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segunda-feira, 2 de março de 2015

8 razões pelas quais o preço do petróleo está voltando a subir






Apesar da conspiração entre árabes e americanos para baratear o petróleo e pressionar economicamente a Rússia, Irã e Venezuela, os preços voltam a subir.


Nazanín Armanian *



Se ainda alguém não sabe, a Aramco – a empresa de petróleo da Arábia Saudita, e também a maior do mundo –, até bem pouco tempo, em 1977, se chamava Arabian American Oil Co., sendo de propriedade comum entre a família saudita e várias empresas da Califórnia e do Texas. Por isso, não se pode ficar surpreso se a dupla Washington-Riad tiver algo a ver com a queda brusca dos preços de 115 dólares o barril para 45 dólares entre junho e dezembro passados, levando em conta que o mercado de petróleo não é “livre”: ele é controlado por um cartel chamado OPEP e por grandes empresas petrolíferas ocidentais. E mais, o combustível gorduroso e malcheiroso, antes de tudo, é uma arma que nesse caso foi apontada contra a Rússia, o Irã e a Venezuela com a finalidade de conseguir mudanças em suas políticas via afundamento de suas economias, e ainda resgatar um falecido petrodólar – um dos pilares da hegemonia mundial dos EUA.

No entanto, a festa durou pouco e os promotores da “conspiração Aramco” se deram conta de que os prejuízos dessa queda de preços são maiores do que seus benefícios político-econômicos. Por isso, o preço de venda do petróleo para o mês de março teve uma notável melhora nos três mercados de Brent, dos EUA e da OPEN, oscilando por volta de 59 dólares o barril.

Aqui vão alguns motivos:

1. Os membros dos Brics, com exceção da Rússia, foram os principais agraciados pela compra de um petróleo barato.

a) China, o principal rival dos EUA e o segundo consumidor mundial de petróleo, bateu seu recorde de importações de petróleo, apesar de seu crescimento econômico ter sido o mais frouxo desde 1990 (mas registrou, no primeiro trimestre de 2014, um crescimento de 7,2%): começou a comprar 6,2 milhões de barris por dia, e acabou o mês de dezembro com 7,2 milhões de barris por dia, injetando-os em sua Reserva Estratégica de Petróleo (o armazenamento ocorre para afrontar as emergências, como a interrupção do abastecimento). Com isso, a China não só deixou os EUA nervosos, mas contribuiu para empurrar os preços para o alto, por dois outros fatores: tirar boa parte do excedente de petróleo que nadava no mercado e gerar incerteza sobre seu passo seguinte no mercado.

b) Beneficiou o Brasil, a principal potência rival dos EUA na América, e que agora está decidida a recuperar sua influência no seu “quintal”, e a África do Sul, o principal competidor de Washington na África. Os Brics decidiram abandonar o dólar em suas transações e criaram um banco com a finalidade de debilitar as instituições financeiras ocidentais.

2. Não conseguir mudar a postura de Moscou nos casos da Ucrânia, Crimeia e Síria. Pois se os setores belicistas ocidentais desferiram o primeiro ataque à Rússia, provocando um golpe de Estado na Ucrânia, levando à surpresa da integração da Crimeia à Federação Russa, eles pensaram que uma drástica queda nos preços do petróleo – triturando o rublo e a economia russa – fosse provocar a rendição do Kremlin. Estratégia ruim, já que o golpe à economia do país eslavo, assim como a dramática guerra da Ucrânia, deixou cerca de 6 mil mortos e milhões de desabrigados, e teve um efeito negativo sobre os países europeus aliados de Washington, que enfrentam uma ameaça de recessão: estão perdendo o mercado russo e também os investimentos, tanto dos magnatas russos como de seu Estado. Na Espanha, por exemplo, os milionários russos estavam comprando prédios inteiros herdados da era da especulação mobiliária. Além disso, é incompreensível que não previssem uma aproximação Moscou-Pequim (sem precedentes após a morte de Stalin) e Moscou-Teerã: os presidentes Vladimir Putin e Hassan Rouhani, que compartilham o sofrimento pelas sanções impostas pelos EUA e seus sócios, assim como pela “Conspiração Aramco”, tiveram quatro encontros em um ano, algo também sem precedentes na história dos dois vizinhos.

