domingo, 21 de setembro de 2008
Análise: Crise mostra fracasso do capitalismo à americana
Robert Peston
Da BBC News
O governo dos EUA prepara plano para socorrer o mercado
As altas de tirar o fôlego nas ações de bancos nesta sexta-feira são um sinal de que o mercado acionário está carente de razão e está respondendo quase que puramente à histeria e ao reflexo de momento.
As valorizações ocorreram principalmente devido à notícia de que o secretário do Tesouro americano, Henry Paulson, e o presidente do Fed (o Banco Central americano), Ben Bernanke, estão preparando um ousado (ou possivelmente impetuoso) plano para lidar com o que já está sendo considerada a mais grave e intratável crise do sistema bancário registrada desde o final dos anos 20.
A ação coordenada de bancos centrais de todo o mundo anunciada na quinta-feira para injetar US$ 180 bilhões em empréstimos de curto prazo no sistema bancário trata apenas um sintoma, e não a causa, da relutância dos bancos em emprestar dinheiro uns aos outros e a nós.
Trata-se de um solução tampão, enquanto Paulson prepara os Estados Unidos para nacionalizar dívidas podres e, assim, perdoar alguns dos maiores bancos do mundo por suas idiotices durante os anos de boom econômico.
Para entender os prós e os contras do que está sendo cogitado por Paulson, vale a pena lembrar o que criou a última fase desta crise de crédito.
A causa profunda é a retração crônica do mercado imobiliário dos Estados Unidos. As causas mais práticas são as hipotecas podres - contraídas por americanos que não têm como pagá-las - que estão nos bancos e outros instituições financeiras, prejudicando a capacidade delas de obter novos empréstimos.
Talvez os Estados Unidos ainda sejam grandes e poderosos o suficiente para convencer o resto do mundo a pagar pelos erros do seu sistema financeiro – o que está sendo proposto, de forma abrangente.
Os mais recentes estopins dos problemas, porém, foram as crises no banco Lehman Brothers, na seguradora AIG, na agência hipotecária Fanny Mae e em outras instituições importantes, que criaram um clima de medo no qual banqueiros e gerenciadores de investimentos parecem acreditar que quase qualquer banco pode quebrar.
Um novo elemento importante tem sido a decisão dos investidores de realizar saques vultosos dos fundos americanos, por causa da percepção de que tais fundos não são seguros como se acreditava. Isso, por sua vez, privou os bancos de uma fonte importante de depósitos.
Humilhação
Paulson está trabalhando com o Congresso americano em um pacote de medidas que, espera ele, vá atacar as raízes dessa crise.
O plano envolveria a compra de centenas de bilhões de dólares de dívidas podres cedidas pelos bancos a donos de imóveis nos Estados Unidos. Ao colocar os fundos no seguro, o plano também seria uma tentativa de restabelecer a confiança nessas aplicações.
O pacote seria o supra-sumo de todos os pacotes de ajuda. Ele certamente significará o investimento de centenas de bilhões de dólares do dinheiro dos contribuintes americanos, possivelmente mais de um trilhão de dólares.
E não é só – ele virá depois que Paulson se comprometeu a destinar US$ 300 bilhões para salvar Fannie Mae, Freddie Mac e AIG.
Para Wall Street, o plano representa uma imensa humilhação – já que suas empresas e operadores seriam, supostamente, os mais astutos do planeta. E o próprio Paulson era um deles, já que foi chefe do Goldman Sachs.
Capitalismo à americana
Haverá sérios prejuízos de longo prazo à habilidade dos Estados Unidos de exportar para o resto do mundo sua forma de fazer negócios.
O capitalismo à americana não parece muito brilhante neste momento.
Nesse sentido, a Europa passará a ter um grau a mais de autoridade moral, assim como de influência financeira.
Possivelmente, o maior risco para os Estados Unidos é que, ao resgatar as finanças do setor privado, Paulson abale a confiança dos investidores internacionais nas contas do governo americano – o que poderá levar a um enfraquecimento maior do dólar, elevar a inflação e elevar o custeio da dívida americana.
Talvez os Estados Unidos ainda sejam grandes e poderosos o suficiente para convencer o resto do mundo a pagar pelos erros do seu sistema financeiro – o que está sendo proposto, de forma abrangente.
Mas certamente também seria mais racional para a China se apossar de vez do sistema financeiro americano em vez de emprestar dinheiro ao governo americano (e, nesse contexto, faz sentido que o Morgan Stanley possa estar próximo de vender quase metade de si mesma ao CIC, o fundo de investimento estatal chinês).
No jogo de Banco Imobiliário de Wall Street, não há nenhuma carta para “sair da prisão” de graça.
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