sexta-feira, 10 de outubro de 2008

A CRISE DO PERU


Michelle Marinho
De Lima para a BBC Brasil


Diante de sua pior crise desde que assumiu o poder, em julho de 2006, o presidente do Peru, Alan Garcia, enfrenta um escândalo que pode afetar os investimentos no país.

Apelidado de 'Petrogate', o episódio dos últimos dias se deve a grampos telefônicos que possibilitaram conhecer alguns personagens que pertenciaram à chamada máfia das licitações.

As gravações foram proporcionadas por Fernando Rospigliosi, ex-ministro do Interior do governo de Alejandro Toledo, e revelam o que parece ser um esquema para concessão irregular de cinco zonas de exploração de petróleo em regiões chaves do país, a favor da empresa norueguesa Discover Petroleum.

A economia peruana é a que mais cresce na América Latina, com uma taxa que este ano pode oscilar entre 7% e 8%. Grande parte desta nova riqueza do Peru se deve ao setor da mineração, gás e petróleo, que não pára de crescer.

Até agora, as gravações apontam três protagonistas do escândalo de corrupção: Alberto Quimper, diretor da Perupetro, empresa estatal que promove investimentos nas atividades de exploração de petróleo; Rómulo León, político aliado de Alan Garcia; e Ernesto Arias Schreiber, representante legal da empresa Discover Petroleum.

Numa das gravações, Rómulo León, acusado de tráfico de influências, conversa com Alberto Quimper sobre favorecimentos a Discover Petroleum numa licitação. Tanto León como Quimper ganhariam propina em troca.

Aprovação

A empresa norueguesa não estava qualificada para ganhar uma concessão, mas mesmo assim, foi aprovada com a nota máxima e passou a frente de várias companhias.

León também diz que recebeu cerca de US$ 100 mil dólares do empresário lobista Fortunato Canaán, durante um ano. O político facilitava as comunicações entre Canaán e as organizações estatais responsáveis pelas licitações de explorações de poços petroleiros.

Na gravação, Rómulo León também menciona que Jorge Del Castillo, primeiro-ministro e braço direito de Alan Garcia, sabia do lobby a favor da empresa noruega Discover Petroleum.

Pior crise

Depois da divulgação dos áudios, começa a pior crise do segundo mandato de Alan García. Alberto Quimper foi destituído de Perupetro, o contrato com a Discover Petroleum foi suspenso e a renúncia do ministro de Energia e Minas, Juan Valdívia, foi aceita.

Rómulo León está foragido e todo o gabinete ministerial de Alan Garcia decidiu pôr os cargos à disposição.

No discurso em rede nacional no fim da noite desta quinta-feira, o primeiro-ministro Jorge Del Castillo pediu ao país serenidade e fez um apelo à classe política para não cair no jogo da oposição, que põe em risco a estabilidade do país.

Ele afirmou que a decisão está agora nas mãos do presidente Alan Garcia. Ele vai decidir se aceita ou não a renúncia em massa do gabinete.

O presidente Alan García reiterou o compromisso de demitir todos os envolvidos. “Vão rolar todas as cabeças que devem rolar”, disse.

O Congresso aprovou uma investigação sobre as concessões petrolíferas desde 2006 e vai analisar os contratos assinados entre o país e empresas estrangeiras.

Popularidade

A última pesquisa divulgada pelo Instituto de Opinião Pública da Universidade Católica do Peru revela que a popularidade do presidente Alan Garcia caiu de 31%, registrados há um ano, para 19%.

O número é baixo se for comparado a outros presidentes da região, como Evo Morales, da Bolívia, e Rafael Correa, do Equador, que gozam de índices mais altos.

Para a analista Patrícia Del Río, a situação é complicada. “Vai ser muito difícil um presidente com baixa popularidade, principalmente depois deste escândalo, governar um país”.

Este é o segundo mandato de Alan Garcia, depois do período desastroso de seu primeiro governo (1985-1990), quando a inflação chegou a 2,776.00%.

Os peruanos deram uma segunda oportunidade a Garcia, mas já vêem a corrupção como o principal problema de sua gestão.

Nas ruas de Lima, uma só pergunta: o que significa esta crise para os peruanos? O analista político Juan Paredes afirma que o governo não tem uma linha de ação diante da crise.

“Estamos diante de um ponto morto. A população se pergunta o que mais o governo pode estar escondendo”.

O ex-congressista Javier Diez-Canseco, de oposição, é um pouco mais radical. “A solução para toda esta crise seria a convocação de um referendo revocatório presidencial”, diz, mirando a vizinha Bolívia.

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