domingo, 15 de março de 2009

Cern comemora os 20 anos da internet


Em março de 1989, o britânico Tim Berners-Lee escreveu no Cern, em Genebra, um projeto chamado "Information Management: A Proposal" (gerenciamento de informação: uma proposta), que deu origem à internet.

Nesta sexta-feira, ele voltou à Genebra para a comemoração dos 20 anos da web, que já foi comparada à invenção da tipografia por Johannes Gutenberg e abriu as fronteiras do mundo à sociedade da informação.

"1990 foi um ano de importantes acontecimentos mundiais. Em fevereiro, Nelson Mandela foi libertado após 27 anos de prisão. Em abril, o ônibus espacial Discovery colocou o telescópio espacial Hubble em órbita. E, em outubro, a Alemanha foi reunificada. Então, no final de 1990, ocorreu uma revolução que mudou a forma como vivemos hoje. Foi no Cern, Organização Europeia para Pesquisa Nuclear, onde tudo começou em março de 1989."

Assim começa a mensagem de boas-vindas que se lê hoje no site do primeiro servidor mundial da história da internet: http://info.cern.ch. O texto reflete o significado histórico que é atribuído ao surgimento da web.

A conexão de computadores em redes fechadas já havia começado em 1969, com a Arpanet, que interligava instituições de pesquisa dos EUA (leia mais na coluna ao lado), mas Tim Berners-Lee deu uma dimensão mundial à tecnologia.

Sua proposta mostrava como as informações poderiam ser facilmente transferidas através da internet, utilizando hipertexto, hoje conhecido como sistema de ponto-e-clique de navegação através da informação. No ano seguinte, o engenheiro de sistemas do Cern Robert Cailliau tornou-se o primeiro usuário da web e um de seus defensores.

A idéia era ligar hipertexto com a internet e computadores pessoais e, assim, formar uma única rede que ajudasse os físicos do Cern a partilhar todas as informações armazenadas em computador nos laboratórios da instituição.

Uma idéia "vaga, mas altamente interessante", foi a resposta escrita pelo chefe de Berners-Lee, Mike Sendall, no papel hoje exposto numa vitrine do Cern como se fosse uma certidão de nascimento da World Wide Web.

Siglas complicadas e trabalho de lobby

Berners-Lee chegou à Suíça em 1984, aos 33 anos, para desenvolver novos métodos para o registro e processamento de um novo acelerador de elétrons. No instituto eram usados os mais diferentes tipos de computadores e formatos de documentos. Sua intenção inicial foi apenas organizar o grande volume de informações.

Com um sistema de hipertexto desenvolvido por ele em 1988, os pesquisadores deveriam poder acessar mundialmente os resultados dos colegas. Esse sistema baseava-se num tripé ainda hoje aparentemente complicado para usuários leigos: o "Hypertext Markup Language" (HTML) descreve como páginas com hiperconexões ("links") são formatadas em diferentes plataformas de computação; o "Hypertext Transfer Protocol" (HTTP) é a linguagem que os computadores usam para se comunicar através da internet; e o "Universal Resource Identifier" (URI) é o esquema pelo qual endereços de documentos são criados e encontrados.

Num trabalho formiga, através de conversas pessoais e longos emails, ele e Cailliau convenceram os tomadores de decisão e pesquisadores do Cern, bem como informáticos em todo o mundo da importância do projeto. "Não havia um fórum de onde eu pudesse esperar uma resposta", lembrou ele em 1999 em seu livro Der Web-Report. Sem falar que na época não existiam blogs ou wikis, que hoje facilitam um trabalho colaborativo.

Para reforçar seu lobby, Berners-Lee instalou na noite de Natal de 1990 no seu computador NeXT o servidor info.cern.ch, endereço ativo até hoje. Mas, a maioria dos usuários de computador, na ocasião, não podia acessá-lo. Eles se movimentavam em redes fechadas, como CompuServe, AOL ou Btx.

O impulso decisivo, como conta a história da internet, só viria em abril de 1993, quando o Cern abriu a web ao público e renunciou ao pagamento de licenças ou a um patenteamento da invenção de Berners-Lee. O triunfo da rede, porém, aconteceria fora do Cern.

Uma série de outras invenções e avanços tecnológicos contribuiu para isso, como o primeiro browser gráfico Mosaic, que em 1993 tornou a internet acessível a um público leigo em informática, ou a fundação do motor de busca Google em 1998.

Expansão vertiginosa

Em 1994, o fundador da Microsoft, Bill Gates, que segundo a revista Forbes novamente é o homem mais rico do mundo, reconheceu o potencial da rede e iniciou a disputa do mercado de browsers contra o Netscape (sucessor do Mosaic).

No mesmo ano, Tim Berners-Lee foi para os EUA, onde fundou no Massachusetts Institute of Technology (MIT) o World Wide Web Consortium (W3C), grêmio que ele comanda até hoje e que padroniza os desenvolvimentos tecnológicos da web.

Mas ele nunca se tornou um ricaço, como um Bill Gates, por exemplo. Quando perguntado se não se irrita por não ter faturado muito dinheiro com sua invenção, ele responde: "Tomei decisões conscientes sobre o rumo que deveria tomar minha vida. Isso eu não mudaria".

O que Tim Berners-Lee não podia imaginar nos corredores e laboratórios do Cern em 1989 é a dimensão que tomaria sua invenção. Estima-se que hoje existam mais de 80 milhões de wesites (dado do Cern), 625 milhões de computadores em rede (número da DPA) e centenas de milhões de usuários de internet. Ninguém mais compra um computador para outro fim que não seja acessar a internet, que colocou o mundo à distância de um clique.

swissinfo, Geraldo Hoffmann

Um comentário:

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