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sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Quanto custa comer orgânicos em Porto Alegre?

 



Quem deixa os supermercados de lado e opta pelas feiras ecológicas tem economia de 58% nos mesmos produtos

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS)
Comprar direto do produtor é umas das vantagens das Feiras Ecológicas / Leandro Molina


A resposta para a pergunta acima depende de um único fator: o local em que esses alimentos são adquiridos. No dia 23 de julho, o Jornal Brasil de Fato RS visitou uma unidade de uma das maiores redes de supermercado do país, que trataremos nesta reportagem como Supermercado X. Também esteve nos últimos dias em feiras ecológicas de Porto Alegre. O objetivo foi comparar o preço dos orgânicos e quanto o consumidor desembolsa ao comprá-los.

Na seção de produtos orgânicos do Supermercado X, 1kg de pimentão verde custa R$ 15,97 e 1kg de cenoura R$ 15,58. O consumidor pode adquirir 1kg de tomate italiano por R$ 26,62 e 1kg de beterraba por R$ 12,98. Já nas feiras, os preços são menores: 1kg de pimentão custa em média R$ 10,00; 1kg de cenoura R$ 4,00; 1kg de tomate italiano R$ 8,00; e 1kg de beterraba R$ 4,00. Ao comprar esses produtos no Supermercado X o gasto foi de R$ 71,15. Já nas feiras, o consumidor desembolsa R$ 26,00. Uma economia de R$ 45,15 (63,4%).

Escolha do preço

Uma das organizações sociais que mais aposta na produção orgânica é o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que participa de mais de 40 feiras somente na região Metropolitana de Porto Alegre. O assentado Joice da Silva, que vem de Nova Santa Rita para vender orgânicos na capital, explica como é calculado o preço dos alimentos. “As feiras de Porto Alegre não se baseiam nos mercados como padrão de preços, elas têm autonomia e propõem seus preços pela tabela de custo. Nós consideramos os gastos com mudas, sementes, hora/máquina para fazer um canteiro, adubo e produtos”, conta.

Arnaldo Soares, também assentado em Nova Santa Rita, reforça que nas feiras os preços são decididos coletivamente, são mais baixos que os orgânicos dos supermercados, têm uma média geral e não sofrem alterações com frequência. “Avaliamos o tamanho dos alimentos e a quantidade dos molhos. Dentro do combinado e das características do produto, determinamos o preço”, afirma. No entanto, em casos de superprodução, são feitas promoções com preços menores que os tabelados. Conforme Soares, pechinchar também pode gerar economia no bolso.





Contato com o produtor

Quem opta pelas Feiras Ecológicas tem ainda outras vantagens, como comprar direto do produtor e tirar suas dúvidas sobre a origem dos alimentos. Essa possibilidade, que não há em supermercados, fez com que Sandra Fonseca, há 18 anos, passasse a frequentar a Feira Ecológica do Bom Fim. Agora, ela vai a várias feiras pelo menos uma vez por semana e integra, como consumidora, o Conselho de Feiras Ecológicas de Porto Alegre. “O consumidor precisa saber de onde vem o seu alimento, como ele é produzido e conhecer de perto quem o produz, precisa entender que a agroecologia pode sim alimentar o mundo”, defende.

Mais qualidade de vida

Enquanto o Brasil lidera o ranking dos países que mais consomem veneno no mundo, as feiras ecológicas são alternativas para quem procura mais saúde e qualidade de vida. De acordo com o médico Jonas Pretto, estudos comprovam que várias doenças, principalmente o câncer de mama, de próstata e de intestino grosso, têm ligação direta com o uso abusivo de venenos nas lavouras. “Eles alteram principalmente a questão hormonal, causando esses tipos de câncer. Há grande índice de depressão e suicídios em agricultores que aplicam venenos e de aborto em mulheres gestantes, além de crianças que nascem com má formação congênita e alterações no sistema neurológico, principalmente com autismo”, explica.

Segundo a nutricionista Iara Martins, essas substâncias tóxicas podem causar muitos prejuízos à saúde, entre eles inflamações no estômago e alergias. É por isso que ela também defende o consumo de alimentos orgânicos, por considerá-los extremamente saudáveis. “Além de mais nutritivos, pois preservam todos os nutrientes presentes no alimento, como fibras, vitaminas e minerais, são sustentáveis e contribuem com o meio ambiente”, acrescenta.

