Mostrando postagens com marcador BRIC. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador BRIC. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Mudança na política da China para o mundo

Fonte da Imagem: http://www.masterchessopenings.com/wp-content/uploads/2014/07/chess_00418821.jpg


Por Frederick William Engdahl * - de Nova York, EUA

Dia 29/11/2014, aconteceu em Pequim uma reunião pouco comentada, mas altamente significativa, que aconteceu enquanto quando Washington estava absorvida em suas tentativas para ‘’incapacitar’’ e, afinal, desestabilizar a Rússia de Putin. Os chineses realizaram o que chamaram de Conferência Central sobre Trabalho Relacionado a Assuntos Exteriores. Ali Xi Jinping, presidente da China e presidente da Comissão Militar Central pronunciou o que foi chamado de “Importante Discurso”.

Leitura cuidadosa do documento oficial do Ministério de Relações Exteriores da China sobre aquela Conferência confirma que, sim, foi discurso “importante”.

A liderança política chinesa já completou e agora divulgou oficialmente uma mudança estratégica global nas prioridades geopolíticas da política exterior da China.

A China já não vê como a mais alta prioridade o seu relacionamento com os EUA nem, sequer, com a União Europeia. Em vez disso, definiram agora um novo grupo de países prioritários, no novo mapa geopolítico que os chineses discutiram demoradamente e agora acabaram de definir.

Esse novo mapa inclui a Rússia e todos os países BRICS com suas economias em rápido desenvolvimento; inclui os vizinhos asiáticos da China, países africanos e outros países em desenvolvimento.

Prova de que é discurso importante, muitos já começaram a falar sobre “maiores riscos de confronto com o mundo desenvolvido” (por exemplo, Timothy Heath, em The Diplomat). [Aqui há um parágrafo truncado, ininteligível (NTs)].

No discurso que fez aos participantes daquela Conferência, o presidente Xi destacou um subgrupo de países em desenvolvimento: “grandes países em desenvolvimento” (kuoda fazhanzhong de guojia). Com esses, a China vai “fortalecer a unidade e a cooperação e integrar firmemente [o desenvolvimento chinês] com o desenvolvimento comum de todos os grandes países em desenvolvimento”, disse Xi.

Segundo intelectuais chineses, esses países aparecem agora como parceiros especialmente importantes “para apoiar a reforma da ordem internacional”. Nesse grupo estão Rússia, Brasil, África do Sul, Índia, Indonésia e México, quer dizer, os parceiros BRICS da China, mais Indonésia e México. A China também deixou de se autodefinir como “país em desenvolvimento”, sinalizando que há uma nova autoimagem [vide Sobe a periferia e rebaixam-se as ‘grandes potências’ (ing.) (NTs)].

O Vice-Ministro de Relações Exteriores, Liu Zhenmin, indicou outro aspecto significativo da nova política quando, na Conferência em Pequim, declarou que “o desequilíbrio entre a segurança política da Ásia e o desenvolvimento econômico tornou-se questão cada dia mais importante”. A proposta da China, de criar uma “comunidade de destino partilhado”, visa a resolver esse desequilíbrio. Implica que a China terá laços diplomáticos e econômicos mais próximos com Coreia do Sul, Japão, Índia, Indonésia, até o Vietnã e as Filipinas.

Em outras palavras, embora o relacionamento com os EUA vá continuar como mais alta prioridade, por causa do poderio militar e financeiro dos EUA, deve-se esperar ver uma China cada dia mais ativa contra o que vê como interferência dos EUA. É novidade que já se viu claramente em outubro, quando o jornal People Daily do Partido Comunista Chinês publicou editorial, durante a ‘revolução dos guarda-chuvas’ em Hong Kong, que interrogava “Por que Washington tanto se interessa por revoluções coloridas?” O artigo citava nominalmente, como envolvida naquela “operação”, a ONG National Endowment for Democracy, dedicada a “mudanças de regime” pelo mundo e mantida pelo vice-presidente dos EUA. Esse tipo de denúncia direta era impensável há seis anos, quanto Washington tentou criar problemas para Pequim insuflando protestos violentos do movimento do Dalai Lama no Tibete, pouco tempo antes dos Jogos Olímpicos de Pequim de 2008.

