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segunda-feira, 21 de junho de 2021

ESTRATÉGIA DE COMUNICAÇÃO DA EXTREMA DIREITA

 


Estratégia de comunicação da direita alternativa se alimenta do hiato geracional.

“Hiato geracional” – a perda da função de elo geracional dos idosos, cujo ressentimento alimenta a extrema-direita, deixando os jovens expostos às táticas de guerra híbrida alt-right nas redes sociais.

 Por Wilson Ferreira.

Dois eventos sincrônicos: no Brasil, a motociata convocada por Bolsonaro com seis mil motos de luxo de alta cilindrada montada, em sua maioria, por “tiozões”, brancos, com jaquetas de couro preto emulando a gang famosa dos Hell’s Angels, perfil dos atuais apoiadores do presidente que saem às ruas; e na Inglaterra, o gênio da guitarra Eric Clapton, 76, mais uma vez destilando o negacionismo ao afirmar que as vacinas contra a Covid-19 “podem afetar a fertilidade”. O atual estado de coisas começou com as Jornadas de Junho de 2013 com a energia de jovens secundaristas e universitários. Para terminar com senhores calvos segurando bandeiras neo-nazistas ucranianas em manifestações verde-amerelas de rua em apoio ao “tiozão do churrasco”, personagem performado pelo atual presidente. A estratégia de comunicação da direita alternativa (alt-right) é favorecida por um fenômeno: o “hiato geracional” – a perda da função de elo geracional dos idosos, cujo ressentimento alimenta a extrema-direita, deixando os jovens expostos às táticas de guerra híbrida alt-right nas redes sociais.

 “Ficar velho não quer dizer ficar melhor”. É o slogan que abre a série de “vídeocassetadas” envolvendo idosos no canal Failarmy – líder mundial de compilações de vídeos engraçados envolvendo pequenos acidentes domésticos, esportivos etc.

Ironicamente esse humilde blogueiro lembrou desse slogan quando assistiu a um vídeo em que o famoso e veterano guitarrista Eric Clapton, mais uma vez, posicionou-se contra as vacinas contra a Covid-19, afirmando que elas tornariam as pessoas inférteis. Para ele, estudos científicos e as opiniões de organizações médicas não passariam de “propaganda”.

O gênio da guitarra passou toda a pandemia dando declarações contra o isolamento social e questionando a própria existência de uma pandemia global. Mas em se tratando de Clapton, não é uma novidade: em 2004 lamentou a presença de imigrantes no Reino Unido e chamou o político anti-imigração Enoch Powell de “escandalosamente corajoso”.

Como assim? Por que Eric Clapton, aquele que deu um “shot” no xerife virou um velho ranzinza e reaça de extrema-direita? Tá certo que a cabeça dele já não andava boa nos anos 1970 com tantas drogas e álcool, até passar por uma temporada de reabilitação em Antigua… Já em 1976, Clapton havia protestado contra imigrantes num show em Birmigham. Mas ele diz não se lembrar…

O curioso é que ver um senhor tão talentoso de 76 anos como Eric Clapton dando declarações públicas de extrema-direita faz esse humilde blogueiro lembrar de congêneres brasileiros (guardadas as devidas proporções) como Lobão e Roger do “Ultraje a Rigor”: a idade também não lhes fez nada bem. O primeiro, um bolsonarista arrependido, e o segundo, ainda um bolsominion empedernido.

Além de lembrar as atuais manifestações de apoiadores de Bolsonaro, como também aquelas multidões de camisetas da CBF nas ruas querendo o impeachment da presidenta Dilma.

Nas últimas “motociatas” convocadas por Bolsonaro, a maioria dos integrantes eram homens brancos com mais de 50 anos com motos Harley Davidson, Kawasaki, BMW com propulsores de alta cilindrada e jaquetas de couro emulando a famosa gang Hell’s Angels. Esse é o “núcleo duro”, os bolsonaristas renitentes, verdadeiros “tiozões do churrasco” (aquela figura folclórica que fazia todos rirem com piadas misóginas e tiradas políticas extemporâneas), cuja imagem de Bolsonaro é a desforra de todos os tiozões que já foram zoados em todas as churrascadas da história brasileira.

Mesmo entre os manifestantes de verde-amarelo nas ruas mandando a presidenta tomar naquele lugar, era marcante a dominância de casais de meia idade para cima, esquisitões fascistas mais velhos com camisetas de camuflagem militar e senhores calvos segurando uma bandeira rubro-negra com tridente na Avenida Paulista, São Paulo, símbolo do nacionalismo ucraniano de extrema-direita.

