domingo, 11 de janeiro de 2009

GAZA: ISRAEL EM XEQUE


CORREIO DO POVO
PORTO ALEGRE, DOMINGO, 11 DE JANEIRO DE 2009


1. Radicais ganham com crise em Gaza, avaliam analistas

Guerra favoreceria países como o Irã e deixaria mais longe o Estado palestino

Paris — O agravamento do conflito em Gaza pode ameaçar o delicado equilíbrio no Oriente Médio e fortalecer os movimentos radicais e países como o Irã, lançando por terra as esperanças da criação de um Estado palestino viável, apontam analistas. 'O que está acontecendo reforça os elementos mais radicais', afirma Denis Bauchard, do Instituto Francês de Relações Internacionais.
Para este especialista em Oriente Médio, o grupo islâmico palestino Hamas pode reforçar sua imagem entre os árabes, mesmo que saia fragilizado do conflito. 'A situação presente reforça politicamente tudo o que é radical', concorda Anthony Cordesman, do Centro de Estudos Estratégicos de Washington.
O desenlace desta crise pesará sobre as eleições israelenses previstas para daqui a algumas semanas, onde a equipe atual dirigida pelo primeiro-ministro Ehud Olmert e sua chanceler Tzipi Livni está enfrentado um duelo com o Likud de Benyamin Netanyahu. A volta ao poder de Netanyahu, de uma linha ainda mais dura, é considerado pelos observadores um risco suplementar para as esperanças de paz na região.

2. ONU defende investigar violações

Genebra — A Alta Comissária de Direitos Humanos das Nações Unidas, Navi Pillay, disse que um incidente envolvendo soldados israelenses na Faixa de Gaza tem os elementos de um crime de guerra. Em entrevista à BBC, Pillay disse que o relato da Cruz Vermelha de que soldadosde Israel não teriam ajudado civis feridos em ataques deve ser alvo de investigação independente.
Segundo a Cruz Vermelha, seus funcionários presenciaram cenas 'chocantes'. Em um incidente, uma equipe médica disse ter encontrado cerca de 12 corpos em uma casa destruída por bombardeios em Zeitoun, ao Sul da Cidade de Gaza.
Junto aos cadáveres estavam quatro crianças, muito fracas para se levantar, sentadas ao lado dos corpos das mães. Agentes humanitários, no entanto, foram impedidos de chegar ao local por vários dias depois do bombardeio. Apesar de também condenar os ataques de foguetes realizados pelo Hamas contra civis judeus, ela destacou que Israel não pode ignorar suas obrigações previstas nas leis internacionais.

3. GUERRA TEM ALTO CUSTO POLÍTICO PARA ISRAEL
Jurandir Soares

Barack Obama reafirmou que não irá dar qualquer palpite sobre a questão de Gaza até assumir o poder, em 20 de janeiro. Depois disso, promete engajar-se no tema. O que é uma tradição dos democratas quando no governo. Assim foi com Jimmy Carter e com Bill Clinton. No entanto, nessa sexta-feira, o jornal britânico The Guardian noticiou que o presidente eleito dos EUA terá um canal de negociação direto com o Hamas. Os EUA consideram o Hamas terrorista, e, segundo as fontes, o futuro presidente não cogita negociar diretamente em um primeiro momento para evitar passar a impressão de que legitima o grupo. Os contatos seriam secretos e, possivelmente, por meio dos serviços de inteligência americanos. Tudo dentro da lógica que Obama passou durante a campanha, ou seja, de que se dispõe a negociar com quem quer que seja, sem precondições.
Sabe-se que a negociação com o Hamas é essencial para conquistar um cessar-fogo efetivo em Gaza. Israel comanda há duas semanas uma grande ofensiva militar contra alvos do Hamas na faixa de Gaza, uma operação que já deixou perto de 800 palestinos mortos. Tempo demais para um conflito cujo principal objetivo era acabar com o lançamento de foguetes contra Israel. Na guerra de 1967, Israel precisou de apenas seis dias para aniquilar com os exércitos de Egito, Síria e Jordânia reunidos. Na guerra de 1973, foram apenas quatro dias para chegar à vitória. Agora, passaram-se 16 dias e os foguetes seguem caindo em Israel. Ao mesmo tempo, organismos como Cruz Vermelha, Anistia Internacional e Comitê de Direitos Humanos da ONU protestam contra Israel. Aliás, a imagem que o país está passando para o mundo é, no mínimo, a do uso excessivo de força. Senão, a de massacre.
Assim, quanto mais se estende o conflito, pior para Israel. O Hamas estava isolado em Gaza. Ninguém se preocupava com ele. Agora, todo o mundo se indigna com o sofrimento que Israel lhe impõe. Dirigentes de expressão do mundo todo se mobilizam, procurando achar uma forma de obter a trégua, para que não morra mais gente. Especialmente, crianças, vítimas maiores dessa guerra insana.
A guerra tem algumas incoerências. Como esta, por exemplo, de Israel suspender o bombardeio por três horas para a chegada de ajuda humanitária aos palestinos do Hamas, que estão encurralados na Faixa de Gaza. Isto é algo mais ou menos assim: 'Eu paro um pouco, você recebe alimentos e medicamentos e, daqui a três horas, eu volto a te atacar'. É algo, no mínimo, esdrúxulo. Mas é a guerra, que já é algo esdrúxulo. Tão esdrúxula, que foi atacada uma escola da ONU, onde morreram 40 pessoas, e também foi atacado um comboio de ajuda humanitária da organização.
A guerra é a extensão da política, dizia o general Klausewitz. E, na sequência, a guerra tem o seu resultado político. E este para Israel está sendo péssimo.

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