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terça-feira, 9 de julho de 2019

UMA GUERRA PERDIDA





O bolsonarismo trava uma guerra perdida: as novas gerações não engolem a agenda moralista


Rosana Pinheiro-Machado
9 de Julho de 2019, 0h03


Existem duas maneiras de narrar e interpretar a reação e os desdobramentos da conferência que ministrei em São Borja, município de grande importância para o imaginário gaúcho, onde estão enterrados Getúlio Vargas, João Goulart e Leonel Brizola, no início de julho. Elas são também duas maneiras de interpretar o Brasil de hoje.

A notícia da 44ª edição da minha palestra Da Esperança ao Ódio, na Unipampa, não foi bem-recebida no “Texas gaúcho”, como São Borja é chamada por seus habitantes. Homens, que têm orgulho de serem “xucros”, diriam que isso ocorreu porque nos pampas tem mais macho valente do que em outros lugares do mundo. Afinal, como comentavam algumas pessoas nas redes sociais: “aqui essa mocreia (sic) não se cria.”

Dei a palestra como de costume. Os ataques seguiram um roteiro conhecido. Alguns bolsonaristas comparecerem ao evento, fotografaram slides fora de contexto da fala e desapareceram. No outro dia, estava na internet a mentira de que eu havia chamado Bolsonaro de vagabundo, mesmo que houvesse centenas de testemunhas para provar o contrário.

Acusaram-me de usar dinheiro público para difamar a imagem de Bolsonaro. Um colega especialista no monitoramento de redes sociais, que pediu anonimato, me contou que minha imagem foi uma das mais compartilhadas no WhatsApp naqueles dias no Brasil. Nos comentários de posts que viralizaram, chamavam-me de puta, baranga, corrupta, criminosa e teve até quem lamentasse que eu não estava na Boate Kiss, que pegou fogo em Santa Maria, onde moro, em 2013, matando cerca de 250 jovens e ferindo gravemente mais de 600.

Eles sentiam ódio por eu dizer que no Brasil havia ódio.

Áudios no Whatsapp circulavam denunciando a professora “doutrinadora”, pedindo punição severa. Ao lado da foto de Glenn Greenwald, minha imagem foi estampada no tradicional jornal local, Folha de São Borja, dizendo que eu fazia política na universidade. Eles sentiam ódio por eu dizer que no Brasil havia ódio.

Os posts disparadores dos ataques vinham de homens tradicionalistas da faixa de 50 anos para cima. Todos eles tinham fotos de perfil e de capa no Facebook exibindo cavalos, chimarrão e a bandeira do Rio Grande do Sul. Seguindo a linha dada pelos homens, as mulheres da mesma faixa etária e com fotos de flores na capa do Facebook eram as mais agressivas nos comentários.

Não deve ser mera coincidência o fato que, nas manifestações pró-Moro em 30 de junho, chamava atenção a elevada faixa etária das pessoas que estavam nas ruas. Há um fator geracional que precisamos observar com mais atenção para compreender a radicalização do bolsonarismo. Quem, em última instância, ainda apoia um governo sem projeto e um juiz parcial?


A última pesquisa do DataFolha não deixa dúvida que, quanto mais velha é a pessoa, mais ela tende a apoiar irrestritamente a conduta inadequada da Lava Jato. A reprovação das conversas entre procuradores e o ex-juiz é de 62% entre pessoas de 35 a 44 anos, 50% entre pessoas de 45 a 59 anos e cai para 44% entre pessoas acima de 60 anos.

O Rio Grande do Sul pode ser entendido como um caso extremo e caricato do bolsonarismo. 

Bolsonaro empodera esse homem que se sente perdendo privilégios e nostálgico de um Rio Grande virtuoso. A metade sul do estado, por exemplo, que tanto povoa o imaginário fronteiriço, está economicamente empobrecida, mas se alimenta de histórias de um passado grandioso. O ex-capitão satisfaz esse gaúcho que idealiza o passado, cuja cultura popular exalta um homem armado e orgulhoso de ser tosco, grosso e simples. Bolsonaro é a projeção daquilo que é, ao mesmo tempo, melancolia e frustração.

