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terça-feira, 8 de novembro de 2011

A ordem e o progresso miliciano

Trabalho de JACEK YERKA

Nicole Prestes*

O mundo está à beira de um colapso de seu sistema sócio-político-econômico. No Brasil, com exceção da economia – em crescimento, apesar da crise mundial -, esse colapso já se instalou há algum tempo.

Em uma sociedade totalmente apática, as ilegalidades e irregularidades cometidas pelas autoridades dos três poderes, que se abstêm de suas responsabilidades, como no caso do deputado Marcelo Freixo (PSOL), são polemizadas.

O deputado solicitou, em 2007, a abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) devido à gravidade das milícias em comunidades carentes do estado do Rio de Janeiro.

Marcelo Freixo é autor do relatório e presidiu a CPI, junto com Cidinha Campo que ocupou o cargo de vice-presidente e o deputado Gilberto Palmares o cargo de relator. Participaram ainda da CPI que indicou mais de 200 nomes, os deputados Pedro Paulo, João Pedro, André Correa e Paulo Melo.

Já haviam fortes indícios de policiais, civis e militares, bombeiros militares e agentes penitenciários envolvidos em praticas milicianas quando a CPI foi instaurada.

Em decorrência ao agravamento dos fatos de forma exorbitante, profissionais do jornal O Dia foram barbaramente torturados, a juíza Patrícia Acioli foi assassinada e o deputado Freixo recebeu inúmeras ameaças de morte, somente no mês de outubro, foram 7.

O deputado, agora pré-candidato a prefeitura do Rio de Janeiro, com tantas ameaças, afirmou em entrevistas na última semana, que se sente inseguro no país. Alguns dias depois destes comentários públicos, Freixo deixou o Brasil para palestrar na Europa, a convite da Anistia Internacional.

Milícias

As milícias denunciadas funcionam como um sistema alternativo de economia irregular, presente no cotidiano das comunidades, desde o transporte alternativo de micro-ônibus até o comércio: de produtos piratas, botijão de gás, água, energia elétrica e mesmo internet. Em troca destes “serviços”, os milicianos extorquem diretamente a população e cobram impostos por eles inventados.

Muitos indivíduos participam dessa rede, involuntariamente ou não, pois existem fatores que a mantém. A ausência do Estado nas normas substituídas pelo abuso de poder, já que os infratores da lei são também os que têm por obrigação impedir estas infrações, acarretam no controle territorial. Para que as milícias funcionem é necessário coação para manter o controle social.

Os milicianos são os beneficiados controladores, logo, eles ameaçam os indivíduos que não cumprirem as regras estabelecidas por eles, em alguns casos, também ocorre extorsão ou oferecimento de “proteção paga”.

O fator de motivação é o lucro individual. Visto que os milicianos supostamente oferecem ordem e segurança a uma sociedade em específico, visto que como agentes do Estado deve fazer isso já como funcionários públicos. Contudo, eles acreditam que cumprindo sua profissão estarão se privando de uma renda extra, o lucro individual que esse sistema de ilegalidade gera a cada membro.

Controle territorial, coação e lucro são também característica de grupos armados, como narcotráfico. O que diferencia essas duas práticas são o discurso de legitimação e a participação dos agentes públicos.


Divulgação do relatório

Enquanto o policial corrupto que recebe dinheiro do tráfico tenta ser discreto para não ser identificado, o miliciano faz questão de dizer que é uma autoridade legal. Essa divulgação é importante porque traz o diferencial das milícias em relação às quadrilhas de traficantes. Segundo trecho do relatório:

- Essa participação precisa ser divulgada localmente para que todos saibam que os milicianos são policiais, bombeiros etc. Essa divulgação é importante porque traz o diferencial das milícias em relação às quadrilhas de traficantes. Enquanto o policial corrupto que recebe dinheiro do tráfico tenta ser discreto para não ser identificado, o miliciano faz questão de dizer que é policial, agente penitenciário ou bombeiro.
 

A vantagem de divulgar a condição de policiais é a inexistência de confrontos com a polícia. Se na guerra entre a polícia e o poder paralelo os policiais assumem o poder paralelo, a guerra acaba como num passe de mágica e a insegurança provocada pelas incursões policiais deve ter um fim.(*)

A principal questão levantada por este caso é da orientação popular sobre honestidade e integridade em um país onde a Justiça do Estado não funciona e seus agentes e autoridades são “parceiras” de trabalhos ilegais, para que as denuncias continuem e os infratores possam ser identificados e investigações possam ser iniciadas.

Esse último ano vem sendo o mais politizado em relação a manifestações e protestos populares de insatisfação para com corrupções governamentais no Brasil, desde os “caras pintadas”. Só que o número de pessoas aderiu estas ações ainda é muito pouco para enfrentar o número de pessoas das práticas ilegais.

A quantidade de indivíduos coagida pelas milícias e que ainda elegem esses políticos é abundante. É crucial que cada um busque informações sobre políticos combatentes e de extrema coragem como o deputado Marcelo Freixo para formar um quadro de Estado justo e digno.

Com o crescimento das crises, cresce também o número de indignados que não estão mais dispostos ao acômodo da tirania partidária e injusta. Com o desgosto, o protesto social e o voto derruba-se o imperialismo para iniciar os moldes de um país composto de fatores legais em prática.

Um crime organizado pela sociedade em parceria com autoridades do Estado ou seria o contrário? A ordem não importa, é mais necessário, é uma questão básica de direitos e deveres. Perdemos o eixo de uma civilização que nós mesmos criamos, organizamos e agora desorganizamos e deixamos que flua em seus erros primários.
 
(*)Confira a íntegra do relatório na pagina oficial do Deputado Marcelo Freixo: http://www.marcelofreixo.com.br/site/index.php

*Nicole Prestes
é estudante de jornalismo do 4º semestre da Universidade Paulista
 

sexta-feira, 8 de abril de 2011

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A indisfarçável vitória dos Funileiros Nazais


"O verdadeiro confronto no Rio é entre Fuzileiros Navais e Funileiros Nazais"
(Vitor Biglione)

Depois de um fim de semana de guerra, no Rio, calcei as chinelas, enfiei a sunga e fui à praia. Lá pelo meio da tarde de domingo, começo a ouvir um alvoroço no Posto 10 e lá fui eu, de novo. Um grupo de marombeiros de vida mansa, hostilizavam gays de ambos os sexos, enxotando-os para onde consideram ser seu lugar ao sol, que fica na Faixa de Gaza, entre os postos 8 e 9, em frente à Farme de Amoedo. Essa gurizada bronzeada que luta "jiu -jitsu" faz questão do "apharteid", por não aceitarem opções alternativas às suas e não conviverem com demonstrações homo-afetivas.

