(O divã ou prima-dona é uma espécie de sofá sem encosto, uma peça de mobiliário. Ficou muito famosa por ser o local onde os psicanalistas desenvolvem as suas atividades ouvindo seus pacientes.)
Nósoutros Gaúchos: Crise? Qual crise?
O debate proposto pelo projeto “Nósoutros Gaúchos” parte de uma suposta crise regional como objeto de análise. Os gaúchos convivem há décadas com a falácia que o Rio Grande do Sul viveria uma crise específica em sua economia. A falácia remonta ao conjunto de reportagens de Franklin de Oliveira nos anos 60, publicadas no livro Rio Grande do Sul, um novo Nordeste. A ideia é recorrente e se reproduz em documentos, livros, artigos acadêmicos, simpósios, imprensa local e campanhas políticas.
Entre os indicadores da crise, o mais citado é a perda da participação medida a preços correntes do PIB gaúcho no nacional. Se considerado o período 1995-2013, a participação a preços constantes do PIB gaúcho no PIB nacional passou de 7,07% em 1995 para 6,64% em 2013. Em 18 anos, houve uma redução de 0,43 pontos percentuais, mesmo com as secas ocorridas em 2004, 2005 e 2012 e com o salutar aumento da participação de regiões mais pobres do país. Uma medida mais eficaz do desempenho econômico é o PIB per capita, a razão entre o valor produzido e a população. O PIB per capita do Rio Grande do Sul a preços constantes em 2013 foi 15,6% superior ao brasileiro, em 1995 esse valor era de 13,3%.
A economia gaúcha cresce ao ritmo da economia brasileira, adaptando-se, em geral com êxito, às dinâmicas do desenvolvimento nacional. O Estado permanece como a quarta economia do País, com a terceira maior indústria de transformação, com as menores taxas de desemprego e com rendimentos do trabalho relativamente elevados, apesar dos prognósticos pessimistas. Setores tradicionais, com baixa produtividade, têm sido substituídos por aqueles com maior intensidade tecnológica na agricultura, indústria e serviços. Com o menor crescimento populacional do Brasil, o Rio Grande do Sul tem no aumento da produtividade o caminho para o crescimento econômico.
Parte significativa dos indicadores sociais apresenta uma situação e evolução favoráveis, como a taxa de mortalidade infantil ou a expectativa de vida ao nascer, o que também contraria a percepção de decadência regional. Como referência para análise dos indicadores socioeconômicos, indicamos a leitura dos três volumes do RS 2030 – Agenda de Desenvolvimento Territorial, disponíveis nos sites da FEE e da Seplag/RS.
Longe de descrever um "mar de rosas", constatamos que a população está envelhecendo rapidamente, deve diminuir em termos absolutos a partir de 2025 e ficar concentrada no chamado "eixo Porto Alegre-Caxias do Sul expandido". O Estado possui características demográficas de uma sociedade madura, mas ainda distante de atingir uma situação de desenvolvimento elevado em diversos aspectos da vida social e econômica. Entre as situações mais preocupantes podem ser destacadas as carências nas condições de moradia, de tratamento dos riscos ambientais e nos quatro temas tradicionais: educação, segurança, saúde e infraestrutura. Isto sem contar a grave situação fiscal do governo gaúcho.
As dificuldades e potencialidades no que tange à inserção nacional e internacional foram abordadas nos estudos. Há uma discussão sobre como superar as dificuldades para se conectar com o país e o mundo e aproveitar as potencialidades econômicas e culturais existentes nas diferentes regiões do Estado.
No RS 2030 denominamos a percepção da crise regional, que é recorrente e equivocada, como uma "síndrome", que deve interessar aos especialistas do projeto Nósoutros Gaúchos. Por que esta autoimagem depreciativa, quando no contexto nacional o sul do país é frequentemente associado ao adjetivo “maravilha”?
Adalmir Marquetti
Alvaro Magalhães
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