Em “Como Funciona o Fascismo”, o filósofo Jason Stanley elenca o apreço ao passado mítico, glorioso e puro como a primeira característica do fascismo. Nesse passado, reina a família patriarcal e papéis de gênero tradicionais. (Não estou sugerindo que toda exaltação ao passado é fascista; apenas que a fantasia demasiadamente arraigada a um mundo que não se viveu, somada a um contexto de crise e profunda transformação, pode ser um terreno fértil para o fascismo). Segundo o autor:

“Na retórica nacionalista [ou regionalista], esse passado foi perdido pela humilhação provocada pelo globalismo. Esses mitos geralmente se baseiam em fantasias de uma realidade pregressa inexistente que sobrevive nas tradições das pequenas cidades e do campo (…). A função do passado mítico na política fascista é aproveitar a nostalgia e emoção para princípios centrais da ideologia fascista: autoritarismo, hierarquia, pureza e luta.”

Dada tal fusão de valores morais bolsonaristas com a mítica gaúcha, não estranha o fato de que, segundo a última pesquisa Ibope, ao mesmo tempo em que cresce a reprovação do governo Bolsonaro como um todo no Brasil (de 27% em abril para 32% em junho), cresce a sua aprovação na região sul (de 44% para 52%).

O ataque sofrido por mim é ilustrativo do autoritarismo patriarcal sobre o qual se agarra a geração mais velha de uma região economicamente decadente. Mas contra o que, exatamente, esse núcleo duro bolsonarista está lutando?

A 44ª versão da minha palestra na Unipampa foi inesquecível. Professores e estudantes do curso de Publicidade organizaram um evento impecável pelo profissionalismo. No cerimonial de abertura, um estudante tocou e cantou “Tempo Perdido” de Legião Urbana.

Com duas horas de antecedência, o auditório já estava lotado, fazendo com que muitos estudantes sentassem no chão ou ficassem de pé. Muita gente viajou até 200 km para estar lá. As perguntas dirigidas a mim eram instigantes, dignas de jovens com aguçado espírito acadêmico. Ao final, passei 30 minutos recebendo abraços apertados e palavras de apoio. Os longos aplausos não eram para mim, mas para o significado e a força daquele evento. Havia ali uma verdade tangível: nós poderíamos ver, tocar e sentir estudantes qualificados e mobilizados pela universidade pública. No velho oeste, ocorreu um evento cheio de esperança.

A palestra não ocorreu em qualquer universidade, mas na Unipampa, que é um exemplo da expansão e renovação do ensino superior dos últimos anos. Foi criada em 2008, no governo Lula, para trazer desenvolvimento a uma região empobrecida. Na plateia, havia estudantes negros, LGBTs e muitas meninas feministas. Além disso, chamou-me atenção a presença de estudantes de outros estados, já que o Enem possibilitou uma maior mobilidade geográfica. São Borja, que é uma cidade muito bonita e cheia de história, é hoje também habitada por corpos diversos que renovam a região.

No velho oeste, ocorreu um evento cheio de esperança.

Como já disse por aqui, a gente não pode esquecer que a vitória da extrema direita é também uma reação a muitas conquistas que vieram para ficar.

Quem eram os bolsonaristas que me atacaram? Na palestra, eles eram dois ou três. Por que eles não exerceram seu direito de protestar no evento? Provavelmente porque faltou gente de apoio – e também porque faltou coragem. Na verdade, eu teria incontáveis casos para contar com o mesmo roteiro insosso: jovens de extrema direita agitam nas redes sociais e ameaçam protestar em uma palestra minha, mas raramente comparecem como o alardeado. Quando comparecem, chegam em número insignificante e se sentem intimidados pela maioria. Macho valente? Só nas redes sociais.

O ataque baixo que sofri cheira a desespero. Desespero da radicalização dos que sobraram, da nostalgia bolsonarista de uma geração que se sente perdendo uma cruzada moral. Isso, é claro, após a Vaza Jato e queda da popularidade de Sergio Moro. Os guerreiros estão a postos para defender seu heróis.

Essa é uma guerra perdida. Como disse Fabio Malini sobre as manifestações do dia 30 de junho: “o bolsonarismo é o teto do progressismo dos mais jovens. Com data de validade. É um passado lutando para se manter no futuro. Uma luta, sabemos, inútil”.

