mesmo 1000 a zero, querendo dizer que os brutos deveriam ser completamente exterminados. É claro, ele está se referindo a “terroristas”, uma categoria vasta que inclui as vítimas do poder de Israel, à medida que “Israel nunca toma civis como alvos”, declarou ele, enfaticamente. Segue-se que palestinos, libaneses, tunisianos, na verdade qualquer um que apareça no caminho das armas brutais do Santo Estado é um terrorista, ou uma vítima acidental de seus crimes justos.

Não é fácil encontrar contrapartidas históricas dessas performances. Talvez seja de algum interesse que elas sejam consideradas inteiramente apropriadas na cultura moral e intelectual reinante – quando são produzidas do “nosso lado”, como são; das bocas dos inimigos oficiais palavras desse tipo gerariam justas indignações e exigências de imediata e massiva violência em revanche.

A afirmação de que “nosso lado” nunca toma civis como alvo é da doutrina familiar dos que monopolizam o significado da violência. E há alguma verdade nisso. Geralmente não tentamos matar civis em particular. Antes, levamos a cabo atos assassinos que sabemos vai massacrar muitos civis, mas sem qualquer intento específico de matar alguns em particular.

Segundo o direito, essas práticas rotineiras podem cair sob a categoria da indiferença depravada, mas essa não é uma designação adequada para os padrões da prática e da doutrinas imperiais. É mais parecido com andar na rua sabendo que podemos matar formigas, mas sem a intenção de fazê-lo, porque elas valem tão pouco que isso simplesmente não importa. O mesmo ocorre quando Israel comete ações que sabe matarão “gafanhotos” e “bestas-bípedes” a quem acontece de estar infestando a terra que será “liberada”. Não há um bom termo para designar essa forma de depravação moral que seja outra coisa que o também familiar assassinato deliberado.

"O direito eterno e histórico a esta terra inteira"

Na antiga Palestina, os seus proprietários de direito (divino, como informa “Os Senhores da Terra”) podem decidir conceder aos drogados algumas poucas baganas divididas em parcelas. Não segundo o direito, contudo: “Eu acreditava, e até hoje ainda acredito, no eterno e histórico direito de nosso povo a esta terra inteira”, informou o Primeiro Ministro Olmert numa sessão do Congresso em maio de 2006, arrancando aplausos. Ao mesmo tempo em que anunciava seu programa de “convergência” para tomar o que for valioso na Cisjordânia, deixando os palestinos apodrecerem em cantões. Ele não foi específico quanto às fronteiras da “terra inteira”, mas então, o empreendimento sionista nunca o foi, e por boas razões: a expansão é uma dinâmica interna muito importante. Se Olmert ainda é leal às suas origens no Likud, ele pode ter querido dizer ambos os lados do Rio Jordão, inclusive o atual estado da Jordânia, ou ao menos parte valiosa deste.

O “direito eterno e histórico a esta terra inteira” de nosso povo contrasta dramaticamente com a falta de qualquer direito à autodeterminação dos seus habitantes temporários, os palestinos. Como foi antes anotado, essa última falta foi reiterada por Israel e seu patrono em Washington, em dezembro de 2008, no seu usual isolamento acompanhado de silêncio retumbante.

Os planos traçados por Olmert em 2006 foram então abandonados, como não sendo suficientemente extremo. Mas o que substitui o programa convergência e as ações diárias para implementá-lo têm em geral a mesma concepção. Elas remontam aos primeiros dias da ocupação, quando o ministro da defesa, Moshe Dayan explicou poeticamente que “hoje a situação lembra a complexa relação entre um homem beduíno e uma menina por ele sequestrada contra sua vontade...Vocês, palestinos, enquanto nação, não nos querem hoje, mas nós vamos mudar sua atitude forçando nossa presença sobre vocês”. Vocês vão “viver como cachorros, e quem partir, partirá”, enquanto tomamos o que queremos.

Que esses programas são criminosos nunca foi o ponto. Imediatamente depois da guerra de 1967, o governo israelense foi informado por sua mais alta autoridade legal, Teodor Meron, que “assentamentos civis nos territórios administrados transgridem regras da Quarta Convenção de Genebra”, a fundação da lei humanitária internacional. O Ministro da Justiça de Israel concordou. A Corte Internacional de Justiça endossou, por unanimidade, a conclusão essencial em 2004, e a Alta Corte Israelense tecnicamente concordou, enquanto na prática discordou, no seu estilo habitual.

