Mostrando postagens com marcador Energia. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Energia. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

O poder é partilhado na revolução do século XXI


Por Ricardo Abramovay | Para o Valor, de São Paulo

 Não é inocente o uso da palavra revolução no nome de batismo das eras econômicas. Mais do que técnicas e possibilidades de mercado, o que está em jogo na terceira revolução industrial anunciada por Jeremy Rifkin é um novo poder: partilhado, descentralizado, colaborativo ou, para usar a expressão do título de seu último livro, lateral. Em comum com as duas revoluções industriais anteriores, a do século XXI também emerge da convergência entre novos meios de comunicação e formas inéditas de produção de energia. A coerência dos grandes períodos históricos dos últimos dois séculos é dada por essa unidade entre comunicação e energia. O carvão e o vapor, no século XIX, abrem caminho não só para estradas de ferro, e imensas frotas navais, mas também para a massificação de materiais impressos, o que favorece o surgimento da educação pública na Europa e nos Estados Unidos. Na segunda revolução industrial, que domina todo o século XX, o petróleo e a eletricidade permitem o motor a combustão interna, o automóvel individual e, sobretudo a comunicação apoiada em grandes centrais elétricas: telégrafo, telefone, rádio e televisão.
 
A terceira revolução industrial tem como marca central a rede de energia/internet. O fundamental não está na energia, na internet ou na noção de rede, e sim na junção das três: não só a energia, mas parte crescente da prosperidade do século XXI virá de uma organização social assinalada pela descentralização, pela cooperação e pela partilha.

O prognóstico já seria intrigante se partisse de um destacado acadêmico ou de um ativista ligado a movimentos sociais globais. Mas Rifkin tem ainda a qualidade de hábil articulador voltado ao diálogo com importantes dirigentes políticos contemporâneos e personalidades centrais na formulação e execução das estratégias de empresas globais. Professor do Wharton School's Executive Education Program, da Universidade da Pensilvânia, autor de 18 livros (entre eles, já traduzidos para o português, "A Era do Acesso", "O Fim dos Empregos", "A Economia do Hidrogênio" e "O Sonho Europeu"), Rifkin, nos últimos dez anos, manteve estreito contato com figuras como Angela Merkel, Manuel Barroso e José Luiz Zapatero, o que contribuiu para que o termo terceira revolução industrial se incorporasse a inúmeros documentos da União Europeia. Ao mesmo tempo, em torno da terceira revolução industrial reúne-se hoje uma centena de dirigentes empresariais globais. Muito mais do que um conjunto abstrato de normas e prescrições, a terceira revolução industrial está na agenda de algumas das mais importantes forças sociais e políticas contemporâneas.

Pelas resistências que desperta e pela mobilização que exige, seu sucesso depende de uma nova narrativa. A do período que se esgota agora é clara: concentrar recursos, fortalecer os regimes exclusivos de propriedade e favorecer a busca estreita dos interesses individuais são condições para a eficiência alocativa, da qual decorreriam produção de riqueza e bem-estar crescentes. A crise desencadeada em 2008 foi a pá de cal que retirou coerência a essa narrativa, como mostra o livro em sua primeira parte.

A narrativa da terceira revolução industrial, também exposta no livro, apoia-se em cinco pilares, que trazem consigo uma reorganização na cultura, nos modos de vida e nas formas de se fazer negócio. O primeiro está na passagem (nada trivial, é claro) das energias fósseis para as renováveis. O segundo, e talvez mais importante dos cinco pilares, é a transformação do estoque de construções de todo o mundo em microusinas de coleta (e de distribuição) de energia. Na União Europeia, onde essa ideia se converteu em orientação de política pública, Rifkin fala da existência de 190 milhões de microusinas. Cada edificação tem o poder de absorver e transformar localmente energia vinda dos ventos, do sol e da reciclagem daquilo que seus ocupantes produzem e consomem. O princípio é que, contrariamente aos combustíveis fósseis ou ao urânio (energias de elite, que se encontram apenas em alguns lugares), as renováveis estão por toda parte. E, embora distante do horizonte brasileiro, Rifkin cita numerosos exemplos em que esse aproveitamento das energias descentralizadas e renováveis permite novos modelos de negócio.

O terceiro pilar está em tecnologias que permitirão armazenar (para se poder, então, distribuir) o produto dessas fontes inevitavelmente instáveis de energia de que são potencialmente dotadas as edificações. Rifkin prevê que, até meados deste século, a União Europeia terá uma economia do hidrogênio inteiramente apoiada em energias renováveis. Mas isso supõe - quarto pilar - que os dispositivos da economia da informação em rede possam promover a integração e a partilha desse fluxo de energia produzido de maneira descentralizada. Aí reside a nova unidade entre comunicação e energia. São redes inteligentes, mas que operam com base em energias produzidas localmente, ao contrário das duas revoluções industriais anteriores. Além de resolver um problema de oferta de energia, essas redes dão lugar a uma nova forma de poder, não mais hierárquico, mas distributivo, colaborativo, em rede. Não se trata apenas de substituir a centralização dos fósseis, da energia nuclear e das grandes hidrelétricas por gigantescas unidades solares ou eólicas. O mais importante é promover a oferta desconcentrada e partilhada de energia.

O quinto pilar está no sistema de transportes, que dará maior peso aos equipamentos coletivos e também, no que se refere aos veículos individuais, aos carros elétricos e baseados em células combustíveis, integrados igualmente a esse sistema descentralizado de redes inteligentes.

Nada garante, é claro, o triunfo do poder lateral. Mas o livro de Rifkin mostra condições especialmente privilegiadas para que colaboração social, partilha e descentralização formem a base da prosperidade no século XXI.

Ricardo Abramovay é professor titular do departamento de economia e do Instituto de Relações Internacionais da USP, pesquisador do CNPq e da Fapesp. Twitter: @abramovay - www.abramovay.pro.br

"The Third Industrial Revolution"

Jeremy Rifkin. Palgrave Macmillan. 304 págs., US$ 27,95

Fonte da imagem AQUI.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Obama amenaza a China


Jugando con fuego.   

Michael T. Klare · · · · · 

En lo que respecta a su política para con China, ¿no está la administración Obama saltando de una sartén caliente directamente al fuego? En un intento de darle vuelta a la página después de dos guerras desastrosas en el Gran Oriente Medio, lo que acaba de hacer Obama se aproxima a haber iniciado una nueva guerra fría en Asia, una vez más con el petróleo como clave para la supremacía global.
La nueva política señalada por el propio Presidente Obama el 17 de noviembre en un discurso ante el Parlamento australiano apunta a una visión geopolítica ambiciosa -y extremadamente peligrosa-. En lugar de centrarse en el Gran Oriente Medio, como ha sido el caso en la última década, los Estados Unidos ahora concentrarán sus poderes en Asia y el Pacífico. "Mi orientación es clara", declaró en Canberra. “En nuestros planes y presupuestos para el futuro, vamos a asignar los recursos necesarios para mantener nuestra fuerte presencia militar en esta región" Si bien los funcionarios de la administración se esforzaron en señalar que la nueva política no está dirigida específicamente a China, la implicación es clara: a partir de ahora , el foco principal de la estrategia militar estadounidense no será la lucha contra el terrorismo, sino la contención del territorio asiático, en pleno auge económico, a cualquier riesgo o costo.