Nada a ver com as manifestações que acenderam o rastilho de pólvora que deu em tudo isso: nas Jornadas de Junho de 2013 e manifestações de ruas subsequentes era massiva a participação de jovens estudantes secundaristas e universitários, além de militantes de novos coletivos políticos.

Hiato geracional

Como interpretar essa guinada etária na recente trajetória política brasileira em que… aquilo deu nisso? Por que o núcleo duro, recalcitrante e birrento, da extrema-direita é formado por apoiadores cinquentões, sessentões e setentões?

Essas questões não surgem do nada. Assim como a até aqui vitoriosa estratégia de comunicação da chamada direita alternativa (alt-right) não veio de um golpe do acaso. Há um fator sociológico e geracional pouco discutido na ascensão desse novo extremismo de direita: o hiato geracional – a crise da função dos idosos como elo geracional, ou seja, como transmissora de sabedoria e conhecimento acumulados em uma existência.

É claro que jovens e idosos são os dois lados de uma mesma moeda nessa questão: Bolsonaro contou com 60% de eleitores entre 16 e 34 anos. Desses, 30% tinham menos de 24 anos (clique aqui). Jovens conduziram um ex-militar com 26 anos de atuação do Baixo Clero do Congresso Nacional. Enquanto, hoje, de cinquentões para cima demonstram o apoio irrestrito ao capitão da reserva nas ruas.

Entre esses dois grupos, o hiato geracional, do qual alimentou a estratégia alt-right de comunicação.

Em culturas tradicionais, onde a velhice e a morte eram simbolicamente incorporadas no dia a dia, os idosos sempre foram “elos geracionais” como transmissores de um saber acumulado, conhecimento e sabedoria. Colocados em posição de destaque na sociedade, o natural declínio físico era compensado pela sabedoria, amor e trabalho unidos em uma preocupação com a posteridade na tentativa de equipar os mais jovens para levar adiante as tarefas dos mais velhos.

Narcisismo e cultura jovem

Desde o pós-guerra e a consolidação da sociedade de consumo através da Publicidade criou-se uma sensibilidade inédita na História: pela primeira vez, o jovem tornou-se o modelo de beleza, felicidade e consumo. Ou a sua versão politizada: a rebeldia e a revolução.

O jovem, o novo e a novidade passaram a ser moralmente bom, enquanto o “velho” (o idoso, o antigo) tornam-se ultrapassados, o oposto do progresso, da evolução ou da revolução. 

Toda a indústria da moda e publicidade vai ao longo das décadas glamorizar o “novo” e a “novidade” como moralmente bom, prazeroso e estimulante. O ápice dessa verdadeira engenharia de opinião pública foi a construção da cultura pop e jovem nas décadas de 1950-60. “Não confie em ninguém com mais de 30”, dizia o desafiante lema jovem da contracultura: os “mais velhos” (pais e autoridades) passaram a ser encarados como “quadrados”, ultrapassados e intrinsecamente conservadores.

Se isso foi positivo em um momento histórico como revolução e crítica, por outro lado seus líderes não perceberam a ambiguidade dessa nova cultura: seria a base imaginária (ao lado do crédito no consumo) de toda a descartabilidade e hedonismo necessários para a aceleração da sociedade de consumo.

Aos idosos restou a papel de negarem-se a si próprios, em primeiro lugar, através das “lições de vida” que os idosos nos ensinariam em pautas motivacionais de telejornais: um senhor de 70 anos que pratica maratonas; uma senhora que aos 75 anos retoma a sala de aula para concluir o ensino médio pensando na universidade e nova carreira profissional; outro senhor de 65 anos diz orgulhar-se por aventurar-se no “mundo das atividades físicas”: “faço atividades físicas com força na academia para fortalecer a musculatura e garantir que tão cedo eu não vou ter que ‘pendurar as chuteiras’”, brinca.

E segundo, todo um aparato terapêutico renovado a cada dia pela indústria farmacêutica na qual a função de “elo geracional” é esquecida: os idosos nada têm a dizer para as câmeras em termos de conhecimento ou sabedoria, a não ser negar a si mesmos numa tentativa a todo custo de aparentar uma atitude positiva e ficar parecidos com os mais jovens.

Christopher Lasch chamava a atenção para esse esvaziamento do elo geracional dos idosos por essas transformações trazidas pelas soluções médicas e sociais.

Lasch acredita que a negação em relação à velhice se deve à cultura da juventude, mas principalmente à perda do interesse dos homens pela vida terrena e o medo da velhice pela ascensão de uma personalidade narcísica.