A China está agora rejeitando abertamente a crítica usual do ocidente sobre “direitos humanos” e recentemente declarou um esfriamento nas relações diplomáticas entre China e Reino Unido, depois que o governo de Cameron ter recebido o Dalai Lama; e entre China e Noruega, depois que o país reconheceu o dissidente Liu Xiaobo. Ao longo do ano passado, passo a passo, Pequim cuidou de esvaziar as críticas de Washington contra os direitos históricos que a China declara ter no Mar do Sul da China.

Mas talvez mais significativo de tudo, em meses recentes a China promoveu firmemente uma agenda para construir instituições alternativas aos FMI e Banco Mundial controlados pelos EUA – o que, se o movimento for bem-sucedido, pode ser golpe devastador contra o poder econômico dos EUA. Para resistir em oposição à tentativa, pelos EUA, de isolar economicamente a China na Ásia, com a criação de uma Parceria EUA Trans-Pacífico [US Trans-Pacific Partnership (TPP)], Pequim anunciou sua própria visão chinesa de uma Área de Livre Comércio do Pacífico Asiático [Free Trade Area of the Asia-Pacific (FTAAP)], acordo comercial “plenamente inclusivo, padrão ganha-ganha”, que realmente promove a cooperação no Pacífico Asiático.

Elevar as relações russas

Nesse momento, o que emerge claramente é a decisão da China de pôr sua relação com a Rússia de Putin no centro da nova prioridade estratégica chinesa. Apesar das décadas de desconfiança depois da ruptura sino-soviética de 1960, os dois países iniciaram cooperação em profundidade que é completamente sem precedentes. As duas maiores potências territoriais da Eurásia estão costurando laços econômicos que criam o único “desafiante” potencial imaginável, capaz de ameaçar a supremacia global norte-americana, como a descrevia o estrategista da política externa dos EUA, Zbigniew Brzezinski, em 1997, em seu O Grande Tabuleiro de Xadrez.

No momento em que Putin combate uma guerra sem tréguas de sanções econômicas impostas pela OTAN para derrubar seu governo, a China assinou não um, mas vários negócios-gigantes com empresas estatais russas, Gazprom e Rozneft, que permitem à Rússia enfrentar em melhores condições a crescente ameaça às suas exportações de energia para a Europa ocidental, que é questão de vida ou morte para a economia russa.

Durante a reunião da Associação dos Países Exportadores de Petróleo em Pequim, Obama foi oficialmente rebaixado no panteão diplomático, ao ser mandado postar-se ao lado da esposa de um presidente asiático, enquanto Putin permanecia ao lado de Xi. Os símbolos têm grande peso político, especialmente na China – e são parte essencial da comunicação.

Na mesma reunião, Xi e Putin assinaram o acordo para construir um gasoduto da Sibéria à China, chamado Rota Oeste, que se conectará ao histórico gasoduto Rota Leste já acordado com a Rússia, em maio. Quando os dois estiverem completados, a Rússia estará fornecendo 40% do gás natural de que a China necessita.

Na mesma ocasião, em Pequim, o Ministro do Exército da Rússia, anunciou importantes novas áreas de cooperação entre as Forças Armadas da Rússia e o Exército da Libertação do Povo, da China.

Agora, em plena guerra total que Washington faz contra o rublo russo, a China anunciou que está pronta para, se solicitada, ajudar seu parceiro russo. Dia 20/12/2014, em meio a uma queda histórica na cotação do rublo em relação ao dólar, o Ministro de Relações Exteriores, Wang Yi, disse que a China proverá ajuda à Rússia, se necessária, e tem confiança de que a Rússia conseguirá superar suas atuais dificuldades. Ao mesmo tempo, o Ministro do Comércio, Gao Hucheng, disse que expandir uma operação de swap de moedas entre as duas nações e fazer uso mais amplo do yuan no comércio bilateral são operações que, com certeza, darão grande alívio à Rússia.