Nuevo centro de gravedad del planeta

El nuevo énfasis en Asia y la contención de China son necesarios, insisten los altos funcionarios del gobierno, porque la región de Asia-Pacífico constituye, hoy por hoy, el "centro de gravedad" de la actividad económica mundial. Mientras los Estados Unidos se empantanaron en Irak y Afganistán, señala el argumento, China tuvo el margen de maniobra para extender su influencia en la región. Por primera vez desde el final de la Segunda Guerra Mundial, Washington no es el actor económico dominante allí. Si los Estados Unidos han de mantener su título de potencia mundial dominante, es necesario, según este pensamiento, restablecer su primacía en la región y hacer retroceder la influencia china. En las próximas décadas, no habrá tarea de política exterior, según dicen, más importante que esta.
En línea con su nueva estrategia, la administración ha implementado una serie de acciones para fortalecer el poderío norteamericano en Asia, y así poner a China a la defensiva. Estas acciones incluyen la decisión de movilizar una fuerza de 250 infantes de marina estadounidenses –a incrementarse a 2.500 en el futuro– a una base aérea australiana en Darwin, en la costa norte de ese país; y  la adopción, el 18 de noviembre, de la "Declaración de Manila", que no es más que un compromiso de estrechar los lazos militares entre los EE.UU. y las Filipinas.
Al mismo tiempo, la Casa Blanca anunció la venta de 24 aviones de combate F-16 a Indonesia y una visita de Hillary Clinton a la aislada Birmania, un viejo aliado de China, la primera visita de un secretario de Estado estadounidense en 56 años. Clinton también habló de un mayor acercamiento diplomático y militar con Singapur, Tailandia y Vietnam, todos ellos países vecinos de China o en rutas de comercio clave para la importación de materias primas y la exportación de productos manufacturados.
Tal como lo representan los funcionarios del poder ejecutivo estadounidense, estas acciones están destinadas a maximizar las ventajas de los Estados Unidos en los ámbitos diplomático y militar en un momento en que China domina el ámbito económico regional. En un reciente artículo en la revista Foreign Policy, Clinton sugirió que tras años de debilitamiento económico, los Estados Unidos ya no pueden esperar prevalecer en múltiples regiones de forma simultánea sino que deben elegir cuidadosamente sus campos de batalla y desplegar con cautela sus limitados recursos –la mayoría de ellos de carácter militar– para obtener el máximo provecho. Dada la centralidad estratégica de Asia para el poderío global, esto significa concentrar allí los recursos.
"Durante los últimos 10 años", escribió Clinton, "hemos dado ingentes cantidades de recursos a [Irak y Afganistán]. En los próximos 10 años, debemos ser inteligentes acerca de dónde invertimos nuestro tiempo y energía, de forma que logremos la mejor posición posible para mantener nuestro liderazgo [y] proteger nuestros intereses... Una de las tareas más importantes de la política extranjera de los Estados Unidos en los próximos diez años será el asegurar una mayor inversión –diplomática, económica, estratégica y demás– en la región Asia-Pacífico".
Esa forma de pensar, con un enfoque claramente militar, parece peligrosamente provocativa. Los pasos anunciados implican una creciente presencia militar en las aguas fronterizas con China y un importante acercamiento en las relaciones militares con los vecinos de ese país, movimientos que ciertamente elevarán los niveles de alerta de Beijing y endurecerán el puño del círculo de gobierno (sobre todo en la cúpula militar china), que favorecen una respuesta más activa, militarmente hablando, a las incursiones estadounidenses. Cualquier forma que esto tome, una cosa es cierta: los directivos del número dos del mundo en poder económico no permitirán que se les vea débil e indecisos ante una concentración de fuerza militar estadounidense en su periferia. Esto, a su vez, significa que podríamos estar sembrando las semillas de una nueva guerra fría en Asia en 2011.
El incremento de la presencia militar de estadounidense y la posible respuesta china ya han sido objeto de debate en la prensa americana y asiática. Pero existe una dimensión crucial de esta incipiente lucha que no ha recibido ninguna atención: la medida en la cual las recientes acciones en Washington son el resultado de un nuevo análisis de la ecuación energética global, que revela (según lo entiende la administración Obama) una mayor vulnerabilidad de la parte china y nuevas ventajas para Washington.

La nueva ecuación de la energía

Durante décadas, los Estados Unidos han sido muy dependientes de las importaciones de petróleo, en gran medida desde Oriente Medio y África, mientras que China era en gran parte autosuficiente. En 2001, Estados Unidos consumió 19,6 millones de barriles de petróleo por día, mientras que sólo produjo 9 millones de barriles por día. La dependencia de proveedores extranjeros para el déficit de esos 10,6 millones de barriles por día es una fuente de constante preocupación para los políticos de Washington. Y la respuesta tradicional ha sido crear los lazos militares más fuertes con los productores de petróleo del Medio Oriente y recurrir a la guerra de vez en cuando para garantizar el suministro.
Por otro lado, en 2001, China consumió solamente cinco millones de barriles por día y con una producción nacional de 3,3 millones de barriles, sólo tuvo que importar 1,7 millones de barriles. Esas cifras frías y duras hacían que su liderazgo se preocupara menos por la fiabilidad de sus principales proveedores extranjeros y, por lo tanto, no tenía necesidad de imitar los tejes y manejes en política exterior en los que Washington siempre está involucrado.
Ahora, el gobierno de Obama ha concluido que la situación está empezando a voltearse. Como resultado de la pujante economía de la China y el surgimiento de una importante y creciente clase media (que ya ha empezado a comprar sus primeros coches), el consumo de petróleo del país se está disparando: según las últimas proyecciones del Departamento de Energía de los Estados Unidos, pasará de 7,8 millones de barriles por día en 2008, a 13,6 millones de barriles en 2020, y a 16,9 millones en el 2035. Por otro lado, se espera que la producción nacional de petróleo crezca de 4,0 millones de barriles diarios en 2008 a 5,3 millones en 2035. No es de extrañar, entonces, que las importaciones chinas tengan que crecer de 3,8 millones de barriles por día en 2008 a un proyectado 11,6 millones en 2035, momento en que superará a las de los Estados Unidos.
Entretanto, los Estados Unidos podrían mejorar su situación energética. Gracias al aumento de la producción en “áreas de difícil extracción” (o tough-oil areas en inglés) en los Estados Unidos, incluyendo los mares del Ártico en Alaska, las aguas profundas del Golfo de México, y formaciones de esquisto, en Montana, Dakota del Norte y Texas, se espera que disminuyan las importaciones futuras, a pesar del aumento en el consumo de energía. Además, es probable que la producción en el hemisferio occidental aumente para reemplazar a las fuentes de Oriente Medio o África. Una vez más, esto será posible gracias a la explotación de áreas de petróleo de difícil extracción, incluyendo las arenas de alquitrán de Athabasca en Canadá, los campos de petróleo en las profundidades del Atlántico brasileño, y regiones ricas en petróleo de una Colombia pacificada. De acuerdo con el Departamento de Energía, la producción combinada de los Estados Unidos, Canadá y Brasil aumentaría en 10,6 millones de barriles por día entre 2009 y 2035, un salto enorme, considerando que la mayoría del mundo espera presenciar un descenso de la producción.

¿A quien pertenecen estas rutas marítimas?