Por ter o narcisista tão poucos recursos interiores, ele olha para os outros para validar seu senso de eu. Precisa ser admirado por sua beleza, encanto, celebridade ou poder – atributos que geralmente declinam com o tempo. Incapaz de alcançar sublimações satisfatórias nas formas de amor e trabalho, ele percebe que terá pouco para sustentá-lo quando a juventude passar (LASCH, Christopher. “A Cultura do Narcisismo”, R. de Janeiro, Imago, 1983, p. 254-55).

O sofrimento central da velhice (o fato de que vivemos vicariamente em nossos filhos ou em gerações futuras) perde suas formas sublimatórias religiosas ou filosóficas como o amor, a sabedoria e o conhecimento, formas que nos faziam se reconciliar com a nossa própria substituição.

Ressentimento e sublimação

Destituído das formas sublimatórias porque destituído da sabedoria e do conhecimento (afinal, vive numa sociedade em deve “nem parecer que é velho”), a frustração e o ressentimento o tornam presa fácil dos valores propagados como isca pela extrema-direita: justiçamento, intolerância, vingança, culto ao poder como sublimação substituta – idolatrar personalidades “fortes” e a simbologia fálica como motos de alta potência, armas etc. 

Sem terem sabedoria ou o quê dizer aos mais jovens, instaura-se o hiato geracional que isola os jovens num presente extenso – sem o passado, porque os idosos se tornaram uma caricatura de “jovens idosos”; e sem futuro, porque não há nenhuma sabedoria transmitida através da qual seja possível projetar um caminho, uma meta ou mesmo uma utopia.

Nesse presente extenso, os jovens serão igualmente presas fáceis dessa cultura que exala juventude e novidade como verdades em si mesmas: a cultura meme, streamer e influencer. Terreno fértil para fake news e pós-verdades das estratégias alt-right.

Claro que o leitor pode se contrapor a esse argumento sócio-geracional dizendo nem sempre esse elo geracional do passado transmitiu sabedorias positivas para a juventude. Pelo contrário, em geral as sociedades se estruturaram em tradições persecutórias, obscurantistas e reacionárias, em torno do discurso da “moralidade” e dos “bons costumes”.

Porém, a diferença é que em última instância, esse elo geracional mantinha uma sociedade organicamente coesa pelas formas de transmissão cultural por meio da tradição.

Ao contrário, o hiato geracional cria isolamento e vulnerabilidade que permitem a manipulação pelas estratégias políticas midiáticas – o ressentimento que promete a recuperação (ou a sublimação) da potência perdida para os idosos por meio do fascínio pelos simbolismos fálicos na política; e para os jovens, o presente extenso hedonista e niilista.

 

domingo, 8 de março de 2020

ALMA NÃO TEM COR



Trecho do livro “A grande história da EVOLUÇÃO”, de Richard Dawkins:

“Se compararmos moléculas de proteínas do sangue, ou se sequenciarmos os próprios genes, constataremos que existe menos diferença entre dois humanos quaisquer vivendo em qualquer parte do mundo do que a encontrada entre dois chimpanzés africanos. Podemos explicar essa uniformidade humana supondo que nossos ancestrais, mas não os chimpanzés, passaram por um gargalo genético não muito tempo atrás. A população ficou reduzida a um pequeno número, beirou a extinção, mas recobrou-se por um triz. Há indícios de um tremendo gargalo – talvez uma queda na população para 15 mil pessoas há cerca de 70 mil anos – causado por um “inverno vulcânico” de seis anos, seguido por uma época glacial milenar. Como os filhos do Noé no mito, nós todos descendemos dessa diminuta população, e é por isso que somos tão geneticamente uniformes.” 

Ou seja, racismo é coisa de desocupados que não sabem o que fazer com sua vida e procuram compensar isso odiando.


Fonte da imagem: https://www.earth.com/news/genes-responsible-skin-color/

domingo, 7 de junho de 2015

RACISMO E XENOFOBIA NO RIO GRANDE DO SUL



 
Imigrantes Europeus Chegando no Brasil - Pintura de Antonio Rocco

As três etnias mais importantes  em termos históricos e numéricos na formação da população do Rio Grande do Sul, extremo sul do Brasil, são a açoriana, a alemã e a italiana.

Os primeiros açorianos chegaram no Estado em 1725. Os alemães começaram a chegar em 1824. A primeira leva de italianos veio logo após, em 1875.

Depois, por diferentes motivos, vieram mais, a maioria chegando com posses escassas.

Naquela época os habitantes do Rio Grande do Sul eram indígenas Guaranis, Jê e Pampianos.

Com apoio dos então governantes, os imigrantes expulsaram os indígenas que viviam nas áreas que pretendiam ocupar.