A Polícia de Praia contemporizou o conflito, mas chamou reforços. No clima de confronto que vivia o Rio, quando chegaram 5 viaturas da PM, o primeiro a descer era um sargento que me fazia parecer um pigmeu, empunhando um caibro de baraúna de metro e meio e adentrou a areia de Ipanema frizado na direção da galera, seguido por uma policial de meu tamanho de pistola em punho e mais um colega portando um fuzil AR 15. Um evidente exagero, mas demonstração de que o Estado não está mais para brincadeiras. Os policiais de praia contemporizaram novamente e pediram aos PMs armados que saíssem da praia pois o conflito não necessitava tamanha intervenção. Quando os 3 da tropa de choque se viraram para abandonar o local os mauricinhos de praia começam a gritar: "polícia para quem precisa..."

Ou seja: esses desocupados que passam o dia marombando em academias patrocinados pelos pais e que, cheirados até o último fio de cabelo nas ventas, saem às ruas pra bater em homosexuais, deixam claro que vão continuar com a mesma vidinha de sempre. Seguirão financiando o tráfico, pois seu forte não é o bom senso e o mundo não vai além do próprios umbigos. Como mora muito mais gente em Copacabana, Ipanema e Leblon, do que no complexo do Alemão, eles seguirão ditando as normas de comportamento, enquanto os humildes residentes das áreas conflagradas, serão abondonados à própria sorte, assim que terminar a intervenção militar, pois sabemos que o Estado não vai subir o morro e colocar escolas, ambulatórios, saneamento e segurança permanente por lá. É questão de dias para vermos policiais e militares retornarem aos quartéis de Abrantes e tudo fica como antes. Trocam apenas os donos do negócio e é, provavelmente, isso que está acontecendo no Rio neste momento. O Estado, apoiado pelas milícias, mete bomba, prende e arrebenta com os vagabundos da bandidagem tradicional, com essa entidade clandestina assumindo os pontos de tráfico de uma maneira mais "bacana", para quando o carnaval, a Copa ou as Olímpiadas chegarem.

Se isso ficar confirmado -oremos pra que seja o contrário- de pouco adiantou mobilizar os Fuzileiro Navais, PQDs,exército e aeronáutica, pois a vitória final será dos funileiros nazais, trajando sunguinhas de "bad boy" e metendo porrada em biba. São eles os verdadeiros responsáveis pelo tráfico no Rio, os consumidores, por financiarem e os operadores subterrâneos do Estado fluminense. Ou como disse o PM com a AR 15 na mão ao sair da praia no domingo, olhando para os apartamentos mais nobres da Vieira Souto: "me dá um mandato de busca e vamos ver se eu não levanto mais droga nesses apartamentos do que acharam no Alemão".

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sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Río y su guerra de nunca acabar


Por Eric Nepomuceno *

Desde Río de Janeiro, para Página/12

Entre el final de la noche del miércoles y las cuatro de la tarde de ayer, al menos otros 21 vehículos –entre ellos once autobuses– fueron incendiados en Río. La Policía Militar, contando con tanquetas cedidas por la Marina y armamento ofrecido por el Ejército, armó un cerco a la violenta favela de Vila Cruzeiro, en la zona norte. El enfrentamiento con los narcotraficantes se inició con un intenso tiroteo poco antes de la una de la tarde. Los tiroteos seguían incesantes cuando ya habían pasado más de tres horas y media. Parte de los enfrentamientos eran transmitidos por la televisión, como en una auténtica cobertura de guerra. Mientras, otros ataques ocurrían en distintas zonas de la ciudad. Entre el viernes de la semana pasada y la tarde de ayer, los muertos eran por lo menos 34.

A estas alturas, ya no vale la pena mantener la contabilidad de daños causados por los ataques del narcotráfico a la población de Río. Los datos quedan obsoletos en el mismo instante en que son confirmados. A cualquier hora del día, de la noche o de la madrugada, ocurren nuevos ataques.

Se trata de acciones de intimidación, muy bien orquestadas y ejecutadas, y que componen un formidable desafío a las autoridades y a los ciudadanos. Concentradas en los suburbios y en las principales vías de acceso a la ciudad, su objetivo es atemorizar a la gente y presionar al gobierno. Como resultado, además del pánico generalizado, queda evidente el poderío de los bandos que controlan las favelas y las pocas alternativas de que disponen las fuerzas de seguridad pública.

Ese clima de violencia dura una semana y podrá extenderse. De concreto, lo que se tiene es la unión de dos bandos poderosos, el Comando Rojo y los Amigos de los Amigos. El primero sufrió pérdidas con la ocupación de favelas que se encontraban bajo su dominio en la privilegiada zona sur de la ciudad. De las trece favelas en que se implantaron las UPP –las Unidades de Policía Pacificadora–, once eran controladas por el Comando Rojo. La llegada de una UPP significa la expulsión de los traficantes, la instalación de puestos de policía y de una red de servicios sociales, con puestos de salud, guarderías, escuelas e instalaciones deportivas. Poco más de 200 mil moradores de esas favelas se libraron del dominio del fusil. Al mismo tiempo, el Comando Rojo perdió parte sustancial de sus ingresos. La venta de drogas bajó 80 por ciento en esas favelas.

De otra parte, el bando Amigos de los Amigos, fuerte rival del Comando Rojo, está amenazado de perder su principal territorio, la favela de la Rocinha, con más de 80 mil habitantes. Principal mercado de drogas en la zona sur, la Rocinha tendrá una UPP en enero. Frente a ese riesgo, los del ADA propusieron una insólita alianza. El Comando Rojo dispone de muchos hombres armados, pero está sin dinero. Los Amigos de los Amigos disponen de dinero, pero sus contingentes son exiguos. La unión de esas dos carencias resultó en una fuerza decidida a ignorar riesgos y límites.

