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terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

A longa história das relações entre a Rússia e a Ucrânia

 


Por Antonio João Dias Prestes


1) O início da nação russa, incluindo a sua conversão ao cristianismo ortodoxo, se deu no principado de Kiev, sob a dinastia de origem escandinava (varegos) dos Ruríkidas, no século X d.C.


2) No início do século XIII toda a área deste primeiro estado russo e ucraniano foi conquistado pelo Império Mongol, e a maior parte destes povos/territórios/principados permaneceu sob a suserania dos mongóis (tártaros), de credo muçulmano, até finais do século XV.


3) A partir de meados do século XIII, o núcleo de um futuro Estado russo começou a se desenvolver, sob o comando de príncipes ruríquidas, em torno da cidade de Moscou, consolidando sua força ao enfrentar os suecos, os cavaleiros teutônicos (alemães), os bálticos e os próprios tártaros, expandindo-se rumo ao norte, oeste e sudeste, culminando, já no século XVI, com a proclamação do Império (com a adoção do título de czar), a “Terceira Roma”.


4) Enquanto isso, a maior parte do atual território da Ucrânia passou ao poder do Estado/Reino/Comunidade Polaco-Lituana, que teve o seu auge durante o século XVII, quando chegaram, inclusive, a ocupar Moscou por alguns anos, durante a crise sucessória da Rússia.


5) Ao longo dos séculos XVII, XVIII e XIX, já sob a nova casa imperial dos Romanov, o Império Russo teve uma expansão política e territorial extraordinária, chegando à costa do Pacífico, e reconquistando áreas que pertenceram ao Estado Polaco-Lituano e ao Império Turco Otomano, entre estes a maior parte da atual Ucrânia, incluindo a Península da Criméia.


6) Com a Revolução Russa, e, logo em seguida, Soviética (Comunista/Bolchevique), de 1917, o Estado Russo se viu forçado a fazer um armistício com o Império Alemão, cedendo a este e à recém recriada Polônia vastos territórios, entre os quais o da Ucrânia, no qual veio a se criar um Estado-satélite das Potências Centrais (Alemanha e Áustria-Hungria).


7) Com a derrota alemã ao fim da I Guerra Mundial, e com a vitória da Rússia Soviética na Guerra Civil contra os “russos brancos” (anticomunistas de várias tendências), apoiados pelas potências do Ocidente, foi constituída a União Soviética, em 1921, sendo a Ucrânia integrada como uma de suas 15 repúblicas comunistas soviéticas.


8) Com a ascensão de Joseph Stalin, o fim da gradualista NEP (Nova Política Econômica), instituída por Vladimir Lenin, para uma transição rumo ao comunismo, ocorreram as grandes coletivizações forçadas, com o extermínio dos camponeses prósperos e a grande fome decorrente, que afetou, com milhões de mortes, em especial a região da Ucrânia, no que ficou conhecido como o “Holodomor”.


9) A invasão da União Soviética pela Alemanha nazista, na II Guerra Mundial, em 1941, teve um apoio inicial por uma parcela dos ucranianos, o qual, salvo exceções muito pontuais, foi logo abandonado, devido à selvageria generalizada praticada pelos nazistas contra todos os eslavos e judeus, e a grande parte dos ucranianos se juntou aos russos e demais povos da URSS, na chamada Grande Guerra Patriótica, que culminou com a ocupação de Berlim e de quase todo o Leste Europeu pelos soviéticos, em 1945.


10) Com a morte de Stalin e a ascensão de Nikita Krushev, a Criméia foi cedida por Moscou à RSS da Ucrânia, embora sendo, assim como boa parte do leste ucraniano, habitada por russos étnicos.


11) A dissolução da União Soviética, ao final de 1991, foi precipitada pela declaração de independência da RSS da Ucrânia, embora a própria Federação Russa, liderada pelo (supunha-se) esquerdista Boris Yeltsin, também tenha optado por se desligar da URSS.


12) Com o fim da URSS, houve um acordo entre a Rússia, a Ucrânia e o Cazaquistão, as três únicas repúblicas soviéticas que detinham em seus territórios armas nucleares, para que as duas últimas cedessem seus arsenais nucleares à Rússia.


13) Ao contrário do que havia sido acordado, em 1990, nas negociações para a reunificação da Alemanha, a OTAN, sob a liderança dos Estados Unidos, incorporou ao seu pacto militar todos os Estados do antigo Pacto de Varsóvia, incluindo os três países bálticos, que fizeram parte do Império Russo, e, entre 1940 e 1991, da própria URSS, mas não a Finlândia, que permaneceu um Estado neutro.


14) Durante a última década, a Ucrânia passou a ser governada por lideranças pró-Ocidente, que incluíram na sua Constituição a promessa de incorporação do país à União Europeia e à OTAN. A Rússia, por sua vez, reanexou a Crimeia e estimulou os movimentos separatistas russos no leste da Ucrânia.


Salvador, BA, 21/02/2022.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

A SAGA DO MILITAR QUE DESERTOU

Uppsala

Militar que desertou conta como passou 28 anos escondido


No auge da Guerra Fria, o americano David Hemler desertou o posto que ocupava em uma base aérea na Alemanha. Ele passou 28 anos na lista dos mais procurados da Força Aérea dos Estados Unidos.

Quase três décadas mais tarde, sem poder tolerar as saudades da família, Hemler, hoje cidadão sueco, revelou ao mundo sua verdadeira identidade e entrou em contato os irmãos e pais nos Estados Unidos.

Em agosto último, ele foi visitado, na Suécia, pelos pais e irmão, mas corre o risco de ficar até 30 anos na cadeia se puser os pés nos Estados Unidos.