3. Quanto ao Irã, não conseguiram pressioná-lo para conseguir mais vantagem nas negociações nucleares em curso e subtrair suas forças na região porque:

a) Teerã não deixou de apoiar o governo de Bashar al-Assad (a Síria representa a profundidade estratégica do Irã enquanto ele está no poder), e inclusive já fala abertamente dos generais iranianos que trabalham em solo sírio;

b) nem aceitou o fechamento total de seu programa nuclear, e isso apesar de John Kerry ter lançado um ultimato a Teerã para assinar um acordo político global até o final de março – se não, não retomariam as negociações. O certo é que a administração Obama está muito consciente da luta pelo poder no seio da República Islâmica entre os setores militares – contrários a um acordo com os EUA – e o governo do presidente Rouhani, que tenta, por um lado, driblar as sanções que estão afogando a economia iraniana e, por outro, evitar um confronto bélico (tentou baixar a tensão depois que o míssil israelense matou um general iraniano na Síria, no último dia 20 de janeiro). Se Obama pretende impedir um Irã nuclear, um petróleo com preços no chão, aumentará a tensão social em um Irã monoprodutor e fortalecerá a posição dos céticos e dos setores que querem guerra (assim como EUA e Israel). As medidas de Rouhani diante da manobra da Aramco foram incentivar a exportação dos produtos não petrolíferos, investir no turismo, aumentar os impostos, manter os subsídios aos principais produtos de consumo e a ajuda às famílias desfavorecidas, além de uma política externa agressiva na região com um ramo de oliveira nas mãos – que inclui sobretudo os países árabes “inimigos” e membros da OPEP, como Kuwait ou Catar.

4. A perda de centenas de milhões de dólares por parte das grandes empresas petrolíferas ocidentais, como as que operam no Iraque, Líbia, Nigéria, entre outros.

5. O déficit orçamentário gerado pela queda do preço do petróleo criou dificuldades para os xeiques sauditas, em pelo menos estes três cenários:

a) No interior do país: seus orçamentos foram elaborados com base no barril de 72 dólares, e agora se enfrenta um aumento importante dos preços dos produtos básicos. Além disso, previu-se, desde a repressão da primavera de 2011, realizar uma série de projetos que melhorariam a vida dos cidadãos – como a construção de moradias, a criação de postos de trabalho, ou a chegada de água e luz a milhões de pessoas que vivem na pobreza absoluta – e que agora estão paralisados.

b) No Egito: a promessa feita em 2011 aos militares encabeçados pelo general Al-Sisi de receber 160 bilhões de dólares anuais acabam com a Irmandade Muçulmana do presidente Mohammed Mursi, preso após o golpe de Estado. O que acontecerá no Egito, seu grande aliado contra Irã, se não cumprir?

c) No Iraque e na Síria: dificuldade para pagar os honorários de milhares de jihadistas do Estado Islâmico e grupos parecidos, cuja missão é acabar com os governos de Damasco e de Bagdá, ambos próximos a Teerã, e arrastar o Irã para uma guerra regional sectária. Desde 2011 até hoje, investiu bilhões de dólares nesses terroristas, com um êxito parcial: destruiu o Estado sírio, mas ainda não conseguiu levantar um novo e afim.

6. Nos EUA, dois fatos contribuíram para o aumento dos preços do barril:

a) Os cortes nos investimentos de capital por parte das multinacionais na extração do petróleo de xisto como resposta à queda dos preços. Pois cada barril lhes está custando entre 70 e 80 dólares (diante dos 15-20 dólares no Oriente Médio) e um petróleo por menos desse preço, obviamente, não é rentável. Com isso, nos EUA e no Canadá, cerca de 90 plataformas de exploração fecharam. BP perdeu bilhões de dólares em todo o mundo e planeja reduzir suas atividades de exploração à metade e os investimentos até 20%. A Chevron está em situação parecida.

b) A greve de cerca de 4 mil trabalhadores das empresas Royal Dutch Shell Oil e BP em nove refinarias em Ohio, Califórnia, Kentucky, Texas e Washington, iniciada em 1° de fevereiro. Exigem um convênio coletivo para o setor, a redução do número de trabalhadores não sindicalizados e melhorias nas condições de segurança e saúde, em uma greve que é a primeira dessa envergadura há várias décadas.

7. O aumento da tensão na Líbia e a perda de 800 mil barris em um incêndio.

8. O perigo de instabilidade social em países aliados aos EUA, como Iraque (incluindo seu Curdistão) ou Nigéria, pela queda dos petropreços.

O único e grande triunfo dos EUA e da Arábia Saudita nessa história até o momento foi transformar a OPEP em espectro do que foi entre 1960 e 1990, e não apenas porque sua cota de mercado caiu de 62% para os 30% de hoje, mas porque a Arábia, o Kuwait e os Emirados Árabes Unidos fizeram uma frente contra pesos pesados da organização, tais como Irã, Iraque, Argélia, Venezuela e Equador.