La Policía Militar de Río movilizó alrededor de 18 mil hombres para controlar la situación. El gobierno del Estado recurrió a las fuerzas armadas –Marina y Ejército– para poder contar con tanquetas y armamento de guerra.

Más allá del obvio desafío a que son sometidos gobierno y población, quedan varias cuestiones urgentes a la procura de una respuesta convincente. La primera se refiere a la absoluta incapacidad de las autoridades federales de impedir, o al menos disminuir sensiblemente, la entrada de armas pesadas destinadas al tráfico de drogas en Río. Segundo, ¿a qué se debe la poca eficacia de la policía local? Mientras que en San Pablo se elucidan 60 por ciento de los homicidios, en Río ese dato no supera el 8 por ciento. El sistema carcelario se caracteriza por la violencia, la degradación que impera en los presidios y por las facilidades concedidas por los guardias, que incluyen acceso a drogas y a teléfonos celulares. A través de los celulares, los presos siguen ejerciendo comando sobre quienes operan en las calles. Y, finalmente, los sectores de Inteligencia de la policía son de una ineficacia asombrosa.

En resumen: falta una política de seguridad pública, una estrategia capaz de abarcar a toda la población. Falta planificación, faltan acciones permanentes con metas de largo plazo. Acostumbradas al confrontamiento episódico, las fuerzas de seguridad se amoldaron a la violencia y el gatillo alegre. Falta todo lo demás.

* Periodista y escritor.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

FRASES


"Toda vez que estou com a Marina, me perguntam do Serra. Toda vez que estou com Serra, perguntam da Marina. Toda vez que estou sozinho, dizem que estou muito sozinho. Toda vez que estou com alguém da minha campanha, dizem que estou mal acompanhado”.

Fernando Gabeira, candidato ao Governo do Rio de Janeiro pelo Partido Verde.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Rio 2016: A política no centro da vitória brasileira


por Tarso Genro*

Engana-se quem pensa que a escolha do Rio de Janeiro para sediar as olimpíadas de 2016 tenha obedecido a critérios meramente “técnicos”; seja na área dos transportes, infra-estrutura, logística, setor hoteleiro etc. Pude constatar que a escolha de um país para sediar os Jogos Olímpicos é uma decisão principalmente política. Trata-se da definição de um grande evento econômico e esportivo internacional, permeada por relações políticas e diplomáticas, que expressam um pedaço do cenário geopolítico mundial. A vitória do Brasil, além do esforço de autoridades desportivas e personalidades do esporte nacional, foi fruto do prestígio internacional do Presidente Lula e do sucesso de seu governo.

A delegação brasileira que vivenciou a emoção da escolha do Rio em Copenhague era, de longe, a mais vibrante e articulada. O excelente trabalho de preparação, liderado pelo Ministro do Esporte, Orlando Silva, foi coroado pelo brilhante desempenho da comitiva brasileira, tendo à frente o Presidente Lula. Este desempenho foi decisivo para o convencimento dos “eleitores” indecisos nos momentos finais da escolha. A presença do Presidente do Banco Central do Brasil, Henrique Meirelles, reforçou a impressão já consolidada de que o Brasil foi um dos países mais bem sucedidos no enfrentamento à crise econômica. A expectativa de o país se tornar a quinta economia do mundo na próxima década serviu para soldar a confiança nas instituições do país.

O tema da segurança foi rapidamente superado, a partir da exposição consistente de uma estratégia, já testada, de segurança em grandes eventos e, também, em função do compromisso do governo federal com a consolidação das diretrizes do Pronasci. A firmeza do governador Sergio Cabral quanto ao aprofundamento das experiências de policiamento comunitário no Rio deslocou, rapidamente, o tema da segurança para um patamar secundário.

O equilíbrio institucional entre as três esferas de governo e a unidade político-administrativa dos entes federados foi um trunfo inestimável. Mais uma vez, atestamos o quanto fez bem ao Rio de Janeiro a superação da antiga visão paroquial, que afastou o Rio dos grandes temas nacionais por tantos anos. O Rio de Janeiro, mais do que nunca, demonstrou a força de seu reposicionamento na Federação e novas perspectivas se abrem agora para a retomada do Rio como ator decisivo para a consolidação da República e da democracia em nosso país.

Foram decisivas a altivez da política externa do Brasil, a solidez de nossa economia, o papel de liderança regional e a consistência de nossas instituições democráticas. A política presidiu a vitória brasileira. E não se trata aqui de pretender angariar algum dividendo eleitoral com esta afirmação. Certamente, não será este fato o que decidirá as eleições presidenciais de 2010. Até por que todas as correntes políticas e ideológicas apoiaram a candidatura do Rio. O que, no entanto, não pode deixar de ser dito neste momento, é que o país venceu por que sua estatura internacional foi profundamente alterada nos últimos anos.

A imagem do Brasil no exterior não é mais a de uma promessa bloqueada pela mediocridade de seus governantes. O país é hoje protagonista dos grandes temas mundiais. Já houve quem dissesse que, dentre os Brics, o Brasil é o país com maior potencial, pois é o único a reunir crescimento econômico, imensas reservas energéticas e minerais e democracia consolidada.

Que as Olimpíadas de 2016 simbolizem o ponto culminante desta grande virada do país rumo a uma sociedade justa, equilibrada e plenamente desenvolvida.

*O Ministro da Justiça, Tarso Genro, integrou a comitiva brasileira que acompanhou a vitória do Rio em Copenhague.

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segunda-feira, 24 de novembro de 2008

UN ALIENIGENA EN LAS FAVELAS DE RIO

Baile Funk no RJ:

Por amor al funk carioca

El tipo se llama Bernhard Hendrik Hermann Weber, pero en los barrios pobres de Río de Janeiro todos lo conocen como MC Gringo. Y desde ahí exporta su funk carioca hacia Europa y Estados Unidos. “Creo en la fusión, por eso soy un brasileño que no gusta de los gringos”, reniega el MC teutón.