Guerra Fria

Em 1984, o governo do então presidente americano Ronald Reagan instalou mísseis Pershing II na Alemanha Ocidental. David Hemler, na época com 21 anos de idade, trabalhava como especialista em línguas na base americana de Augsburg, na Bavária, Alemanha.

No entanto, Hemler não estava feliz. Ele procurou seu supervisor e pediu para ser dispensado, declarando que havia se tornado um pacifista.

- Eu não achava que ser um pacifista queria dizer que eu estava sofrendo de uma doença mental. Mas eu andava mal – contou.

- À noite, ficava acordado pensando e não conseguia dormir. Também tinha dificuldade para comer, havia até desmaiado algumas vezes.

A Força Aérea não dispensou Hemler. Em vez disso, ele perdeu seu posto secreto e foi ordenado a trabalhar na limpeza da base.

Após um ano limpando o chão, Hemler percebeu que a Força Aérea não o dispensaria facilmente. Estava muito difícil. Eu tinha completado três anos (de serviço) e tinha mais três para cumprir.

Então, Hemler começou a considerar a possibilidade de “se ausentar sem permissão”. No jargão militar, isso significa deixar seu dever sem permissão oficial, porém sem a intenção de desertar.

- Eu estava me sentindo tão mal, precisava sair dali. Seria como um pedido de ajuda, para que as pessoas entendessem que eu não estava me sentindo lá muito bem.

Suécia

Mas as coisas acabaram acontecendo de maneira diferente. Hemler decidiu ir para a Suécia. Ele já havia estado lá antes e acreditava que o país tinha acolhido soldados americanos que haviam desertado durante a Guerra do Vietnâ.

Ao chegar, adotou o nome de Hans Schwarz e disse que era filho de viajantes que tinham vivido em 35 países diferentes.

A polícia sueca ficou desconfiada e queria deportá-lo. Sabiam, por seu sotaque, que Hemler vinha do leste dos Estados Unidos. “Mas ninguém sabia para onde me mandar”, ele contou. “Eu disse que tinha nascido na Suíça”.

Em vez de mantê-lo na prisão, sem provas suficientes sobre a origem de Hemler, as autoridades suecas optaram por libertá-lo. Um ano e meio mais tarde, ele obteve permissão para viver permanentemente na Suécia.

Ainda assim, Hemler vivia com medo. Sabia que seu direito de residir no país se baseava em uma identidade falsa e que os Estados Unidos procuravam por ele. “Toda vez que ouvia um carro de polícia à distância, achava que estava vindo me pegar”.

A Força Aérea dos Estados Unidos colocou o nome de Hemler na lista dos seus dez mais procurados fugitivos, segundo ele, ao lado de assassinos e estupradores.

Sua foto era atualizada regularmente no site da Força Aérea e só foi retirada há algumas semanas. Para evitar ser capturado, Hemler aprendeu sueco e disfarçou sua aparência. Deixou o cabelo crescer até os ombros e parou de fazer a barba.

Ele teve vários empregos, entre eles, o de enfermeiro, trabalhando em um lar para idosos.

Depois, foi para a Universidade, onde estudou estatística. Hoje, Hemler trabalha para um órgão do governo britânico na cidade de Uppsala.

Identidade Secreta

Em 28 anos, Hemler não revelou sua identidade a ninguém, nem à sua primeira namorada na Suécia, com quem teve uma filha, nem à mulher com quem se casou e com quem teve mais dois filhos.

Hemler tampouco podia correr o risco de entrar em contato seus pais. “Eu tinha medo de que, se tentasse contato com meus pais, seria deportado e nunca mais veria minha filha”.

Ele teve de fazer a difícil escolha entre manter o contato com a filha ou com seus pais. E escolheu a filha. Mas quando a filha mais velha cresceu, Hemler não conseguiu mais suportar a separação entre ele e os pais. “Eu já tinha esperado tempo demais e eles haviam esperado muito tempo por mim”.

Quando tentou telefonar para os pais, não conseguiu encontrá-los. Então, no dia 16 de maio de 2012, telefonou para uma tia. Seu sotaque sueco despertou suspeitas. No final, Hemler teve de falar com o irmão para provar sua identidade.

O irmão fez perguntas sobre a infância de Hemler no leste da Pennsylvania. “Ele perguntou o nome da nossa tartaruga”. Hemler acertou a resposta. “Meu irmão ficou muito feliz, claro”, contou Hemler. “Ele ficou excitado e começou a contar todas as notícias da família nos últimos 30 anos. Foi maravilhoso falar com ele”.

Depois, veio a primeira conversa com os pais. “Esperava que todos estivessem com raiva de mim e merecia ser repreendido, mas todos estavam tão felizes por eu estar de volta, sequer pediram uma explicação. Estavam felizes só em saber que eu estava vivo e bem.”

Restava agora contar a verdade à esposa. “No início, ela não sabia no que acreditar. Então mostrei a minha foto em um dos sites de investigações dos dez mais procurados da Força Aérea.”

Hemler disse que a esposa, de ascendência sueca e tailandesa, não se sente traída e entende a razão pela qual ele teve de fingir ser Hans Schwarz.

Ela espera que ele possa, em breve, viajar para a Tailândia para encontrar a família dela lá.

Quase três décadas mais tarde, Hemler finalmente encontrou os pais, irmão, cunhada e sobrinhos, que viajaram para a Suécia para uma visita de duas semanas em agosto.

Hoje cidadão sueco, ouviu de seus advogados que há poucas chances de ele ser extraditado. Mas não pode visitar sua terra natal. Ele confessou que apesar de ter se casado e ter tido filhos na Suécia, lamenta ter desertado.

- Foi um processo gradual. Acabei me colocando em uma situação da qual não consegui mais sair. E disse à BBC Brasil que gostaria de iniciar um diálogo com a Força Aérea americana.