Os preços do petróleo tocaram fundo. É perfeitamente lógico que o “Naft” (seu nome em persa, e do qual vêm palavras como “naftalina”) não apenas recupere seu preço – que hoje é mais barato do que uma garrafa de bom vinho –, mas também seu valor: é o resultado de milhões de anos do esforço “não renovável” da natureza.

Profesora de Relaciones Internacionales en la UNED, Licenciada en Ciencias Políticas y doctora en Filosofía, he trabajado en la UNED como tutora de Ciencias políticas, y  desde el  2008 estoy impartiendo clases  en los cursos on-line de la Universidad de Barcelona.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

A Petrobrás e a campanha do capital internacional

 
Fonte da Imagem: http://blogdaengenharia.com/wp-content/uploads/2014/06/plataforma-de-petroleo-blog-da-engenharia.jpg

Entrevista com Fernando Siqueira

Prossegue a oportunista campanha da imprensa que instrumentaliza as revelações do esquema de corrupção atuante na Petrobras para justificar a desnacionalização e entrega do petróleo brasileiro ao cartel internacional, ainda mais corruptos, já que se apoiam também em guerras e no uso de mercenários para garantir seus interesses em diversas partes do mundo.

A entrevista é de Rennan Martins, publicada pelo portal Desenvolvimentistas, 20-01-2015.

Cumprindo nossa missão de fazer o contraponto à narrativa hegemônica, atuando na guerrilha semiológica, como propôs Umberto Eco, o Blog dos Desenvolvimentistas segue colhendo e disseminando informações a fim de retratar o mundo de uma perspectiva que não a dos poderosos, essa já fartamente propagandeada.

É pra isso que entrevistei mais uma vez Fernando Siqueira, vice-presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras (AEPET). Siqueira defende que se deve investigar cada indício de corrupção, mas que a Petrobras é vítima dos saqueadores, “e não um antro de corrupção como eles tentam mostrar”. Ressalta que é uma companhia em melhor situação que as outras cinco grandes petrolíferas internacionais, lastreada em 84 bilhões de barris, e é justamente por essa riqueza que é tão atacada.

Eis a entrevista.

Qual a posição da AEPET em relação ao cartel/propinoduto que saqueou a Petrobras?

Achamos essa prática execrável, que deve ser punida com o máximo de rigor e prisão de todos os envolvidos. Em todo o Brasil. O ponto positivo é que a operação lava-jato trouxe as informações necessárias, inclusive dos corruptores, o que só foi possível com as delações premiadas. Vimos denunciando em todas as AGO´s (Assembleia Geral Ordinária, anual, dos acionistas) os indícios da corrupção (por exemplo, a cartelização pela prática de EPCismo – contratação de obras por pacote fechado – que sistematizou a cartelização). Mas não dispúnhamos das provas concretas. Sabíamos que o Duque (segundo dizem, concunhado do Zé Dirceu), o Paulo Roberto, o Barusco tinham procedimentos suspeitos, mas faltavam as provas. Agora temos a chance de deflagrar um combate sem tréguas à corrupção. Em todos os segmentos do País. Mas alguns membros do Ministério Público têm alertado para o risco de impunidade. A sociedade não pode aceitar um novo Satiagraha, que deu em nada.

Procedem os rumores de que a estatal está atolada em dívidas?

A Companhia tem realmente uma grande dívida. Porque tem a maior carteira de campos de petróleo a serem postos em produção. Portanto é uma dívida positiva, visto que é uma dívida para investimentos, os quais dão retorno superior a 80% ao ano. O retorno demora um pouco, mas já temos uma produção superior a 700 mil barris por dia no pré-sal. E o pré-sal já tem uma reserva descoberta de cerca de 70 bilhões de barris, que somada aos 14 bilhões pré-existentes, chegam a 84 bilhões de barris. Portanto, a dívida, além de ser positiva, tem um grande lastro.

O que explica a grande queda nos preços das ações da estatal? Em que extensão o escândalo de corrupção influencia nessa questão?

Há vários fatores. A queda do preço internacional do petróleo (temporária), a explicitação da nefasta corrupção, além da campanha sistemática da mídia defensora do capital internacional. Eles querem tirar a Petrobrás da condição de operadora única do pré-sal, pois isto inibe os dois focos de corrupção: superdimensionamento dos custos de produção, ressarcidos em petróleo e a medição fraudulenta da produção. Embora haja corrupção dessas empreiteiras em todos os segmentos do País, a da Petrobrás foi exacerbada ao máximo para desmoralizar a empresa. Na realidade a Petrobrás é vítima, e não um antro de corrupção como eles tentam mostrar. Ela tem 88000 empregados sérios, honestos e competentes.

