quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Sarah Palin e o profundo triunfo da mediocridade


02/10 - Caio Blinder, de Nova York

NOVA YORK- A situação global está um sufoco. Então é hora de relaxar. Nesta quinta-feira à noite tem circo na corrida eleitoral americana com o o debate dos candidatos a vice, o senador democrata Joe Biden, e ela, a governadora republicana do Alasca, Sarah Palin.

Programas de televisão como Saturday Night Live já comprovaram que Sarah Palin é a candidata política da piada pronta, com sua flagrante ignorância.

Quem sabe, ela até se safe de uma gafe monumental no debate (departamento no qual Biden também é mestre), mas sempre existe a possibilidade de espetáculo com alguém que nos garante ter familiaridade com os grandes temas geopolíticos, pois o Alasca está ali do ladinho da Rússia.

Adiante do debate, eu apenas quero repetir, em nome das "elites arrogantes" que Sarah Palin não tem qualificações para o cargo de vice e sua nomeação por John McCain é uma perspectiva assustadora. McCain tem 72 anos e, sem fazer alarde, basta lembrar que a possibilidade de que ele morra de causas naturais nos próximos quatro anos é de 1 em 7.

A ignorância de Sarah Palin é profunda. E incomoda profundamente a atitude popular sobre isto. O marketing politico da campanha de McCain é manjado. Há 40 anos, Richard Nixon percebeu que podia ganhar votos tirando proveito do ressentimento popular contra as "elites arrogantes", que arrotam saber mais do que o povo. Gente, por exemplo, como Barack Obama, que estudou em Harvard. Constrangido, eu devo confessar que ultimamente as elites políticas e econômicas americanas só deram vexame, o que ajuda a explicar a fúria populista.

Mas vamos ao que interessa aqui. Com Sarah Palin, temos o triunfo da mediocridade. Metade do eleitorado americano brinda a falta de qualificação intelectual de uma pessoa que pode ser presidente, dia menos dia. Ela vale por ser uma pessoa comum. O raciocínio de uma lógica elementar e medíocre deveria ser outro: presidente deve ser uma pessoa muito acima da média, não como a gente.

Sam Harris, é um autor de best-sellers e faz cruzada a favor do ateísmo.

Ele também empreende uma campanha fervorosa contra Sarah Palin, denunciando, entre outras coisas, seu extremismo religioso. Mas por aqui quero apenas citar o argumento de Harris de que Sarah Palin encarna o casamento exuberante da autoconfiança com a ignorância.

Qual o problema de tantos americanos? Eles querem pilotos de elite, cientistas de elite, soldados de elite e atletas de elites, mas na politica saúdam a mediocridade de pessoas como Sarah Palin. O pavor é que ela pode eventualmente tomar decisões sobre cataclismas econômicos, desafios nucleares, aquecimento global e o papel em geral dos EUA em uma nova ordem mundial. O problema de Sarah Palin nem é a resposta. Ela não entende a pergunta.

Nada de machismo na incredulidade sobre esta mulher e tampouco viés ideológico. A conservadora Margaret Thatcher estava qualificada para ser primeira-ministra da Grã-Bretanha e a liberal Hillary Clinton também está preparada para ser um dia presidente dos EUA.

Volto atrás no que falei no início do texto. Não dá para relaxar quando se pensa em Sarah Palin ou no responsável por esta escolha medíocre, John McCain.

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