- Estou esperando para ver se a Força Aérea vai entrar em contato com o Ministério da Justiça (da Suécia) para que nos encontremos e (para que a FA) faça seu interrogatório em solo sueco.

Hemler disse que não ousaria ir à base da FA americana na Alemanha porque um porta-voz da FA disse à imprensa sueca que ele poderia ser sentenciado a 30 anos de prisão.

- Eu não entendo a razão pela qual fui incluído na lista dos oito mais procurados fugitivos e tenho muito medo de que esteja sob suspeita de ter feito algo que não fiz.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

EUA protegeram criminosos nazistas

Relatório revela detalhes de como serviço de inteligência dos EUA protegeu criminosos nazistas após a Segunda Guerra. Diante da Guerra Fria, EUA passaram a estar menos interessados em punir tais criminosos já em 1946.
 

Documentos da CIA e das Forças Armadas norte-americanas confirmam que, após a Segunda Guerra Mundial, autoridades aliadas protegeram antigos nazistas e criminosos de guerras, caso provassem que poderiam ser úteis e cooperativos.

"Sem dúvidas, o advento da Guerra Fria outorgou à inteligência norte-americana novas funções, novas prioridades, e novos inimigos. Prestar contas com alemães ou com seus colaboradores se tornou menos urgente. Em alguns casos, isso se tornou até contraproducente", afirma o relatório divulgado na última sexta-feira (10/12) pelo Arquivo Nacional dos Estados Unidos.

"Apesar das variações, esses casos específicos apresentam um padrão: a questão de capturar e punir criminosos de guerra se tornou menos importante ao longo do tempo."

O relatório denominado Hitler's Shadow: Nazi War Criminals, US Intelligence and the Cold War (A sombra de Hitler: criminosos de guerra nazistas, inteligência dos EUA e a Guerra Fria), se baseia em informação considerada confidencial até 2005 e veio a público graças ao Ato de Divulgação de Crimes de Guerra Nazistas, um esforço de Washington com vista a uma posição mais crítica sobre seus próprios segredos.

O documento lança um olhar sobre uma série de antigos membros da SS e da Gestapo que escaparam da Justiça, com a tolerância dos Estados Unidos ou mesmo sua ajuda na fuga.

Guarda de Auschwitz protegido da extradição

Rudolf Mildner, por exemplo, foi preso inicialmente em uma operação à procura de criminosos de guerra que pudessem levar a um movimento clandestino de resistência nazista.

As autoridades norte-americanas sabiam que Mildner havia pertencido à Gestapo durante muito tempo, mas nunca o pressionaram para saber mais detalhes sobre crimes da Gestapo contra judeus ou outros grupos.

Capturado e interrogado em Viena, as autoridades norte-americanas o consideraram "muito confiável e cooperativo".

No entanto, um olhar mais detalhado sobre seu passado revelou que ele ordenara a execução de 500 a 600 poloneses no campo de extermínio de Auschwitz. Confrontado com as acusações, Mildner confessou e o relatório menciona que ele tentou racionalizar suas ações, defendendo que eram para "preservar a ordem e evitar sabotagem".

Posteriormente, países como a Polônia e o Reino Unido pediram a extradição de Mildner. Mas, de acordo com o relatório, "localizar e punir criminosos de guerra não estavam no topo das prioridades das Forças Armadas norte-americanas no final de 1946".

Acredita-se que autoridades dos EUA o protegeram da extradição e facilitaram até mesmo sua posterior fuga para a América do Sul, que se tornou um refúgio para muitos criminosos de guerra nazistas fugindo da Justiça.

Planos de Hitler para Palestina pós-guerra

O material recentemente liberado também lança luz sobre os planos da Alemanha nazista no Oriente Médio, onde as lideranças do regime de Hitler estabeleceram estreitos laços com o Grande Mufti de Jerusalém, Amin Al-Husseini.

Husseini recebeu substancial apoio financeiro e logístico da Alemanha nazista, que pretendia usá-lo para o controle da Palestina, uma vez que a Alemanha tivesse derrotado o Reino Unido no Oriente Médio. Na época, Husseini e Berlim se uniram principalmente por verem nos judeus um inimigo comum.

Os arquivos da CIA e das Forças Armadas norte-americanas agora liberados definem que os Aliados sabiam o suficiente sobre o passado de Husseini para considerá-lo um criminoso de guerra. Temendo a perseguição, ele fugiu para a Suíça, onde as autoridades locais o entregaram à França.

Por temer agitação política na Palestina, o governo britânico foi contra levar Husseini a julgamento. Ele foi então morar na Síria e no Líbano, sempre refutando acusações de ter tido laços com a Alemanha nazista. Ele alegou que visitou Berlim somente para evitar a prisão pelos britânicos.

Ex-nazistas em serviços de espionagem ocidentais

No começo deste ano, a Alemanha liberou documentos da Stasi que mostravam em detalhes como o serviço de inteligência da antiga Alemanha Ocidental empregava antigos nazistas e criminosos de guerra em sua base de pessoal. O serviço de inteligência da antiga Alemanha Ocidental foi formado com a ajuda dos aliados.

Como o bloco soviético se tornou o inimigo comum após 1945, diversos historiadores afirmaram que autoridades aliadas aceitaram amplamente que ex-nazistas escapassem da Justiça, caso suas habilidades se provassem úteis para as novas frentes da Guerra Fria.

Autor: Andreas Illmer (ca)
Revisão: Roselaine Wandscheer

DEUTSCHE WELLE

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Após 20 anos, influência russa volta à América Latina


Carlos Chirinos
Da BBC Mundo em Caracas

Desde o fim da Guerra Fria, a relação entre a Rússia e a América Latina já não é mais como no passado. Mas agora, 20 anos depois, a influência russa na região volta a aparecer.