Há outras sinergias entre Rússia e China, nas quais os dois países se autocoordenam em relação mais próxima, inclusive a decisão de Putin de encontrar-se na primavera com o presidente da Coreia do Norte, e com a Índia, aliado de longa data dos russos, e com quem a China tem relações sensíveis desde os anos 1950s. Assim também a Rússia tem posição forte com o Vietnã desde a Guerra Fria e a ajuda que os russos deram para a pesquisa e extração de petróleo em águas do Vietnã.

Em resumo, tão logo haja estratégia geopolítica harmônica entre Rússia e China, o pior pesadelo geopolítico de Brzezinski ganhará vida própria, graças, em grande parte, às próprias políticas estúpidas dos neoconservadores maníacos por guerras que governam Washington, do próprio presidente Obama e das famílias milionárias sem amor nem pudor, que pagam todas as contas desse pessoal.

Todos esses movimentos, embora todos carregados de inúmeros perigos, sinalizam que a China compreendeu em profundidade o jogo geopolítico de Washington e as estratégias dos neoconservadores norte-americanos obcecados por guerras; e que, como a Rússia de Putin, a China também não tem nenhuma intenção de ajoelhar-se ante o que interpretam como uma Washington-tirana-global. O ano de 2015 surge como um dos mais decisivos e interessantes da história moderna.

* Frederick William Engdahl é jornalista, conferencista e consultor para riscos estratégicos. É graduado em política pela Princeton University; autor consagrado e especialista em questões energéticas e geopolítica da revista online New Eastern Outlook.


Fonte do texto:  http://correiodobrasil.com.br/ultimas/mudanca-na-politica-da-china-para-o-mundo/747459/?utm_source=newsletter&utm_medium=email&utm_campaign=b20150116

quinta-feira, 18 de junho de 2009

¿Un mundo tripolar?


Por Juan Gelman, para Página/12

Sí que pasan cosas en el mundo. La revuelta juvenil en Irán que cuestiona la reelección del presidente Ahmadinejad; la propuesta inviable del primer ministro israelí que, quizá por primera vez, dice “Estado palestino”; las sanciones de la ONU a Corea del Norte por sus ensayos nucleares y otros estrépitos asordinan los movimientos destinados a crear polos de poder económico alternativos al de EE.UU. Por ejemplo, las dos reuniones que tuvieron lugar esta semana al pie de los Urales en Ekaterimburgo. Se llamó Sverdlosk bajo el régimen soviético y no es cualquier ciudad: allí fueron fusilados el zar y su familia en una fría madrugada de julio de 1918 y allí cayó abatido en mayo de 1960 el U2 espía que piloteaba Gary Powers. Hoy la historia es otra.

Los líderes de los seis países que integran la Organización de Cooperación de Shanghai (OCS) –China, Rusia, Uzbekistán, Kirguistán, Tadjikistán y Kazajstán– examinaron las posibilidades de mutuo intercambio al margen de la esfera estadounidense. El martes 16, el anfitrión, Dimitri Medvedev, inauguró el encuentro –al que asistieron Irán, India, Pakistán y Mongolia en calidad de observadores– y urgió a la Organización a emplear las respectivas monedas nacionales en los pagos recíprocos del comercio intra-OCS y tal vez una divisa supranacional en el futuro. Dólares no.

El presidente Medvedev lo dejó neto en sus declaraciones en la conferencia de abril del G-20 y en el Foro Económico Internacional del 5 de junio último: calificó de artificial el sistema unipolar, basado en “un gran centro de consumo financiado por un déficit cada vez mayor y por deudas cada vez mayores, sin las reservas de divisas que antes poseía y con un régimen dominante de evaluación de bienes y riesgos” (Johnson’s Russia List, 8-6-09). Dicho de otra manera: Rusia no quiere seguir subsidiando el presupuesto estadounidense que, entre otras cosas, alimenta el cerco militar de Eurasia, las guerras en Medio Oriente y un escudo antimisiles a dos pasos de Moscú.