A nutricionista dá uma dica para ajudar o consumidor a identificar os alimentos que realmente são livres de venenos. “No supermercado, as embalagens devem conter o selo federal SisORG, que garante que o produto é orgânico; e nas feiras, as bancas devem ter a Declaração de Conformidade Orgânica, que comprova que o agricultor produz orgânico”, ressalta.

Confira locais e horários de Feiras Ecológicas em Porto Alegre:
AUXILIADORA

Terças-feiras, 7h

Travessa Lanceiros Negros (passagem de pedestres entre as ruas Mata Bacelar e a Coronel Bordini)

BOM FIM

Sábados, 7h às 12h30

Av. José Bonifácio, 675

MENINO DEUS

Quartas-feiras, 13h30 às 18h30

Sábados, 7h às 12h30

Av. Getúlio Vargas, 1384

PETRÓPOLIS

Quartas-feiras, 13h às 18h

Rua General Tibúrcio (Praça Ruy Teixeira)

TRÊS FIGUEIRAS

Sábados, 8h30 às 13h

Rua Cel. Armando Assis (ao lado da Praça Desembargador La Hire Guerra)

RÔMULO TELLES

Sábados, 7h às 13h

Rua Rômulo Telles Pessoa (ao lado da Praça André Forster)

TRISTEZA

Sábados, 7h às 12h30

Av. Otto Niemeyer (esquina com a Av. Wenceslau)

ASSEMBLEIA LEGISLATIVA

Quartas-feiras, 13h às 19h

Praça Mal. Deodoro, 101

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA

Quartas-feiras, 10h30 às 13h30

Av. Loureiro da Silva, 515

UFRGS Campus Central

Terças-feiras, 9h às 16h

Av. Paulo Gama, 110

UFRGS Campus do Vale

Quintas-feiras, 14h às 19h

Av. Bento Gonçalves, 9500

UFRGS Campus Saúde

Quartas-feiras, 9h às 16h

Rua Ramiro Barcelos, 2705

UFRGS Fabico

Quintas-feiras, 12h às 18h

Rua Ramiro Barcelos, 2705

IPANEMA

Sábados, 8h as 12h

Av. Guaíba, 10410 (Esquina com a Dea Coufal)

INCRA

Quartas-feiras, 10h às 14h

Av. Loureiro da Silva, 515

SHOPPING IGUATEMI

Terças-feiras, 10h às 16h

Av. João Wallig, 1800

SHOPPING PRAIA DE BELAS

Quintas-feiras, 15h às 20h

Av. Praia de Belas, 1181

SHOPPING TOTAL

Quintas-feiras, 8h às 13h30

Av. Cristóvão Colombo, 545

COLÉGIO MARISTA ROSÁRIO

Na 1ª terça-feira do mês, 11h às 19h

R. Praça D. Sebastião, 2

COLÉGIO SANTA INÊS

Na 2ª e 3ª terças-feiras do mês, 11h às 19h

Av. Protásio Alves, 2493

IPA

Quintas-feiras, 13h às 19h

Cel. Joaquim Pedro Salgado, 80

COLÉGIO JOÃO XXIII

Na 2ª e 4ª semana do mês,10h às 19h

Rua Sepé Tiarajú, 1013

COLÉGIO ISRAELITA BRASILEIRO

Na última quinta-feira do mês, 13h às 17h

Av. Protásio Alves, 943

CLÍNICA ONCOTRATA

Quartas-feiras, 14h às 18h30

Av. Plínio Brasil Milano, 80

SINTRAJUFE

Quartas-feiras (quinzenal), 9h às 13h

R. Marcílio Dias, 660

SOGIPA

Quintas-feiras, 8h às 14h

Praça dos Laureados (sob a sede social)

FEIRA ECOLÓGICA DA JOÃO MANOEL

Sextas-feiras, 15h às 20h no verão; e das 15h às 19h30 no inverno

Rua João Manoel, 627 (perto da escadaria, fundos do estacionamento)

Edição: Katia Marko

domingo, 27 de janeiro de 2013

Apreensão no Campo

Foto de SEBASTIÃO SALGADO.