Na Cisjordânia, Israel pode prosseguir seus programas criminosos com o apoio dos EUA e sem distúrbios, graças ao seu controle militar efetivo e, até agora, à cooperação colaboracionista das forças de segurança palestinas, armadas e treinadas pelos EUA e por ditaduras aliadas. Também pode prosseguir assassinando e cometendo outros crimes, enquanto assenta brutalmente debaixo da proteção do IDF. Mas, enquanto a Cisjordânia vem sendo efetivamente subjugada pelo terror, ainda há resistência na outra metade da Palestina, a Faixa de Gaza. Ela também deve ser sufocada para que os programas israelo-norte-americanos de anexação e destruição da Palestina não sejam perturbados.

Então, veio a invasão de Gaza.

O momento da invasão foi supostamente influenciado pela eleição israelense. Ehud Barak, que estava perdendo nas pesquisas, passou a ganhar um assento no parlamento para cada 40 árabes assassinados nos primeiros dias do massacre, calculou o comentarista israelense Ran HaCohen.

Isso pode mudar, contudo. À medida que os crimes ultrapassem o que a campanha de propaganda cuidadosamente construída for capaz de suportar, mesmo os falcões confirmados começarão a se preocupar que a carnifica esteja “destruindo a alma e a imagem [de Israel]. Destruindo-a nas telas de tevê, nas salas de estar da comunidade internacional e, de maneira mais importante, na América de Obama” (Ari Shavit). Shavit estava particularmente preocupado com o “bombardeio israelense de uma 'instalação' da ONU...logo no dia em que o secretário geral das Nações Unidas estava visitando Jerusalém”, um ato “para além de lunático”, disse.

Alguns detalhes sejam acrescidos: a “instalação” era o posto da ONU, na cidade de Gaza, que continha depósitos da UNRWA [Agência das Nações Unidas para assistência e trabalho nos campos dos refugiados palestinos]. O bombardeio destruiu “centenas de toneladas de alimentos e de remédios de urgência que iriam ser distribuídos para os atingidos que estão nos hospitais, nos abrigos e nos centros de alimentação”, de acordo com o diretor da UNRWA, John Ging. Ao mesmo tempo, ataques destruíram dois andares do hospital al-Quds, deixando-o em chamas, e também um segundo entreposto dirigido pelo Crescente Vermelho Palestino. Na densamente povoada vizinhança de Tal-Hawa o hospital foi destruído pelos tanques israelenses “depois que centenas de habitantes aterrorizados de Gaza tinham buscado abrigo, quando as forças de terra de Israel entraram no bairro”, reportou AP.

Não sobrou nada a ser salvo nas ruínas do hospital em chamas. “Eles atacaram o prédio, o prédio do hospital. Pegou fogo. Tentamos evacuar os doentes e feridos e as pessoas que estavam lá dentro. Lança-chamas foram lançados e puseram fogo, cujas chamas queimaram, de novo e mais uma vez, pela terceira vez”, o paramédico Ahmad Al-Haz contou à AP. Suspeita-se que tenha sido usado fósforo branco nesses lançamentos, como também em outros, que causaram sérias queimaduras e ferimentos.

As suspeitas foram confirmadas pela Anistia Internacional depois que os intensos bombardeios cessaram, tornando assim possível que se fizesse uma investigação. Antes, Israel tinha inteligentemente barrado o acesso de todos os jornalistas, mesmo os israelenses, enquanto procedia com seus crimes em fúria total. O uso por Israel de fósforo branco contra civis em Gaza é “claro e inegável”, disse a Anistia Internacional. Seu uso repetido em áreas densamente povoadas “é um crime de guerra”, concluiu.

Eles encontraram as explosões de fósforo branco disseminadas nos prédios residenciais, todos incendiados, “pondo em perigo outros residentes e seus bens”, em particular as crianças, que se “atraem pelos detritos de armas frequentemente ignorando seus perigos”. Os alvos principais, disse a AI, estavam no interior da UNRWA, onde o “fósforo branco caiu ao lado de caminhões de combustível e provou um imenso incêndio que destruiu as toneladas de ajuda humanitária”, ainda que as autoridades israelenses “tivessem assegurado que não seria lançado um novo ataque sobre o complexo da UNRWA”.

No mesmo dia, “um ataque de fósforo branco foi lançado contra o hospital Al-Qods, na cidade de Gaza, também causando um incêndio que obrigou a equipe do hospital a evacuar os pacientes...o fósforo branco que chega à pele queima profundamente, chega aos músculos e mesmo aos ossos, e queima até que seja privado de oxigênio”. Que esses bombardeios tenham ocorrido intencionalmente ou por uma cínica indiferença, não importa. O fato é que esses crimes são inevitáveis quando uma arma dessa magnitude é utilizada em ataques sobre civis.

É contudo um erro se concentrar nas grosseiras violações de Israel do jus in bello, das leis designadas para controlar práticas que são muito selvagens. A própria invasão é de longe um crime muito mais sério. E se Israel tivesse infligido danos horrendos usando arco e flecha, ainda assim seria um ato criminoso de extrema perversidade.