Desde una perspectiva geopolítica, todo esto parece conferir una ventaja real sobre los Estados Unidos, aún cuando China se convierte cada vez más vulnerable a los caprichos de los acontecimientos en, o a lo largo de, las rutas marítimas a tierras lejanas. Significa que Washington será capaz de contemplar una relajación gradual de sus lazos militares y políticos con los estados petroleros de Oriente Medio que han dominado la política exterior durante tanto tiempo y ha conducido a esas guerras tan devastadoras y costosas.
De hecho, tal como dijo en Canberra el presidente Obama, los EE.UU. están ahora en condiciones de comenzar a reorientar sus capacidades militares. "Después de una década en la que luchamos dos guerras que nos costaron muy caro", declaró, "los Estados Unidos estamos ahora mirando al vasto potencial de la región Asia-Pacífico".
Para China, todo esto significa un posible deterioro de su posición estratégica. Si bien en el futuro una parte importante del petróleo importado por China viajará por tierra a través de oleoductos desde Kazajstán y Rusia, la mayor parte seguirá llegando en buques tanque desde el Oriente Medio, África y América Latina, por rutas marítimas vigiladas por la Marina de los Estados Unidos. De hecho, casi todos los buques petroleros que van a China viajan a través del Mar del Sur de China, un cuerpo de agua que la Administración Obama ahora busca poner bajo control naval efectivo.
Al asegurar el dominio naval del Mar del Sur de China y aguas adyacentes, el gobierno de Obama pretende adquirir el equivalente del siglo XXI al chantaje nuclear del siglo XX. Si nos empujan demasiado, por implicaciones de la política, nos veremos obligados a poner de rodillas a su economía, mediante el bloqueo de sus vías de suministro de energía. Por supuesto, nunca dirán nada de esto en público, pero es inconcebible que los funcionarios de la administración no estén pensando en estos términos, y hay evidencia de que los chinos están seriamente preocupados por este riesgo como lo indica, por ejemplo, sus frenéticos esfuerzos para construir gasoductos tremendamente caros a través de toda Asia hasta la cuenca del Mar Caspio.
A medida que se aclaran los nuevos planes estratégicos de Obama, no puede haber ninguna duda de que el liderazgo chino tomará medidas para garantizar la seguridad de las líneas de suministro de energía. Algunas de estas acciones, sin duda, serán económicas y diplomáticas, incluyendo, por ejemplo, esfuerzos para cortejar a actores regionales, como Vietnam e Indonesia, así como a los principales proveedores de petróleo como Angola, Nigeria y Arabia Saudita. Pero no nos equivoquemos: otras serán de carácter militar y es inevitable una acumulación significativa de fuerzas de la marina de guerra china –aunque todavía pequeña y atrasada en comparación con la flota de los Estados Unidos y sus principales aliados–. Del mismo modo, podemos estar seguros de que China estrechará sus lazos militares con Rusia y con los estados miembros de la Organización de Cooperación de Asia Central de Shangai (Kazajstán, Kirguistán, Tayikistán y Uzbekistán).
Además, Washington podría estar ahora provocando el comienzo de una verdadera carrera armamentista en Asia, al estilo de la de la guerra fría, que ninguno de los dos países puede costear en el largo plazo. Todo esto es probable que conduzca a una mayor tensión y riesgo de una escalada involuntaria que derive en incidentes futuros y que involucre buques de los Estados Unidos, de China y aliados -como el que ocurrió en marzo de 2009 cuando una flotilla de buques de guerra chinos rodearon a un barco de vigilancia anti-submarinos estadounidense, el Impeccable, y que casi ocasiona un intercambio de fuego. A medida que más buques de guerra circulan de forma cada vez más provocadora a través de estas aguas, crece el riesgo de que se produzca este tipo de incidentes.
Pero los riesgos potenciales y los costos de esta política primordialmente militar hacia la China no se restringen a Asia. En su intento de promover una mayor autosuficiencia estadounidense en la producción de energía, la administración Obama puso su sello de aprobación a varias técnicas de producción –perforación en el Ártico, perforación profunda en alta mar, la fractura hidráulica- que está garantizado que causarán más catástrofes ambientales al estilo del Deepwater Horizon. Una mayor dependencia de las arenas alquitranadas canadienses, la fuente de energía más "sucia", se traducirá en mayores emisiones de gases de efecto invernadero y una multitud de otros peligros ambientales, mientras que la producción de petróleo profundo del Atlántico frente a las costas de Brasil y otras partes, tiene su propio conjunto sombrío de peligros.
Todo esto asegura que, ambiental, militar y económicamente, nos encontraremos en un mundo más, y no menos, peligroso. Es entendible el deseo del gobierno estadounidense de alejarse de las desastrosas guerras terrestres en el Gran Medio Oriente para tratar cuestiones clave en Asia, pero elegir una estrategia que pone tan fuerte énfasis en el dominio y la provocación militar solo puede provocar una respuesta del mismo tipo. Difícilmente se puede considerar un camino prudente, y mucho menos que promueva los intereses de los Estados Unidos en el largo plazo, en un momento en que la cooperación económica mundial es crucial. Y sacrificar el medio ambiente para lograr una mayor independencia energética no tiene ningún sentido.
Una nueva guerra fría en Asia y una política energética hemisférica que podría poner en peligro el planeta: es esta una mezcla fatal que se debe reconsiderar antes de que ocurra la confrontación y nos deslicemos hacia un desastre ambiental irreversible. No hay que ser adivino para saber que esta no es la definición de lo que significa ser un buen estadista sino la de una “marcha hacia la locura”.

Michael T. Klare es profesor de estudios sobre paz y seguridad mundial en Hampshire College, un colaborador regular de TomDispatch, y el autor, más recientemente, de Rising Powers, Shrinking Planet. Una versión de la película documental del libro Blood and Oil, está disponible en la Media Education Foundation.

Traducción para www.sinpermiso.info: Antonio Zighelboim

sinpermiso electrónico se ofrece semanalmente de forma gratuita. No recibe ningún tipo de subvención pública ni privada, y su existencia sólo es posible gracias al trabajo voluntario de sus colaboradores y a las donaciones altruistas de sus lectores. Si le ha interesado este artículo, considere la posibilidad de contribuir al desarrollo de este proyecto político-cultural realizando una DONACIÓN o haciendo una SUSCRIPCIÓN a la REVISTA SEMESTRAL impresa

sexta-feira, 24 de junho de 2011

CARVÃO


NOTA DA APEDEMA SOBRE O APROVEITAMENTO DO CARVÃO GAÚCHO
  
Em vista da audiência pública sobre o aproveitamento do carvão mineral gaúcho promovido pela Comissão de Economia e Desenvolvimento Sustentável da Assembléia Legislativa gaúcha, a  APEDeMA/RS- Assembleia Permanente de Entidades de Defesa do Meio Ambiente  vem a publico manifestar sua posição.

O uso de carvão como fonte energética é uma tecnologia obsoleta, anti-economica, prejudicial a saúde humana e contribui significativamente para piorar a crise climática que presenciamos atualmente devido ao aquecimento global.

As jazidas de carvão, da ordem de 28 bilhões/ton não são as maiores fontes  de energia no estado.Representam cercade 6% do consumo energético nacional.  A Energia eólica e a energia solar são fontes muito mais abundantes. Não falta energia para a eliminação dos combustíveis fósseis. O uso da ENERGIA SOLAR RADIANTE que chega á Terra atinge a astronômica cifra de 15 trilhões GW/ano, enquanto a Demanda Energética Mundial anual atual é da ordem de 1,5 Bilhões GW/ano. Recebemos 10.000 vezes mais energia do que consumimos.

O consumo de energia elétrica no Brasil atingiu o recorde histórico de 70 gigawatts (GW) , no horário de pico em 03/02/2010. A média de consumo diário em 2009 foi de 54GW 77.Já o potencial de geração de ENERGIA EÓLICA no Brasil a 100 m de altura, pode atingir 300 GW , sem considerar a zona marítima -off shore-.

ASPECTOS ECONÔMICOS

Dados de 2010 do Ministério de Minas e Energia e PSR Consultoria informam que a energia eólica tem o menor preço que a termoelétrica movida a carvão: R$132 megawatt/hora contra R$160,00 megawatt/hora, respectivamente. Esta vantagem econômica traduz-se no tamanho atual do mercado financeiro da energia eólica brasileira: R$ 25 billhões. São 5.5 GW já contratados até 2013. Hoje a capacidade eólica instalada no Brasil é de 1GW.
No RS há dez parques de energia eólica entre os em operação e em obras, gerando um excelente  ciclo econômico. Só na fabricação de aerogeradores existem 5 empresas no Brasil. Em 2013 nosso estado terá 660 MW eólicos.
Além disso a energia eólica no pais oferece uma excelente complementação ao sistema  hidroelétrico com capacidade de acumulação ao longo do ano. Dados da ANEEL de 2007 e 2008 mostram que justamente na época de menor regime hídrico das regiões Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste Brasileiras entre Agosto á Dezembro a geração de energia eólica da região Nordeste  (o maior produtor potencial de energia eólica no país, seguido do Rio Grande do Sul) atinge os maiores valores.