El nudo de la cuestión para la OCS es la capacidad de EE.UU. de imprimir cantidades ilimitadas de dólares que pagan sus importaciones, compran empresas y bienes inmuebles en otros países, mantienen más de 750 bases militares en todo el planeta y terminan en los bancos centrales extranjeros creándoles una disyuntiva de hierro: o subordinación al dólar de la moneda nacional, con las consecuencias por todos conocidas, o “reinversión” en bonos del Tesoro de EE.UU. de bajo interés. Hay cuatro millones de millones de estos bonos entre las reservas de divisas de bancos centrales de todo el mundo. El contribuyente norteamericano no es, desde hace décadas, quien financia al Pentágono y amengua una buena parte del déficit presupuestario de EE.UU. sino las obligadas inversiones foráneas en bonos del Tesoro.

Los países de la OCS desean utilizar sus monedas nacionales –así se beneficiarían de los créditos mutuos– y aplicar el método con otras naciones. China pactó acuerdos comerciales con Brasil y Malasia en yuanes renminbi (Wall Street Journal, 6-09). Zhou Xiaochuan, gobernador del Banco Popular de China, declaró oficialmente que su cometido es crear una reserva de divisas “independiente de cualquier nación individual” (Financial Times, 19-5-09). EE.UU. es el mayor deudor del concierto internacional, pero no parece dispuesto a autoimponerse las reglas de austeridad que el FMI propina a los demás.

El mismo martes 16 nació el BRIC, acrónimo de Brasil, Rusia, India y China, y también en Ekaterimburgo, donde mantuvo su primera reunión. Tal vez sea el único bloque multilateral inventado por un analista de inversiones bancarias, Jim O’Neill, de Goldman Sachs, que en 2001 creó la sigla y explicó que esos cuatro países dominarán la economía mundial en el próximo medio siglo. La declaración final que éstos emitieron dice textualmente: “Creemos muy necesario tener un sistema de divisas estable, de fácil pronóstico y más diversificado” (Wall Street Journal, 16-6-09). Igualito que la OCS y una nueva presión contra el dólar.

El crecimiento económico de los integrantes de BRIC es evidente. En una década duplicaron su participación en el producto mundial: pasó de 7,5 por ciento en los ’90 a más del 15 por ciento en 2008 (Financial Times, 15-6-09). Se acentúa el contraste entre la declinación de las economías superdesarrolladas del G-7 y la emergente de grandes países latinoamericanos y euroasiáticos. Los perfiles de la deuda pública de los unos y los otros así lo muestran: la de EE.UU. asciende al 80 por ciento del PBI, la de Italia a más del 100 por ciento, la de Japón al 199. Del otro lado de la mesa se encuentran, entre otros, Brasil, 45 por ciento, Indonesia 34, Corea del Sur 28, China 18 y Rusia apenas 6 (Global Research, 10-6-09). ¿El monoimperio tendrá entonces que achicarse?

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Países do BRIC se reúnem em busca de uma nova ordem mundial


Silvia Salek
Da BBC Brasil em Londres

Os líderes dos quatro países que formam o bloco dos BRICs (sigla criada em 2001 pelo banco de investimentos Goldman Sachs para se referir a Brasil, Rússia, Índia e China) terão, nesta terça-feira, 16 de junho, sua primeira cúpula presidencial em Ecaterimburgo, cidade na região dos Montes Urais, na parte asiática da Rússia.

A pauta desse encontro inédito é vasta e inclui assuntos que refletem um interesse comum em buscar uma nova ordem global que reflita o peso que as economias emergentes ganharam nos últimos anos, e devem continuar ganhando no futuro.

Pelo menos para o economista que criou a sigla, Jim O'Neill, este futuro está mais próximo.

De acordo com suas mais recentes projeções, em 2027, a economia da China deve superar a dos Estados Unidos, contribuindo, em grande parte, para que o grupo como um todo supere as economias ricas do G7 em menos de duas décadas.

