Hupper, o Sátiro:
Juremir Machado da Silva, para Correio do Povo(14 de março de 2009)
Há personagens históricos que nunca saem totalmente de moda. Mitrídates, rei do Ponto, é um deles. Na verdade, foi uma dinastia. Foram-se os reis. Ficou o Ponto. Não pensem bobagens. O Ponto era um estado helenístico, uma província romana. Isso está ficando complicado. Não estou dizendo que o ponto era um estado de espírito dos helenos, embora muitos fizessem ponto na Ágora. O personagem que importa aqui mesmo é Pirro. Ele foi rei do Épiro e da Macedônia. Nunca cortou o ponto. Pirro era um grande guerreiro. Dedicou a vida a combater os romanos. Em algum momento da sua trajetória, soube argumentar e agir com alguma astúcia. Depois das suas vitórias sobre os cartagineses, porém, trocou a habilidade e a brandura pelo rigor excessivo e pelos castigos. Resolveu unir seus súditos na base da porrada.
Pirro tornou-se definitivamente famoso depois da Batalha de Ásculo, em que bateu os romanos. A vitória foi tão dura que, ao final, Pirro exclamou: 'Mais uma vitória destas e estou perdido'. Foram dois dias de combates. A vitória poderia ter acontecido no primeiro, mas parece que estragou um elevador e dois elefantes não puderam participar do confronto. Pirro comandava uma espécie de frente ou base aliada, que, embora mostrasse descontentamento, acabava por ceder às suas pressões com medo das punições ou para receber alguns agradecimentos. Era um PMDB da época. A governadora Yeda Crusius certamente descende da linhagem de Pirro. Na última quinta-feira, obteve na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul uma vitória de Ásculo. Mais uma dessas e, com certeza, estará perdida. Obteve o difícil apoio do PMDB, um partido sabidamente refratário a mudar seus posicionamentos ou a votar por conveniência, e ganhou a ojeriza do magistério estadual. Uma senhora conquista.
A política educacional de Yeda Crusius lembra os métodos de Pirro: castigo e anacronismo. Defendeu a 'enturmação', um procedimento pedagógico revolucionário consistindo em empilhar alunos de séries diferentes numa mesma sala para fazer economia a curto prazo e agradar ao Banco Mundial. Opôs-se a pagar o piso federal como salário inicial, preferindo ver no piso um teto. Provisório. Resolveu encarar greve como folga. Mesmo a recuperação das horas não trabalhadas, procedimento sensato, não bastou. Yeda, como Pirro, prefere o castigo no grão de milho e a palmatória. É mais educativo. Afinal, nessa concepção altamente inovadora, a humanidade só funciona por punição e recompensa. A punição foi para os professores grevistas. A recompensa, para o PMDB.
As vitórias de Pirro garantiram-lhe a perdição. Foi temido. Mas não amado. Arrancou impostos excessivos dos mamertinos (os marciais). Acabou atingido, em Argos, por uma telha jogada por uma velha (aposentada?). Alguns dizem que um soldado inimigo aproveitou esse momento para matá-lo. Outros garantem que ele foi envenenado por um servo. Pirro chegou a escrever memórias de guerra. Esses escritos se perderam. Não precisou pedir que fossem esquecidos. Consta que foram elogiados pelo magnífico orador Cícero e usados por Aníbal como exemplos do que nunca se deveria fazer. Ainda bem que esses tempos bélicos passaram. Desejo longa e boa vida à governadora Yeda Crusius. Só não posso lhe desejar outras vitórias de Pirro como a desta semana. Salvo se... Pensando bem, talvez seja o melhor que possamos desejar-lhe.
juremir@correiodopovo.com.br
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