SAÚDE PÚBLICA

A composição química do Carvão Gaúcho pode ser considerada uma verdadeira enciclopédia de venenos. O mais prejudicial é o vapor de mercúrio metálico emitido na sua combustão. São lançados na atmosfera 30 kg de vapor metálico de mercúrio para cada tonelada de carvão gaúcho queimado, ou seja 3% do peso deste carvão é mercúrio! Como está na forma gasosa a tecnologia em uso atualmente no estado é incapaz de reduzir estas emissões. Esta concentração é muitíssima superior àquela encontrada no Carvão dos Estados Unidos, onde são liberados à atmosfera, em média 44 gramas por cada toneladas queimada.
Os processos biológicos modificam a maior parte do mercúrio depositado para metilmercúrio, uma potente neurotoxina que humanos e outros organismos terrestres e aquáticos absorvem de pronto, a exemplo do desastre de Minamata ,ocorrido no Japão em 1956.
Matéria particulada originada da combustão do carvão conhecidamente causa danos ao sistema respiratório. Agora já se sabe, através de pesquisas recentes, que conseguem mesmo atravessar os pulmões e invadir a corrente sanguínea, conduzindo a doenças cardíacas, enfartos e morte prematura.
.Nos EUA 23.600 mortes anuais (2004) podem ser atribuídas a poluição aérea proveniente de suas 600 termoelétricas á carvão. Os que morrem prematuramente devido a exposição a matéria particulada, perdem em média 14 anos de suas vidas.A queima do carvão responde também por cerca de 554.000 ataques asmáticos, 16.200 casos de bronquite crônica e 38.000 enfartos não fatais, anualmente. A poluição atmosférica das usinas térmicas nos EUA responde por uma estimativa anual na custos de Saúde de mais de 160 bilhões de dólares.
Outras emissões atmosféricas resultantes da queima do carvão incluem metais pesados como vanádio, cádmio, arsênio e chumbo, além de SO2 - dióxido sulfúrico, CO2-dióxido de carbono , matéria particulada e NOx -óxidos de nitrogênio , os quais resultam em ozônio ao nível da superfície. SO2 e ozônio são gases altamente corrosivos que causam falências respiratórias e contribuem para baixa de peso do nascituro e aumento da mortalidade infantil. SO2 e NOx são também as causas primárias da chuva ácida. CO2 é o gás dominante responsável pelo efeito estufa que está aquecendo o planeta.
Durante sua queima a combinação de Cloro e de núcleos aromáticos pré-existentes propiciam a liberação de Dioxinas e de outros compostos organoclorados, altamente carcinogênicos.



AGRAVAMENTO DA CRISE DO CLIMA (AQUECIMENTO GLOBAL)

Uma forte objeção à continuidade da exploração do Carvão mineral, cerca de 900 bilhões de toneladas  em nível mundial,  é que tornaria  impossível estabilizar o clima e evitar os impactos do desastre climático global na sociedade humana. Este valor representa o aumento da concentração de CO2, gás carbônico a mais de 250 ppm (concentração de partes por milhão), ao já 392 ppm existentes. O uso das reservas gauchas de carvão por si só acrescentariam 7 ppm a concentração deste gás já existente na atmosfera.

Portanto se as emissões de carvão  forem eliminadas nas próximas décadas e o petróleo e o gás natural deixassem de ser extraídos será possível estabilizar o clima dentro de uma faixa de segurança climática, abaixo de 350 ppm de CO2 na qual a humanidade viveu em toda a sua história e pré-história, a exceção dos últimos 25 anos.

As conseqüências do fracasso do protocolo de Quioto e das Conferências entre as partes da ONU –COP ao não conseguir um acordo global de reduções substanciais dos gases de efeito estufa poe em risco a continuidade da existência humana no planeta já na primeira metade deste século devido a subida do nível dos mares, chuvas e secas extremas impactando tanto as populações urbanas na forma de grandes tragédias socioambientais e fazendo diminuir  drasticamente a produtividade agrícola e criando milhões ou bilhões de refugiados ambientais.
Os governos nacionais e estaduais em sua grande maioria estão agindo como se fossem indiferentes ao fato de que há um limite na atmosfera para a quantidade carbono oriundo dos combustíveis fósseis. Estes ficam na atmosfera  por milênios. Nós podemos extrair uma fração do excesso de CO2 via a melhoria das práticas agrícolas e florestais e evitando o desmatamento e no caso brasileiro evitando a alteração do código florestal nos moldes aprovado pela Camara dos Deputados.

A falta de ação nesta área e o aumento continuo das emissões antrópicas trará serias conseqüências a nossa sobrevivência a começar pela liberação espontânea de clatratos de metano e CO2 do oceano e dos solos outrora permanentemente cobertos de gelo da Sibéria e  da America do Norte em processo de degelo causando uma reação em cadeia da liberação desses gases bem como o fim precoce da calota polar ártica no verão prevista inicialmente para 2080, mas com grande probabilidade de ocorrer entre os anos de 2013 à 2019.
Fontes de energia renováveis, eólica ou solar, etanol da cana de açúcar, biogás de resíduos orgânicos urbanos e rurais não requerem mineração perigosa ou remoção do topo de montanhas - não poluem o ar, a terra ou a água com seus resíduos químicos tóxicos, tampouco causam prejuízos a saúde

 O motivo para continuar a utilizar-se  o carvão, combustível sujo do sec. XIX, quando temos alternativas do sec XXI é dificil de entender... provavelmente falta de inteligência.

Assinam as seguintes entidades:

Assembleia Permanente de Entidades de Defesa do Meio Ambiente (APEDeMA-RS)
Ação Nascente Maquiné (ANAMA) - Maquiné
Amigos da Paisagem Preservada de Quintão (APAIPQ) – Palmares do Sul
Associação São Borjense de de Proteção do Ambiente Natural (ASPAN) – São Borja
Associação Ambientalista Biguá (Biguá) – Arambaré
Associação Ambientalista da Costa Doce (AACD) de Camaquã/RS.
Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (AGAPAN)
Abrace o Guaíba - POA;
Casa Tierra – Porto Alegre
Centro de Estudos Ambientais (CEA) - Rio Grande/ Pelotas
Econsciência – Porto Alegre
Grupo Ecológico Sentinela dos Pampas (GESP) – Passo Fundo
Grupo Ecológico Guardiões da Vida (GEGV) - Passo Fundo
Grupo Transdisciplinar de Estudos Ambientais Maricá (MARICÁ) - Viamão
Instituto Ballaena Australis - Santa Vitória do Palmar
Igré Associação Socioambientalista (IGRÉ) – Porto Alegre
Instituto Biofilia – Porto Alegre
Incandescente – Bagé/ Porto Alegre
Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais (Ingá) – Porto Alegre
Movimento Os Verdes de Tapes - Tapes
Núcleo Amigos da Terra Brasil (NAT) – Porto Alegre
Ong Solidariedade – Porto Alegre
União Protetora do Ambiente Natural (UPAN) – São Leopoldo
União Pedritense de Proteção ao Ambiente Natural (UPPAN) – Dom Pedrito

Porto Alegre 14 de Junho de 2011

quinta-feira, 31 de março de 2011

A ESPERANÇA É A ÚLTIMA QUE MORRE


Investimento em energias limpas bate recorde em 2010

O Brasil ocupa o sexto lugar na lista de países que mais investem em energias limpas, segundo informa o relatório Who’s Winning the Clean Energy Race? (Quem está vencendo a corrida pela energia limpa?, em tradução livre), publicado pela organização não governamental norte-americana Pew Charitable Trusts.

Com investimento U$ 7,6 bilhões, o Brasil avançou uma posição em relação a 2009. Segundo o estudo, do total investido, 40% foram destinados aos biocombustíveis, 31% para a energia eólica e 28% para outras fontes.

O relatório mostra que os investimentos em energias limpas no mundo cresceram 30% no ano passado e alcançaram cifras de US$ 243 bilhões, um recorde histórico.

Depois de um período de forte abalo em virtude da crise financeira em 2009, os países voltaram a direcionar mais recursos no desenvolvimento de energias verdes. No ranking dos países que mais receberam recursos, o destaque vai para a China que direcionou US$ 54,4 bilhões, o correspondente a um quinto de todos os recursos encaminhados para as fontes renováveis.B

Brasil

Na avaliação do professor de planejamento energético Roberto Schaeffer, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), os números variam conforme são feitos os cálculos, pois “não está claro se o estudo inclui a energia gerada a partir de hidrelétricas como limpas”.

Cerca de 90% da energia no país provém de hidrelétricas, segundo Schaeffer, e, ainda assim, não representa mais do que um terço do potencial energético dos rios.

“Depende com se faz a conta, se incluir a hidreletricidade, de fato, o Brasil deve investir cerca de US$  5 bilhões por ano”.

O Brasil também ocupa a sexta posição na previsão de crescimento para os próximos cinco anos. Entre as energias limpas, a produção de etanol se destaca com a previsão de produção de 36 bilhões de litros, a geração elétrica com biomassa de 8.000MW, e as pequenas centrais hidroelétricas com 5.000 MW.

