terça-feira, 31 de março de 2009
Para Rússia, BRICs são símbolo de mundo multipolar
Steve Eke
Analista de Política Russa da BBC
O conceito da sigla BRICs para a Rússia faz parte da noção de um mundo multipolar, no qual há múltiplos e competitivos centros de poder que o país vem ajudando a construir ao longo da última década.
A Rússia tem uma relação econômica bastante próxima com a China e a Índia, mas nenhuma parceria estratégica. Os três permanecem países muito diferentes em termos de orientação estratégica e geopolítica.
As ligações entre a Rússia e a América Latina vêm aumentando, a exemplo dos acordos de cooperação militar assinados com a Venezuela no ano passado, mas ainda são muito menores do que os laços que o país mantém com a Europa.
Qualquer que seja a retórica, a Rússia é fortemente integrada política e economicamente com as instituições européias.
Rússia e G20
O presidente russo, Dmitry Medvedev, diz que a cúpula do G20 que acontece esta semana em Londres deverá estabelecer um consenso para modernizar a atual arquitetura financeira global e criar um novo curso para a economia mundial.
Medvedev tem pedido insistentemente por "ações conjuntas" e "valores comuns". Ao mesmo tempo, o principal assessor econômico do Kremlin, Arkady Dvorkovich, diz que a cúpula do G20 precisará fornecer mais do que comunicados.
Que tipo de ação a Rússia propõe?
Entre os resultados esperados pelas autoridades russas estão a reforma do Fundo Monetário Internacional (FMI) e a ampliação do Fórum de Estabilidade Financeira (FSF, na sigla em inglês).
O FSF foi criado em 1999 para promover a estabilidade financeira e é formado por Bancos Centrais, ministérios das Finanças e as mais relevantes organizações supervisoras mundiais.
A Rússia também defende uma melhor coordenação de políticas sociais entre as maiores potências econômicas diante da preocupação de que do rápido crescimento do desemprego resulte em efervescência social no país.
Mas o que a Rússia não quer ouvir é a palavra antiprotecionismo. Autoridades russas introduziram medidas protecionistas em várias indústrias, em particular na automobilística, altamente afetada pela crise, e no complexo industrial militar do país.
A cúpula do G20 acontece em um momento de sérias dificuldades econômicas para a Rússia. Há um ano, autoridades insistiam que a crise financeira havia nascido nos Estados Unidos e não atravessaria as fronteiras do país.
Com excesso de autoconfiança, o Kremlin descreveu a Rússia como um "oásis de estabilidade".
Um ano depois, a Rússia enfrenta sua primeira recessão em uma década. O número de desempregados aumentou em meio milhão de pessoas somente em dezembro. O ministro das Finanças admite que em 2009 a renda orçamentária deve ser 40% menor do que o previsto, devido principalmente ao colapso do preço do petróleo.
Mas não é só o setor de energia que está sofrendo com os efeitos das turbulências. No complexo militar industrial de alta tecnologia cerca de um terço das empresas beira a falência.
O governo dispõe ainda de enormes reservas para injetar na indústria, bancos e programas sociais. Uma eventual quebra de bancos ou a desvalorização acentuada do rublo seria desastroso politicamente e para a população.
Isto pode ajudar a explicar o chamado do primeiro-ministro, Vladmir Putin, por "coesão social".
Protestos
As autoridades russas já deixaram claro que não vão tolerar greves e protestos ilegais.
Em dezembro, paraquedistas foram enviados de Moscou para o outro lado do país, na ponta leste, para conter protestos de comerciantes de carros contra o aumento nas taxas de importação de automóveis. A polícia local havia avisado que não usaria força contra o povo.
Medvedev chegou ao poder em uma época abençoada, com os cofres públicos transbordando com petrodólares. E agora, de uma hora para outra, ele passou a enfrentar vários desafios.
A solução poderá vir em forma de uma resposta firme por parte do presidente ou então de uma saída política mais fácil - que acabe por sacrificar o líder russo ou Vladmir Putin.
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