Dom Tomás Balduino

Lideranças camponesas e indígenas estão apreensivas com o poder da senadora KÁTIA ABREU por sua atuação na demarcação de terras no Brasil

Eis o quadro: o pequeno agricultor Juarez Vieira foi despejado de sua terra, em 2002, no município tocantinense de Campos Lindos, por 15 policiais em manutenção de posse acionada por Kátia Abreu. Juarez desfilou, sob a mira dos militares, com sua mulher e seus dez filhos, em direção à periferia de alguma cidade.

O caso acima não é isolado. O governador Siqueira Campos decretou de "utilidade pública", em 1996, uma área de 105 mil hectares em Campos Lindos. Logo em 1999, uns fazendeiros foram aí contemplados com áreas de 1,2 mil hectares, por R$ 8 o hectare. A lista dos felizardos fora preparada pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Tocantins, presidida por Kátia Abreu (PSD-TO), então deputada federal pelo ex-PFL.

O irmão dela Luiz Alfredo Abreu conseguiu uma área do mesmo tamanho. Emiliano Botelho, presidente da Companhia de Promoção Agrícola, ficou com 1,7 mil hectares. Juarez não foi o único injustiçado. Do outro lado da cerca, ficaram várias famílias expulsas das terras por elas ocupadas e trabalhadas havia 40 anos. Uma descarada grilagem!

Campos Lindos, antes realmente lindos, viraram uma triste monocultura de soja, com total destruição do cerrado para o enriquecimento de uma pequena minoria. No Mapa da Pobreza e Desigualdade divulgado em 2007, o município apareceu como o mais pobre do país. Segundo o IBGE, 84% da população viviam na pobreza, dos quais 62,4% em estado de indigência.

Outro irmão da senadora Kátia Abreu, André Luiz Abreu, teve sua empresa envolvida na exploração de trabalho escravo. A Superintendência Regional de Trabalho e Emprego do Tocantins libertou, em áreas de eucaliptais e carvoarias de propriedade dele, 56 pessoas vivendo em condições degradantes, no trabalho exaustivo e na servidão por dívida.

Com os povos indígenas do Brasil, Kátia Abreu, senadora pelo Estado do Tocantins e presidente da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), tem tido uma raivosa e nefasta atuação.

Com efeito, ela vem agindo junto ao governo federal para garantir que as condicionantes impostas pelo Supremo no julgamento da demarcação da área indígena Raposa Serra do Sol sejam estendidas, de qualquer forma, aos demais procedimentos demarcatórios.

Com a bancada ruralista, ela pressionou a Advocacia-Geral da União (AGU), especialmente o ministro Luís Inácio Adams. Prova disso foi a audiência na AGU, em novembro de 2011, na qual entregou, ao lado do senador Waldemir Moka (PMDB-MS), documento propondo a criação de norma sobre a demarcação de terras indígenas em todo o país.

O ministro Luís Adams se deixou levar e assinou a desastrosa portaria nº 303, de 16/7/12. Kátia Abreu, ao tomar conhecimento desse ato, desabafou exultante: "Com a nova portaria, o ministro Luís Adams mostrou sensibilidade e elevou o campo brasileiro a um novo patamar de segurança jurídica".

Até mesmo com relação à terra de posse imemorial do povo xavante de Marãiwatsèdè, ao norte do Mato Grosso, que ganhou em todas as instâncias do Judiciário o reconhecimento de que são terras indígenas, Kátia Abreu assinou nota, como presidente da CNA, xingando os índios de "invasores".

Concluindo, as lideranças camponesas e indígenas estão muito apreensivas com o estranho poder econômico, político, classista, concentracionista e cruel detido por essa mulher que, segundo dizem, está para ser ministra de Dilma Rousseff. E se perguntam: "Não é isso o Poder do Mal?" No Evangelho, Jesus ensinou aos discípulos a enfrentar o Poder do Mal, recomendando-lhes: "Esta espécie de Poder só se enfrenta pela oração e pelo jejum" (Cf. Mt 17,21).

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PAULO BALDUINO DE SOUSA DÉCIO, o dom Tomás Balduino, 90, mestre em teologia, é bispo emérito da cidade de Goiás e conselheiro permanente da Comissão Pastoral da Terra


sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Reforma Agrária tem novo ponto de comercialização no RS


Por Bianca Costa
Da Página do MST

Os pequenos agricultores do Rio Grande do Sul contam com um novo espaço para a comercialização de seus produtos na capital gaúcha. 