O fim da União Soviética reduziu muito o espaço conquistado por Moscou nos anos 50 e 60, com o triunfo da Revolução Cubana.

Novembro de 2008 poderia ser chamado de mês da Rússia em boa parte da América Latina.

Comissões russas de alto escalão visitarão Venezuela, Bolívia, Equador, Cuba, Nicarágua e Argentina. O mês termina com a chegada do presidente Dmitri Medvedev à região.

Exercício naval

A visita presidencial também coincide com o momento em que a Rússia e a Venezuela começam a fazer manobras militares conjuntas no Mar do Caribe.

A estratégia da diplomacia russa na América Latina tem como objetivo relançar as "tradicionais relações" com Cuba e com a Nicarágua "sandinista" e aproveitar os novos governos de esquerda, como os de Bolívia e Paraguai.

Esse suposto viés "esquerdista" da renovada presença russa na América Latina é visto por alguns como uma potencial reedição das tensões da Guerra Fria, sobretudo para os que equiparam a Venezuela de Hugo Chávez à Cuba de Fidel Castro.

A Venezuela transformou-se no principal inimigo – até agora apenas na retórica – da política americana na região e também se tornou o principal sócio militar dos russos no continente, com compras de US$ 3 bilhões.

Mas também tornou-se um sócio importante no campo de energia, com grande volume de negócios entre a Petróleos de Venezuela (PDVSA) e as russas Lukoil e Gazprom.

Vocação

"A Rússia está seguindo com sua vocação geoestratégica e quando observam uma possibilidade de se afirmar no mundo, eles a usam", disse à BBC o ex-chanceler eslovaco Eduard Kukan.

Por sua experiência na Eslováquia, país que passou anos sob a influência da União Soviética, Kukan desconfia do aspecto militar da aliança venezuelana com a Rússia.

"Estamos vivendo tempos diferentes. É muito difícil sequer sonhar em construir um império ao estilo soviético", afirma. "Para os russos, é muito difícil admitir que não são mais a superpotência dos tempos da União Soviética. Acredito que os líderes russos querem retomar esse posto que tinham no mundo."

Para o vice-chanceler russo Sergey Riabkov, que esteve em Caracas no fim de semana, a aliança com a Venezuela é uma relação de negócios "muito importante, mas também muito pragmática".

"Não há condicionamentos geopolíticos de nenhum tipo", disse Riabkov à BBC, ao comentar os exercícios navais conjuntos. "Não devemos ver isso com o prisma distorcido dos tempos da Guerra Fria, porque não é esse o caso."

Espaço

A Rússia estendeu a Cuba nesta semana uma linha de crédito de US$ 20 milhões, em um gesto amistoso diante da enorme dívida que o país tem com os russos (alguns calculam que a dívida ultrapassa US$ 20 bilhões).

Para Daniel Erikson, do centro de estudos Diálogo Interamericano, em Washington, "o negócio é parte da relação mais importante para a Rússia" na região.

Erikson avalia que os laços com Moscou "fazem parte da globalização da América Latina, que é muito boa para a região".

Mas o pesquisador ressalta que a presença da frota naval russa no Caribe é uma mensagem direta de Moscou para Washington de que, caso o vazio entre o norte e o sul continue aumentando, haverá outros dispostos a ocupar esse espaço econômico e político.

domingo, 26 de outubro de 2008

Fríos


Por Juan Gelman, para Página/12

Los fríos invernales se acercan a Moscú, mientras otros recorren la relación Rusia/Estados Unidos. Wa-shington no se conforma con instalar parte de su escudo antimisiles en la República Checa y Polonia: ahora promete defender a las ex soviéticas Estonia, Lituania y Letonia contra cualquier intervención militar rusa. En su reciente visita a Vilna, la capital lituana, el almirante Michael Mullen, jefe del Estado Mayor Conjunto de las fuerzas armadas estadounidenses, anunció que la OTAN no permanecería pasiva en ese caso y protegería a los estados bálticos, socios novísimos del organismo europeo. Georgia fue la que inició el conflicto con Rusia bombardeando Tsjinvali, provocando la muerte de unos 1500 civiles y dejando sin agua ni alimentos, electricidad y gas a la capital de Osetia del Sur (AP, 9-8-08). Pero el almirante declaró que “la invasión rusa a Georgia es un fuerte recordatorio de las responsabilidades” de la OTAN en la región (AFP, 21-10-08).

Hay más. El teniente general lituano Valdas Tutkus, jefe de Defensa, pidió que aumenten las maniobras militares conjuntas con la OTAN y Mullen declaró que el Pentágono está reestructurando el plan previsto en la materia. Dijo sí, entonces, acentuando las tensiones con Moscú. La crisis económica de alcance mundial que desató Wall Street tapa situaciones graves que castigan al planeta, como el desastre alimentario, que se agudizó, y la posibilidad de que 20 millones de personas más se conviertan en desocupados a lo largo de 2009, según estimaciones de la Organización Internacional del Trabajo. También desvía la atención de este agravamiento de la Guerra Fría II, que está presente ya aunque las dos partes lo nieguen. Sus consecuencias son imprevisibles.

La relación Casa Blanca-Kremlin comenzó a deteriorarse a mediados de la década pasada, cuando la OTAN decidió expandirse e incluir a los países del “socialismo real” que formaban parte del Pacto de Varsovia, con la entonces URSS a la cabeza. Bush hijo rompió así la promesa que Bush padre y su secretario de Estado Jack Matlock le hicieron a Mijail Gorbachov: si el Este permitía la reunificación de Alemania sin impedir su pertenencia a la OTAN, la alianza occidental no absorbería a los vecinos de Moscú. “Ni siquiera una pulgada”, afirmó Matlock en la entrevista (www.truthdig.com, 21-10-08). Ocurre todo lo contrario y la Casa Blanca insiste en ampliar el cerco a Rusia ahora en el Cáucaso.