A previsão anterior era de que isso ocorresse em 2035. A revisão se deve a um crescimento da China maior do que o esperado nos últimos anos e aos efeitos da crise na economia global.

A crise será um dos principais temas da cúpula em que os quatro chefes de Estado devem chegar a um consenso sobre o caminho que deve ser trilhado para que a economia volte a crescer com estabilidade.

Eles devem discutir ainda assuntos diversos, como a reforma das instituições financeiras internacionais, o diálogo dos BRICs no futuro, o papel do G20, mudanças climáticas e questões de segurança alimentar e energética. Tudo isso em apenas quatro horas de reunião.

Interesses comuns

Apesar das grandes diferenças entre os quatro países, alguns temas são consensuais, como a visão de que é necessária uma reforma no sistema financeiro global.

Os quatro defendem o fortalecimento de mecanismos de supervisão do mercado financeiro e reformas que deem mais voz aos emergentes no Fundo Monetário Internacional (FMI) e no Banco Mundial, instituições criadas no fim da Segunda Guerra Mundial para supervisionar a economia global.

O consenso ainda não está claro em outros temas. Um que promete causar polêmica é a discussão, ainda em estágio inicial, sobre uma alternativa ao dólar como moeda global de reserva e usada na maior parte das trocas comerciais. A ideia levanta várias possibilidades, mas ainda não há proposta concreta nem a certeza de que o tema é visto como prioridade pelos quatro.

No campo político, existe uma visão comum de que a Organização das Nações Unidas (ONU) deve ser aberta a uma maior participação de países emergentes e em desenvolvimento.

Mas no foro dos BRICs, no entanto, não existe posição única sobre a reforma no Conselho de Segurança defendida pelo Brasil e que inclui a ampliação do número de países com direito a um assento permanente e a veto.

A China e a Rússia fazem parte desse seleto grupo ao lado da França, da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos. O Brasil e a Índia, ao lado do Japão e da Alemanha, postulam uma vaga cativa.

No grupo, o tema é polêmico principalmente porque a China, apesar de defender, em tese, a democratização das organizações internacionais, é veementemente contra a inclusão do Japão.

"Mas a ONU é muito maior do que o Conselho de Segurança. A democratização da ONU passa também por uma maior participação em missões de paz, por exemplo", disse o analista indiano Nandan Unnikrishnan, que organizou recentemente na Índia um fórum de discussões sobre os BRICs com acadêmicos dos quatro países.

Unnikrishnan vê, no entanto, com mais cautela qualquer proposta de alternativa ao dólar.

"É preciso avaliar muito bem qual pode ser o efeito disso", disse o indiano, que é pesquisador-sênior do Observer Research Foundation, em Nova Déli, uma organização que defende reformas na Índia.

Andrew Wilson, especialista em Rússia do Conselho Europeu de Relações Internacionais, é ainda mais cético e identifica na defesa de uma moeda alternativa ao dólar uma retórica populista de "antiamericanismo".

"Temos que levar em conta que estão jogando para suas audiências nos países emergentes. A verdade é que não estamos perto de encontrar nenhuma alternativa ao dólar", disse Wilson.

Para o especialista indiano em relações internacionais Sukh Deo Muni, é normal que haja "suspeitas de todo tipo" na comunidade internacional sobre as intenções do grupo emergente.

"Eu vejo a futura atuação desses países como uma espécie de grupo de lobby que quer lutar pela reestruturação do sistema político e financeiro global, e isso pode causar um certo desconforto em alguns setores", disse Muni, especialista em política externa regional e, atualmente, pesquisador do Instituto de Estudos Sul-Asiáticos da Universidade Nacional de Cingapura.

Verdadeira estrela

A união dos quatro países com o selo BRICs levanta críticas e elogios em medida semelhante.

Entre as críticas, está o fato de o termo unir países tão distintos no que muitos classificam como um "conceito de marketing" criado por um banco.

Outros apontam que o BRIC é um grupo artificial e desigual em que a verdadeira estrela é a China. Atualmente, a economia chinesa é do tamanho das outras três juntas e essa distância tende a aumentar.