Agressões sempre têm um pretexto: neste caso é que a paciência de Israel tinha chegado ao fim, diante dos ataques dos foguetes do Hamas, como disse Barak. O mantra sem fim que se repete é que Israel tem o direito de usar a força para se defender. A tese é parcialmente defensável. Jogar foguetes é criminoso, e é verdade que um estado tem o direito de se defender contra atos criminosos. Mas disso não se segue que tenha o direito de se defender pela força. Isso ultrapassa em muito qualquer princípio que nós aceitaríamos ou deveríamos aceitar.

A Alemanha nazista não tinha o direito de usar da força para se defender contra o terrorismo dos partisans. A Noite dos Cristais Quebrados não não é justificada pelo assassinato, por Herschel Grynszpan, de um oficial da Embaixada Alemã em Paris. Os ingleses não estavam justificados ao usar a força para se defender contra o (bastante real) terror dos colonos norte-americanos que queriam independência, ou ao aterrorizar os irlandeses católicos em resposta ao terror do IRA – e quando eles finalmente passaram à política sensata de se dedicarem a reclamações legítimas, o terror terminou. Isso não é uma questão de “proporcionalidade”, mas de escolha pela ação em primeiro lugar: há uma alternativa à violência?

Todo recurso à força exige uma pesada carga de prova, e devemos perguntar se isso pode ser o caso diante do esforço de Israel de sufocar qualquer resistência com suas ações criminosas diárias Gaza e na Cisjordânia, que continuam implacáveis depois de mais de 40 anos. Talvez eu possa citar uma de minhas entrevistas na imprensa de Israel sobre o anúncio de Olmert anunciando planos de convergência para a Cisjordânia: “Os EUA e Israel não toleram qualquer resistência a esses planos, preferindo fingir – falsamente, é claro – que “não há parceiro”, como o fizeram com programas que remontam há anos. Podemos lembrar que Gaza e a Cisjordânia são reconhecidos como sendo uma unidade, de modo que se a resistência aos planos israelo-norte-americanos de anexação-cantonização é legítima na Cisjordânia e também o é em Gaza”.

"Não há foguetes lançados da Cisjordânia"

O jornalista palestino-americano Ali Abunimah observou que “não há foguetes lançados em Israel da Cisjordânia, e ainda assim as execuções extrajudiciais, os assassinatos, o roubo de terras, os pogroms e os sequestros nunca deixaram de acontecer num dia sequer de trégua. Mahmoud Abbas, que é apoiado pelo ocidente, aceitou todas as exigências de Israel. Sob os olhos orgulhosos dos conselheiros militares norte-americanos, Abbas reuniu “forças de segurança” para lutar contra a resistência, com suporte de Israel. Nada disso poupou um palestino sequer, na Cisjordânia, da colonização implacável de Israel” - graças ao apoio norte-americano.

O respeitado parlamentar palestino Mustapha Barghouti acrescenta que, depois da extravagância de Bush em Annapolis, em novembro de 2007, com muita retórica edificante sobre a dedicação à paz e à justiça, os ataques israelenses sobre os palestinos aumentaram agressivamente, com um crescimento de quase 50% na Cisjordânia, entre os quais o crescimento agressivo de assentamentos e de checkpoints. Obviamente essas ações criminosas não são as responsáveis pelos foguetes lançados desde Gaza, ainda que o contrário possa bem ser o caso, sugere, razoavelmente, Barghouti.

As reações a crimes de uma potência ocupante podem ser condenadas como criminosas e politicamente insanas, mas aqueles que não oferecem qualquer alternativa não têm base moral para emitir qualquer opinião sobre essas coisas. A conclusão ganha força se aplicada aos que nos EUA escolhem estar diretamente implicados nos crimes em andamento por Israel – em suas palavras, com suas ações, ou com seu silêncio. Tanto mais porque há muitas alternativas claramente não-violentas – as quais, contudo, têm a desvantagem de barrarem os programas de expansão ilegal.

Israel tem muitos meios diretos de se defender: pôr um fim nessas ações criminosas nos territórios ocupados e aceitar o antigo consenso internacional relativo ao estabelecimento de dois estados que vem sendo bloqueado pelos EUA e por Israel por mais de 30 anos, desde que os EUA vetaram pela primeira vez uma resolução do Conselho de Segurança pedindo um acordo político nesses termos, em 1976. Eu não vou mais uma vez incorrer na tarefa inglória de rememorar, mas isto é importante para se entender que a rejeição dos EUA e de Israel hoje é ainda mais grosseira do que no passado. A Liga Árabe foi além do consenso, pedindo a plena normalização das relações com Israel. O Hamas repetidas vezes pediu um acordo de dois estados nos termos do consenso internacional. O Irã e o Hizbollah tornaram claro que iriam seguir qualquer acordo que os palestinos aceitassem. Isso deixa os EUA e Israel em esplêndido isolamento, não apenas em palavras.