Por Yumber Vera Rojas, para Página/12

Así como el reggaetón, el funk carioca (también llamado baile funk) forma parte de la banda de sonido de la música popular latinoamericana actual. Incluso ambos géneros comparten influencias, bandejas, estéticas y orígenes humildes. Pero de lo que todavía no puede alardear la avanzada encabezada por Daddy Yankee es de tener a un alienígena entre sus filas. “Hoy en día, el baile funk es más masivo que el samba. El fin de semana acuden más de un millón de personas a sus fiestas. A raíz de eso salió de la favela y nos ubicó en el circuito mundial, pues combina el legado de Kraftwerk, de Afrika Bambaataa y de la cultural local”, asegura MC Gringo, uno de los referentes del género. Posiblemente el más internacional de los referentes, cabe agregar. Y no sólo por su fama en el exterior sino porque no es brasileño. Nacido en Alemania como Bernhard Hendrik Hermann Weber, su pasión por esta cadencia de 140 bpm lo trajo hasta la Argentina la semana pasada para esparcirla en la Fiesta Zizek, al lado de Miss Bolivia en un boliche de Núñez, con Frikstailers en Córdoba y el lunes pasado junto a La Bomba de Tiempo en el Konex. “Tenía dos opciones: o me llamaba MC Alemán o MC Gringo. Pero elegí este último porque prefería representar al mundo entero que a los alemanes. Eso es lo increíble la música. Nunca pensé que gracias a ella podría cumplir mi sueño de conocer la Bombonera y ver jugar a Boca Juniors.”

Los tres goles de Vélez no fueron nada al lado de las penurias del tercermundismo que MC Gringo debió padecer para alcanzar su objetivo. Luego de formar parte de la escena punk de su Stuttgart natal con un grupo en el que también militó Basti Schwarz –hoy miembro de los electro house Tiefschwarz– y de dedicarse a otros rubros de la música, se radicó junto a su esposa en Minas Gerais, donde hizo de todo, hasta un programa humorístico en la radio. “Llegué a Brasil en 2002 y experimenté mucho con la MPB. Pero un día escuché una compilación de baile funk que tenía mi mujer y me impactó. Estaba tan interesado por saber más y formar parte de esa movida que nos mudamos a Río de Janeiro”, relata MC Gringo en un portugués perfectamente carioca. “Luego me tuve que ir a la favela porque era muy difícil vivir de la música. Y mi mujer es negra, así que gana menos que el resto de los brasileños. Pero más tarde me di cuenta de que estuvo bueno porque la gente comenzó a creer en mí. Al principio no podían entender cómo un rubio podía tener problemas financieros. En la favela estás más seguro que afuera. No tengo amistad con traficantes, pero sé quiénes son. Si los conocés, no vas a tener problemas. Cuando vivía en Copacabana me consideraban extranjero, pero ahora soy uno de los MCs más famosos de mi favela, Pereira da Silva.”

Aunque no para de mencionar y agradecer a los MCs y productores que le tendieron una mano, como DJ Marlboro –figura esencial que llevó al funk carioca hasta el mainstream–, DJ Sandriñho o DJ Mandrake, fue MC Binho el que lo introdujo en la escena en 2004. “Entrar en el circuito no fue rápido. Como era blanco y mi era acento diferente, me rechazaron. Pero él me animó a seguir”, recuerda. Ahora es compinche de Diplo; gira por Estados Unidos, Canadá, Holanda, Suiza, Alemania, Inglaterra y Austria; el año pasado sacó su primer álbum, Gringo; la BBC pasa sus temas; y tiene entre sus fanas a Stereo MC’s, que en 2008 se encargaron de remezclarlo en el EP 1 Real: The Stereo MC’s Remixes. “Me ubicaron a través de Internet y no lo podía creer”, confiesa. “Nos hicimos grandes amigos. Cuando mi sello, Man Recordings, me preguntó quién podía hacer remixes de mis temas, les dije que ellos eran una opción. Al final quisieron hacerlos todos.” Sobre el futuro del funk carioca, MC Gringo advierte: “Soy un convencido de que hay que ir más allá y mezclarlo con el samba, el kuduro –atención con este ritmo angoleño y el colectivo Buraka Som Sistema–, el Baltimore Club y la cumbia. Creo en la fusión; por eso yo no soy gringo sino un brasileño que no gusta de los gringos”.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

DEBATE PÓS-ELEITORAL


Gabeira e os canibais do Jobi

São múltiplas as significações da candidatura Gabeira e da “onda verde" nas eleições municipais do Rio de Janeiro, mas a mais expressiva de todas aponta para uma parcela da classe média em permanente crise de identidade.

Gilson Caroni Filho, para Carta Maior

Para Dani Tristão, que conheceu a ferocidade dos bronzeados que pontificam na orla, e não desistiu da militância.

Em processos eleitorais há quem veja determinadas posturas e discursos como expressões de coerência e determinação, quando o mais correto seria falar em oportunismo político com base social objetiva. São múltiplas as significações da candidatura Gabeira e da “onda verde" nas eleições municipais do Rio de Janeiro, mas a mais expressiva de todas aponta para uma parcela da classe média em permanente crise de identidade.

Um estrato que se enxerga como inovador no trabalho, nas manifestações artísticas e na política, mas como nenhum outro representa a cultura da submissão ao poder e de intolerância a quem não partilha sua cultura de classe.

Esconde seu conservadorismo autoritário empunhando bandeiras que vão da liberação sexual a movimentos ecológicos e descriminalização de usuários de drogas, mas, quando confrontada com perda de privilégios, não hesita em expressar a verdadeira face ideológica: aquela que revela seu caráter histórico submisso e seu velho hábito de festejar formas de poder que recusam a cidadania, não distinguindo o público do privado.

É dessa tensa dialética entre ideal do eu e sua verdadeira subjetividade que nasce a identidade entre a classe média carioca e Fernando Gabeira. Ambos sabem que não são como se apresentam, mas não podem viver sem a auto-imagem construída por meio de omissões espertas.

Precisam repetir como mantra: ”Somos éticos, progressistas e democratas". E se a realidade não confirmar nada disso, não haverá problema. Pois tal como na letra de Adriana Calcanhotto, “cariocas são modernos/cariocas são espertos/ cariocas são diretos/ cariocas não gostam de dias nublados”.

Se há quem diga que a passagem de Gabeira pela luta armada “teve a marca da imaginação", não há motivos para não destacar que ela só foi pródiga no seu primeiro sucesso memorialístico: "O que é isso companheiro?"

Se a narrativa não o apresenta como figura central, as interpretações posteriores, que lhe deram um protagonismo que nunca teve, nunca foram desmentidas pelo autor. Pra quê? Mais importante que o fato é a versão.