Esses territórios ocupados possuíam, na chegada dos primeiros imigrantes, fauna e flora exuberantes.

Hoje a maior parte das florestas foi derrubada e transformada em plantações, muitos rios deixaram de existir, outros tantos estão envenenados e várias espécies de animais encontram-se em extinção, tudo isso em nome do progresso.

Quando chegaram, a maioria "com uma mão na frente e outra atrás", essas pessoas, inclusive meus ancestrais, demonstraram muita gratidão pela oportunidade recebida.

-x-

Nos últimos tempos chegam ao Rio Grande do Sul imigrantes oriundos de outros países, particularmente do Haiti e do Senegal, que deixaram, contra a vontade, seus países de origem, e buscam oportunidades de sobrevivência e de construção de uma nova vida.

Exatamente como fizeram os imigrantes europeus quando aqui chegaram.

E qual a reação dos descendentes de açorianos, alemães e italianos?

Muitos, felizmente, acolhem as pessoas que estão chegando, tentando apoiar no que for possível.

Parcela importante, porém, manifesta reações discriminatórias e de ódio. Esses comportamentos podem ser caracterizados como de racismo e xenofobia.

Parece que alguns descendentes de europeus foram acometidos por uma doença, causada aparentemente por um medo descontrolado do desconhecido, que se traduz em ações desequilibradas.

É muito difícil para mim, quase impossível, aceitar e conviver com esse comportamento doentio.

Omar Rösler
Junho de 2015

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

domingo, 17 de junho de 2012

A AURORA DOURADA DOS NEONAZISTAS GREGOS

Fonte desta imagem AQUI.

Uma tarde no bairro controlado pelos neonazistas em Atenas

Os brutamontes da extrema-direita da Aurora Dourada se encarregaram de semear a ordem segundo seus costumes : zero imigração africana ou magrebina, zero moradores de rua, zero pichações. Não voa uma mosca sem que eles cortem suas asas. Seu reinado se estende desde a Praça Ática até Agios Panteleimonas. A Aurora Dourada fez de Agios Panteleimonas seu trampolim de conquista. Irrompeu no bairro em 2009 e em 2012 já obteve o melhor resultado eleitoral de sua história (15%). O artigo é de Eduardo Febbro, direto de Atenas.

Eduardo Febbro, direto de Atenas para CM

Atenas - O crepúsculo está em calma. A Aurora Dourada vela pela ordem nesta área central de Atenas onde não restou nem um imigrante nem um indigente das redondezas. A extrema direita grega e seus brutamontes de poucas palavras fizeram do bairro de Agios Panteleimonas (a igreja ortodoxa) seu sítio privado. « É preciso colocar minas terrestres nas fronteiras para que os imigrantes não entrem », diz um tipo enorme que não dá seu nome porque não quer. Mas diz sem rodeios : « tem cara de esquerdista, como teu governo », diz em tom de ameaça.

Houve uma época em que este perímetro de Atenas era um bairro popular, com crianças que jogavam nas ruas e garantiam uma barulhenta desordem. Já não é mais assim. Os brutamontes da extrema-direita da Aurora Dourada se encarregaram de semear a ordem segundo seus costumes : zero imigração africana ou magrebina, zero moradores de rua, zero pichações. Não voa uma mosca sem que eles cortem suas asas.

Seu reinado se estende desde a Praça Ática até Agios Panteleimonas. O número 52 da rua Aristomenus ainda carrega as marcas da ação da Aurora Dourada. Em 2010, os valentões do partido de Nikos Michaloliakos queimaram o local onde os imigrantes muçulmanos vinham rezar. A polícia não abriu nenhuma investigação e nenhum vizinho protestou. Esta é a terra da Aurora. Terra grega, como demonstra o ondulante silêncio das bandeiras com as cores nacionais que tremulam nas sacadas.

A Aurora Dourada obteve nas eleições de maio passado seu melhor resultado : 15% dos votos, o dobro. « Tenham medo, já chegamos », disse Nikos Michaloliakos no dia seguinte. A metodologia dos músculos deu seus frutos. A Aurora Dourada fez de Agios Panteleimonas seu trampolim de conquista. Irrompeu no bairro em 2009 e em 2012 já conseguiu o melhor resultado eleitoral de sua história. Os estrangeiros que ocupavam a zona ou dormiam na esplanada da igreja foram expulsos a golpes. Imigrantes, judeus, maçons, todos são inimigos da nação para este partido fundado por Michaloliakos nos anos 80, logo depois de ter saído da prisão onde cumpriu uma pena (várias na realidade) por atividades subversivas e violência. De modo similar a outros movimentos europeus de ultra-direita, a Aurora Dourada cresceu sob o tema da imigração.

