sexta-feira, 12 de setembro de 2008
Estado faz contribuinte pagar conta da crise financeira
Privatização dos lucros e estatização das perdas: bancos centrais europeus decidem apoiar institutos atingidos pela crise no mercado financeiro. Economistas discutem se o Estado deve ou não intervir no mercado financeiro.
O Banco Central Europeu (BCE) reiterou sua disposição de novas injeções financeiras para bancos e caixas econômicas. Em comunicado oficial, o banco declarou, nesta quinta-feira (27/03) em Frankfurt, que "caso seja necessário, o BCE está disposto a colocar liquidez adicional à disposição".
Durante a Páscoa, o BCE injetara 15 bilhões de euros no mercado. Na última terça-feira, o Banco Central Europeu colocou à disposição 50 bilhões de euros adicionais ao volume que costuma colocar no mercado.
O Banco Central da Suíça (SNB) e o Banco da Inglaterra também se dispuseram a apoiar institutos credores com injeções financeiras. Na quinta-feira, os dois bancos também colocaram meios adicionais à disposição. Os três maiores bancos centrais da Europa decidem assim apoiar os institutos financeiros em crise.
Quem pagará a conta?
Desde a eclosão da crise do mercado financeiro, no segundo semestre do ano passado, aumenta a lista de bancos que somente com a ajuda do Estado podem se livrar da insolvência nos EUA, no Reino Unido ou na Alemanha: Bear Stearns, Fannie Mae, Freddie Mac, Northern Rock, IKB, WestLB e BayernLB.
Institutos financeiros recorrem cada vez mais aos bancos centrais, já que não podem mais tomar dinheiro emprestado de outros bancos, num mercado financeiro que não funciona normalmente. Por medo de inadimplência, bancos credores não colocam mais à disposição o habitual volume de dinheiro no mercado. A grande pergunta continua sendo, no entanto, quem pagará a conta final.
Privatização dos lucros e estatização das perdas
Até mesmo defensores da doutrina neoliberal, como o presidente do Deutsche Bank, Josef Ackermann, apelam a governos e bancos centrais para uma ação conjunta na recuperação da confiança nos mercados financeiros internacionais.
Devido à crise financeira no mercado internacional, o banco de Ackermann acaba de anunciar uma revisão de seu prognóstico de lucro bruto de 8,4 bilhões de euros para 2008.
A tendência para a privatização dos lucros e estatização das perdas da crise financeira se torna cada vez mais visível. Em entrevista à Deutsche Welle, Norbert Walter, economista-chefe do Deutsche Bank, respondeu se o Estado deve ou não intervir no mercado financeiro em crise.
Para Walter, "intervenções estatais só fazem sentido quando todos os meios financeiros privados forem esgotados, não só de forma teórica, mas também praticamente". Ele sugere, assim, instrumentos como a troca da diretoria do banco e a utilização completa do capital do banco, antes que o Estado intervenha.
Construtos conhecidos
O dogma de não intervir nos mercados de capital parece, no entanto, estar ultrapassado. O banco britânico Northern Rock, que sofreu grandes perdas no mercado de capitais devido a títulos hipotecários mal-assegurados, foi estatizado. Também nos EUA, apelam os banqueiros ao Estado.
O governo americano concedeu carta livre aos bancos de financiamentos imobiliários Fannie Mae e Freddie Mac para a compra de hipotecas em grande estilo. Além disso, o Banco Central Americano (Fed) assegurou a venda do insolvente banco de investimentos Bear Stearns ao JPMorgan com um crédito de 30 bilhões de dólares. Desta forma, o JPMorgan não corre quase nenhum risco e, na dúvida, a conta será paga pelo contribuinte americano.
O contribuinte alemão também conhece este construto. Devido a especulações errôneas, o IKB (Banco Industrial Alemão) só pôde ser salvo da bancarrota através de ajuda estatal. Tal ação de salvamento já custou 8,5 bilhões de euros. Nos bancos estaduais alemães, a situação não é diferente.
Calcula-se que a recapitalização destes bancos custará ao contribuinte alemão cerca de 20 bilhões de euros. Por medo do efeito dominó, ou seja, o fato de a insolvência de um banco levar à insolvência de outros, parece haver um consenso entre bancos centrais e governos das nações industriais de que todos os bancos devem ser salvos, custe o que custar – ao contribuinte.
DW/Agências (ca)
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