As principais metas indicadas pelo estudo são a geração de 1.805 MW através de fontes eólicas até 2012 e o aumento do uso de biodiesel. No quesito biocombustíveis, Schaeffer afirma que existem hoje muitas destilarias de álcool sendo construídas, por isso tem sido foco de mais investimentos.

Energia eólica

Em relação à energia eólica, o setor não recebeu mais do que 2 bilhões de dólares de investimentos em 2010, garante Schaeffer. “É pouco se comparado à China, Estados Unidos ou Alemanha. O Brasil mal está começando a desenvolver a energia eólica. Mas de uma base pequena, já está crescendo”, considerou o especialista o referir que, atualmente, o país já tem instalados mil Megawatts e estão em construção outros três mil Megawatts.

“É o país que relativamente investe bem mais em energia eólica. O potencial eólico é enorme na nossa costa, especialmente no Nordeste brasileiro que é muito favorável. Pela primeira vez em 2010, a energia eólica deixou de ser cara no Brasil. Ela já é comercial ou está muito próxima de ser”.

A eólica é ainda mais competitiva até mesmo em relação à energia nuclear, a termelétrica a carvão ou a gás, argumentou Schaeffer. “O futuro da eólica no Brasil é brilhante”, destacou.

Países do G20 são os que mais investem

Segundo o documento da ONG norte-americana, 90% de todos os investimentos em energia limpa foram para países do G20. A União Europeia, se considerada como um único destino, ocupa o primeiro lugar com US$ 94 bilhões. A Alemanha e a Itália aparecem como os grandes destaques na Europa, com recursos da ordem de US$ 41,2 bilhões e US$ 13,9 bilhões, respectivamente.

Mas ainda entre os europeus, o Reino Unido apresentou uma expressiva queda saindo de terceiro lugar no ranking em 2009 para 13º no ano passado, tendo direcionado US$ 3,3 bilhões. Uma das razões apontadas pelo relatório é que os projetos eólicos offshore em 2009 teriam valorizado e superestimado a posição britânica.

A União Europeia, tida como um único destino, aparece numa posição da vanguarda e liderança no que se refere às energias renováveis e pode perder a dianteira apenas para a China, que tem apresentado um crescimento acelerado neste quesito. A Ásia poderá assumir em poucos anos o papel de maior receptor de investimentos.

Contudo, é preciso analisar os números da China com cautela, atentou Roberto Schaeffer. “É preciso ver que a China investe em carvão muito mais que U$ 100 ou U$ 200 bilhões. Sem tirar o mérito, os números na China são sempre muito grandes e podem ser enganosos”, afirmou.

Ainda segundo o estudo, os Estados Unidos caíram uma posição em relação ao ano anterior e ficaram em terceiro lugar, atrás da Alemanha, com cerca de US$ 34 bilhões. Esta queda pode ser entendida pela não aprovação da lei energética pelo Congresso em 2010, o que pode ter desestimulado os investidores. O crescimento alemão e chinês, aponta o relatório, provém de políticas públicas e de incentivo, o que não ocorreu no caso norte-americano.

Autor: Fabíola Ortiz
Fonte: UOL - Ciência e Saúde, via SisSaúde.

segunda-feira, 28 de março de 2011

DELÍRIO

Mulher que foi isolada em uma instalação improvisada para pessoas com altos níveis de radiação observa cão através de vidro em Nihonmatsu, norte do Japão (foto de Yuriko Nakao/ Reuters)

Ontem, domingo, a Tokyo Electric Power Company (Tepco), operadora das usinas de Fukushima, havia informado que a radioatividade no local ultrapassa em dez milhões de vezes o normal.

Mais tarde, corrigiu a informação, salientando que o valor superaria em "apenas" 100 mil vezes o normal.

Beleza. Todos ficam, então, muito mais tranquilos.

Sobre este tema informe-se AQUI.

sábado, 19 de março de 2011

Uma nuvem de desconfiança espalha-se pelo planeta

Militares norte-americanos de alta patente celebram com uma torta em forma de explosão atômica, em 1946.

O estado de alerta do público com segurança nuclear, como a emergência em Fukushima prova, é muito fácil de se elevar. O motivo é uma indústria que desde sua concepção, mais de meio século atrás, teve o segredo como conselheiro e, quando isso acontece, acobertamentos e mentiras geralmente seguem logo atrás. A noção da crise que cerca os reatores nucleares atingidos no Japão é exacerbada pelo fato de que, em uma emergência, a confiança pública nos promotores da energia atômica é virtualmente inexistente. O artigo é de Michael McCarthy.

Não há precedentes: quatro reatores atômicos em sérios apuros ao mesmo tempo, três ameaçados por superaquecimento, e um atingido pelo fogo em um reservatório para armazenagem de combustível radioativo usado.

Há muitos rumores sobre a usina nuclear de Fukushima – cara a cara com um desastre depois de a tsunami que atingiu o Japão ter afetado os seus mecanismos de resfriamento. Alguns se mostraram falsos: por exemplo, um rumor, disseminado por mensagem de celular, dizia que a radiação estava se espalhando pela Ásia. Outros eram verdadeiros: que radiação cerca de 20 vezes acima dos níveis normais havia sido detectada em Tóquio; que as empresas aéreas chinesas cancelaram voos para a capital japonesa; que a Áustria havia movido sua embaixada de Tóquio para Osaka; que uma loja 24 horas do bairro de Roppongi em Tóquio havia vendido todos seus rádios, lanternas, velas e sacos de dormir.

Mas talvez o mais alarmante seja que embora Naoto Kan, o primeiro ministro do Japão, esteja novamente apelando por calma, há muitos – no Japão e além – que não estão mais preparados para serem tranquilizados.

O nível de preocupação é notável: viajou ao redor do mundo (Angela Merkel impôs uma moratória na energia nuclear, na França, há pressão por um referendo); retirou das manchetes dos jornais a história terrível da tsunami. Mas o estado de alerta do público com segurança nuclear, como a emergência em Fukushima prova, é muito fácil de se elevar – e, como as autoridades japonesas estão descobrindo agora, muito difícil de acalmar.

O motivo é uma indústria que desde sua concepção, mais de meio século atrás, teve o segredo como conselheiro; e, quando isso acontece, acobertamentos e mentiras geralmente seguem logo atrás. A noção da crise que cerca os reatores nucleares atingidos no Japão é exacerbada pelo fato de que, em uma emergência, a confiança pública nos promotores da energia atômica é virtualmente inexistente. Em muitas ocasiões no Reino Unido, nos EUA, na Rússia, no Japão – escolha o seu país – as pessoas ouviram mentiras (isso quando ouviram alguma coisa) sobre as desaventuras nucleares.

Para compreender essa mania por segredos, é preciso ir às origens da energia nuclear. Essa não é uma tecnologia sonhada para substituir as usinas energéticas de carvão, trata-se de uma tecnologia militar, concebida em uma luta de vida ou morte, que tem sido modificada para processos civis. No centro disso tudo, está a reação nuclear em cadeia, o processo autossustentável de divisão nuclear (fissão), que ocorre quando suficiente material altamente radioativo é colocado junto, e que produz outos elementos radioativos e a liberação de energia.

Quando pela primeira vez foi obtido pelos físicos Enrico Fermi e Leo Szilard, na Universidade de Chicago, em dezembro de 1942, produziu apenas calor; mas todos os envolvidos sabiam que se pudesse ser acelerado, iria produzir o maior poder explosivo conhecido. E assim nascia o projeto Manhattan, o esforço dos EUA para construir uma bomba atômica que foi, enquanto durou, o maior segredo da história.

Segredos são como uma marca de nascença da energia nuclear. Por 10 anos depois da primeira bomba atômica ser jogada sobre Hiroshima, em agosto de 1945 se manteve uma tecnologia militar envolta em mistérios, embora russos e depois britânicos tenham seguido os norte-americanos em seu desenvolvimento. O Reino Unido construiu um par de reatores atômicos em Windscale, que produzia (como resultado da fissão) plutônio, o material usado na primeira bomba nuclear britânica, testada na costa da Austrália, em 1952. E foi em um de seus reatores que aconteceu um dos primeiros acidentes nucleares sérios: o incêndio de outubro de 1957. O núcleo do reator, feiro de grafite, pegou fogo, derreteu e queimou consideráveis quantidades de urânio, liberando grandes quantidades de radioatividade. Foi a mais séria calamidade nuclear até Chernobil, quase 30 anos depois, mas o governo britânico fez o que pode para minimizar o significado, tentando primeiro manter completo segredo (os bombeiros locais foram avisados pelas 24 horas depois do ocorrido) e mantendo os relatórios confidenciais até 1988.

