Reykjawik, Capital da Islândia:
Jon Danielsson
Economista, London School of Economics, para BBC
Os problemas no país foram causados por dois fatores distintos, um deles perfeitamente previsível.
O fator previsível está ligado às medidas do Banco Central islandês. Nos últimos anos, a Islândia tem seguido uma política de metas inflacionárias, assim como o Brasil.
Isso significa que o Banco Central aumenta as taxas de juros se o índice de inflação está acima da meta e reduz as taxas se a inflação está abaixo.
Essa política, baseada em teorias econômicas e utilizada por outros países, foi desastrosa para a Islândia.
Ilusão de riqueza
Por todo o período de política de metas inflacionárias, a inflação estava acima da taxa estabelecida pelas metas do governo e, como resultado, as taxas de juros ultrapassavam 15%.
Em uma economia pequena como a da Islândia, taxas de juros altas encorajam empresas domésticas e até mesmo famílias a pegar empréstimos em moeda estrangeira e também atraem especuladores.
Isso provou grandes fluxos de dinheiro, em moeda estrangeira, o que causou grandes aumentos nas taxas de câmbio e deu aos islandeses a ilusão de riqueza.
Os especuladores e pessoas que pegavam empréstimos conseguiam lucros com a diferença entre a taxa de juros na Islândia e em outros países.
Esses efeitos encorajaram o crescimento econômico e a inflação, levando o Banco Central a aumentar ainda mais a taxa de juros.
O resultado final foi uma bolha causada pela interação entre taxas de juros domésticas e fluxos de moeda estrangeira.
A taxa de câmbio estava cada vez mais distante dos fundamentos da economia, com uma inevitável e rápida depreciação da moeda islandesa.
Isso deveria ter ficado claro para o Banco Central, que desperdiçou várias boas oportunidades de evitar esse processo e conseguir mais reservas.
Independência
Além destes fatores, também é preciso levar em conta a estrutura de governança do Banco Central da Islândia, que não tem um, mas três diretores. Um ou mais desses diretores geralmente é um ex-político.
Por isso, a governança do Banco Central do país sempre foi vista como muito próxima do governo central, o que levanta dúvidas sobre sua independência.
Essa estrutura leva a conseqüências que são especialmente visíveis em períodos de crise financeira. Ao escolher os diretores de acordo com suas bases políticas ao invés de conhecimentos financeiros e econômicos, o Banco Central pode ser visto como mal preparado para lidar com uma economia em crise.
O segundo fator na implosão da economia islandesa foi o tamanho de seu setor bancário.
Antes da crise, os bancos da Islândia tinham ativos fora do país em um valor aproximado de dez vezes o PIB islandês, com dívidas que eram equivalentes.
Em circunstâncias normais, isso não é causa de preocupação, a partir do momento em que os bancos são dirigidos com cautela.
Em uma crise, como a que está ocorrendo atualmente, a força de um balanço patrimonial de um banco não tem grandes conseqüências.
O que importa é a garantia explícita ou implícita fornecida pelo Estado aos bancos para apoiar seus ativos e dar liquidez.
Então, a relação entre o tamanho do Estado e o tamanho dos bancos se transforma em um fator crucial.
O tamanho relativo do sistema bancário islandês significa que o governo não está em posição de garantir os bancos, diferente de todos os outros países europeus.
Esse efeito aumentou ainda mais e antecipou o colapso causado pelo fato de o Banco Central não ter conseguido aumentar suas reservas em moeda estrangeira.
Tragédia
Os eventos desta semana foram causados pela combinação desses dois fatores: política monetária inadequada e um sistema bancário maior do que o normal.
Durante este ano, a moeda islandesa está se desvalorizando porque os especuladores estão fugindo.
Isso provoca dúvidas a respeito da economia islandesa e também a respeito de seu sistema bancário.
Mas a tragédia real na crise é o impacto nas famílias islandesas, que enfrentam um aumento de 50% nos pagamentos de empréstimos e ainda uma inflação que pode chegar a 30% ou mais em 2008, com salários congelados e demissões.
Felizmente, o potencial macroeconômico em longo prazo é bom. A Islândia tem muitos recursos naturais ainda não explorados e uma força de trabalho qualificada.
Valeu, Omar. Mas óia, com renda per cáspita! de 40 mil dólares!!! eles têm é muita banha, banha de baleia para queimar. Ah, sim, mas parece que o FMI quer que os de 2mil per capita ajudem so de 40, 50 mil a sair da "crise".
ResponderExcluirPois é. A Islândia e o Japão são países caçadores de baleias... Os islandeses (ou islândicos) são seguidores do Maluf, em certa medida, pois dizem que "matam (baleias), mas não comem". Exportam. Lembra do "estupra mas não mata", não é?
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