A memória mais detalhada dessas coisas é informativa. O Conselho Nacional Palestino aceitou formalmente o consenso internacional em 1988. A resposta da coalizão governamental de Shamir-Peres, afirmou James Baker, do Departamento de Estado norte-americano, foi que não poderia haver um “estado palestino adicional” entre Israel e a Jordânia – o último já considerado um estado palestino por imposição israelo-norte-americana.

Os acordos de Oslo que se seguiram puseram de lado os potenciais direitos nacionais dos palestinos, e a ameaça de que eles pudessem vir a ser obtidos sob uma forma qualquer foi sistematicamente afastada durante o ano de negociação dos Acordos de Oslo, por causa da expansão constante e ilegal de colônias de povoamento de Israel. Colonização que se acelerará em 2000, o último ano no poder do Presidente Bill Clinton e do Primeiro Ministro Barak, durante as negociações em Camp David, que se desenrolaram sobre esse pano de fundo.

Depois de ter culpado Yasser Arafat pela ruptura das negociações de Camp David, Bill Clinton se retrata e reconhece que as proposições dos EUA e de Israel eram muito extremistas para os palestinos. Em dezembro de 2000, ele apresentou suas “medidas”, vagas porém mais abertas. Em seguida anunciou que as duas partes tinham aceitado as medidas, ainda que ambas tenham expressado reservas. As duas partes se reencontraram em Taba, Egito, em janeiro de 2001 e estavam muito próximas de um acordo, que iriam poder concluir em alguns dias, declararam na sua última coletiva de imprensa. Mas as negociações foram anuladas prematuramente por Ehud Barak. Esta semana em Taba é a única pausa em mais de 30 anos de rejeicionismo EUA-israelense. Não há razão alguma para que essa pausa no disco não pudesse ser retomada.

A versão preferida, recentemente reiterada por Ethan Bronner, é que “muitos no exterior lembram do Senhor Barak como Primeiro Ministro, que em 2000 foi mais longe do que qualquer líder israelense em ofertas de paz aos palestinos, só para ver o acordo fracassar e explodir num violento levante palestino que o derrubou do poder”. É verdade que “muitos no exterior” acreditam nesse contos de fadas enganador, graças ao que Bronner e muitos de seus colegas chamam de “jornalismo”.

É comumente alegado que uma solução de dois estados é agora insustentável porque se o IDF tentar remover os assentamentos levaria a uma guerra civil. Isso pode ser verdade, mas é necessário muito mais argumento. Sem recorrer à força para expulsar os assentamentos ilegais o IDF poderia simplesmente se retirar de quaisquer fronteiras estabelecidas por negociações. Os assentados além dessas fronteiras deveriam ter a escolha de deixar suas casas subsidiadas para retornar a Israel, ou permanecer sob a autoridade Palestina. O mesmo era verdadeiro para o cuidadosamente construído “trauma nacional” em Gaza em 2005, tão claramente fraudulento que foi ridicularizado por comentaristas israelenses.

Teria sido suficiente para Israel anunciar que o IDF iria se retirar e que os assentados que tinham sido subsidiados para aproveitar sua vida em Gaza iriam subir nos caminhões providenciados para eles e viajado ate suas novas residências subsidiadas na Cisjordânia. Mas isso não teria produzido fotos trágicas de crianças agonizando e interjeições apaixonadas de “nunca mais”.

Para resumir, contrariamente à afirmação constantemente reiterada, Israel não tem o direito de usar a força para se defender dos foguetes de Gaza, mesmo se eles fossem tomados como crimes terroristas. Além do mais, as razões são óbvias. O pretexto para lançar ataques não tem mérito.

O sequestro de Gilad Shalit e o sequestro de civis

Há uma outra razão, mais precisa. Israel tem alternativas de curto prazo ao uso da força em resposta aos foguetes de Gaza? Uma alternativa de curto prazo seria aceitar um cessar-fogo. Algumas vezes Israel fez isso, enquanto instantaneamente o violava. O caso mais recente e relevante é junho de 2008. O cessar-fogo pedindo a abertura de passagens para “permitir a transferência de todo tipo de mercadorias que estavam proibidas e banidas em Gaza”. Israel concordou formalmente, mas imediatamente anunciou que isso não abriria as fronteiras, conforme o acordo, até que o Hamas entregasse Gilad Shalit, um soldado israelense capturado pelo Hamas em junho de 2006.