Em frente da igreja Agios Panteleimonas há um bar de onde os agentes da Alba vigiam a praça. É o seu reino. Os ultras chegaram a ordenar até o fechamento da praça de esportes de Agios Panteleimonas. Por quê ? « Vê-se que você não vive aqui, por isso pergunta essas coisas : porque os negros e os romenos sujos vinham dormir aqui e sujar a praça », disse Kostas, um morador local com claras simpatias pela Alba. A polícia do bairro não interviu. Ela depositou a autoridade nas mãos dos neonazistas. A Grécia tem uma população de 11 milhões de habitantes e há um milhão de imigrantes. Um de cada quatro policiais votou pela Aurora Dourada nas últimas eleições.

Tudo aconteceu muito rápido para os gregos. Em apenas uma década : o euro, a falsa riqueza, os créditos fáceis, a imigração, a crise e o abismo. Muitos analistas e militantes anti-racistas pensam que o voto a favor dos neonazistas reflete o medo e a incompreensão, muito mais do que uma ideologia.

Como em todas as partes, Áttica e Agios Panteleimonas têm um anjo : Thanassis Kurkulas, responsável por uma ONG que luta contra o racismo instalada no bairro há cinco anos, Deport Racism. Kurkulas reconhece o perigo que representaria a Aurora Dourada repetir neste domingo os votos de maio passado e ingressar no Parlamento (o que surgiu em 6 de maio nunca se reuniu pelo fracasso em constituir uma maioria de governo). Mas também reconhece que « o imã dos neonazistas é forte : falam contra a Comissão de Bruxelas e contra os imigrantes e isso atrai votos, mas não são votos realmente ideológicos ». A situação é psicodélica : Atenas tem um bairro inteiro onde a autoridade pública, a segurança, é assumida por um partido político e não pelas forças da ordem. Polícia ideológica, sem controle algum. A exibição de músculos dos « agentes » da Aurora Dourada mostra que bem que não se trata de uma encenação ou aparência. Eles pegam, Maltratam. Insultam. Agridem. Estado débil, milícia forte.

Os vizinhos de Attica ou de Agios Panteleimonas que não aprovam esses métodos têm demasiado medo para intervir. « Seja como for, é inútil. Há uma clara cumplicidade do Estado », diz Vassilis, um morador da rua Aristomenus. O homem recorda que só uma das centenas de agressões ocorridas nos últimos anos deu lugar a um processo. Silêncio. « A delegacia do bairro não tem nem como pagar a luz. Se não estivéssemos nas ruas, isso seria pior que o inferno », diz Kostas.

As histórias se cruzam nestas ruas com extrema violência. A Grécia padeceu ao extremo sob as garras do nazismo mas hoje vota em mais de 7% em um partido abertamente neonazista. A extrema-direita se alimenta da crise. Em 2010, quando a Grécia já estava em um precipício, Nikos Michaloliakos ganhou um posto de conselheiro municipal de Atenas. Um ano mais trade foi filmado fazendo a saudação nazista, o que lhe valeu o apelido de « Führer ». Ninguém sabe ao certo se as reivindicações de Hitler na televisão ou os excessos cometidos pelos dirigentes da Aurora Dourada depois do resultado de maio passado incrementaram ou, pelo contrário, baixaram seu caudal de votos.

Dimitir Psarras, um respeitado jornalista grego especialista no tema da extrema-direita – ele vive, aliás, no bairro dos extremistas – lembra que « parece não haver vacina contra o passado ». No essencial, Psarras constata que, como em outros países do Velho Continente, o esquecimento apagou o rosto dos neonazistas para instalá-los no presente com o estatuto de atores políticos determinantes. Dimitri Psarras conhece bem o tema. É autor de uma biografia de Georgios Karatzaferis, o líder de outro partido de extrema direita, LAOS, e há alguns anos revelou como uma juíza da Corte Suprema alimentava um blog violentamente antisemita com um pseudônimo. Segundo Psarras, a extrema-direita faz pesar uma espada de Damocles sobre as sociedades : « com eles sempre se corre o mesmo perigo ». Despertam e alimentam os piores instintos. Além disso, obrigam os demais partidos a adotar os temas da extrema-direita e, quando a crise chega ao máximo, oferece soluções fáceis para pessoas que perderam completamente o rumo ».

O bairro de Agios Panteleimonas encontrou o seu com o timão da Aurora Dourada. Ofereceu segurança a cidadãos temerosos e a impôs prontamente. A noite cai suavemente, O vento é cálido, convida a um passeio distraído. Mas cada vez há menos siluetas nas ruas. Em algumas zonas do bairro, para caminhar à noite é preciso pedir permissão, peguntar com educação e agradecer com respeito.