En medio de la crisis económica más dura que azota a EE.UU. y a Europa occidental desde el siglo pasado, Wa-shington enviará mil millones de dólares a Tiflis, los países europeos, esa suma y algo más, y la Comisión Europea agregará 642,8 millones adicionales, todo para “la reconstrucción de Georgia” (The New York Times, 22-10-08). A lo paradójico del hecho se suma lo curioso (o no): fue Georgia la que destruyó el centro de Tsjinvali. Si algo necesita ser reconstruido es la capital de Osetia del Sur. En realidad, es una señal dirigida a Tiflis y a Moscú de que EE.UU. y Europa occidental están dispuestas a intervenir militarmente para garantizar su influencia en el Cáucaso. Y es algo más.

Hay que tranquilizar también a los inversionistas que han volcado ya miles de millones de dólares en la construcción del oleoducto Ceyhan-Tiflis-Bakú (CTB), que elude el territorio ruso y está destinado a minimizar la dependencia energética que ata a Europa occidental a Rusia. Su construcción se inauguró oficialmente el 25 de mayo de 2005 y el presidente georgiano Mijail Saakashvili celebró la “victoria geopolítica” que el ducto entraña para los países de la cuenca del Mar Caspio (The Guardian, 26-5-05). No mencionó la que significa para los megagigantes del petróleo recortados en Rusia por el gobierno de Putin. Para estos oligopolios hay en juego un paquete sideral de beneficios y su empeño no debe fracasar, aunque cueste más guerras. Parafraseando al general prusiano Carl von Clausewitz, autor de la famosa frase “la guerra es la continuación de la política por otros medios”, se podría decir que para el Occidente desarrollado, la guerra es la continuación de su hambre energética por otros medios.

El vicepresidente Dick Cheney declaró que EE.UU. desea entenderse con Azerbaiján para construir otros ductos a fin de exportar a Occidente más energía de la región (news.bbc.co.uk, 3-9-08). Imposible asombrarse: Dick y figuras notorias del Partido Republicano –James Baker, Bent Scowcroft, John Sununu, otros– son inversionistas petroleros importantes y no encuentran razón para cesar de llenarse los bolsillos aun en medio de la crisis. El gobierno estadounidense socializa los costos y privatiza los beneficios. Es una regla de oro del capitalismo salvaje. También del otro.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Europa y EEUU temen a Rusia.


En Europa y EEUU ha resurgido el temor ante Rusia, escribe el diario ruso Vedomosti en su editorial de hoy. Las encuestas reflejan que estos recelos se han disparado a raíz de la guerra ruso-georgiana. El pulso entre Rusia y Occidente reanima en la sociedad las ideas del período de la Guerra Fría. Tal antagonismo genera preocupación y miedo en países occidentales y cierto sentimiento de satisfacción en Rusia: para la mayoría de los rusos, la Guerra Fría nunca ha terminado y su país no hace sino recuperar ahora las posiciones perdidas.

Previamente al conflicto suroseta de agosto pasado, apenas el 4% de los entrevistados en Alemania, España, Francia, Gran Bretaña e Italia indicaban a Rusia como mayor amenaza a la estabilidad global, según se desprende de una encuesta realizada por Harris Interactive por encargo del diario Financial Times. Este mes, Rusia ocupa el tercer renglón en la lista de amenazas globales (17%), por delante de Irán (14%) y detrás de EEUU (26%) y China (21%).

Una medición similar realizada en EEUU demuestra que las menciones de Rusia como amenaza número uno pasaron del 2% en agosto pasado al 13% en el presente mes.

Sin embargo, los europeos se muestran mayoritariamente renuentes al posible incremento de los gastos militares. Tampoco les entusiasma la perspectiva de enviar tropas de la OTAN para defender a los países del Báltico, en el supuesto de que sufrieran una agresión por parte de Rusia. Los estadounidenses son más proclives a aceptar ambas posibilidades.

La actitud de los rusos con respecto a Occidente - en primer término, hacia EEUU y la OTAN - también ha empeorado, según las encuestas realizadas por el Centro VTsIOM. Dos tercios de los entrevistados en este septiembre, frente al 29% en junio pasado, ven con malos ojos a EEUU. La OTAN cae mal al 63% de los rusos.

Este resultado refleja la visión del papel que EEUU ha desempeñado en el conflicto en el Cáucaso: la opinión generalizada en Rusia es que precisamente Washington ha instigado a Georgia a romper las hostilidades.

Paralelamente, las encuestas en Rusia demuestran el creciente nivel de apoyo al Gobierno y un mayor grado de confianza en el poderío del Ejército nacional.

El 56% de los rusos, de acuerdo con un reciente sondeo de la fundación FOM, mantiene la convicción de que la Guerra Fría sigue en marcha. Y entre la gente familiarizada con este término se observa una distribución asombrosamente uniforme de las respuestas acerca de las fechas en que aquélla se inició: desde las referencias a la Primera Guerra Mundial hasta las menciones de la investidura presidencial de Vladímir Putin,

Por Guerra Fría, los rusos entienden básicamente la tensión global y el continuo pulso con EEUU. En su mayoría, creen que es perjudicial para la economía pero ineludible.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Ex-chanceler Schröder acusa Ocidente de "graves erros" na relação com a Rússia


O ex-chanceler federal alemão Gerhard Schröder disse nesta segunda-feira (01/09) que os países ocidentais cometeram graves erros na sua relação com a Rússia. Ele citou como exemplos os acordos para a instalação de sistemas antimíssil americanos na Polônia e na República Tcheca e o reconhecimento do Kosovo.