Foi o primeiro de muitos acobertamentos em Windscale. Em 1976, por exemplo, segredos envolvendo um grande vazamento de água radioativa enfureceram o então ministro da Tecnologia, Tony Benn, favorável à energia nuclear. Mas coisas assim aconteciam em todo o mundo.

Nos reatores de Rocky Flats, nos EUA, muitos acidentes envolvendo material radioativo foram mantidos em segredo por décadas, de 1950 aos anos 1980. Na Rússia, a província de Chelyabinsk, a oeste dos montes Urais, abrigava um grande complexo de armamento atômico, que foi onde aconteceram três grandes desastres nucleares: o descarte lixo radioativo e a explosão de um contêiner desse lixo nos anos 1950, e o vazamento de poeira radioativa em 1967. Estima-se que cerca de meio milhão de pessoas na região foram atingidas por um ou mais incidentes, expostas a mais de 20 vezes a radiação que as vítimas de Chernobil. Nada disso se ficou sabendo à época. Chelyabinsk é descrito algumas vezes até hoje como “o local mais poluído do planeta”.

Quando olhamos para o Japão, encontramos uma cultura idêntica de acobertamentos e mentiras. Uma preocupação em particular é a Companhia de Energia Elétrica de Tóquio (Tepco), por coincidência dona e operadora dos reatores atingidos em Fukushima.

A Tecpo tem um triste histórico de relacionamento com a verdade. Em 2002, alguns de seus executivos se demitiram depois que o governo japonês tornou público que a empresa estava escondendo uma série de falhas nos reatores, e em 2006 a companhia admitiu que vinha falsificando informações sobre seus sistemas de resfriamento por um longo período.

Nessa semana foi revelado que a Agência Internacional de Energia Atômica alertou o Japão mais de dois anos atrás de que um forte terremoto poderia causar “sérios problemas”, de acordo com informações vazadas pelo Wikileaks e publicadas pelo The Daily Telegraph.

Mesmo Chernobyl, o mais notório caso de acidente nuclear do mundo, foi primeiro escondido pela então União Soviética, e poderia ter permanecido assim se não fosse a radioatividade detectada por cientistas suecos.

Por que é assim? Por que o instinto de esconder tudo persiste mesmo agora que o papel maior no desenvolvimento da energia nuclear passou dos militares para os civis? Talvez porque exista, entre o público, e um medo instintivo e certamente compreensível da energia nuclear, essa tecnologia que, uma vez que quebra seus átomos, libera forças mortais.

A indústria nuclear tem medo de perder o apoio público pelo simples motivo de que sempre precisou de dinheiro público para manter-se. Não é, mesmo agora, um setor que economicamente pode se manter de pé sem ajuda. Portanto, quando encontra um problema, a primeira reação é escondê-lo e a segunda é contar mentiras a respeito. Mas a verdade prevalece no final e a confiança do público na indústria diminui ainda mais do que se o problema fosse admitido de imediato.

Não é preciso que seja assim. Um quarto de século atrás, na indústria britânica nuclear havia um líder que por uns poucos anos transformou sua imagem pública: Christopher Harding. Ele era um homem aberto e honesto que ensinou que a paranoia e os segredos envolvendo a energia nuclear deveriam ser varridas para longe.

Quando ele se tornou o presidente dos Combustíveis Nucleares Britânicos, com sede em Windscale, ele decidiu por uma nova ordem. Renomeou o local e, para assombro geral, decretou que ao invés de furtivamente virar às costas ao público, deveria recebê-lo de braços abertos. E fez o impensável: criou um centro de visitantes.

Harding morreu em 1999, mas ele foi um homem excepcional: não apenas por seu charme e bondade pessoal – que revelou com os funcionários – mas por sua visão de que a indústria nuclear estaria melhor lidando com os seus problemas com transparência e honestidade ao invés de acobertamento e engôdos. Mas ele foi, infelizmente, a exceção que confirma a regra.

O resto da indústria nuclear vem escondendo a verdade para manter as aparência por tanto tempo, e suas mentiras tem sido tão frequentemente expostas, que talvez a chance de acreditar já tenha passado. Mesmo que, como eu suspeito, o governo japonês esteja tentando ser franco sobre os problemas em Fukushima, não significa que tudo o que for dito sobre a parte atômica da catástrofe nacional será acreditado.

Tradução Wilson Sobrinho, para CARTA MAIOR

domingo, 26 de abril de 2009

Maior uso de energias renováveis implicará mudança estrutural no setor energético


Deutsche Welle

Investimentos em energias renováveis deverão quadruplicar até 2020 e levar a uma profunda mudança no setor, dizem especialistas. Foco se deslocará para tecnologias capazes de capturar a energia fornecida pela natureza.

O mercado mundial de energias renováveis está em alta, aponta estudo divulgado esta semana durante a Feira Industrial de Hannover, na Alemanha. Até 2020, esse mercado deverá movimentar 275 bilhões de euros em todo o mundo – em 2005, o valor era de 60 bilhões de euros.

A importância crescente das energias renováveis foi também recentemente lembrada pelo diretor-executivo do Pnuma (Programas das Nações Unidas para o Meio Ambiente), Achim Steiner. De acordo com ele, o setor já emprega 2,3 milhões de pessoas. "Isso é mais do que o setor de refino de gás e petróleo, no qual trabalham 2 milhões de pessoas."

Steiner e outros defensores de meios alternativos de geração de energia sabem que, para crescer ainda mais, o setor de energias renováveis terá que quebrar um padrão: o da economia baseada no petróleo.

"Somos confrontados com o fato de que muitos dos players dominantes na economia mundial trabalham com tecnologias de ontem. Eles não estão bem preparados para as tecnologias sustentáveis e ambientalmente mais inteligentes de amanhã. Há, portanto, um interesse em oferecer resistência", afirmou Steiner.

Mudança estrutural

Para o deputado social-democrata alemão Hermann Scheer, a era dos combustíveis fósseis está definitivamente a caminho do fim. Scheer é presidente da Eurosolar, uma associação europeia de defesa do uso de energias renováveis, e um ativista de longa data no meio.

Para ele, a mudança anda a passos lentos por um motivo bem claro: se a humanidade trocar os combustíveis fósseis pelo uso de vento, sol e água, todo um sistema de abastecimento de energia cai por terra.

"A mudança para as energias renováveis dará início a uma ampla mudança estrutural. Essa mudança já será inevitável apenas se levarmos em conta que fontes de energia comerciais – petróleo, gás, carvão, urânio – serão substituídas por fontes de energia não comerciais – sol, vento e quedas d'água, por exemplo, fornecidas de graça pela natureza."

O problema, argumenta Scheer, é não ser possível trocar a posição de vendedor de petróleo pela de vendedor de ventos ou raios de sol. Com isso, as gigantes mundiais da exploração e comercialização de petróleo perdem a base dos seus negócios.

Consequência lógica dessa situação, afirma Scheer, é que o foco no setor de energia se deslocará para o desenvolvimento de tecnologias capazes de transformar a energia fornecida de graça pela natureza em energia elétrica, em detrimento da exploração de gás e petróleo.

Países emergentes

Há quem já tenha reconhecido essa tendência – e entre eles estão justamente aqueles que mais podem perder com as mudanças no setor. Grandes países produtores de petróleo no Golfo Pérsico estão investindo quantias altas em energias renováveis. Também multinacionais da exploração de petróleo estão se voltando para projetos alternativos de produção de energia.

E se as nações industrializadas não mudarem logo seu foco de ação, poderão ser atropeladas por países emergentes, afirma Jürgen Meier, diretor do Fórum de Meio Ambiente e Desenvolvimento, organização que reúne as principais ONGs ambientalistas e de ajuda ao desenvolvimento da Alemanha.