Na esteira das revelações do esquema muitos analistas criticaram o modelo de partilha. Que pensa a AEPET sobre o atual modelo de exploração?

O modelo de partilha, não é o ideal, faltando, inclusive fixar o percentual do óleo-lucro que fica com a União. Mas é muito melhor do que o de concessão que eles defendem. A concessão dá todo o petróleo para quem produz. Por ela, o Brasil fica com 10% de royalties e cerca de 20% em impostos – tudo em dinheiro. No mundo, os países exportadores ficam com a média de 80% do petróleo produzido. Em nossa visão o modelo ideal é a volta do modelo existente antes da era FHC, previsto no artigo 177 da Constituição Federal de 1988: o Monopólio Estatal do Petróleo, conforme constava na Lei 2004/53. Ou a contratação por prestação de serviços, como é na Venezuela.

A proposta de retorno do regime de concessões interessa ao país? Quem ganha e quem perde com este modelo?

O modelo de concessão é pernicioso para o País, é puro entreguismo, pois conforme dito acima, só favorece as concessionárias integrantes do cartel internacional, em detrimento do povo brasileiro. Quem ganha com esse modelo é esse cartel do petróleo e os defensores do modelo, que, provavelmente, não fazem essa defesa gratuitamente.

A narrativa da grande mídia retrata nossa estatal como se estivesse à beira da falência. Por quê? Com que objetivos?

Faz parte da campanha do capital internacional. A Petrobrás, comparada às cinco grandes companhias petrolíferas internacionais, está muito melhor que elas. Aumentou suas reservas, aumentou a produção, o faturamento bruto, enquanto as outras têm indicadores negativos nesses quesitos. Ela ainda tem 70 bilhões de barris de petróleo descobertos no pré-sal, que fazem dela uma potência econômica e tecnológica. Aliás, ela poderia estar bem melhor se o Governo Dilma, por ditames eleitoreiros, não a houvesse obrigado a importar derivados e revender para suas concorrentes por preços inferiores. Segundo o Conselheiro Administrativo eleito, Silvio Sinedino, presidente da Aepet, esse rombo já atingiu a R$ 60 bilhões.

Que postura devem assumir os brasileiros que valorizam uma Petrobras forte e nacional?

Devem assumir a sua defesa como vítima da corrupção e combater sem tréguas essa prática. Lembrar que a Companhia é a mais estratégica do País e que ela pode alavancar o desenvolvimento tecnológico, econômico e financeiro, gerando empregos, tecnologia e desenvolvimento sustentado. Gosto sempre de citar a Noruega, que passou de segundo país mais pobre da Europa para o mais evoluído do Planeta: tem o melhor IDH – Índice de Desenvolvimento Humano - de todos por cinco anos consecutivos, o melhor bem-estar social e a segunda renda per capta do planeta. Por que a Noruega cresceu assim? Porque soube usar o petróleo que descobriu no Mar do Norte na década de 70. Desenvolveu-se magistralmente e criou um fundo soberano pós-petróleo, que já chega a US$ 900 bilhões. E nós temos muito mais petróleo do que eles, além de imensas riquezas fora do ramo petróleo – minérios, biodiversidade, água.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Dez anos depois, Petrobras reassume 100% da Refap em Canoas

Compra deve impulsionar investimentos de mais de R$ 1,5 bilhão na refinaria

A Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), de Canoas, vai voltar a ser 100% brasileira. A Petrobras comprou de volta 30% das ações, que haviam sido adquiridas pela espanhola Repsol durante o governo Fernando Henrique Cardoso. A direção da estatal relatou a aquisição, nesta segunda-feira, ao deputado estadual Raul Pont (PT), líder da Frente Parlamentar Refap 100% Petrobras, que defendia a retomada do controle da unidade canoense pela petrolífera brasileira.

A compra deve impulsionar investimentos de mais de R$ 1,5 bilhão na Refap através das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), entre elas, a construção uma unidade de hidrotratamento para retirar o enxofre do óleo diesel. De acordo com Pont, o aporte vai adequar a refinaria aos padrões internacioanis de controle ambiental e torná-la mais moderna e competitiva. A movimentação financeira também deve gerar entre dois e três mil empregos, só na fase de construção.

Entenda o caso

Ao comprar uma fatia de ações da Refap em 2000, a Repsol passou a ter participação nas instâncias deliberativas da refinaria. A espanhola usava o poder de veto no conselho da Refap para se posicionar contra os investimentos do PAC.

