quarta-feira, 14 de janeiro de 2009
Viagem de Amorim ao Oriente Médio 'não foi fracasso', dizem especialistas
Fabricia Peixoto
BBC Brasil
O chanceler brasileiro, Celso Amorim, retorna nesta quarta-feira de uma viagem ao Oriente Médio aparentemente sem conseguir atingir seu objetivo principal, que era incluir o Brasil no seleto grupo de países que vêm trabalhando no processo de paz entre Israel e o grupo islâmico palestino Hamas.
O resultado, no entanto, não deve ser visto como uma derrota da diplomacia brasileira. Pelo menos essa é a interpretação de especialistas em Relações Internacionais ouvidos pela BBC Brasil.
“Considerar a viagem uma derrota é um exagero. Desde o início era sabido que as chances de o Brasil influenciar o processo eram definitivamente muito pequenas”, diz Andrew Hurrel, professor-visitante do Centro de Estudos Brasileiros, da Universidade de Oxford.
Segundo Hurrel, a viagem ao Oriente Médio, no momento em que a região é foco da comunidade internacional, é coerente com a política externa do governo Lula de estar presente nas principais discussões mundiais.
“Existem diversas formas de se ganhar prestígio no cenário internacional. Uma delas é de que sua contribuição seja reconhecida por outros países. Não necessariamente por meio de um resultado efetivo”, diz Andrew Hurrel,
Em quatro dias, o ministro Amorim teve encontros com autoridades locais na Síria, Israel, Cisjordânia, Jordânia e Egito. A pedido do presidente Lula, Amorim colocou o Brasil à disposição para participar das negociações. Lula também sugeriu uma conferência para discutir a paz na região, tão logo o conflito chegue ao fim.
A iniciativa brasileira, porém, foi criticada por alguns ex-membros da diplomacia brasileira. Entre eles está o ex-ministro das Relações Exteriores, Luiz Felipe Lampreia. Segundo ele, a viagem de Amorim ao Oriente Médio “beira o ridículo”, em função de sua pouca influência na região.
Grupo restrito
As conversas entre Israel e o Hamas vêm sendo intermediadas por um grupo restrito, que inclui basicamente Estados Unidos, França e Egito. Mais recentemente a Turquia foi incluída no processo, a pedido do grupo palestino.
“Entrar para esse grupo não é fácil”, diz o especialista em Oriente Médio da London School of Economics, Amon Aran. “Para participar do grupo de negociadores, um país precisa ter um forte vínculo, seja ele histórico, geográfico ou material”.
Segundo ele, o Brasil não se encaixa nesse perfil. Além disso, diz, é preciso considerar o fato de que os negociadores que já estão no círculo dificilmente abrirão espaço para novos atores.
Na visão de Aran, as chances do Brasil são “praticamente nulas”. “Mas isso não quer dizer que o país não possa tentar e até obter algum outro resultado positivo com a iniciativa”.
O professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UNB), Virgílio Arraes, diz que o Brasil vem tentando ampliar sua atuação diplomática para fora do eixo tradicional, historicamente a América Latina.
“O país precisa fazer isso se quiser pleitear um assento no Conselho de Segurança da ONU”, diz. Segundo Arraes, a viagem ao Oriente Médio faz sentido nesse contexto.
Segundo ele, a influência do Brasil em outras regiões é de fato “reduzida”, e por isso “a diplomacia vem se mexendo”.
Para a professora Susan Purcell, diretora do Centro para a Política Hemisférica da Universidade de Miami, o fato de Amorim ter voltado para casa sem provar sua influência não significa uma derrota.
“Não é exatamente um fracasso brasileiro. A essa altura, nenhum outro país sozinho, seja ele os Estados Unidos ou a França, teria conseguido um resultado diferente”, diz.
Para ela, o Brasil apostou em uma iniciativa diplomática de “baixo risco” – com pouco a perder – e ao mesmo tempo com chances de obter alguma vantagem, ao demonstrar especial interesse no processo de paz.
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