quarta-feira, 10 de setembro de 2008

"Buracos negros podem devorar a Terra"


Entrevista exclusiva com o cientista Otto Rössler, que adverte contra possíveis conseqüências destrutivas da atividade do LHC, o maior acelerador de partículas já construído.

O professor Otto E. Rössler, nascido em 1940, é acadêmico de longa trajetória e membro do Instituto de Química Física e Teórica da Universidade de Tübingen. Ele é um dos que advertem contra eventuais efeitos destrutivos do LHC (Large Hadron Collider), o maior acelerador de partículas do mundo, a ser posto em atividade nesta quarta-feira (10/09).

Suas advertências têm sido ignoradas ou ridicularizadas pela comunidade científica. E no entanto o que estaria em jogo é a sobrevivência da humanidade, afirma. O cientista alemão concedeu uma entrevista exclusiva à DW-WORLD.DE.

DW-WORLD.DE: Que perigos acarreta o acelerador de partículas LHC (Large Hadron Collider)?

Otto Rössler: Pela primeira vez se incrementará a energia por um fator de oito. É como se se aumentasse a potência de um microscópio oito vezes mais do que jamais foi feito. Ou se acelerasse um meio de transporte a uma velocidade oito vezes maior. Sempre podem surgir imprevistos. E, naturalmente, o mesmo ocorre neste caso. Dever-se-ia, por exemplo, incrementar a energia lentamente, para poder prevenir o que ocorre. Ao contrário, planeja-se incrementá-la de um golpe só, e isto é muito imprudente.

Há perigos que não foram excluídos e que, no entanto, não se deveria descartar antes de empreender algo arriscado. Não seria tão difícil excluí-los convocando peritos na matéria e pedindo-lhes que refutassem os cenários de risco postos sobre a mesa. Porém isto não foi feito. Recusando-se, o CERN [Conselho Europeu de Pesquisa Nuclear, em Genebra] está atuando de maneira irracional, indigna da ciência, e que a desacredita em nível mundial. Quer dizer, trata-se de uma questão exclusivamente teórica. Infelizmente, relacionada com a sobrevivência da humanidade.

Fala-se, neste contexto, da "criação" de buracos negros...

Vemos, sim, o perigo de buracos negros. É precisamente isto o que se poderia produzir e, na realidade, são eles um dos objetivos desse experimento.

Quer dizer que se poderia produzir um buraco negro que cresceria, devorando tudo a seu redor?

Em última instância, sim. Seria um miniburaco negro, imensamente pequeno. Há apenas algumas teorias segundo as quais eles poderiam produzir-se, e são estas que o CERN quer comprovar. Entretanto, se esses miniburacos negros surgirem – à razão de um por segundo, que é o que se espera – e um deles permanecer na Terra, em vez de se "evaporar", a única coisa que poderia fazer é crescer. O CERN pensa que se esfumarão, mas há indícios concretos de que tal poderia não acontecer. E é isto o que se deveria esclarecer. Caso não desapareçam, devorariam a Terra a partir do interior, em algum momento, com maior ou menor velocidade. O CERN argumenta que lentamente. Eu creio que seria rapidamente.

Quão rápido?

Certa vez cheguei à cifra de 50 meses. Não se trata de uma estimativa, mas sim do pior cenário possível. Que, apesar de tudo, não se pode descartar.

Como se poderia reagir, caso algo assim ocorresse?

Não haveria reação possível.

Não haveria nenhuma forma de controlar o problema?

Quem dera. Mas tudo indica que o buraco negro estaria a uma distância tão grande abaixo da superfície que de início nada se perceberia. E quando se notasse sua presença, devido às radiações emitidas pela Terra, não se poderia isolar o fenômeno nem lançá-lo, por exemplo, ao espaço, num foguete.

Por que o senhor crê que seus colegas reagiram com tanto repúdio a suas advertências?

É sempre assim. Quando a maioria crê em algo, os que afirmam o contrário só são reconhecidos muito tempo depois. Ou nunca.

Emília Rojas Sasse (av)

Nenhum comentário:

Postar um comentário