As novas gerações são muito mais progressistas do que as anteriores. Basta olhar a pesquisa Datafolha sobre a reprovação da conduta da Lava Jato: 73% de jovens entre 16 a 24 anos acham inadequado o comportamento dos procuradores e do ex-juiz. O abismo geracional é evidente.

A profunda transformação da sociedade brasileira pelas novas gerações é um caminho sem volta. Não há nada que possa impedir isso. Ninguém vai voltar para o armário. Certa vez, o antropólogo Darcy Ribeiro disse a um primo meu: “os velhos irão morrer. Esse é o curso da vida, é para os jovens que temos que focar nossas ações”.

Eu não terminaria esta coluna na posição comodista que repete o clichê: “eu acredito mesmo é na rapaziada”. A responsabilidade de lutar pelas instituições – para que esses jovens possam ocupá-las daqui dez anos – é daqueles que hoje têm cargos nas escolas, universidades, na justiça, na imprensa e em todas as esferas da sociedade civil.

Como me disse a senhora que trabalha na padaria perto da minha casa: “ih… se tu achas a minha neta de 20 (anos) feminista, é porque tu não conheceu a de 12”.

Fonte da Imagem: https://www.miniedmonton.com/2018/11/08/squishing-the-bug/young-business-girl-looks-through-telescope/

Agradeço a meu amigo Jorge Vieira pela indicação deste texto.

domingo, 10 de março de 2019

MULHERES: UMA LONGA E SINUOSA ESTRADA PELA FRENTE




Kátia Zummach, vereadora de Nova Petrópolis, cidade distante cerca de 100 km de Porto Alegre, apresentou na Câmara de Vereadores daquele Município proposta de colocação de cartazes informativos do disque denúncia 180 em locais públicos.

Na sessão da Câmara da véspera do Dia Internacional da Mulher o tema foi debatido, pois ela convidou autoridades policiais e da Saúde para obter dados sobre a violência doméstica na cidade.

Cláudio Antônio Gottschalk, vereador, pede a palavra. Se dirige ao púlpito com um vistoso lenço gauchesco vermelho e abdômen avantajado e classifica esse projeto informativo como desnecessário.

Segundo ele, mulheres “que se prestam” não precisam disso e somente as mulheres “chinelonas” são vítimas de violência.

“Acho que uma mulher que presta não tem problema. Olha, aqui no município de Nova Petrópolis, não temos problemas. Acho que aqui fica feio colocar isso de telefone por aí”, disse Gottschalk.

A vereadora contra argumentou dizendo que em Nova Petrópolis existem inúmeros casos de mulheres que têm medo de denunciar ou não sabem como fazer.

A proposta foi protocolada e tem apoio da maioria dos vereadores.

Kátia informou que está analisando se vai ingressar com representação na Comissão de Ética da Casa contra Gottschalk.

Através da assessoria de imprensa da Câmara, a presidência classificou a manifestação do vereador como desrespeitosa e infeliz.

Nos números oficiais, somente em janeiro deste ano, 3.503 mulheres foram ameaçadas, 2.049 foram agredidas e 130 foram estupradas no Rio Grande do Sul. Além disso, quatro mulheres foram mortas por serem mulheres e houve 47 casos de feminicídio tentados. Os dados são do Observatório Estadual de Segurança Pública da Secretaria de Segurança.

Na realidade, porém, a situação é muito pior, pois muitos casos não são informados.

A posição do vereador Gottschalk pode parecer isolada, porém quem conhece as entranhas do Rio Grande do Sul sabe que muitos “machos” gaúchos pensam da mesma forma que ele.



Fonte da Imagem: http://rubyforwomen.com/wp-content/uploads/2015/09/the_long_and_winding_road_by_theonlyraquel.jpg

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

SÍNDROMES

Fonte: https://pixabay.com/


Em 2017 escolha sua síndrome:

 1. SÍNDROME DO SOTAQUE ESTRANGEIRO
Após sofrer uma pancada ou qualquer outro tipo de lesão no cérebro, as vítimas desse distúrbio passam a falar com sotaque francês... ou italiano... ou espanhol. A língua varia, mas, na maioria dos casos, as vítimas desconhecem o novo idioma. Segundo cientistas, a pronúncia não é efetivamente estrangeira, só dá a impressão disso. Pesquisadores da Universidade de Oxford, na Inglaterra, acreditam que o sintoma é causado por um trauma em áreas do cérebro responsáveis pela linguagem, provocando mudanças na entonação, na pronúncia e em outras características da fala. Um caso bem recente da síndrome do sotaque rolou com a britânica Lynda Walker, no mês passado. Após um infarto, Lynda acordou falando com sotaque jamaicano.