"Ainda que a China seja superior em alguns aspectos, não está interessada em criar um G2 com os Estados Unidos, de fazer parte de um grupo elitista", disse Xu Bin, professor de Economia e Finanças da International Business School, em Xangai.

As diferenças, no entanto, não devem impedir que o grupo consolide uma agenda consensual, ainda que modesta, mas suficiente para projetar para o mundo o objetivo comum de "reequilibrar e democratizar a ordem internacional", nas palavras da Presidência brasileira.

A cúpula ocorre na cidade onde o último czar russo foi executado, em 1918, em meio a uma reunião da Organização para a Cooperação de Xangai (SCO, em inglês), um grupo criado em 2001 e que reúne os líderes da China, da Rússia e de quatro países da Ásia central (Cazaquistão, Uzbequistão, Tadjiquistão e Quirguistão).

terça-feira, 31 de março de 2009

Para Rússia, BRICs são símbolo de mundo multipolar


Steve Eke
Analista de Política Russa da BBC

O conceito da sigla BRICs para a Rússia faz parte da noção de um mundo multipolar, no qual há múltiplos e competitivos centros de poder que o país vem ajudando a construir ao longo da última década.

A Rússia tem uma relação econômica bastante próxima com a China e a Índia, mas nenhuma parceria estratégica. Os três permanecem países muito diferentes em termos de orientação estratégica e geopolítica.

As ligações entre a Rússia e a América Latina vêm aumentando, a exemplo dos acordos de cooperação militar assinados com a Venezuela no ano passado, mas ainda são muito menores do que os laços que o país mantém com a Europa.

Qualquer que seja a retórica, a Rússia é fortemente integrada política e economicamente com as instituições européias.

Rússia e G20

O presidente russo, Dmitry Medvedev, diz que a cúpula do G20 que acontece esta semana em Londres deverá estabelecer um consenso para modernizar a atual arquitetura financeira global e criar um novo curso para a economia mundial.

Medvedev tem pedido insistentemente por "ações conjuntas" e "valores comuns". Ao mesmo tempo, o principal assessor econômico do Kremlin, Arkady Dvorkovich, diz que a cúpula do G20 precisará fornecer mais do que comunicados.

Que tipo de ação a Rússia propõe?

Entre os resultados esperados pelas autoridades russas estão a reforma do Fundo Monetário Internacional (FMI) e a ampliação do Fórum de Estabilidade Financeira (FSF, na sigla em inglês).

O FSF foi criado em 1999 para promover a estabilidade financeira e é formado por Bancos Centrais, ministérios das Finanças e as mais relevantes organizações supervisoras mundiais.

A Rússia também defende uma melhor coordenação de políticas sociais entre as maiores potências econômicas diante da preocupação de que do rápido crescimento do desemprego resulte em efervescência social no país.

Mas o que a Rússia não quer ouvir é a palavra antiprotecionismo. Autoridades russas introduziram medidas protecionistas em várias indústrias, em particular na automobilística, altamente afetada pela crise, e no complexo industrial militar do país.

A cúpula do G20 acontece em um momento de sérias dificuldades econômicas para a Rússia. Há um ano, autoridades insistiam que a crise financeira havia nascido nos Estados Unidos e não atravessaria as fronteiras do país.

Com excesso de autoconfiança, o Kremlin descreveu a Rússia como um "oásis de estabilidade".

Um ano depois, a Rússia enfrenta sua primeira recessão em uma década. O número de desempregados aumentou em meio milhão de pessoas somente em dezembro. O ministro das Finanças admite que em 2009 a renda orçamentária deve ser 40% menor do que o previsto, devido principalmente ao colapso do preço do petróleo.

Mas não é só o setor de energia que está sofrendo com os efeitos das turbulências. No complexo militar industrial de alta tecnologia cerca de um terço das empresas beira a falência.

O governo dispõe ainda de enormes reservas para injetar na indústria, bancos e programas sociais. Uma eventual quebra de bancos ou a desvalorização acentuada do rublo seria desastroso politicamente e para a população.