Ele lembra que a China já é líder mundial no uso de energia solar para o aquecimento de água em prédios e residências. "A China tem também o mais ambicioso programa de energia eólica do mundo. Eles possuem seus próprios fabricantes e não dependem de importação."

E a China também se destaca na fabricação de células fotovoltaicas, embora ainda quase exclusivamente destinadas à exportação. Segundo Meier, isto se deve ao interesse no mercado interno, que é reduzido; mas essa situação deverá mudar em breve.

Autores: Helle Jeppesen / Alexandre Schossler
Revisão: Augusto Valente

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Setor energético latino–americano clama por integração


O setor energético latino-americano é um espelho fiel da realidade na região: recursos abundantes e falta de vontade política para os passos definitivos à integração. Problemas do setor foram debatidos em Munique.

Na conferência de dois dias sobre a América Latina encerrada na sexta-feira (31/10) em Munique, o principal tema foi a energia, um campo no qual o subcontinente vem dando enormes passos graças a suas reservas de petróleo e gás, entre outros, embora ainda se esteja aquém da exploração de todo o potencial deste setor.

"Os países não querem criar dependências na área energética e sob esta perspectiva a integração vem perdendo prioridade", disse Andrés Restrepo, diretor da ISA, companhia colombiana líder regional na distribuição de energia.

Problemas por resolver

Com uma maior integração no setor, a América Latina poderia reduzir custos, melhorar os serviços prestados aos clientes, fortalecer os mercados locais e fomentar o crescimento econômico. Apesar dos avanços nesta direção, entretanto, vários países ainda têm obstáculos a superar. Dois deles são a vontade política dos governos e a equiparação das regulamentações.

"Não é novidade que a energia seja usada como arma política, como instrumento de pressão. Isso acontece não só na América Latina. Atualmente, se vê isso entre a Rússia e os países do Cáucaso. O importante é que não se perca de vista que o setor é um instrumento de desenvolvimento e sustentabilidade", explicou Luís Enrique Berrizbeitia, vice-presidente da Corporação Andina de Fomento (CAF).

Agenda energética mundial

Jonas Fonseca, diretor de Prospecção e Produção do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP), ofereceu um exemplo contundente dos paradoxos gerados pela falta de cooperação entre os países: "A integração atingiu um ponto muito difícil. Estamos agora importando gás da Nigéria e de Trinidad e Tobago, enquanto o Peru, nosso vizinho, exporta para o México, e a Bolívia não duplica o fornecimento para o Brasil, apesar de nossas necessidades. Na minha opinião, deve fazer-se um esforço continental neste terreno".

Ao problema político soma-se outro de grande importância global: o ambiental. "O mundo necessita de energia para crescer, mas o aumento da produção provoca o aquecimento climático", salientou Patrick Manning, primeiro-ministro de Trinidad e Tobago, país no qual a Alemanha investiu 3 bilhões de dólares em plantas de exploração de gás atendendo padrões ecológicos.

"O mundo precisa de uma agenda energética mundial para garantir o crescimento econômico", acrescentou Manning, ao explicar que seu país favorece o livre mercado como melhor alternativa de equilíbrio entre demanda e flutuação de preços.

O papel da Alemanha

O novo secretário da Economia da Baviera, Martin Zeil, considera que a Alemanha deve ser muito mais decidida no tocante ao papel a ser desempenhado por sua economia no setor energético latino-americano. "Vamos promover a participação de nossas empresas", disse Zeil nos debates em Munique.

O que ficou claro na conferência é que o crescimento mundial demanda energia e que os recursos disponíveis na região são cobiçados tanto pela Europa como pelo resto do mundo. Os países do subcontinente só podem se beneficiar disso se unirem esforços e trabalharem pela criação de uma infra-estrutura adequada, contando para isso com o apoio de nações desenvolvidas como a Alemanha.

Daniel Martínez, para Deutsche Welle

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Petrobras quer liderar mercado de energia na América Latina


Depois de garantir a auto-suficiência brasileira em petróleo, a estatal intensifica sua expansão internacional. Apesar do conflito recente com a Bolívia, a Petrobras continua investindo na América do Sul, mas amplia seus negócios também a outras regiões do mundo.

Em 21 de abril de 2006, no 506° aniversário do descobrimento do Brasil pelos portugueses, o edifício-sede da Petrobras, no Rio de Janeiro, amanheceu iluminado em verde e amarelo. A empresa comemorava a "nova independência do Brasil" – a auto-suficiência do país em petróleo. Desde então, ela vem intensificando seu processo de expansão internacional, com o objetivo de se tornar uma "empresa integrada de energia" líder na América Latina.

Com a entrada em operação da plataforma P-50, no campo de Albacora Leste (Bacia de Campos, Rio de Janeiro), a capacidade de produção média anual de petróleo do Brasil passou a somar 1,91 milhão de barris por dia, superando o consumo previsto de 1,85 milhão a 1,9 milhão de barris diários.

A auto-suficiência foi festejada como um novo marco da história do país e da Petrobras. A estatal criada por Getúlio Vargas em 1953 hoje é a empresa mais valiosa da América Latina e a oitava do mundo em valor de mercado no setor de petróleo. Faturou US$ 20,2 bilhões em 2005. Mais de 60% do total das ações da companhia estão em mãos da iniciativa privada, mas o governo detém 56% das ações com direito a voto.

"Quando a Petrobras foi criada, a dependência externa era quase absoluta. Produzíamos 2700 barris/dia para uma demanda de 172 mil barris. Hoje, ao contrário, vivemos o melhor ambiente macroeconômico dos últimos 20 anos e a Petrobras é fundamental nessa história", disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na chamada "festa da independência" no Rio.

Choque boliviano

A euforia pela conquista da auto-suficiência foi tanta que nem mesmo a nacionalização do gás na Bolívia em 1° de maio abalou a estatal brasileira. "O contrato de transporte de gás está assegurado até 2019, com volume entre 24 milhões e 30 milhões de metros cúbicos por dia. Nada mudou", reagiu o diretor de gás e energia da Petrobras, Ildo Sauer.

Na realidade, houve mudança, sim. Pelo decreto de nacionalização, todas as petrolíferas estrangeiras que estavam na Bolívia passaram a pagar 82% de impostos e royalties (em vez de 18% anteriores). Um novo contrato assinado em 28 de outubro passado prevê a redução dessa taxa a 50%. O restante será usado para cobrir despesas e remunerar investimentos.

Para o Brasil e sua maior empresa estatal, há muita coisa em jogo na Bolívia. Nos últimos dez anos, a Petrobras investiu US$ 1,5 bilhão no país andino, onde responde por 24% da arrecadação de impostos e 18% do Produto Interno Bruto. Já o Brasil importa cerca de 26 milhões de metros cúbicos de gás natural boliviano por dia, quase a metade do volume que consome.

Integração energética

Apesar do recente conflito, o diretor da área internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, está convicto de que "a Bolívia continua sendo a melhor opção de fornecimento de gás para o Brasil. É a opção mais barata que temos. Os bolivianos nunca ameaçaram cortar o fornecimento. Pelo contrário, querem aumentar o fornecimento para o Brasil. É uma situação diferente da Europa, que depende totalmente do gás russo", disse à DW-WORLD.

Cerveró vê a Petrobras como "companhia energética que atua numa perspectiva de integração latino-americana. Na América Latina, o Brasil é o terceiro produtor e principal consumidor de petróleo, bem como tem a segunda maior capacidade de refino e é o maior produtor de energia da região".

A presença da estatal brasileira é forte em vários países sul-americanos. No Paraguai, por exemplo, lidera o mercado de distribuição de combustíveis. Na Colômbia, onde atua desde 1972, fez a maior descoberta de petróleo do país dos últimos 20 anos, participa da exploração de petróleo em águas profundas e detém 4% do mercado de distribuição.

Desde dezembro de 2004, distribui gás no interior do Uruguai, em parceria com a estatal Administración Nacional de Combustibles, Alcohol y Portland (ANCAP). Em junho deste ano, adquiriu a Gaseba, que leva gás natural a 40 mil clientes em Montevidéu.