O intransigente rufar de tambores de acusações pela captura de Shalit é, de novo, hipocrisia grosseira, mesmo deixando de lado a longa história de sequestros de Israel. Neste caso, a hipocrisia não poderia ser mais ofuscante. Um dia antes do Hamas sequestrar Shalit, os soldados israelenses entraram na cidade de Gaza e sequestraram dois civis, os irmãos Muanmmar, levando-os a Israel para se juntarem aos milhares de prisioneiros ali mantidos, quase 1000 supostamente sem acusação.

Sequestrar civis é de longe um crime mais sério do que capturar um soldado com uma arma de ataque, mas isso foi escassamente reportado, em contraste com o furor sobre Shalit. E tudo o que resta na memória, bloqueando a paz, é a captura de Shalit, outro reflexo da diferença entre humanos e bestas bípedes. Shalit deveria ser devolvido – numa troca justa de prisioneiros.

Foi depois da captura de Shalit que os implacáveis ataques a Gaza passaram de meramente viciosos a verdadeiramente sádicos. Mas é também bom lembrar que mesmo após essa captura Israel tinha lançado mais de 7700 ataques no norte de Gaza depois da sua retirada de setembro, sem gerar virtualmente qualquer comentário.

Depois de rejeitar o cessar-fogo de junho de 2008 que tinha aceito formalmente, Israel manteve Gaza sitiada. Podemos relembrar que sitiar é um ato de guerra. De fato, Israel sempre insistiu num princípio ainda mais forte: impedir acesso ao mundo externo, mesmo num cerco parcial, é um ato de guerra justificando a violência massiva em resposta. A interferência na passagem de Israel ao Estreito de Tirana era parte do pretexto para Israel invadir o Egito (junto com a França e a Inglaterra), em 1956, e por seu ataque na guerra de 1967. Esse cerco a Gaza é total, não parcial, exceto algumas vezes que os ocupantes, a seu bel prazer, relaxam-no um pouco. É imensamente mais nefasto para os habitantes de Gaza que fechar o Estreito de Tirana era para Israel. Os apoiadores das doutrinas e ações de Israel deveriam, então, não ter problema para justificar os ataques de foguetes da Faixa de Gaza no território israelense.

É claro, seguimos mais uma vez o princípio inválido: Isto somos nós, aquilo são eles.

Israel não apenas manteve o cerco depois de junho de 2008, mas o fez com extremo rigor. Chegou a proibir a UNRWA de reabastecer suas lojas, “então, quando o cessar-fogo foi desrespeitado, corremos atrás de comida para mais de 750 000 que dependem de nós”, informou o diretor da UNRWA, John Ging, à BBC.

Mesmo com Gaza sitiada, o lançamento de foguetes foi reduzido drasticamente. A quebra do cessar-fogo de 4 de novembro com a incursão israelense em Gaza, levou à morte de 6 palestinos, e a uma barragem de foguetes (sem feridos) em retaliação. O pretexto para a incursão era que Israel havia detectado um túnel em Gaza que pode ter sido usado para capturar outro soldado israelense. O pretexto é claramente absurdo, como um número de comentaristas anotaram. Se um túnel desses existisse, e conseguisse chegar à fronteira, Israel poderia facilmente tê-lo barrado lá. Mas, como de hábito, o ridículo pretexto israelense foi tomado como digno de crédito.

Qual foi, então, a razão da incursão israelense? Não temos evidências internas do plano israelense, mas sabemos que a incursão veio pouco antes dos planos de conversação do Hamas com o Fatah no Cairo, visando a “reconciliar suas diferenças e criar um só governo, unificado”, informou o correspondente britânico Rory McCarthy. Era para ser o primeiro encontro Hamas-Fatah desde a guerra civil de junho de 2007 que levou o Hamas a controlar Gaza, e teria sido um passo significativo na direção de esforços diplomáticos. Há uma longa história de provocações de Israel para dissuadir a ameaça da diplomacia, alguns já mencionaram. Esse acontecimento pode ter sido apenas mais uma.

A guerra civil que levou o Hamas a controlar Gaza é comumente descrita como um golpe militar do Hamas, demonstrando mais uma vez sua natureza maligna. O mundo real é um pouco diferente. A guerra civil foi incitada pelos EUA e por Israel, numa tentativa grosseira de dar um golpe militar para anular as eleições livres que levaram o Hamas ao poder. Isso se tornou público ao menos desde abril de 2008, quando David Rose publicou na Vanity Fair um documento detalhado analisando como Bush, Rice e o assessor de Segurança Nacional, Elliott Abrams “apoiaram uma força armada sob o comando do homem forte do Fatah, Muhammad Dahlan, desencadeando uma sangrenta guerra civil em Gaza e deixando o Hamas mais forte do que nunca”.