Com os ataques da Geórgia à Ossétia do Sul, há três semanas, "mais uma linha vermelha" foi ultrapassada, afirmou Schröder. "Para a Rússia, essa política deve soar como um isolamento", avaliou.

Para ele, somente o diálogo com a Rússia poderá trazer paz e estabilidade para a Europa. A União Européia teria um papel central para que europeus e russos possam sair do que Schröder chamou de "espiral de confrontação".

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Sombras de la guerra fría


El último gran enfrentamiento entre Rusia y Estados Unidos, a raíz de la invasión de Georgia, ha aumentado la tensión entre ambas potencias en un terreno complejo y delicado: el de la seguridad nuclear. En una decisión que desata en Washington ecos de la guerra fría, la Casa Blanca ha anunciado este pasado jueves que está considerando abandonar un pacto nuclear civil que firmó el pasado 6 de mayo con Moscú. “Estamos en un proceso de reevaluar nuestra relación con Rusia”, dijo la portavoz, Dana Perino.

El acuerdo fue presentado por Washington la pasada primavera como un gran logro en la cooperación nuclear entre ambos países. En virtud de este pacto, se les ofrecía a las empresas norteamericanas la posibilidad de participar en programas de energía civil en Rusia. Además, se contemplaba la posibilidad de que Rusia importara, almacenara y procesara material radiactivo vendido por Estados Unidos para su uso en reactores de todo el mundo. A efectos prácticos, el pacto, elaborado a lo largo de dos años de costosas negociaciones, le ofrecía a Moscú la posibilidad de participar en nuevos y lucrativos negocios mientras minimizaba la posibilidad de que su Gobierno desviara la energía nuclear civil para usos militares.

El presidente estadounidense, George W. Bush, se tuvo que enfrentar a las críticas de los demócratas en el Congreso, ya que algunos senadores consideraron que se estaba recompensando a Moscú mientras el Kremlin actuaba con pasividad ante el desarrollo de tecnología nuclear por parte de Irán. “Moscú se empeña en ayudar a Irán en sus programas nucleares y su construcción de misiles”, escribió el representante Edward J. Markey en una carta dirigida a Bush el pasado 1 de mayo. “Es un error recompensarle”.

Finalmente, el 6 de mayo, el hasta hace poco embajador de Estados Unidos en Moscú William J. Burns firmó el pacto con Serguéi Kiriyenko, director de la compañía nuclear pública de Rusia, Rosatom. “Una vez fuimos rivales nucleares. Ahora, somos aliados nucleares”, dijo Burns. Kiriyenko vio en el acuerdo una forma de “sepultar el legado de la guerra fría”. Ahora, puede que ese legado no se acabe de enterrar del todo.

En el estallido de la invasión de Georgia renacieron viejas heridas que todavía no han cicatrizado en Washington y Moscú. Recientemente, el primer ministro Ruso, Vladímir Putin, acusó a Estados Unidos de instigar el conflicto en Georgia. “La sospecha es que alguien en Estados Unidos diseñó especialmente este conflicto con el objetivo de hacer la situación más tensa y crear una ventaja competitiva para uno de los candidatos que lucha por el puesto de presidente del país”, dijo en una entrevista a CNN.

La Casa Blanca negó las acusaciones airadamente. “Sugerir que Estados Unidos orquestó todo esto en beneficio de un candidato político suena… irracional”, dijo la portavoz Dana Perino. Washington lleva años intentando que la propia Georgia, junto con Ucrania, ingrese en la OTAN, la organización militar creada en 1949 para proteger a los aliados europeos de un posible ataque soviético. Moscú se ha opuesto frontalmente a que dos ex repúblicas soviéticas fronterizas con su territorio nacional ingresen en esta organización.

El asunto ha llegado a salpicar a Turquía, miembro de la OTAN desde 1952. Desde el pasado fin de semana, el Gobierno turco ha permitido que dos barcos norteamericanos atraviesen el estrecho del Bósforo para acceder al mar Negro y abastecer a Georgia de bienes de primera necesidad.

Rusia es un gran cliente comercial de Turquía, y, a la vez, su mayor proveedor de gas y carbón. Se calcula que el comercio entre ambos países genera unos 25.000 millones de euros anuales. En un dilema digno de los años de la guerra fría, Ankara se debate entre su lealtad a la Alianza Atlántica y sus intereses comerciales. Por ahora, hay unos 10.000 camiones turcos retenidos en las fronteras rusas. Mientras Moscú explica que son inspecciones rutinarias a las que obliga una nueva ley, Ankara sospecha que en realidad se le está lanzando un aviso contra el apoyo a Washington.

Otros países del antiguo Pacto de Varsovia han aprovechado la escalada de tensiones para alinearse con Estados Unidos. Es el caso de Polonia, que el 20 de agosto firmó con Washington el acuerdo definitivo para el desarrollo de un escudo antimisiles en su territorio. “Este pacto nos ayudará a enfrentarnos a las nuevas amenazas del siglo XXI”, dijo entonces la secretaria de Estado, Condoleezza Rice. “El escudo no está diseñado en contra de Rusia”, añadió. El 8 de julio, Rice había firmado un acuerdo similar con la República Checa.

Moscú respondió con hechos el pasado jueves. El Ejército ruso lanzó desde la localidad de Plesetsk un misil de largo alcance Topol, que podría sortear el sistema de defensa antimisiles. Su alcance es de 10.000 kilómetros. “La prueba estuvo especialmente diseñada para comprobar la capacidad del misil de evitar la detección desde tierra”, dijo el coronel ruso Alexandr Vovk, en un claro desafío a la estrategia estadounidense.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

A nova geopolítica da energia


Michael T. Klare - The Nation

Os estrategistas militares norte-americanos estão se preparando para as futuras guerras que certamente serão empreendidas, não por questões de ideologia ou política, mas em luta por recursos crescentemente escassos.