De fato, jamais sustentou ter sido o autor do texto - manifesto que jornais, rádios e TVs foram obrigados a tornar público, mas nem pensou em desautorizar os que lhe conferiram uma autoria indevida. Isso é de conhecimento dos freqüentadores do Jobi, bar de boa qualidade do Leblon, onde entre cenas de canibalismo, a nata bronzeada da sociedade carioca celebra seu socialismo de salão. Afinal, “cariocas são atentos/ cariocas são tão claros/ cariocas não gostam de dias fechados”.

Como destaca Alfredo Sirkis, em entrevista a Mário Augusto, pesquisador da Unicamp, "foi ele que contou a história e ficou com a notoriedade, ficou como referência daquela geração com idéias que não correspondem às deles". Nada mais justo. Uma discreta apropriação indébita não é pecado capital para "os inocentes da orla carioca"

As especulações sobre sua sexualidade não foram desmentidas por conta de uma estratégia efetiva de trazer a intolerância sexual para o debate político, mas, como revela Sirkis, por um cálculo erótico prosaico. "O que acontecia naquela época era que... estava na moda ser bissexual! Inclusive, dava prestígio entre as mulheres você dizer que era bissexual".

Foi assim, prezado leitor, que Gabeira se tornou o primeiro heterossexual enrustido do Ocidente. Mais uma vez se comprova que “cariocas são bonitos/ cariocas são sacanas/ cariocas são dourados”... e adoram o arbítrio de uma falsa narrativa que os fazem parecer mais "modernos" do que são.

Gabeira não tem sido diferente na campanha. Usa imagens do dia em que mandou o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti, calar a boca, como se tivesse vencido uma batalha que não travou. O mesmo com as cenas em que, aos trancos, entra na Sessão do Senado onde se votava a cassação de Renan Calheiros. São ações que não ultrapassaram o marco do espetáculo, mas que se encaixam bem no acordo tácito com suas bases.

Os canibais do Jobi precisam se sentir desassombrados e importantes. Sabem que Gabeira é uma construção farsesca, mas isso pouco conta. Eles, em busca de suas ilusões perdidas, também são.

Redivivo, Lacerda vê com satisfação o PV assumir, enfim, o seu destino histórico: ser a tanga de crochê que faltava à direita carioca.

Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Observatório da Imprensa.

domingo, 10 de agosto de 2008

INVASÃO DE BARATAS NO RIO DE JANEIRO


Os insetos saíram de cinco bueiros na rua Sete de Setembro, no centro do Rio, assustando pedestres e lojistas.

Na rua, uma das mais movimentadas do Centro do Rio, houve um princípio de confusão. Ana Barbosa, funcionária de uma lanchonete que fica em frente a dois dos bueiros infestados, afirmou que teve que proteger a loja.

“Tinha barata de todos os tipos: voadora, filhote, adulta, branca, preta. Os clientes acharam que elas estavam vindo de dentro da loja. Tivemos que colocar uma barreira para que elas não entrassem e causassem mais transtornos para nós”, disse.

Os dois afirmaram ainda que o caso já havia acontecido no ano passado. Segundo eles, também numa sexta-feira.

Rodrigo Gomes, funcionário de uma outra lanchonete que fica próxima aos bueiros, contou que todos ficaram desesperados.

“As mulheres começaram a gritar. Eu matei as baratas e as empurrei para o outro lado da rua. Umas estavam começando a subir pelas paredes.”

terça-feira, 5 de agosto de 2008

10 mortos na periferia do Rio nao mantém manchete nos sites brs


Julio Moreira, no Blue Bus:

A manchete do El Pais me chamou a atençao para o descaso com que estamos tratando nossa guerra urbana. Com bastante destaque, o El Pais chama na sua primeira página 'Un tiroteo entre policía y 'narcos' deja 10 muertos en Rio de Janeiro'. Logo fui ver as páginas dos sites brasileiros e quase nao encontro manchete sobre o assunto.

O Globo trazia na primeira página, mas já era uma linhazinha, 'Dez morrem em açao em Caxias' sem destaque nenhum. O Extra também tinha uma linhazinha na primeira página que dizia - 'Rastro de Sangue na Baixada Fluminense'. UOL e Estadao nao tinham mais manchetes sobre o assunto.

Bem, achei que a internet é rápida, que já faziam mais de 12 horas do fato e as manchetes mudaram. Voltei novamente ao El Pais e este argumento caiu por terra, pois a manchete continuava lá e eles estao 4 horas adiantados no fuso horário.

Aí, fica uma situaçao alarmante, pois a violência é muito grande e a gente vai perdendo a sensibilidade com o risco de deixarmos a violência aumentar.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