2. SÍNDROME DE CAPGRAS
Após sofrer uma desilusão com o cônjuge, com os pais ou com qualquer outro parente, a pessoa passa a acreditar que eles foram sequestrados e substituídos por impostores. O sintoma por vezes se volta contra a própria vítima: ao se olhar no espelho, ela também acredita que está vendo a imagem de um farsante. Neurose total! O problema tende a atingir mais pessoas a partir dos 40 anos e suas causas ainda não são conhecidas. A síndrome foi descoberta pelo psiquiatra francês Jean Marie Joseph Capgras, que a descreveu pela primeira vez em 1923. Em graus mais extremos, a vítima acha que até objetos inanimados, como cadeiras, mesas e livros, foram substituídos por réplicas exatas.



3. SÍNDROME DA MÃO ESTRANHA
"Minha mão agiu por conta própria..." Essa desculpa usada por alguns cafajestes pode ser verdadeira. A síndrome em questão alien hand syndrome, em inglês faz com que uma das mãos da vítima pareça ganhar vida própria. O problema atinge principalmente pessoas com lesões no cérebro ou que passaram por cirurgias na região. O duro é que o doente não presta atenção na mão boba, até que ela faça alguma besteira. A mão doida é capaz de ações complexas, como abrir zíperes... Os efeitos da falta de controle sobre a mão podem ser reduzidos dando a ela uma tarefa qualquer, tarefa qualquer, como segurar um objeto.



4. SÍNDROME DE ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS
Doença que provoca distorções na percepção visual da vítima, fazendo com que alguns objetos próximos pareçam desproporcionalmente minúsculos. O distúrbio foi descrito pela primeira vez em 1955, pelo psiquiatra inglês John Todd, que o batizou em homenagem ao livro de Lewis Carroll. Na obra, a protagonista Alice enxerga coisas desproporcionais, como se estivesse numa "viagem" provocada por LSD. As vítimas da síndrome também veem distorções no próprio corpo, acreditando que parte dele está mudando de forma ou de tamanho.



5. PICA
Esse nome também estranho não tem nada de pornográfico: pica é uma palavra latina derivada de pêga, um tipo de pombo que come qualquer coisa. E a pica a síndrome, é claro... faz exatamente isso: a pessoa sente um apetite compulsivo por coisas não comestíveis, como barro, pedras, tocos de cigarros, tinta, cabelo... O problema atinge mais grávidas e crianças. Após comerem muita porcaria involuntariamente, os glutões ficam com pedras calcificadas no estômago.Em 2004, médicos franceses atenderam um senhor de 62 anos que devorava moedas. Apesar dos esforços, ele morreu. Com cerca de 600 dólares no estômago...



6. MALDIÇÃO DE ONDINA
O nome bizarro é uma referência a Ondina, ninfa das águas na mitologia pagã européia. A doença, mais estranha ainda, faz com que as vítimas percam o controle da respiração.

Se não ficar atento, o sujeito simplesmente esquece de respirar e acaba sufocado! A síndrome foi descoberta há 30 anos e já existem cerca de 400 casos no mundo. Pesquisadores do hospital Enfants Malades, de Paris, acreditam que a doença esteja relacionada com um gene chamado THOX2B. O sistema nervoso central se descuida da respiração durante o sono e o doente precisa dormir com um ventilador no rosto para não ficar sem ar!



7. SÍNDROME DE COTARD
Depressão extrema, em que o doente passa a acreditar que já morreu há alguns anos. Ele acha que é um cadáver ambulante e que todos à sua volta também estão mortos. Em casos extremos, o sujeito diz que pode sentir sua carne apodrecendo e vermes passeando pelo corpo... Na fase final, a vítima deixa até de dormir e sua ilusão pode efetivamente se tornar realidade. O nome da doença faz referência ao médico francês Jules Cotard, que a descreveu pela primeira vez em 1880. Apesar de depressivo e certo de que está morto, o doente, contraditoriamente, também pode apresentar ideias megalomaníacas, como a crença na própria imortalidade.