O relato foi recentemente mais uma vez corroborado no Christian Science Monitor (12 de Janeiro de 2009), por Norman Olsen, que serviu durante 26 anos no exterior, inclusive por quatro anos trabalhando na Faixa de Gaza e quatro anos na Embaixada norte-americana em Tel Aviv, quando se tornou coordenador associado do contraterrorismo no Departamento de Estado. Olson e seu filho detalham as travessuras do Departamento de Estado pretendendo assegurar que seu candidato, Abbas, vencesse as eleições em janeiro de 2006 – ocasião que seria celebrada como um triunfo da democracia. Depois da eleição-combinada fracassar, eles passaram à punição dos palestinos e a armar uma milícia dirigida pelo homem forte do Fatah, Muhammad Dahlan, mas “os brutamontes de Dahlan se moveram cedo demais” e um ataque preventivo do Hamas solapou a tentativa de golpe. Isso levou os EUA e Israel a medidas mais duras, punindo a desobediência do povo de Gaza. A agenda partidária é mais aceitável.

Consequências desastrosas para a população

Depois que Israel rompeu o cessar-fogo em junho de 2008 (como o fez) em novembro, o cerco endureceu, com consequências ainda mais desastrosas para a população. De acordo com Sara Roy, a principal acadêmica especialista em Gaza, “Em 5 de novembro Israel fechou todos os pontos de passagem para Gaza, reduzindo largamente e eventualmente denegando suprimentos alimentares, remédios, combustíveis, gás de cozinha e o fornecimento de parte da água para os sistemas de saneamento...”. Ao longo de novembro, entre 4 e 6 caminhões com comida entraram em Gaza vindos de Israel, em comparação com 123 caminhões por dia, em Outubro. Peças sobressalentes para a reparação e manutenção de equipamentos relacionados ao uso da água tiveram sua entrada negada por mais de um ano.

A Organização Mundial de Saúde acabou de reportar que metade das ambulâncias de Gaza estão agora fora de uso, quebradas” - e o resto brevemente se tornará alvo do ataque israelense. A única estação de energia de Gaza foi forçada a suspender operações por falta de combustível, e não podia ser ligada de novo porque precisava de peças, que estavam paradas no porto israelense de Ashdod há 8 meses. A escassez de eletricidade levou a um crescimento de 300% nos casos de queimadura no hospital Shifaa na Faixa de Gaza, como consequência dos esforços para acender fogos a lenha. Israel barrou o carregamento de cloro, então, pela metade de dezembro na cidade de Gaza e no norte o acesso à água estava limitado a seis horas em cada três dias. As consequências humanas não são contadas dentre as vítimas palestinas do terror israelense.

Depois do ataque israelense de 4 de novembro, a violência de ambos os lados recrudesceu (sendo todos os mortos palestinos) até que o cessar-fogo formalmente chegasse ao fim em 19 de dezembro, e o Primeiro Ministro Olmert autorizasse a invasão em grande escala.

Poucos dias antes o Hamas tinha proposto a retomada do acordo original do cessar-fogo de julho, que Israel não respeitou. O historiador e ex- assessor da administração Carter, Robert Pastor enviou a proposta ao “oficial sênior” no IDF, mas Israel não respondeu. O líder do Shin Bet, a agência de segurança interna de Israel, disse em 21 de dezembro, segundo fontes israelenses, que o Hamas está interessado em continuar em “calma” com Israel, enquanto seu braço militar se prepara continuamente para o conflito.

“Havia claramente uma alternativa ao tratamento militar, para interromper os foguetes”, disse Pastor, referindo-se especificamente a Gaza. Também havia uma alternativa de largo alcance, a qual é raramente discutida, a saber, aceitar um acordo político que inclua todos os territórios ocupados.

O experiente correspondente diplomático israelense, Akiva Eldar, informa que pouco antes de Israel lançar seu ataque de grande escala, em 27 de dezembro, o “dirigente do Hamas, Khaled Meshal, anunciou no site Iz al-Dinal-Qassam que estava preparado não apenas para 'o fim da agressão' – ele propunha que se retomasse o acordo de Rafah de 2005, antes do Hamas vencer as eleições e de tomar toda a região, mais tarde. Esse acordo previa que os pontos de passagem seriam dirigidos conjuntamente pelo Egito, a União Européia, a presidência da Autoridade Palestina e o Hamas” e, como se disse antes, pedia a abertura das vias de acesso para a entrada de suprimentos desesperadamente necessitados.