Tradução: Katarina Peixoto

terça-feira, 12 de junho de 2012

O moderno reacionário é a porta de entrada do velho fascismo

Fonte da imagem AQUI.

Marcelo Semer, para Terra

Se você não entendeu a piada de Rafinha Bastos afirmando que para a mulher feia o estupro é uma benção, tranquilize-se.

O teólogo Luiz Felipe Pondé acaba de fornecer uma explicação recheada da mais alta filosofia: a mulher enruga como um pêssego seco se não encontra a tempo um homem capaz de tratá-la como objeto.

Se você também considerou a deputada-missionária-ex-atriz Myriam Rios obscurantista ao ouvi-la falando sobre homossexualidade e pedofilia, o que dizer do ilustrado João Pereira Coutinho que comparou a amamentação em público com o ato de defecar ou masturbar-se à vista de todos?

Nas bancas ou nas melhores casas do ramo, neo-machistas intelectuais estão aí para nos advertir que os direitos humanos nada mais são do que o triunfo do obtuso, a igualdade é uma balela do enfadonho politicamente correto e não há futuro digno fora da liberdade de cada um de expressar a seu modo, o mais profundo desrespeito ao próximo.

O moderno reacionário é um subproduto do alargamento da cidadania. São quixotes sem utopias, denunciando a patrulha de quem se atreve a contestar seu suposto direito líquido e certo a propagar um bom e velho preconceito.

Pondé já havia expressado a angústia de uma classe média ressentida, ao afirmar o asco pelos aeroportos-rodoviárias, repletos de gente diferenciada. Também dera razão em suas tortuosas linhas à xenofobia europeia.

De modo que dizer que as mulheres - e só elas - precisam se sentir objeto, para não se tornarem lésbicas, nem devia chamar nossa atenção.

Mas chamar a atenção é justamente o mote dos ditos vanguardistas. Detonar o humanismo sem meias palavras e mandar a conta do atraso para aqueles que ainda não os alcançaram.

No eufemismo de seus entusiasmados editores, enfim, tirar o leitor da zona de conforto.

É o que de melhor fazem, por exemplo, os colunistas do insulto, que recheiam as páginas das revistas de variedades, com competições semanais de ofensas.

O presidente é uma anta, passeatas são antros de maconheiros e vagabundos, criminosos defensores de ideais esquerdizóides anacrônicos e outros tantos palavrões de ordem que fariam os retrógrados do Tea Party corarem de constrangimento.

Não é à toa que uma obscura figura política como Jair Bolsonaro foi trazida agora de volta à tona, estimulando racismo e homofobia como direitos naturais da tradicional família brasileira.

E na mesma toada, políticos de conhecida reputação republicana sucumbiram à instrumentalização do debate religioso, mandando às favas o estado laico e abrindo a caixa de Pandora da intolerância, que vem se espalhando como um rastilho de pólvora. A Idade Média, revisitada, agradece.

Com a agressividade típica de quem é dono da liberdade absoluta, e o descompromisso com valores éticos que consagra o "intelectual sem amarras", o cântico dos novos conservadores pode parecer sedutor.

Um bad-boy destemido, um lacerdista animador de polêmicas, um livre-destruidor do senso comum.

Nós já sabemos onde isto vai dar.

O rebaixamento do debate, a política virulenta que se espelha no aniquilamento do outro, a banalização da violência e a criação de párias expelidos da tutela da dignidade humana.

O reacionário moderno é apenas o ovo da serpente de um fascismo pra lá de ultrapassado.


Marcelo Semer é Juiz de Direito em São Paulo. Foi presidente da Associação Juízes para a Democracia. Coordenador de "Direitos Humanos: essência do Direito do Trabalho" (LTr) e autor de "Crime Impossível" (Malheiros) e do romance "Certas Canções" (7 Letras). Responsável pelo Blog Sem Juízo.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

"JUSTIÇA" NORTE-AMERICANA

Carlos de Luna (fonte da imagem AQUI)

Um professor da Faculdade de Direito de Colúmbia, nos Estados Unidos, James Liebman, e cinco de seus alunos, acreditam que a Justiça do Texas matou um inocente em 1989. Carlos DeLuna, foi executado com injeção letal no lugar de Carlos Hernandez, o verdadeiro assassino de Wanda Lopez, em fevereiro de 1983. A vítima era uma mãe solteira que foi esfaqueada em um posto de gasolina, onde trabalhava, na cidade de Corpus Christi, no Texas.

