quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Popular, Correa une Equador moderno ao tradicional


Por Frank Jack Daniel

QUITO (Reuters) - O presidente do Equador, Rafael Correa, é um católico devoto e chegou a ser missionário, mas acaba de aprovar uma nova Constituição que garante a união civil de homossexuais e trata dos direitos dos transexuais.

Correa tem uma formação política próxima à esquerda católica, mas com uma importante contribuição da esquerda européia, com a qual ele travou contato há cerca de 20 anos, na época em que estudou na Bélgica, onde também conheceu sua esposa.

Aos 45 anos, foi eleito há dois para governar o Equador, que havia passado por uma década de turbulências políticas e econômicas. No domingo passado, voltou a encontrar a vitória, quando eleitores do Equador, que é filiado à Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), aprovaram a nova Constituição, que lhe dá amplos poderes para acelerar a sua "revolução dos cidadãos".

A ponte que ele faz entre o Equador moderno e o tradicional lhe garante o apoio de uma ampla parcela do eleitorado, o que já o torna favorito à reeleição no começo de 2009, apesar de a oposição o acusar de estar se tornando um ditador e afugentando os investidores.

O equilíbrio entre posições aparentemente contraditórias já se tornou uma marca registrada do seu governo. Suas políticas conciliam alguns aspectos do "esquerdismo de mercado" do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com outros mais parecidos com o do venezuelano Hugo Chávez.

Correa tem pavio curto --como já demonstrou ao expulsar um repórter impertinente de um programa de rádio. Críticos e ex-assessores dizem que ele também pode tomar decisões abruptas de grande repercussão, como demitir um ministro das Finanças.

Já suas políticas sociais revelam a influência da Teologia da Libertação, e a oposição dele ao aborto --inclusive ameaçando renunciar caso a prática fosse autorizada na nova Constituição-- contribuiu para atenuar a oposição do clero conservador à nova Carta.

Por outro lado, recebeu apoio de ativistas por promover medidas em prol das minorias. "A comunidade gay e lésbica definitivamente considera que este governo está interessado em fortalecer os direitos civis. Sem dúvida, é um avanço", disse Margarita Camacho, autora de um relatório sobre a situação de travestis e transexuais no país.

A nova Constituição também exige que metade dos candidatos a cargos eletivos sejam mulheres, concede status oficial aos sistemas jurídicos indígenas e descriminaliza o uso de drogas.

ESCOTEIRO E CATÓLICO


Na juventude, Correa cogitou sem padre, criou um grupo de escotismo e trabalhou durante um ano numa aldeia indígena no miserável altiplano equatoriano, experiência que segundo amigos foi definitiva em sua vida.

"Expor-se à pobreza extrema da vida camponesa, a pessoas completamente abandonadas pelo Estado, foi completamente importante para ele", disse Homero Rendon, colega de Correa no escotismo durante a infância, hoje assessor do governo.

Em 1989, militando na política estudantil, Correa concluiu seu mestrado em economia numa universidade católica belga, onde assistiu à queda do Muro de Berlim em meio ao ambiente de discussões políticas com colegas de todo o mundo.

"Esta visão distinta de um mundo tolerante, com respeito pela natureza, pelos direitos humanos, por grupos como os idosos, isso foi produto da formação que o presidente teve na Europa", disse Washington Pesantez, que foi colega de Correa na Bélgica.

Apesar de tratar os investidores com dureza, Correa critica também a "infantilidade" dos esquerdistas mais radicais no governo, que pregam a moratória da dívida, restrições na mineração e nacionalização do petróleo.

Ele diz que o petróleo e os garimpos equatorianos precisam de investimentos, mas que é preciso garantir uma parte mais generosa para o investimento em programas sociais.

"A visão do presidente é de um socialismo moderno. Conforme vejo, perto da social-democracia", disse Pesantez, hoje procurador-geral do país, enquanto faz rabiscos com uma caneta Mont Blanc.

SWISSINFO

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