8. SÍNDROME DE RILEY-DAY
Se você já sonhou em nunca mais sentir nenhuma dor, cuidado com o que pede... As vítimas dessa doença não sentem dores, mas isso é um problemão. Elas ficam muito mais sujeitas a sofrer acidentes porque param de registrar qualquer aviso de dano nos tecidos do corpo, como cortes ou queimaduras. A doença é causada por uma mutação no gene IKBKAP do cromossomo 9 e foi descrita pela primeira vez pelos médicos Milton Riley e Richard Lawrence Day. Sem o aviso de perigo que a dor proporciona às pessoas comuns, a maioria dos doentes com a síndrome de Riley-Day tende a morrer jovem, antes dos 30 anos, por causa de ferimentos.



9. SÍNDROME DA REDUÇÃO GENITAL
Também conhecido como koro, esse distúrbio mental deixa a pessoa convencida de que seus genitais estão desaparecendo. A maioria dos casos até hoje foi relatada em países da Ásia ou da África, e em muitos deles a síndrome parece ter sido contagiosa! Um dos episódios mais estranhos ocorreu em Cingapura, em 1967, quando o serviço de saúde local registrou centenas de casos de homens que acreditavam que seu pênis estava sumindo. Um único caso da síndrome da redução genital foi registrado até hoje no Brasil, no Instituto de Psiquiatria da USP. Convencido de que seu pênis estava sumindo, o doente tentou se matar com duas facadas no abdômen!



10. CEGUEIRA EMOCIONAL
A expressão "cego de emoção" existe na prática, e pode acontecer com qualquer pessoa normal. O problema foi descoberto recentemente por pesquisadores da Universidade de Yale, nos Estados Unidos. Depois de olhar para alguma imagem forte, principalmente com conteúdo pornográfico, a maioria das pessoas perde a vista por um curto espaço de tempo - décimos de segundo na verdade. Até agora, nenhum especialista conseguiu explicar o porquê dessa reação. A descoberta da cegueira emocional deu origem a um movimento no Congresso americano para que seja banida toda a publicidade com apelo erótico em grandes rodovias do país.


Fonte: http://www.sitedecuriosidades.com/curiosidade/10-doencas-mais-estranhas-do-mundo.html

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

CINCO TIPOS DE POLÍTICOS




BRUNO P. W. REIS

Os 5 tipos de políticos brasileiros:

1. Os incorruptíveis, que não apenas seguem a lei, mas se recusam até mesmo a se permitir conveniências como indicações legais de aliados para empregos e favorecimentos diversos. Operam apenas no plano do embate de ideias e, aristocraticamente, desprezam clientelismos e fisiologismos. Improvável que pareça, essas pessoas existem. De um ponto de vista democrático, porém, chegam a ser indesejáveis, pois nenhum eleitorado pode controlá-las, já que são desapegadas do poder, e terminam por serem maus representantes da vontade alheia, já que só fazem o que elas mesmas acham certo. Seja como for, perdem eleições. Poderemos ignorar essa categoria sem muito risco de comprometermos a tipologia.

2. Atores politicamente engajados, partidários, estrategicamente atuantes em favor de seu partido ou sua causa, mas nos limites estritos da lei. Promoverão os interesses de aliados, ocasionalmente bancarão indicações para cargos e empregos. Aceitarão, em suma, o jogo fisiológico se for preciso, mas não incorrerão em ilegalidades. Jogam o jogo, mas seu limite é a lei. Nunca é demais lembrar: fisiologismo não é igual a corrupção.

3. Categoria média, tipo médio e, com toda probabilidade, predominante. Joga o jogo com realismo cru, e trata de ganhar. Lança mão, para isso, do que for preciso. Admite, para tanto, recorrer a ilegalidades. Compactua com atos ilícitos, e vez por outra incorre neles pessoalmente. Mas sua prioridade ainda é política: está na luta, comprometida com ela, e quer vencer. Talvez nem se lembre mais exatamente qual era sua causa no início de tudo. Mas profissionalizou-se, sabe seu lado, reconhece e cumpre seus compromissos, promove seus aliados, e luta pelo poder. Tipicamente, um conservador –senão na plataforma, no estilo: acima de tudo, sua prioridade é preservar sua posição no sistema político a longo prazo, se possível para a vida toda. Acomodatício, cultiva aliados e evita riscos desnecessários.