O TEATRO DO DOUTOR CABRAL CUSTA CARO


ELIO GASPARI

O que há no Rio de Janeiro não é uma crise da política e enfrentamento do governador Sérgio Cabral, é a crise da marquetagem do doutor Cabral. Montou-se um teatro, como se a política de segurança pública da cidade fosse um seriado de televisão. A bem da justiça, reconheça-se que nessa arte Cabral não é o único diretor de cena. É apenas o de maior desempenho.
Em menos de um mês, a cidade teve três crimes chocantes. Todos envolveram agentes da ordem e neles se misturaram elitismo, demofobia e inépcia. O que faltou foi Polícia. Primeiro foi a chacina da Mineira. Um tenente e dez militares do Exército entregaram três cidadãos a uma quadrilha de traficantes e assassinos. À primeira vista, havia no Morro da Providência uma ação federal de segurança. Coisa de Nosso Guia. Muita gente boa parecia viver seu momento Tropa-de-Elite: afinal, o Exército subira o morro.
Teatro. O Exército dava segurança aos trabalhadores das empreiteiras (em cujo plantel o 'movimento' tinha uma cota). Há dezenas de obras sem Exército nos morros do Rio. Se isso fosse nada, o desfile era parte do book do senador Marcelo Crivella.
O Comando do Leste confunde cidadãos com 'elementos', mas vá lá. Difícil será entender por que escalava para o Morro da Providência um jovem tenente que morava nas fímbrias das favelas Águia de Ouro e Fazendinha, em Inhaúma. Um primo de sua mulher já estivera preso por tráfico de drogas. Não se deve julgar um oficial saído da Academia das Agulhas Negras pelo seu padrão residencial, muito menos pela parentela. No entanto, uma boa política de recursos humanos recomendaria, em benefício do jovem tenente, que ficasse longe do morro.
Dias depois, o guarda-costas do filho de uma procuradora matou um jovem com um tiro no peito numa briga de porta de boate. O assassino é um PM que trabalha há oito anos na segurança de procuradores do estado. Ele estava havia sete com a família. Nenhum serviço policial sério mantém agentes numa atividade desse tipo durante oito anos. Um guarda-costas com sete anos de casa não é mais um agente policial, é um agregado.
Tanto no Morro da Providência como na porta da boate Baronetti, os crimes foram antecedidos por falhas de gente que está em cargos de comando ou chefia.
Os PMs que mataram o menino João Roberto Amorim Soares achavam que estavam numa cena de enfrentamento, na qual só um lado atira. Decidiram que havia bandidos no carro da família Soares, assim como o tenente da Providência decidiu que a galera da Mineira deveria dar um 'susto' na sua carga. O enfrentamento dessa gente não é com os bandidos. É com o 'outro', um cidadão que repentinamente perde seus direitos em nome de um estado de emergência produzido pela administração do medo a serviço da marquetagem política.
Nenhuma pessoa de bom senso pode achar que está mais segura numa cidade onde um coronel da PM (Marcus Jardim) disse que 2007 deveria ser 'o ano dos três Ps: Pan, PAC e Pau'. Esse mesmo representante das forças da ordem presenteou um funcionário da ONU com uma miniatura do 'Caveirão'. É perigosa qualquer cidade onde o governador diga que uma favela é 'fábrica de marginais'.
Acreditar que os enfrentamentos da Polícia de Sérgio Cabral têm algo a ver com uma política de segurança pública é correr atrás do papel de bobo.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Milícias e Estado de Direito


Artigo - Tarso Genro
Folha de S. Paulo
29/6/2008

Estamos diante de uma insustentável realidade, na qual milhares de brasileiros têm sua dignidade violentada diariamente

O DOMÍNIO de partes do território do Rio de Janeiro por organizações criminosas, formadas por pessoas originárias ou não das instituições de segurança pública, é o resultado dramático de um longo processo de desintegração do contrato social na cidade.
Sua origem está na ausência de políticas públicas de coesão social numa polis dividida. No seu cotidiano, a inclusão estável e às vezes a riqueza se defrontam com a pobreza e se repelem mutuamente. Sua integração negativa se dá pelo mercado da droga. O processo de urbanização caótica relegou grandes contingentes populacionais à sua própria sorte. O estágio seguinte dessa involução civilizatória foi o controle das comunidades por organizações de traficantes. Era o início da formação de um Estado paralelo criminoso.
Agora, a sociedade brasileira, em especial a população desses territórios, depara-se com realidade ainda mais grave: o Estado democrático de Direito está em crise de afirmação, pela falta de eficácia na sua forma de Estado social, e já se apresenta, por meio de alguns agentes policiais, na sua forma de Estado criminalizado. Essa avançada forma de (des)organização estatal está sendo gestada num ambiente de fascismo societal. Nele, a violência substitui, paulatinamente, todas as demais formas de mediação social, absorvendo inclusive a política. A esfera pública se dilui, degradada por redes de criminosos.
Estamos diante de uma insustentável realidade, na qual milhares de brasileiros têm sua dignidade violentada diariamente. São obrigados a conviver com um verdadeiro Estado de exceção "privado" e, ironicamente, às vezes coordenado por agentes de segurança do Estado, aqueles responsáveis pela manutenção da ordem e da legalidade democrática. O Estado "privatiza-se" e o crime "publiciza-se". O delito já é visto como forma de ordenamento da vida social, como se fosse o Estado naturalizado.
No entanto, o ambiente de construção republicana iniciado com a Carta de 88, agora também de crescimento e distribuição de renda, nos dá possibilidade de enfrentar tal situação. A resposta deve ser a afirmação do Estado democrático e social de Direito, com a recuperação plena do controle territorial da cidade do Rio.
Isso é possível com políticas de segurança e políticas sociais que reconstituam os laços na base da sociedade, por meio de estratégias de policiamento de proximidade e de investimentos na construção de infra-estrutura material e social. Isto é, PAC e Pronasci (Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania) de mãos dadas com o Rio. O estabelecimento de qualquer cláusula de um contrato social tem por base relações de hegemonia e confiança. A hegemonia é conquistada pela capacidade dirigente, com valores argumentados na cena pública.
A confiança funda-se na interlocução que a argumentação pública proporciona. Assim, um novo contrato social nesses territórios só será possível se o Estado, em todas as suas esferas, tiver a competência de retomar a confiança da população em relação à sua capacidade de garantir direitos fundamentais. A começar pelo direito de viver num ambiente livre da violência. Para esse esforço, os entes federados devem estar juntos: municípios, Estados e União trabalham integrados, tanto no PAC como no Pronasci. Só dessa forma a política será vista e se afirmará como dinâmica voltada para o bem público e o Estado restabelecerá sua capacidade de mediar as diferenças sociais e promover políticas públicas integradas e eficientes.
As milícias são um mal que constituem também um alerta sobre o surgimento de precondições para a militarização da política e a politização da criminalidade, o que significaria colocar em crise profunda o Estado de Direito. Interromper esse processo perverso será viável por meio de uma conjunção de forças, com os partidos e acima deles, de forma que não se aceite a tutela do crime sobre a política e o Estado.

TARSO GENRO , 61, é o ministro de Estado da Justiça. Foi ministro da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República (2006-2007), ministro da Educação (2004-2005), ministro da Secretaria Especial do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República (2003-2004) e prefeito de Porto Alegre pelo PT (1993-96 e 2001-02). É autor de "Utopia Possível" (Artes e Ofícios), entre outros livros.

sábado, 28 de junho de 2008

Movimento condena ação do MP contra MST


O Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH) condenou a intenção do Ministério Público do Rio Grande do Sul de criminalizar lideranças do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Esta semana, o MST denunciou que o Ministério Público gaúcho teria discutido, em reunião do seu Conselho Superior, estratégias para proibir qualquer deslocamento de trabalhadores sem-terra, intervenção em escolas de assentamento, criminalização de lideranças e de integrantes e desativação de todos os acampamentos no Rio Grande do Sul.