Procurado por sindicalistas, o deputado Raul Pont criou a Frente Parlamentar Refap 100% Petrobras na Assembleia Legislativa. Em 1º de dezembro, parlamentares foram até o Rio de Janeiro para conversar com os diretores da Petrobras sobre a possibilidade de a petrolífera compras as ações de volta.

Correio do Povo

terça-feira, 19 de outubro de 2010

DEVER CUMPRIDO


No calor da corrida eleitoral rumo ao segundo turno, o presidente Lula entrou no clima de fim de mandato e já faz balanços de seu governo. A pouco mais de dois meses para o término de sua administração, Lula diz que vai entregar o cargo "com a sensação de dever cumprindo". 

Em evento institucional, a inauguração das unidades de Coque e de Hidrotratamento de Diesel da refinaria da Petrobras em São José dos Campos, interior de São Paulo nesta segunda-feira (18/10), Lula seguiu o protocolo e não falou de campanha política. Mas não perdeu a chance de passar sua mensagem.
"Essa empresa que muita gente tentou vender, que muita gente tentou mudar o nome (…), essa empresa chega em 2010 se transformando na segunda empresa de petróleo do mundo, motivo de orgulho para cada um de nós, brasileiros", atacou Lula indiretamente os adversários políticos Fernando Henrique Cardoso e José Serra.
Perto do fim
Acompanhado de José Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobras, e do ministro de Minas e Energia, Marcio Pereira Zimmermann, Lula comparou a dimensão da produtora brasileira de petróleo aos seus oito anos de governo. "É importante dizer em alto e bom som, e repetir toda a hora: quando assumimos o governo, o valor patrimonial da Petrobras era de pouco mais de 15 bilhões de dólares. Hoje, o valor patrimonial da Petrobras é de apenas 220 bilhões de dólares", ironizou.
"Gente, isso aqui é um ato institucional, portanto a gente não pode falar de campanha aqui. Porque depois alguém escreve uma matéria e vem um processo…", lembrou Lula diante da plateia de trabalhadores que pedia para ele não deixar o governo.
Segundo o presidente, seu governo fez muito pelo Brasil, mas ainda há muito que ser feito porque, afinal, "não se consegue, em apenas oito anos, consertar os desmandos de 500 anos neste país com a parte mais pobre da população."
Lula disse ainda que, ao entregar a faixa no dia 31 de dezembro, entra para a história como o presidente que mais construiu universidades no país – o que ele chamou de contradição e de paradoxo, já que ele próprio não fez curso superior.
"Nós conquistamos a Copa do Mundo, conquistamos as Olimpíadas, e espero que possamos conquistar uma grande quantidade de medalhas", considerou Lula como parte de seus feitos a escolha do Brasil como sede dos eventos esportivos.
O peso da Petrobras
A importância da fabricante nacional de petróleo é usada na campanha dos dois concorrentes a presidência, Dilma Rousseff e José Serra. A candidata do PT reforça os feitos da empresa e acusa o oponente de querer privatizá-la. Já Serra se defende, e promete fortalecer a Petrobras caso seja eleito.
Durante o evento, José Gabrielli falou que, quando assumiu a presidência da empresa, havia um planejamento que abriria caminho para a privatização da Petrobras. O plano reduzia a exploração petrolífera, desmembrava a área de refino, inibia investimentos entre outros.
A fabricante, que recentemente protagonizou a maior capitalização da história e se prepara para explorar o Pré-Sal, passou da capacidade de produção diária de 181 mil barris de petróleo em 1980 para 2 milhões de barris atualmente.
Nem só de petróleo
A refinaria de São José dos Campos é a mais nova da Petrobras, inaugurada em 1980. Atualmente, há outras quatro em construção. A unidade, que responde a 14% da produção de derivados de petróleo no Brasil, foi modernizada e hoje fornece diesel mais limpo, com redução das partículas de enxofre, segundo os padrões europeus.
Questionado sobre os investimentos em energia limpa, Gabrielli respondeu à Deutsche Welle: "Nós temos hoje, claramente, a maior perspectiva de crescimento de produção de petróleo, mas também somos, entre as petroleiras, uma das maiores na área na produção de biodiesel e etanol".
O presidente da Petrobras disse não ser correta a afirmação de que a Petrobras é uma empresa que só trabalha com petróleo, como frisado pela imprensa internacional. Segundo Gabrielli, há parcerias em andamento com o setor eólico no nordeste do Brasil. Mas ele não esconde o orgulho ao lembrar que foi o petróleo que colocou a empresa brasileira no topo do cenário internacional.
Autora: Nádia Pontes
Revisão: Roselaine Wandscheer
Deutsche Welle