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A agricultura mundial deve tornar-se ecológica e o pequeno agricultor estar no centro das preocupações. Somente assim a fome no mundo poderá ser remediada.
Três ONGs suíças (Swissaid, Pão para o Próximo e Greenpeace) e a União Suíça de Agricultores (USP) pedem que o governo suíço haja nesse sentido.
"A agricultura industrial, que necessita de uma grande quantidade de energia e de produtos químicos, não tem futuro. A agricultura deve tornar-se mais humana e mais sustentável."
A opinião é do agrônomo suíço Hans Herren, co-presidente do Conselho Mundial da Agricultura, resumindo o relatório publicado em abril sobre a agricultura mundial intitulado Avaliação Internacional dos Conhecimentos, das Ciências e Tecnologias Agrícolas para o Desenvolvimento (IAASTD, na sigla em inglês).
Os autores do relatório são quarenta e cinco cientistas dos cinco continentes, nenhum dos países de língua portuguesa. Trata-se do equivalente para a agricultura do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC). Herren falou em coletiva à imprensa, terça-feira (21), em Berna.
Enquanto a produção agrícola mundial aumenta, o acesso à alimentação é cada vez mais desigual, afirmou Hans Herren. A produção intensiva tem conseqüências dramáticas sobre os solos, o clima e os pequenos agricultores. O número de pessoas que sofrem fome não cessa de aumentar. A subnutrição atinge hoje 925 milhões de pessoas.
Moratória sobre os biocombustíveis
Doze por cento dos gases que provocam o efeito estufa são produzidos pela agricultura intensiva e baseada em produtos químicos, afirmou Marianne Künzle, do Greenpeace, na mesma coletiva à imprensa. Ela lamenta que empresas como Monsanto e Syngenta tenham abandonado os trabalhos do grupo de cientistas que elaborou o relatório IAASTD. Era um sinal, segundo ela, que o relatório colocaria em causa as práticas dessas empresas produtoras de adubos e sementes transgênicas.
As três ONGs (Swissaid, Pão para o Próximo e Greenpeace) e a União Suíça de Agricultores (USP) apóiam essas recomendações e pedem que sejam tomadas medidas concretas na Suíça: garantir o abastecimento dos mercados regionais, decretar uma moratória de cinco anos sobre os biocombustíveis e prorrogar a moratória sobre os transgênicos.
A produção de biocombustíveis é responsável por mais de 70% da alta dos alimentos, afirmou Caroline Morel, de Swissaid, citando um estudo do Banco Mundial. Ela agrava, assim, de maneira dramática, a situação das populações mais pobres.
Saber rural
As quatro organizações pedem ainda que o direito fundamental à alimentação prime sobre o livre-comércio. A Suíça também deve garantir seu abastecimento alimentar e reconhecer o mesmo direito aos outros países.
O relatório sobre a agricultura mundial é fruto de quatro anos de trabalho de quatrocentos cientistas e especialistas internacionais, levando em consideração o saber rural. O estudo foi financiado pelas Nações Unidas, pelo Banco Mundial e pelo Fundo Mundial pelo Meio Ambiente (FEM).
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