O caso se tornou emblemático para a Justiça americana porque deixou evidente o fracasso do sistema legal do país, aponta a pesquisa do professor. DeLuna, com 27 anos na época, foi executado após investigação incompleta. Os pesquisadores encontraram muitos erros, provas e oportunidades perdidas que deixariam evidente não só que ele não havia cometido o crime, mas que outro homem era o autor. James Liebman destacou, em um documento que acompanha o seu relatório de 780 páginas, que falhas análogas às que condenaram DeLuna continuam enviando ao corredor da morte muitos inocentes.

CP

Comentário do Blog: "Casualmente" DeLuna não era um WASP - "Branco, Anglo-Saxão e Protestante" (White, Anglo-Saxon and Protestant)...

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Nubes racistas en el cielo israelí

Fonte da imagem: AQUI.

Meir Margalit · · · · · 
 
Las elecciones israelíes llevadas a cabo en febrero 2009 otorgaron el poder a una coalición de partidos derechistas, liderados por Bibi Netaniahu.  Entre ellos destaca "Israel Beiteinu",  partido de extrema derecha liderado por Ibet Liberman, personaje tétrico de perfil cuasi-fascista que fue designado ministro de relaciones exteriores. Esta constelación política liberó todos los fantasmas racistas latentes en el subconsciente israelí y desencadenó posturas oscurantistas, latentes desde hace tiempo en la medula de la sociedad israelí.

En realidad este vuelco extremista no debería sorprendernos. Sus orígenes datan de 1948: sus primeras víctimas fueron entonces los árabes israelíes, a los que se sumaron a partir de 1967 los palestinos en los territorios conquistados, y ha llegado a su paroxismo bajo la égida del actual gobierno Netaniahu, cuando a las víctimas palestinas de ambos lados de 'la línea verde' se incluyen aquellos tildados de  "aliados del enemigo", o sea la izquierda israelí.

Liberman es la máxima expresión de esta degeneración. Durante su campaña electoral manipuló el odio latente en el seno de la sociedad israelí contra los palestinos, acuñando el lema "Sin fidelidad no hay ciudadanía", prometiendo retirar la ciudadanía a todos aquellos árabes israelíes que, a ojos de la población israelí, no son suficientemente "fieles" al Estado de Israel.  Inspirados en esta línea, y ebrios de poder, al poco tiempo de asumir el gobierno, los partidos de la coalición de derechas presentaron al parlamento una avalancha de leyes de corte xenófobo que recuerdan demasiado a la Alemania de los años previos a la Segunda Guerra Mundial.   Una lista parcial de esas leyes nos dan la pauta de la dirección nefasta por la que marcha Israel bajo la égida de la extrema derecha.  La "Ley de la Fidelidad" impone un  juramento de fidelidad a Israel,  bajo amenaza de anular la ciudadanía de quien se niegue; la "Ley de la Naqba" prohíbe rememorar la derrota palestina durante la "guerra de la independencia"; la "Ley anti-boicot" prohíbe boicotear productos elaborados en los asentamientos en los Territorios Ocupados; o la nueva reforma fiscal, que impide a las organizaciones de derechos humanos recibir donaciones de fuentes extranjeras que sumen mas de 20.000 shekel, (unos 4.000 euros), presuponiendo que, a falta de fondos, desaparecerán o por lo menos quedaran paralizadas. Así sucesivamente, 16 leyes, decretos, o proyectos de ley nacionalistas han llegado al parlamento desde que la pareja Netanihu-Liberman ha asumido al gobierno.  

Pero este asalto reaccionario contra la democracia va mucho mas allá y pretende apoderarse de las bases mismas del sistema israelí y socavar desde dentro las pocas fuerzas de contención que todavía funcionan en su seno. Este es el objetivo de la reforma del sistema judicial, que le otorga al gobierno el derecho a inmiscuirse grotescamente en la designación de jueces de la Corte Suprema de Justicia, a fin de controlar y neutralizar a la ultima institución sensata que todavía queda en Israel capaz de ponerle limites a la Knesset y evitar un completo vuelco antidemocrático.

Este torrente de legislación racista adquiere actualmente dimensiones aterradora: hasta ahora la discriminación se encubría tras la excusa de la "seguridad nacional", pero ahora se justifica, sin mas pudor ni vergüenza, por ser imprescindible para preservar "el carácter judío" del Estado de Israel o, en otras palabras, por motivos nacionalistas, xenófobos y fundamentalistas. Esta embestida no se limita al ámbito parlamentario. Alentados por este clima anti- democrático, grupos de matones, esgrimen su prepotencia, amparados por un gobierno que fomenta el odio racial y propicia el asedio a ONG's de derechos humano. A tal punto, que el mismo ministro responsable de los servicios policiales ha declarado que teme que en estos precisos momentos se esté gestando un asesinato político contra activistas de la izquierda israelí.