4. O larápio. Originariamente um político, mas quer ficar rico, e se utiliza do poder para faturar. Não perde uma chance de embolsar, admitindo até mesmo o risco de arcar com algum prejuízo político, algum desgaste na reputação, se a grana compensar. O arquétipo do corrupto.

5. O testa de ferro do crime organizado. Sua preocupação não é, talvez jamais tenha sido, prioritariamente política. Não é um político que eventualmente se corrompeu. É um criminoso (ou um cúmplice de criminosos) que foi à política para promover os interesses da atividade criminosa. Seus compromissos residem antes na organização criminosa que no partido. Tem inimigos, mais que adversários, e os confronta com destemor peculiar. Agressivo, aceita riscos políticos maiores que os demais, porque sua rede de proteção reside fora da política. Preocupa-se pouco com a segurança de sua posição a longo prazo. Tende a ser corrosivo para o sistema político, ocasionalmente desestabilizador.

Os tipos 3,4 e 5 praticam crimes. Talvez organizadamente. Mas, representante do crime organizado, propriamente dito, com todo seu potencial destrutivo para a ordem política e social, é o último. Todos eles devem ser contidos e, caso processados e condenados, devem ser punidos, na forma da lei.

Devemos apenas cuidar de evitar que, ao enchermos as cadeias com 3, terminemos por encher os plenários legislativos com 5. O 2 é, em princípio, um cumpridor da lei, embora ultimamente corra certo risco de ver seu critério de definição de legalidade reinterpretado ("ex post") por algum procurador ou juiz especialmente obstinado. Pode acabar por descobrir-se confundido com 3 ou 4 –ou mesmo 5.

BRUNO P. W. REIS, 51, é professor de ciência política na Universidade Federal de Minas Gerais.

Leia a íntegra desse artigo: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2016/09/1813664-novas-regras-de-financiamento-e-uma-tipologia-de-nossos-politicos.shtml

domingo, 7 de junho de 2015

RACISMO E XENOFOBIA NO RIO GRANDE DO SUL



 
Imigrantes Europeus Chegando no Brasil - Pintura de Antonio Rocco

As três etnias mais importantes  em termos históricos e numéricos na formação da população do Rio Grande do Sul, extremo sul do Brasil, são a açoriana, a alemã e a italiana.

Os primeiros açorianos chegaram no Estado em 1725. Os alemães começaram a chegar em 1824. A primeira leva de italianos veio logo após, em 1875.

Depois, por diferentes motivos, vieram mais, a maioria chegando com posses escassas.

Naquela época os habitantes do Rio Grande do Sul eram indígenas Guaranis, Jê e Pampianos.

Com apoio dos então governantes, os imigrantes expulsaram os indígenas que viviam nas áreas que pretendiam ocupar.

Esses territórios ocupados possuíam, na chegada dos primeiros imigrantes, fauna e flora exuberantes.

Hoje a maior parte das florestas foi derrubada e transformada em plantações, muitos rios deixaram de existir, outros tantos estão envenenados e várias espécies de animais encontram-se em extinção, tudo isso em nome do progresso.

Quando chegaram, a maioria "com uma mão na frente e outra atrás", essas pessoas, inclusive meus ancestrais, demonstraram muita gratidão pela oportunidade recebida.

-x-

Nos últimos tempos chegam ao Rio Grande do Sul imigrantes oriundos de outros países, particularmente do Haiti e do Senegal, que deixaram, contra a vontade, seus países de origem, e buscam oportunidades de sobrevivência e de construção de uma nova vida.

Exatamente como fizeram os imigrantes europeus quando aqui chegaram.

E qual a reação dos descendentes de açorianos, alemães e italianos?

Muitos, felizmente, acolhem as pessoas que estão chegando, tentando apoiar no que for possível.

Parcela importante, porém, manifesta reações discriminatórias e de ódio. Esses comportamentos podem ser caracterizados como de racismo e xenofobia.