Risco político

Na Venezuela, onde a lei restringe a 49% a participação estrangeira em projetos de petróleo, a Petrobras atua na exploração e produção no norte do país. Junto com a estatal venezuelana PDVSA, acaba de descobrir 4,5 bilhões de barris de petróleo extrapesado (de baixo valor comercial) no campo de Carabobo 1, na faixa do Orinoco. As duas companhias negociam uma parceria para a exploração deste campo e a construção de uma refinaria binacional no Brasil.

No Equador, o polêmico projeto de exploração do Bloco 31, localizado em parte no Parque Nacional Yasuni, na Amazônia equatoriana, está parado. Em 2004, a Petrobras obteve uma licença ambiental e começou a construir uma estrada de acesso. Por pressão de ambientalistas, essa licença foi cassada em julho do ano passado. Um novo estudo de impacto ambiental encontra-se sob análise do governo do Equador.

Nestor Cerveró diz que a Petrobras está preparada para enfrentar situações de instabilidade institucional ou regulatória. Desde 2005, a empresa usa até um software especial para simular situações de risco político. "A produção de energia é uma atividade de risco em todo o mundo. O risco político existe não só na América do Sul", afirma.

Segundo alguns analistas, a Petrobras aprendeu no conflito do gás boliviano que é bom não confiar demais nos vizinhos. A empresa teria congelado alguns planos de expansão e reduzido a um mínimo seus novos investimentos na Bolívia. Na Venezuela, estaria buscando o máximo de garantias contratuais, antes de realizar novos investimentos.

Mundança de rumo

O Plano de Negócios da Petrobras para 2007–2011 mostra que a empresa está mudando o rumo principal de sua expansão no exterior. Dos US$ 12,1 bilhões que planeja investir fora do país nos próximos quatro anos, US$ 2,74 bilhões destinam-se à parte norte-americana do Golfo do México. Um outro foco de investimentos será o delta do rio Níger, na Nigéria.

No Cone Sul, planeja investir um total de US$ 2,8 bilhões até 2011, a maior parte na Argentina, onde se concentra sua maior produção fora do Brasil – 65 mil barris de petróleo/dia. Caso a política nacionalista da Bolívia faça escola, "a preocupação maior recai sobre a Argentina, tendo em vista seu quadro de perspectivas de deficiências energéticas associado às direções políticas em que o país se move", disse à DW-WORLD Eloi Fernández y Fernandez, diretor-geral da Organização Nacional da Indústria do Petróleo (Onip).

A Petrobras atua em 23 países de quatro continentes, mas quer mais. A previsão da empresa é de que, em 2011, cerca de 1 milhão dos 2,8 milhões de barris de petróleo de sua produção diária serão refinados e comercializados fora do Brasil (hoje são aproximadamente 270 mil barris/dia).

O primeiro passo para processar e vender mais derivados de petróleo no exterior foi a compra, por US$ 360 milhões, em setembro passado, de 50% da refinaria de Pasadena (Texas, EUA). Além disso, segundo Cerveró, a Petrobras está analisando propostas de participação em refinarias no Japão, Índia, Holanda, Espanha e Inglaterra.

No começo deste ano, a Petrobras fechou um acordo de cooperação com a Gazprom russa, maior empresa do mercado mundial de gás, que poderá se transformar numa porta de entrada no continente europeu. "Temos interesse em todos os grandes mercados consumidores“, disse Cerveró.

Geraldo Hoffmann

domingo, 26 de outubro de 2008

Fríos


Por Juan Gelman, para Página/12

Los fríos invernales se acercan a Moscú, mientras otros recorren la relación Rusia/Estados Unidos. Wa-shington no se conforma con instalar parte de su escudo antimisiles en la República Checa y Polonia: ahora promete defender a las ex soviéticas Estonia, Lituania y Letonia contra cualquier intervención militar rusa. En su reciente visita a Vilna, la capital lituana, el almirante Michael Mullen, jefe del Estado Mayor Conjunto de las fuerzas armadas estadounidenses, anunció que la OTAN no permanecería pasiva en ese caso y protegería a los estados bálticos, socios novísimos del organismo europeo. Georgia fue la que inició el conflicto con Rusia bombardeando Tsjinvali, provocando la muerte de unos 1500 civiles y dejando sin agua ni alimentos, electricidad y gas a la capital de Osetia del Sur (AP, 9-8-08). Pero el almirante declaró que “la invasión rusa a Georgia es un fuerte recordatorio de las responsabilidades” de la OTAN en la región (AFP, 21-10-08).

Hay más. El teniente general lituano Valdas Tutkus, jefe de Defensa, pidió que aumenten las maniobras militares conjuntas con la OTAN y Mullen declaró que el Pentágono está reestructurando el plan previsto en la materia. Dijo sí, entonces, acentuando las tensiones con Moscú. La crisis económica de alcance mundial que desató Wall Street tapa situaciones graves que castigan al planeta, como el desastre alimentario, que se agudizó, y la posibilidad de que 20 millones de personas más se conviertan en desocupados a lo largo de 2009, según estimaciones de la Organización Internacional del Trabajo. También desvía la atención de este agravamiento de la Guerra Fría II, que está presente ya aunque las dos partes lo nieguen. Sus consecuencias son imprevisibles.

La relación Casa Blanca-Kremlin comenzó a deteriorarse a mediados de la década pasada, cuando la OTAN decidió expandirse e incluir a los países del “socialismo real” que formaban parte del Pacto de Varsovia, con la entonces URSS a la cabeza. Bush hijo rompió así la promesa que Bush padre y su secretario de Estado Jack Matlock le hicieron a Mijail Gorbachov: si el Este permitía la reunificación de Alemania sin impedir su pertenencia a la OTAN, la alianza occidental no absorbería a los vecinos de Moscú. “Ni siquiera una pulgada”, afirmó Matlock en la entrevista (www.truthdig.com, 21-10-08). Ocurre todo lo contrario y la Casa Blanca insiste en ampliar el cerco a Rusia ahora en el Cáucaso.

En medio de la crisis económica más dura que azota a EE.UU. y a Europa occidental desde el siglo pasado, Wa-shington enviará mil millones de dólares a Tiflis, los países europeos, esa suma y algo más, y la Comisión Europea agregará 642,8 millones adicionales, todo para “la reconstrucción de Georgia” (The New York Times, 22-10-08). A lo paradójico del hecho se suma lo curioso (o no): fue Georgia la que destruyó el centro de Tsjinvali. Si algo necesita ser reconstruido es la capital de Osetia del Sur. En realidad, es una señal dirigida a Tiflis y a Moscú de que EE.UU. y Europa occidental están dispuestas a intervenir militarmente para garantizar su influencia en el Cáucaso. Y es algo más.

Hay que tranquilizar también a los inversionistas que han volcado ya miles de millones de dólares en la construcción del oleoducto Ceyhan-Tiflis-Bakú (CTB), que elude el territorio ruso y está destinado a minimizar la dependencia energética que ata a Europa occidental a Rusia. Su construcción se inauguró oficialmente el 25 de mayo de 2005 y el presidente georgiano Mijail Saakashvili celebró la “victoria geopolítica” que el ducto entraña para los países de la cuenca del Mar Caspio (The Guardian, 26-5-05). No mencionó la que significa para los megagigantes del petróleo recortados en Rusia por el gobierno de Putin. Para estos oligopolios hay en juego un paquete sideral de beneficios y su empeño no debe fracasar, aunque cueste más guerras. Parafraseando al general prusiano Carl von Clausewitz, autor de la famosa frase “la guerra es la continuación de la política por otros medios”, se podría decir que para el Occidente desarrollado, la guerra es la continuación de su hambre energética por otros medios.

El vicepresidente Dick Cheney declaró que EE.UU. desea entenderse con Azerbaiján para construir otros ductos a fin de exportar a Occidente más energía de la región (news.bbc.co.uk, 3-9-08). Imposible asombrarse: Dick y figuras notorias del Partido Republicano –James Baker, Bent Scowcroft, John Sununu, otros– son inversionistas petroleros importantes y no encuentran razón para cesar de llenarse los bolsillos aun en medio de la crisis. El gobierno estadounidense socializa los costos y privatiza los beneficios. Es una regla de oro del capitalismo salvaje. También del otro.