Nada de esto es nuevo. La derecha desde siempre ha intentado perpetrar un golpe de estado que destruya las bases democráticas de la nación.  Lo novedoso, y lo terrible, es que actualmente la derecha israelí posee los recursos para efectuarlo y está convencida de que este es el momento propicio para dar el golpe final. Una serie de coyunturas internacionales actúan como catalizador de dicho contraataque: por un lado, el estado politicamente delicado del presidente Obama, y por el otro, la crisis financiera europea, indican que "el mundo occidental" está demasiado débil y ocupado con sus problemas como para enfrentarse a Israel y evitar que lleve a cabo sus aspiraciones. Asimismo, según este discurso, los acontecimientos en los países árabes vecinos y el auge de los partidos islamistas serían la prueba contundente de que "there is not partner" (no hay contraparte) y es imposible confiar en los árabes.  Toda esta escenografía ha sido utilizada cínicamente por la derecha parlamentaria para dar el golpe final y endurecer sus políticas retrogradas, poniendo en marcha una campaña política dirigida a criminalizar no solo al pueblo palestino, sino también a las ONG's que apoyan la lucha palestina por la liberación nacional. Hasta ahora hemos sido deslegitimizados, ahora pasamos a ser criminalizados.

Los parecidos con el Apartheid sudafricano, con el fascismo italiano, con la Serbia de los años 90, e incluso con la Alemania del 33, son demasiado obvios como para disimularlos. La naturalidad con la que estas malas yerbas  se expanden y la apatía del público israelí ante tales atropellos, es excesivamente preocupante como para no sentir escalofrío. En la Israel del 2011 se han desactivado los mecanismos de contención que podrían evitar un total descarrilamiento. La Alemania de los años 30 contaba con una mayor tradición democrática que la del Estado de Israel y,  a pesar de ello, degeneró casi sin darse cuenta, en forma gradual y a través de unas instituciones parlamentarias constituidas electoralmente. El Estado de Israel no esta exento de barbaridades y, si bien esta lejos de políticas de exterminio a gran escala como las de la Alemania nazi, los argumentos elaborados para justificar estas políticas discriminatorias son similares a los esgrimidos por todos los movimientos fascistas a lo largo de la historia y contienen todas las categorías epistemológicas propias de los nacionalismos mas nefastos.  La transformación de un estado de derecho en un baluarte racista, no se produce de la noche a la mañana, sino es un proceso gradual, acumulativo, de degeneración paulatina, siempre enmascarado en buenas intenciones, como por ejemplo preservar "valores nacionales" o "favorecer el bienestar social". Mas que cuantitativo, el salto es cualitativo. Hasta hoy podíamos distinguir entre "practicas discriminatorias" ampliamente difundidas y  contraponerlas a la "legislación igualitaria" que, a grandes rasgos, caracterizaba al sistema israelí. Pero a partir de ahora, la legislación se pone a tono con las viejas prácticas discriminatorias para conformar un ensamblaje sumamente preocupante. Es más, la segregación étnica está apoyada en un sistema legal que le de legitimidad estatal. Ya no se trata de un estado anímico, como estilábamos caracterizarla con cierta benevolencia hasta hace no mucho tiempo atrás, sino de un estado judicial y legal que constituye la infraestructura legal de un sistema totalitario que conduce indefectiblemente a un precipicio.

"En Israel existe un potencial real de fascismo", escribe en el periódico Haaretz del 26 de diciembre Nurit Elshtein, quien fuera asesora legal del Parlamento y actual profesora de derecho constitucional en la Universidad de Jerusalén. Las condiciones para la degeneración están dadas, y no solo entre grupos de colonos o derechistas, sino incluso en círculos que hasta hace poco se consideraban liberales.  El racismo visceral ha salido a flote y la nueva legislación lo legitimiza. Israel ha perdido no solo la sensatez sino también la vergüenza. Solo los ciegos son capaces de no percibir que Israel avanza por el mismo camino que llevó antes al precipicio de la historia universal a otras naciones: terminaremos de la misma forma salvo que fuerzas externas presionen para acabar con la empresa colonizadora en los Territorios Ocupados.

Meir Margalit es concejal del ayuntamiento de Jerusalén, militante del ICAHD (Comité israelí contra las demoliciones de casas) y miembro del consejo editorial de Sin Permiso.

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