O coordenador geral do Movimento Nacional de Direitos Humanos, Gilson Cardoso, mostrou preocupação com o debate considerando que esse tipo de atitude pode se estender a outros movimentos. "Já não é mais a criminalização de uma pessoa, de uma liderança, de uma ação. No meu entendimento, isso é muito grave", afirmou Cardoso.

Já o coordenador de formação do MNDH, Ricardo Barbosa, disse que o Ministério Público está agindo de maneira contrária à definida por lei, que é de proteção dos direitos constitucionais da população. "Esse tipo de ação assusta porque é o próprio Ministério Público, que tem uma função constitucional, diferente daquela que está exercendo neste caso. Em vez de uma defesa intransigente e radical da democracia, a gente vê as forças de reação tentando criar um estado de exceção dentro do Estado democrático", acrescentou.

Os coordenadores também criticaram a ação do Exército no morro da Previdência, no Rio de Janeiro, onde moravam três jovens que foram entregues a traficantes por militares da Força. Os jovens teriam sido levados a traficantes que fazem parte de uma facção criminosa rival.

"Só porque está em curso uma obra de urbanização, porque o Exército tem que garantir a segurança. No Rio de Janeiro tem uma série de obras que estão acontecendo e não precisou o Exército estar lá. Isso é uma aberração", disse o coordenador geral do MNDH.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Cidadania, favela e milícia: as lições de Rio das Pedras


Marcelo Burgos

Entre 2000 e 2002, realizamos um amplo levantamento quantitativo e qualitativo sobre a favela de Rio das Pedras, que se destacava naquela época como um caso singular de grande favela – grande em território e em população (tinha cerca de 40 mil moradores) – sem tráfico. Qual era o segredo de RDP, e em que medida seu modelo podia ser copiado, eram indagações recorrentes naquele momento. Não raro, o caso de RDP era apresentado como uma espécie de caso feliz de organização comunitária, que tinha permitido mantê-la a salvo das gangues de traficantes.

Naquele momento, tínhamos que lidar com duas abordagens polares e superficiais: de um lado, aquela apresentada de forma naturalizada por lideranças da favela, parte dos moradores e mesmo por uma opinião corrente na cidade, de que a razão principal para a singularidade de RDP era a de que se tratava de uma favela majoritariamente nordestina (de fato, 60% de sua população tinha nascido em estados do Nordeste, e outros 30% eram filhos de primeira geração de casais nordestinos), e que a cultura nordestina seria avessa ao tipo de subordinação arbitrária e violenta promovida pelas gangues de traficantes; no outro pólo, especialmente na universidade, a experiência de RDP era vista com muita desconfiança, encarada como uma nova versão dos grupos de extermínio, conhecidos como “polícia mineira”, e que tinham sido organizados em vários pontos da região metropolitana do Rio de Janeiro entre os anos de 1960 e 70, em geral para atender interesses de comerciantes e empresários. Segundo essa abordagem, assim como na “polícia mineira”, a ‘segurança’ em RDP também seria feita por policiais, que atuavam a serviço de comerciantes e empresários locais.

Na pesquisa, mais tarde publicada no livro Utopia da Comunidade: Rio das Pedras, uma favela carioca (Editora Puc-Rio/Loyola, 2002), procuramos desvendar as razões da singularidade daquele microsistema, sustentando que estávamos diante de uma nova forma de organização local, que articulava de forma original a vida associativa a um aparato coercitivo, em um arranjo que, ao mesmo tempo em que protegia os moradores da favela da agonia da submissão ao poderio do tráfico, impunha um regime potencialmente totalitário na gestão do território.

Pouco depois da publicação do referido livro, observou-se que o modelo de RDP se convertera em uma forma social, que seria copiada e difundida em outros lugares, logo sendo descoberta e rotulada pela grande imprensa como ´milícia’.

Com base em uma breve releitura dos principais pontos encontrados naquela pesquisa, a contribuição que pretendo oferecer neste artigo é a de utilizar o caso de RDP para refletir sobre as condições ecológicas que fomentaram o desenvolvimento da milícia como forma social, demonstrando o quanto ela surge como expressão da profunda segregação urbana a que são submetidas as favelas da cidade. Da perspectiva proposta neste artigo, portanto, a questão da milícia vai muito além do problema da corrupção da polícia, como freqüentemente faz crer a abordagem formulada pela grande mídia, com o que reitera a estéril idéia da polarização entre a banda podre e a banda boa da polícia. Para tanto, importa reconhecer que a discussão sobre a milícia transcende os limites da questão da segurança pública, aparecendo antes como um item fundamental para uma reflexão sobre a ainda frágil democratização do acesso à cidade.

É nesse sentido que a compreensão do caso de RDP pode contribuir para fazer do debate sobre as milícias um bom pretexto para uma discussão mais ampla envolvendo o tipo de relação com a favela que a cidade construiu e tem reproduzido sistematicamente, pois a forma social adquirida pela milícia em RDP jamais teria se tornado um paradigma perseguido por tantas favelas não fosse a crônica incapacidade da sociedade civil e do Estado da metrópole do Rio de Janeiro para elaborar uma política de segurança que inclua a população de suas favelas no mundo dos direitos. Afinal, foi essa percepção de impotência em face a dinâmica perversa dos conflitos entre as próprias facções de traficantes e entre traficantes e policiais, com todo o seu rastro de sangue, que animou e acabou tornando legítimo e desejável para boa parte dos moradores de RDP – não raro invejados por moradores de outras favelas – o arranjo institucional nela construído. E neste arranjo prevalecia uma espécie de pacto hobbesiano, no qual a segurança e a integridade física são definidos como o bem supremo, em nome do qual se aliena todos os demais direitos e prerrogativas em favor do Leviatã local, encarnado na associação de moradores.

Apesar da “solução RDP” ser arbitrária e excludente, era comum ouvir de seus moradores frases como essa: “É Rio das Pedras, não tem outro lugar igual a este aqui para você morar em paz, soltar seu filho...”; “Aqui você pode criar seu filho, pode soltar na rua, não tem problema de droga, tráfico, você não precisa ficar preocupado, não tem ladrão, não tem pessoa que invade”. E o mercado imobiliário das favelas da cidade não deixava dúvidas: RDP era uma favela muito valorizada, ‘vendida’ por seus empreendedores como uma espécie de cidadela dos pobres.