Parece que alguns descendentes de europeus foram acometidos por uma doença, causada aparentemente por um medo descontrolado do desconhecido, que se traduz em ações desequilibradas.

É muito difícil para mim, quase impossível, aceitar e conviver com esse comportamento doentio.

Omar Rösler
Junho de 2015

domingo, 24 de maio de 2015

GAÚCHOS NA PRIMA-DONA





(O divã ou prima-dona é uma espécie de sofá sem encosto, uma peça de mobiliário. Ficou muito famosa por ser o local onde os psicanalistas desenvolvem as suas atividades ouvindo seus pacientes.)


Nósoutros Gaúchos: Crise? Qual crise?
       

O debate proposto pelo projeto “Nósoutros Gaúchos” parte de uma suposta crise regional como objeto de análise. Os gaúchos convivem há décadas com a falácia que o Rio Grande do Sul viveria uma crise específica em sua economia. A falácia remonta ao conjunto de reportagens de Franklin de Oliveira nos anos 60, publicadas no livro Rio Grande do Sul, um novo Nordeste. A ideia é recorrente e se reproduz em documentos, livros, artigos acadêmicos, simpósios, imprensa local e campanhas políticas.

Entre os indicadores da crise, o mais citado é a perda da participação medida a preços correntes do PIB gaúcho no nacional. Se considerado o período 1995-2013, a participação a preços constantes do PIB gaúcho no PIB nacional passou de 7,07% em 1995 para 6,64% em 2013. Em 18 anos, houve uma redução de 0,43 pontos percentuais, mesmo com as secas ocorridas em 2004, 2005 e 2012 e com o salutar aumento da participação de regiões mais pobres do país. Uma medida mais eficaz do desempenho econômico é o PIB per capita, a razão entre o valor produzido e a população. O PIB per capita do Rio Grande do Sul a preços constantes em 2013 foi 15,6% superior ao brasileiro, em 1995 esse valor era de 13,3%.

A economia gaúcha cresce ao ritmo da economia brasileira, adaptando-se, em geral com êxito, às dinâmicas do desenvolvimento nacional. O Estado permanece como a quarta economia do País, com a terceira maior indústria de transformação, com as menores taxas de desemprego e com rendimentos do trabalho relativamente elevados, apesar dos prognósticos pessimistas. Setores tradicionais, com baixa produtividade, têm sido substituídos por aqueles com maior intensidade tecnológica na agricultura, indústria e serviços. Com o menor crescimento populacional do Brasil, o Rio Grande do Sul tem no aumento da produtividade o caminho para o crescimento econômico.

Parte significativa dos indicadores sociais apresenta uma situação e evolução favoráveis, como a taxa de mortalidade infantil ou a expectativa de vida ao nascer, o que também contraria a percepção de decadência regional. Como referência para análise dos indicadores socioeconômicos, indicamos a leitura dos três volumes do RS 2030 – Agenda de Desenvolvimento Territorial, disponíveis nos sites da FEE e da Seplag/RS.

Longe de descrever um "mar de rosas", constatamos que a população está envelhecendo rapidamente, deve diminuir em termos absolutos a partir de 2025 e ficar concentrada no chamado "eixo Porto Alegre-Caxias do Sul expandido". O Estado possui características demográficas de uma sociedade madura, mas ainda distante de atingir uma situação de desenvolvimento elevado em diversos aspectos da vida social e econômica. Entre as situações mais preocupantes podem ser destacadas as carências nas condições de moradia, de tratamento dos riscos ambientais e nos quatro temas tradicionais: educação, segurança, saúde e infraestrutura. Isto sem contar a grave situação fiscal do governo gaúcho.

As dificuldades e potencialidades no que tange à inserção nacional e internacional foram abordadas nos estudos. Há uma discussão sobre como superar as dificuldades para se conectar com o país e o mundo e aproveitar as potencialidades econômicas e culturais existentes nas diferentes regiões do Estado.

No RS 2030 denominamos a percepção da crise regional, que é recorrente e equivocada, como uma "síndrome", que deve interessar aos especialistas do projeto Nósoutros Gaúchos. Por que esta autoimagem depreciativa, quando no contexto nacional o sul do país é frequentemente associado ao adjetivo “maravilha”?

        Adalmir Marquetti
        Alvaro Magalhães