Uma afirmação standard dos apologistas mais vulgares da violência israelense é que, no caso deste ataque mais recente, “assim como em muitos outros ao longo da metade do século passado – a Guerra do Líbano em 1982, a resposta com “mão de ferro” à Intifada de 1988, a guerra do Líbano de 2006 – os israelenses têm reagido com intoleráveis atos de terror, com determinação de infligir dor, para ensinar uma lição ao inimigo” (David Remnick, editor da New Yorker). A invasão de 2006 pode ser justificada apenas com base num cinismo estarrecedor, como já se discutiu. A referência à resposta viciosa à segunda intifada é depravada demais para ser discutida; uma interpretação simpática pode ser que se trata de uma ignorância assombrosa. Mas a afirmação de Reminick a respeito da invasão de 1982 é bastante comum, uma notável proeza de propaganda incessante, que merece alguns lembretes.

É fato que a fronteira de Israel com o Líbano esteve quieta por um ano antes da invasão israelense, ao menos no sentido Líbano-Israel, do norte ao sul. Ao longo do ano, a OLP observou escrupulosamente um cessar-fogo de iniciativa norte-americana, a despeito das constantes provocações israelenses, inclusive bombardeando, com várias perdas civis, supostamente visando a obter alguma reação que poderia ser usada para Israel justificar uma invasão cuidadosamente planejada. O melhor que Israel pôde ter foram duas leves respostas simbólicas. Então, invadiu com um pretexto absurdo demais para ser levado a sério.

A invasão não teve precisamente nada a ver com “intoleráveis atos de terror”, ainda que tenha tido com intoleráveis atos: de diplomacia. Isso jamais foi obscuro. Pouco depois da invasão apoiada pelos EUA começar, o importante especialista israelense em palestinos, Yehoshua Porath – não uma pomba pacifista – escreveu que o sucesso de Arafat em manter o cessar-fogo constituía “uma verdadeira catástrofe aos olhos do governo israelense”, uma vez que abria o caminho para um acordo político. O governo esperava que a OLP partisse para o terrorismo, minando assim a ameaça que seria “uma parceria legítima negociada para futuras acomodações”.

"Nós removemos o perigo político ao atacar primeiro. Agora, graças a Deus, não há com quem conversar"

Os fatos estavam muito claros em Israel, não escondidos. O Primeiro Ministro Yitzhak Shamir disse que Israel entrou na guerra porque havia um “perigo terrível...Não tanto militar, como político”, levando o excelente humorista B. Michael a escrever que “a desculpa esfarrapada de um perigo militar ou um perigo para a Galiléia está morta”. Nós “removemos o perigo político” ao atacar primeiro, a tempo; agora, “graças a Deus, não há com quem conversar”. O historiador Benny Morris reconhece que a OLP tinha observado o cessar-fogo, e explicou que “a inevitabilidade das guerras está na OLP como uma ameaça política a Israel e em Israel manter os territórios ocupados”. Outros, ainda, reconheceram esses fatos incontestáveis.

Na primeira página do NYT constava um artigo relativo à mais recente invasão de Gaza, do correspondente Steven Lee Meyers, dizendo que “em alguns aspectos, os ataques sobre Gaza foram reminiscentes dos riscos que Israel assumiu, e em larga medida perdeu, no Líbano em 1982 [quando] invadiu para eliminar a ameaça das forças de Arafat”. Correto, mas não no sentido que tinha em mente. Em 1982, como em 2008, era necessário eliminar a ameaça de um acordo político.

A esperança dos propagandistas israelenses tem sido a de que os intelectuais do ocidente e a mídia comprariam o conto de que Israel reagiu a ataques de foguetes na Galiléia, esses “atos intoleráveis de terror”. E eles não têm se decepcionado.

Não é que Israel não queira a paz: todo mundo quer a paz, até Hitler. A questão é: em que termos? Desde sua origem, o movimento sionista foi concebido para atingir objetivos, sendo a melhor estratégia o adiamento dos acordos políticos, enquanto, vagarosamente, fatos iam sendo consumados. Mesmo os acordos ocasionais, como em 1947, foram reconhecidos por suas lideranças como sendo passos provisórios para a expansão futura. A guerra de 1982 no Líbano foi um exemplo dramático do medo desesperado da diplomacia. Dela se seguiu o apoio de Israel ao Hamas, para solapar a secular OLP e suas iniciativas irritantes de paz. Outro caso que deveria ser familiar são as provocações israelenses antes da guerra de 1967 pensadas para eliminar a resposta da Síria que poderia ser usada como pretexto para violência e a tomada de mais terras – ao menos 80% dos incidentes, de acordo com o Ministro da Defesa Moshe Dayan.

A história remonta há muito. A história oficial do Haganah, a força militar judaica pré-estatal, descreve o assassinato do poeta judeu Jacob de Haan em 1924, acusado de conspirar com a comunidade judaica tradicional (o velho Yishuv) e com o Alto Comissariado Árabe contra os novos imigrantes e seus assentamentos. E tem havido exemplos numerosos desde então.