Enquanto a atenção diária do exército norte-americano está concentrada no Iraque e Afeganistão, os estrategistas norte-americanos olham para além destes dois conflitos com o objetivo de prever o meio em que irá ocorrer o combate global em tempos vindouros. E o mundo que eles enxergam é um no qual a luta pelos recursos vitais — mais do que a ideologia ou a política de equilíbrio de poder — domina o campo da guerra. Acreditando que os EUA devem reconfigurar suas doutrinas e forças para prevalecer em semelhante entorno, os oficiais mais veteranos deram os passos necessários para melhorar seu planejamento estratégico e capacidade de combate. Apesar de que muito pouco disto tudo chegou ao domínio público, há um bom número de indicadores-chave.

A partir de 2006, o Departamento de Defesa, em seu relatório anual “Capacidade Militar da República Popular da China”, coloca no mesmo nível a competição pelos recursos e o conflito em torno de Taiwan como a faísca que poderia desencadear uma guerra com a China. A preparação de um conflito com Taiwan permanece como “uma razão importante” na modernização militar chinesa, segundo indica a edição de 2008, mas “uma análise das aquisições recentes do exército chinês e do seu pensamento estratégico atual sugere que Pequim também está desenvolvendo outras capacidades do seu exército, para outro tipo de contingências, como, por exemplo, o controle sobre os recursos.” O relatório considera, inclusive, que os chineses estão planejando melhorar sua capacidade para “projetar seu poder” nas zonas que em obtêm matérias-primas, especialmente combustíveis fósseis, e que esses esforços podem supor uma significativa ameaça para os interesses da segurança norte-americana.

O Pentágono também está solicitando, neste ano, fundos para o estabelecimento do Africa Command (Africom), o primeiro centro de mando unificado transatlântico desde que, em 1983, o presidente Reagan criou o Central Command (Centcom) para proteger o petróleo do Golfo Pérsico. A nova organização vai concentrar seus esforços, supostamente, na ajuda humanitária e na “guerra contra o terrorismo”. Mas em uma apresentação na Universidade Nacional de Defesa, o segundo comandante do Africom, o Vice-Almirante Robert Moeller, declarou que “a África tem uma importância geoestratégica cada vez maior” para os EUA — o petróleo é um fator-chave — e que entre os desafios fundamentais para os interesses estratégicos norte-americanos na região está a “crescente influência na África” por parte da China.

A Rússia também é contemplada através da lente da competição mundial pelos recursos. Apesar de que a Rússia, diferentemente dos EUA e da China, não precisa importar petróleo nem gás natural para satisfazer suas necessidades nacionais, esse país quer dominar o transporte de energia, especialmente para a Europa, o que tem causado alarme nos oficiais veteranos da Casa Branca, que receiam uma restauração do status da Rússia como superpotência e temem que o maior controle desse país sobre a distribuição de petróleo e gás na Europa e na Ásia possa enfraquecer a influência norte-americana na região.

Em resposta à ofensiva energética russa, a administração Bush está empreendendo contramedidas. “Tenho a intenção de nomear... um coordenador especial de energia, que dedicará especialmente todo o seu tempo à região da Ásia Central e do mar Cáspio”, informou, em fevereiro, a Secretária de Estado Condoleezza Rice ao Comitê de Assuntos Exteriores do Senado. “É uma parte verdadeiramente importante da diplomacia.” Um dos principais trabalhos deste coordenador, segundo declarou Rice, será o de promover a construção de oleodutos e gasodutos que cincunvalem a Rússia, com o objetivo de diminuir o controle desse país sobre o fluxo energético regional.

Tomados em conjunto estes e outros movimentos semelhantes sugerem que houve um deslocamento da política: em um momento em que as reservas mundiais de petróleo, gás natural, urânio e minérios industriais chave —como o cobre e o cobalto— começam a diminuir e a demanda por esses mesmos recursos está disparando, as maiores potências mundiais desesperam-se por conseguir o controle sobre o que resta das reservas ainda sem explorar. Estes esforços geralmente envolvem uma intensa guerra de lances nos mercados internacionais, o que explica os preços recordes que estão alcançando todos estes produtos, mas também adotam uma forma militar, quando começam a ser feitas transferências de armamento e são organizadas missões e bases transatlânticas. Para reafirmar a vantagem dos EUA —e para contrabalançar movimentos similares da China e outros competidores pelos recursos— o Pentágono situou a competição pelos recursos no próprio centro do seu planejamento estratégico.

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sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Moçambique: EUA e Inglaterra sabiam que avião de Samora Machel foi sabotado


Maputo, 15 Ago (Lusa) - O antigo ministro da Segurança de Moçambique, Sérgio Vieira, disse quinta-feira em Maputo que a Inglaterra e os Estados Unidos sabiam que o avião em que morreu o ex-Presidente moçambicano Samora Machel foi sabotado e não caiu por acidente.

Samora Machel, chefe de Estado moçambicano desde a proclamação da independência do país, em 1975, até à sua morte a 19 de Outubro de 1986, perdeu a vida quando o avião em que viajava caiu na localidade sul-africana de Mbuzini.

Uma comissão de inquérito composta por peritos de Moçambique, África do Sul e da ex-União Soviética chegou a resultados divergentes, com os especialistas moçambicanos e soviéticos a apontarem a sabotagem do aparelho como causa do acidente e a África do Sul a indicar erros de pilotagem.

Na altura, Moçambique e o Governo sul-africano, dirigido pelo regime racista do "apartheid", viviam num ambiente de permanente hostilidade, com Maputo a acusar Pretória de apoiar a guerrilha da RENAMO, hoje o maior partido da oposição moçambicana.