Isto pode ajudar a explicar o chamado do primeiro-ministro, Vladmir Putin, por "coesão social".

Protestos

As autoridades russas já deixaram claro que não vão tolerar greves e protestos ilegais.

Em dezembro, paraquedistas foram enviados de Moscou para o outro lado do país, na ponta leste, para conter protestos de comerciantes de carros contra o aumento nas taxas de importação de automóveis. A polícia local havia avisado que não usaria força contra o povo.

Medvedev chegou ao poder em uma época abençoada, com os cofres públicos transbordando com petrodólares. E agora, de uma hora para outra, ele passou a enfrentar vários desafios.

A solução poderá vir em forma de uma resposta firme por parte do presidente ou então de uma saída política mais fácil - que acabe por sacrificar o líder russo ou Vladmir Putin.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Década de 2020 deve consolidar poder dos BRIC


Silvia Salek *
Da BBC Brasil em Londres

Os anos 20 deste século podem marcar a consolidação do fortalecimento de países emergentes como potências econômicas e políticas, em um mundo cada vez mais multipolar. Segundo acadêmicos e instituições de pesquisa, os chamados BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) serão peças-chave dessa nova ordem.

Para investigar que desafios cada país do BRIC terá pela frente, no caminho para se tornar uma potência em 2020, a BBC Brasil produziu uma série especial que começa a ser publicada nesta segunda-feira, reunido reportagens multimídia de nossos repórteres no Brasil e enviados especiais a Rússia, Índia e China.

Em 2020, com 3,14 bilhões de habitantes (40% da população mundial naquele ano, segundo projeções da ONU), eles devem chegar mais perto das economias do G-7, após terem crescido a taxas muito superiores às de nações ricas.

O National Intelligence Council, entidade do governo americano ligada a agências de inteligência, prevê que já em 2025 todo o sistema internacional - como foi construído após a Segunda Guerra Mundial - terá sido totalmente transformado.

"Novos atores - Brasil, Rússia, Índia e China - não apenas terão um assento à mesa da comunidade internacional, mas também trarão novos interesses e regras do jogo", afirma a instituição.

"Muito provavelmente, por volta de 2020 vamos nos dar conta de que existe um equilíbrio muito maior no mundo em termos econômicos e políticos com o fortalecimento de países emergentes como China, Índia, Brasil e Rússia. Com um maior poder econômico, virá também um maior poder político e uma participação ativa desses países em organismos internacionais", disse à BBC Brasil Stepháne Garelli, professor da Universidade de Lausanne, na Suíça, e autor de um estudo que traça cenários para 2050.

Conceito complexo

O conceito de sistema multipolar é complexo e, ainda que boa parte dos analistas concorde que o mundo caminha para isso, o tempo que levará para que a China tenha voz no Fundo Monetário Internacional (FMI), o Brasil tenha um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU ou o Banco Mundial seja dirigido por um russo ou indiano variam muito.

Mas a discussão já não se limita mais ao meio acadêmico. Diferentes aspectos do que pode vir a ser um mundo multilateral (ou multipolar) já começam a aparecer em discursos de autoridades que estão no centro do processo de tomada de decisões internacionais.

Um exemplo recente vem de Gordon Brown, o primeiro-ministro britânico, que, às vésperas do encontro do G-20, em Londres, declarou no Brasil que "o tempo em que poucas pessoas mandavam na economia acabou".

Também às vésperas do encontro, o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, disse em entrevista a uma TV francesa que "soluções globais supõem que a governança de instituições como o FMI seja mais legítima, mais democrática, com espaço para os países emergentes e pobres".

Reunião do G-20

A reunião do G-20, grupo que une países emergentes aos países-membros do G-8, pode ser vista como um sinal dessas mudanças. A voz dos emergentes no cenário de crise ganha especial relevância.

Segundo boa parte dos analistas ouvidos pela BBC Brasil, eles não apenas serão menos afetados do que os países desenvolvidos pela crise, como também podem se recuperar mais rapidamente.