Os esforços para procrastinar arranjos políticos sempre têm feito perfeito sentido, bem como as mentiras que lhes vem acompanhadas, a respeito de que “não há parceiro para a paz”. É difícil pensar em outra maneira de roubar terras em que não se é querido.

Expansão, no lugar de segurança

Razões similares sustentam a preferência de Israel pela expansão, no lugar da segurança. Sua violação do cessar-fogo de 4 de novembro de 2008 é um dentre muitos exemplos recentes.

Uma cronologia da Anistia Internacional informa que em junho de 2008 o cessar-fogo tinha trazido “melhorias enormes na qualidade de vida em Sderot e em outras cidades israelenses perto de Gaza, onde, antes do cessar-fogo os residentes viviam com medo do ataque do próximo foguete palestino. Contudo, perto da Faixa de Gaza o bloqueio israelense permanece a postos e a população até agora tem visto poucas vantagens no cessar-fogo”. Mas os ganhos em segurança para as cidades próximas a Gaza foram evidentemente superados pela necessidade sentida de dissuadir os movimentos diplomáticos que podem impedir a expansão na Cisjordânia, e esmagar a resistência que ainda há dentro da Palestina.

A preferência pela expansão em lugar da segurança tem sido evidente desde a decisão fatal de Israel, em 1971, bancada por Henry Kissinger, de rejeitar a oferta de um acordo total de paz apresentado pelo Presidente Sadat, do Egito, oferecendo nada aos palestinos – um acordo que os EUA e Israel estavam compelidos a aceitar em Camp David oito anos depois, depois da maior guerra que foi um desastre para Israel. Um tratado de paz como o Egito teria posto um fim em qualquer ameaça à segurança, mas nele havia um inaceitável quid pro quo: Israel teria de abandonar seus programas extensivos de assentamento no nordeste do Sinai. A segurança era uma prioridade mais baixa que a expansão, e ainda é. A evidência substancial dessa conclusão básica é oferecida no estudo magistral da política externa e de segurança de Israel, o “Defending the Holy Land” [Defendendo a Terra Sagrada], de Zeev Maoz.

Hoje, Israel poderia ter segurança, a normalização das relações, uma integração na região. Mas muito claramente prefere a expansão ilegal, o conflito e o exercício repetido da violência, em ações que são não apenas criminosas, assassinas e destrutivas, mas que também corroem sua própria segurança a longo prazo. O especialista militar e no Oriente Médio, Andrew Cordesman, escreve que enquanto a força militar de Israel pode esmagar com segurança os habitantes indefesos de Gaza, “nem Israel nem os EUA podem ganhar com uma guerra que produz uma reação [amarga] de uma das mais sábias e moderadas vozes no Mundo Árabe, o Príncipe Turki al-Faisal da Arábia Saudita, que disse em 6 de janeiro que “a administração Bush deixou [para a Obama] um legado desagradável e uma posição temerária em relação aos massacres e ao derramamento de sangue de inocentes em Gaza...Chega é chega, hoje somos todos palestinos e buscamos o martírio, por Deus e pela Palestina, seguindo aqueles que morreram em Gaza”.

Um crime contra o Estado de Israel

Uri Avnery, uma das mais sábias vozes em Israel, escreve que, depois de uma vitória militar israelense, “o que ficará marcado na consciência do mundo será a imagem de Israel como um monstro manchado de sangue, pronto para, a qualquer momento cometer crimes de guerra e não preparado para obedecer a quaisquer limites morais. Isso terá consequências graves para nosso futuro no longo prazo, para nossa estada no mundo, para nossa chance de conseguir paz e sossego. No fim, essa guerra é um crime contra nós mesmos, também, um crime contra o Estado de Israel”.

Há uma boa razão para acreditar que ele está certo. Israel está deliberadamente se tornando talvez o país mais odiado do mundo e também vem perdendo o apoio da população ocidental, inclusive dos judeus americanos jovens, que dificilmente tolerarão esses crimes chocantes por muito tempo. Décadas atrás, eu escrevi que aqueles que chamam a si de “apoiadores de Israel” são na realidade apoiadores de sua degeneração moral e, por último, de sua provável destruição. Lamentavelmente, esse juízo parece cada vez mais plausível.

Enquanto isso, observamos calmamente um evento raro na história, que o velho sociólogo israelense, Baruch Kimmerling, chamou de “politicídio”, o assassinato de uma nação – em nossas mãos.

Noam Chomsky é Professor Emérito no Massachussetts Institute of Technology MIT

Tradução: Katarina Peixoto