quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Ofensiva de Israel enfraquece governos árabes moderados, dizem analistas

Hassan Nasrallah:

Tariq Saleh
De Beirute para a BBC Brasil

A ofensiva militar israelense na Faixa de Gaza pode dar novo combustível aos grupos mais radicais no Oriente Médio e enfraquecer a imagem dos governos tidos como moderados, alertaram analistas.

O cerco a Gaza e o considerável número de civis mortos no conflito gerou protestos pelo mundo. Nos países árabes, manifestantes pedem o fim dos ataques a Gaza e do bloqueio imposto ao empobrecido território palestino.

Governos árabes foram acusados pelo grupo palestino Hamas, o grupo xiita libanês Hezbollah, a Síria e o Irã de permanecer inertes frente à situação em Gaza.

Em discurso ainda no início do conflito, o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, chegou a acusar o Egito e Arábia Saudita, principais forças políticas do mundo árabe, de conspirarem a serviço de Israel para tirar o Hamas do poder em Gaza.

Egito e Arábia Saudita são aliados dos Estados Unidos e recebem ajuda militar americana. Os americanos e outros países ocidentais os vêem como moderados.

Mas para muitos árabes, os governos árabes em sua maioria são "ditaduras" que não atendem a interesses do povo.

Frustração

Analistas alertam para as imagens de protestos em diversos países árabes em manifestantes carregavam bandeiras do Hamas, do Hezbollah ou até de Nasrallah.

"Isso por si só já mostra o nível de frustração dos árabes ao verem pelas imagens de televisão as mortes de civis palestinos em Gaza e a lentidão dos governos árabes em adotar uma ação mais firme contra Israel", disse o professor Oussama Safa, diretor do Centro Libanês para Estudos Políticos.

Safa disse que os árabes vêm procurando um líder que lhes devolva a "dignidade" perante um Ocidente alinhado com Israel.

"São pelo menos 40 anos de humilhação e derrotas frente a Israel, em que árabes viram seus governos sendo superados em todos os aspectos militares e políticos pelo estado judaico."

Segundo Safa, a guerra de 2006 entre o Hezbollah e Israel, e a derrota parcial dos militares israelenses, trouxe ao mundo árabe um novo herói – Hassan Nasrallah.

Os grupos com discursos mais fortes contra Israel ganharam mais espaço e as populações começaram a notar a ineficiência de seus governos frente a Israel, disse Safa.

"O resultado da guerra no Líbano causou um enorme embaraço aos ditos moderados, e o mesmo está acontecendo com a guerra em Gaza."

Futuro

Para o professor de Ciência Política da Universidade Americana de Beirute, Hassan Krayyem, a ofensiva israelense trará uma grave conseqüência no futuro.

"Militantes políticos contrários ao diálogo com Israel argumentarão que o governo israelense não aceita dialogar, que só conhece o uso da força, causando mortes de inocentes."

Krayyem também disse que Israel enterrou a chance de uma paz verdadeira com os árabes, ao menos por enquanto.

"Será uma vergonha para os governos árabes oferecer propostas de paz e reconhecimento diplomático a Israel depois das imagens de morte e destruição em Gaza", afirmou Krayyem.

Fatah X Hamas

Mas o maior prejudicado, segundo os analistas, será a Autoridade Nacional Palestina, do presidente Mahmoud Abbas, controlada pelo partido Fatah, rival do Hamas.

Abbas e seu governo vinham mantendo conversações de paz com Israel, mas que geraram frustrações nos palestinos que não viram a ocupação de Israel na Cisjordânia nem o bloqueio à Faixa de Gaza acabarem.

"A Autoridade Palestina já estava desacreditada antes, sendo acusada ser complacente demais com Israel e sem ter feito progressos consideráveis no estabelecimento de um Estado palestino", disse Paul Salem, diretor do Centro Carnegie para o Oriente Médio em Beirute.

Para Salem, o presidente Abbas feriu ainda mais sua imagem após comentários de que o Hamas era o culpado pelo início do conflito em Gaza.

"Muitos palestinos criticaram a posição de Abbas em um momento em que ele deveria ter unido as diversas facções em torno de uma causa palestina.”

De acordo com Safa, o Hamas poderá ganhar mais simpatizantes em médio prazo e se a Autoridade Palestina e o Fatah não agirem de forma mais dura contra Israel.

A ofensiva israelense, segundo Krayyem, deixou os palestinos menos confiantes na solução de dois estados como forma de resolver o conflito árabe-israelense.

"Grupos mais radicais poderão alegar que com conversas de paz não houve avanços, e que somente o uso da força dará aos palestinos o fim da ocupação que já dura 41 anos", disse Krayyem.

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