Essa possível recuperação mais rápida se baseia em alguns pilares que serão também propulsores do crescimento de longo prazo.

"A situação das economias desses países é muito diferente. Mas, de maneira geral, os BRIC estão mais bem posicionados para a recuperação do que muitas outras economias", disse Markus Jaeger, responsável por análises de longo prazo no Deutsche Bank.

Para Alfredo Coutinho, analista mexicano da agência Moody's nos Estados Unidos, a crise revela ainda a vulnerabilidade das economias desenvolvidas e deixa clara a necessidade de equilíbrio na economia global.

"É uma oportunidade para as economias emergentes, que devem liderar a recuperação", disse Coutinho.

Crise

Em entrevista à BBC Brasil, Jim O'Neill, economista-chefe do Goldman & Sachs, que criou a sigla BRIC em 2001, prevê que a crise até mesmo acelere a escalada dos emergentes, e diz que já em 2020 a economia desses quatro países encoste nas dos países do G-7, o grupo das atuais nações mais ricas do mundo.

Não faltam céticos em relação à projeção de O'Neill. John Bowler, diretor do Serviço de Risco por País (CRS na sigla em inglês) da Economist Intelligence Unit é um deles.

"Acho que esse processo será mais demorado. Há uma série de obstáculos à confirmação dessas projeções tanto no campo econômico quanto político", disse Bowler.

Apesar das ressalvas feitas por muitos dos ouvidos pela BBC Brasil, o "otimismo" de O'Neill não é isolado.

Um relatório da consultoria Ernst&Young, Global Megatrends 2009, por exemplo, afirma que "a fome de crescimento, junto com a rápida industrialização das economias e populações em expansão, põe os emergentes no caminho da recuperação mais rapidamente, e os países do BRIC são claramente os atores principais".

Essa fome de crescimento vem, em parte, da nova classe média que tem revolucionado o consumo nesses países. Segundo o Banco Mundial, 400 milhões de pessoas se encaixavam nessa categoria em 2005 nos países em desenvolvimento. Em 2030, deverão ser 1,2 bilhão de pessoas.

"A classe média, principalmente dos países do BRIC, será o novo motor da economia mundial", prevê Stepháne Garelli, da Universidade de Lausane e diretor do índice de competitividade, publicado pelo Institute of Management Development, que avalia 61 países em 312 critérios.

"É uma classe média ávida por comprar seu primeiro carro, seu primeiro celular de última geração. Não é conservadora como a classe média do atual mundo rico. Ela quer 'comprar felicidade'", acrescentou.

Padrão de vida

O valor do PIB dará posição de destaque a esses países no ranking global de economias, mas não será suficiente para levar as populações desses países a padrões de vida próximos ao dos países hoje considerados ricos.

O PIB per capita da Índia, por exemplo, deverá praticamente dobrar num período de 15 anos até 2020, segundo um estudo do departamento de pesquisas do Deutsche Bank. Ainda assim, representará apenas 40% da renda per capita nos Estados Unidos.

De olho em indicadores como o PIB per capita, Françoise Nicolas, economista do Instituto Francês de Relações Internacionais, prevê a ascensão das "superpotências pobres".

"Será um mundo multipolar bizarro. Os BRIC serão superpotências pobres com mais peso econômico, mas o discurso ainda não estará no mesmo nível dos países ricos", prevê Nicolas.

Além da pobreza, esses países enfrentam outros desafios, como a proteção ao meio ambiente.

"Eles querem ter maior poder de decisão e, ao mesmo tempo, em certas questões como o meio ambiente, querem continuar a ser tratados como países emergentes, que não podem cumprir as mesmas exigências dos ricos", disse Thomas Klau, chefe do escritório de Paris do Council of Foreign Relations.

*Colaboraram nesta reportagem: Bruno Garcez, da BBC Brasil em Washington, Daniela Fernandes, de Paris para a BBC Brasil, e Marina Wentzel, de Hong Kong para a BBC Brasil