As autoridades sul-africanas de então acusavam, por seu lado, Maputo de albergar militantes do Congresso Nacional Africano (ANC), que lutava contra a política de discriminação na África do Sul, e hoje partido no poder neste país.

Em entrevista quinta-feira ao principal canal privado de televisão em Moçambique, a STV, Sérgio Vieira, que ocupava a pasta de Segurança no ano em que Machel morreu, reiterou a posição de que o ex-chefe de Estado moçambicano foi "assassinado" e não vítima de acidente de viação, sublinhando ainda que "os Estados Unidos e a Inglaterra sabiam do que aconteceu".

"Nas vésperas do funeral do Presidente Samora Machel, o embaixador inglês telefonou-me a informar que tinha recebido instruções de Downing Street [gabinete do Primeiro-Ministro inglês], para comunicar que a Inglaterra não faria parte de qualquer comissão de inquérito, encarregue de investigar a morte do Presidente Samora Machel. Instantes depois, o embaixador dos Estados Unidos também me telefonou a comunicar o mesmo facto", disse Sérgio Vieira.

Para Vieira, os governos norte-americanos e inglês tomaram essa posição porque sabiam que os seus peritos chegariam à conclusão de que o Tupolev em que viajava Samora Machel tinha sido sabotado e não tinha caído devido a erros de pilotagem.

"Os Estados Unidos e a Inglaterra sabiam que os seus peritos nunca aceitariam uma aldrabice, e chegariam a uma conclusão politicamente inconveniente", a de que a queda do avião tinha sido provocada pelo regime do "apartheid", que apesar de estar sob sanções internacionais, era tolerado pelo Ocidente.

Os Estados Unidos e a Inglaterra consideravam a África do Sul do tempo do "apartheid" uma espécie de tampão contra o expansionismo do comunismo da ex-União Soviética, que tinha sob sua órbita a generalidade dos países africanos, incluindo Moçambique.

Sérgio Vieira, que chefiou a missão enviada pelas autoridades moçambicanas, para trazer os corpos das vítimas do acidente a Moçambique, achou igualmente estranho que tenha sido sugerido o envolvimento da Inglaterra e dos Estados Unidos na comissão de inquérito, contra as regras da Associação Internacional do Transporte Aéreo (IATA), que "prevêem na comissão de inquérito a participação do produtor da aeronave, do país do acidente e do país das vítimas".

"O ministro [dos Negócios Estrangeiros da África do Sul] Roelof 'Pik' Botha disse-me que os Estados Unidos e a Inglaterra participariam na comissão de inquérito, e eu achei isso estranho, porque é contra as regras da IATA. Dias depois, são os embaixadores dos dois países que negam essa participação, sem que Moçambique a tenha pedido alguma vez", enfatizou Sérgio Vieira.

Sem acusar directamente o Governo sul-africano desse tempo, o ex-ministro moçambicano da Segurança recordou que o então ministro da Defesa da África do Sul, Magnus Malan, ameaçou directamente Samora Machel, nas vésperas do acidente, pelo alegado apoio deste a actos de guerrilha protagonizados no interior da África do Sul por militantes do ANC.

Sérgio Vieira considerou sem sentido a posição sul-africana de que os pilotos russos do avião do Presidente moçambicano eram inexperientes e tripulavam ébrios, como concluiu a parte sul-africana da comissão mista do inquérito.

"Os únicos vestígios de álcool encontrados nos corpos são os que resultam da decomposição após a morte e não de algum consumo (...), quanto à experiência dos pilotos, eram aquilo que em gíria de pilotagem se diz milionários do ar, com mais de 10 mil horas de voo. O único com menos horas tinha oito mil horas, e não exercia funções no 'cockpit'", sublinhou Vieira.

Segundo Sérgio Vieira, é suspeito que as autoridades sul-africanas tenham declarado o local do despenhamento do avião zona militar, nas vésperas da queda do aparelho, para depois retirarem os militares da zona, deixando alguns polícias, no momento em que a missão enviada pelo Governo moçambicano chegou à área.

Vieira acusou ainda as autoridades sul-africanas de não terem prestado socorro aos feridos, preocupando-se apenas em reconhecer o Presidente Samora Machel, que "teve morte instantânea e apresentava o crâneo amarrotado", e em recolher documentos.

"Um dos sobreviventes contou-me que os membros do exército sul-africano que estavam no local do acidente só se preocuparam em recolher documentos e em reconhecer o Presidente Samora Machel", disse na entrevista o antigo ministro moçambicano da Segurança.

Sobre uma alegada "mão interna" de membros do Governo moçambicano na conspiração com as autoridades sul-africanas para provocar a queda do aparelho, justificada pelo facto de nenhum dos principais quadros do partido no poder em Moçambique, FRELIMO, não ter integrado a comitiva presidencial que sofreu o acidente, Sérgio Vieira considerou-a "especulação", justificando depois a sua própria ausência da viagem em que acabou morrendo Samora Machel.

"O próprio Samora disse-me a mim para não viajar, porque acabava de perder a minha primeira mulher e tinha chegado havia pouco tempo de uma missão do Botsuana. Joaquim Chissano [que depois sucedeu a Samora Machel na chefia do Estado moçambicano] estava fora do país também em missão de serviço", sublinhou Sérgio Vieira, lembrando ainda que Machel desrespeitou recomendações da sua equipa de segurança para não viajar à noite de avião, devido à situação de guerra que se vivia na África Austral.

"Samora Machel tinha virtudes, mas era teimoso, atropelou várias vezes regras protocolares, incluindo recomendações para não viajar à noite de avião. Tive várias vezes ataques cardíacos, devido à sua teimosia", acrescentou Sérgio Vieira.

PMA.

Lusa/Fim