Para nós pesquisadores, o custo cívico dessa solução era evidente: morar em RDP significava abrir mão do bem mais supremo de um cidadão, que é a sua liberdade civil e política. Mas, em uma metrópole na qual a sinalização para o mundo popular é a de que o acesso à cidade e, portanto, ao mundo dos direitos, é muito restrito, o individualismo – de tipo de negativo – transforma-se em tônica. E no caso da vida em favelas, onde o tráfico e a polícia vêm historicamente se confundindo no trabalho de humilhação de sua população - distinguindo-se apenas pelas cores, como revela Marcos Alvito em seu achado etnográfico, descrito em As Cores de Acari (FGV, 2001) – não é de admirar que a pauta da cidadania se veja ainda mais amesquinhada, freqüentemente reduzida à afirmação do mais primário dos direitos que é o direito à integridade física. Assim é que nossa pesquisa levava à conclusão de que a solução hobbesiana de RDP apresentava-se como uma resposta meramente adaptativa a uma cidade que relegava seus moradores pobres a um mundo sem regulação estatal e sem ordem pública, a começar pelo acesso ao solo urbano, à habitação e ao transporte local, estruturados em mercados, cujo arbítrio somente encontra limite na lei do mais forte vigente nos territórios.

Para compreender o modelo de RDP é preciso considerar o processo de construção do território da favela, comandado com mão de ferro pela associação de moradores, com o apoio explícito do poder público. De fato, RDP não teria o tamanho que possui hoje, não fosse o poder público ter desapropriado em favor da associação local – no final dos anos de 1980 - uma enorme área para fins de habitação. Além disso, o poder público também contribuiria para aterrar e consolidar parte da área da favela antes alagadiça, aliando-se à associação local na construção da favela. O que nos levou a afirmar que RDP seria um exemplo típico de uma favela planejada, fruto de uma política habitacional.

Mas, além de contribuir para a formação da favela, o poder público também permitiu que um grupo de policiais – composto de moradores e amigos - se afirmasse como xerifes do território, deixando sob sua autoridade o controle social local. Neste caso, o maior ou menor respeito ao limite da lei ficava entregue ao estilo dos xerifes e à sua apreciação acerca de cada situação.

A articulação entre esse tipo de controle social e o trabalho político e administrativo da associação de moradores local, permitiu um tipo de controle sobre a vida da favela que talvez não encontre paralelo no Rio de Janeiro. O poder militar ‘autorizado’ pelo Estado empresta à associação uma impressionante capacidade de enforcement sobre a vida local; em contrapartida, a associação – fortalecida pela forma como o poder público lhe delegou a gestão do território – empresta ao poder militar uma legitimidade que ele dificilmente encontraria sem ela. Cria-se uma dinâmica institucional até certo ponto sofisticada, na qual uma força regula e impõe limites à outra, acabando por conferir ao ‘rito jurídico’ local mais transparência e estabilidade do que o encontrado nas favelas dominadas pelo tráfico. Como nos disse um morador à época da pesquisa: “aqui em Rio das Pedras, só quem faz besteira some”.

A partir desse arranjo institucional, organiza-se uma espécie de política tributária e social, que passa pelo controle sobre o pujante comércio de varejo da favela, sobre seu aquecido mercado imobiliário, e sobre serviços como o do transporte através de vans, de clínicas e creches, de casas de show, etc. E tudo isso converge no sentido de potencializar o papel da associação de moradores: além de se posicionar como única porta-voz de cerca de 40 mil moradores, constitui-se como verdadeira autoridade local, aliando seu papel de responsável pelo controle social ao de prestadora de diversos serviços assistenciais, cartoriais, jurídicos e urbanísticos. Uma clara evidência do êxito desse modelo de RDP seria a eleição para vereador, em 2004 – como o 5º mais bem votado do Rio de Janeiro –, do presidente de sua associação de moradores.

Mas esse arranjo institucional, que permitiu à associação de moradores fazer as vezes de um poder público, inclusive internalizando o monopólio sobre a violência no território, não teria sido possível sem a ação/omissão calculada e intencional do Estado, em nível estadual e municipal. Levando ao limite o argumento, pode-se afirmar que foi o Estado que entregou a população de RDP à autoridade e ao arbítrio da associação de moradores, delegando-lhe poderes extraordinários que somente se pode compreender quando se considera o padrão de relacionamento assimétrico que a cidade estabelece com a favela.

Conectada ao boom imobiliário da Barra da Tijuca e de Jacarepaguá - na favela mora boa parte dos operários da construção civil, e do comércio e serviços desses bairros -, o caso de RDP é, na verdade, um exemplo bem sucedido do eficiente mecanismo de controle social e de pacificação política de uma população que, de outro modo, logo descobriria que a cidade é antes de mais nada um lugar de luta por direitos. Nesse sentido, mais do que proteger a população do tráfico, a milícia protege a cidade da favela. Atua como grupo pára-estatal para realizar uma ação que o Estado não pode exercer abertamente, a não ser onde existe o tráfico para justificar sua ação ostensiva através da polícia.

A alternativa a esse caminho bizarro de preservação das fronteiras da cidade passaria necessariamente pela reorganização política da cidade, a partir de uma participação ampliada dos moradores das favelas no seu destino. Como sustentei em artigo publicado em 2005 (Dados, vol.48, No 1), essa agenda reformista passaria pela abertura de novos espaços de debate, de novos foruns comunicando os moradores das favelas entre si, e deles com os demais habitantes da cidade.

A favor dessa agenda política conspira a própria história de cidades que, como o Rio de Janeiro, não exauriram completamente suas fontes de solidariedade. Nelas ainda reside, se bem que em repouso, um capital social acumulado em suas associações profissionais e de moradores, em suas escolas e universidades, em suas igrejas e associações religiosas, e em suas instituições de cultura, esporte e lazer, como os clubes sociais e as escolas de samba, e que se renova em sua capacidade de mediação com o mundo popular através dos jovens universitários e de intelectuais ligados ao terceiro setor. Desse capital social se poderá extrair a energia necessária para o desenvolvimento de uma nova solidariedade, capaz de sustentar uma cidade de cidadãos, onde a milícia e o tráfico se vejam constrangidos por um ambiente hostil ao arbítrio e a práticas a margem do Direito.


Texto produzido pela parceria Comunidade Segura e Fórum Brasileiro de Segurança Pública (www.comunidadesegura.org)