O "Contraponto, Entreposto de cultura, saúde e saber" comercializa desde os alimentos dos assentamentos da Reforma Agrária a produtos da Economia Solidária.

O espaço foi oficialmente inaugurado na noite desta quarta-feira, ao lado da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, na região central de Porto Alegre.

Durante todo o dia, foram realizadas atividades culturais e feiras da Economia Solidária.

A solenidade de inauguração contou com a presença do reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Carlos Alexandre Netto, e do coordenador do Núcleo de Economia Alternativa da Universidade (NEA), professor Carlos Schmidt.

O grupo que participa do NEA foi um dos idealizadores do projeto, que pretende desenvolver alternativas à economia capitalista. Nesse sentido, a intenção do núcleo é estimular uma organização social diferente do capital e do trabalho assalariado.

De acordo com Schmidt, essa nova forma de organização, sustentada pela economia alternativa e vivenciada na prática pelos assentados da Reforma Agrária e os movimentos sociais, gera a desalienação do homem com relação ao seu trabalho. “Isso acontece pois é o trabalhador que decide como será a gestão da produção e da circulação dos produtos que ele próprio produz”, explica.

Além do espaço para a circulação da mercadoria produzida por pequenos produtores associados, o local ainda se destina para a discussão de temas voltados a alternativa de organização da sociedade apresentada pelos movimentos sociais populares do campo.

Atualmente, aproximadamente 11 empreendimentos de pequenos produtores associados, dentre eles a Cooperativa Central dos Assentamentos do Rio Grande do Sul (COCEARGS), comercializam seus produtos na Contraponto.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Indignação com as laranjeiras


Luiz Carlos Bresser-Pereira
Folha de S.Paulo, 19.10.2009

Há uma semana, duas queridas amigas disseram-me da sua indignação contra os invasores de uma fazenda e a destruição de pés de laranja. Uma delas perguntou-me antes de qualquer outra palavra: "E as laranjeiras?" -como se na pergunta tudo estivesse dito.

Essa reação foi provavelmente repetida por muitos brasileiros que viram na TV aquelas cenas. Não vou defender o MST pela ação, embora esteja claro para mim que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra é uma das únicas organizações a, de fato, defender os pobres no Brasil. Mas não vou também condená-lo ao fogo do inferno. Não aceito a transformação das laranjeiras em novos cordeiros imolados pela "fúria de militantes irracionais".

Quando ouvi o relato indignado, perguntei à amiga por que o MST havia feito aquilo. Sua resposta foi o que ouvira na TV de uma das mulheres que participara da invasão: "Para plantar feijão". Não tinha outra resposta porque o noticiário televisivo omitiu as razões: primeiro, que a fazenda é fruto de grilagem contestada pelo Incra segundo, que, conforme a frase igualmente indignada de um dos dirigentes do MST publicada nesta Folha em 11 deste mês, "transformaram suco de laranja em seres humanos, como se nós tivéssemos destruído uma geração o que o MST quis demonstrar foi que somos contra a monocultura".

Talvez os dois argumentos não sejam suficientes para justificar a ação, mas não devemos esquecer que a lógica dos movimentos populares implica sempre algum desrespeito à lei. Não deixa de ser surpreendente indignação tão grande contra ofensa tão pequena se a comparamos, por exemplo, com o pagamento, pelo Estado brasileiro, de bilhões de reais em juros calculados segundo taxas injustificáveis ou com a formação de cartéis para ganhar concorrências públicas ou com remunerações a funcionários públicos que nada têm a ver com o valor de seu trabalho.

Por que não nos indignarmos com o fenômeno mais amplo da captura ou privatização do patrimônio público que ocorre todos os dias no país? Uma resposta a essa pergunta seria a de que os espíritos conservadores estão preocupados em resguardar seu valor maior -o princípio da ordem-, que estaria sendo ameaçado pelo desrespeito à propriedade.

Enquanto o leitor pensa nessa questão, que talvez favoreça o MST, tenho outra pergunta igualmente incômoda, mas, desta vez, incômoda para o outro lado: por que os economistas que criticam a suposta superioridade da grande exploração agrícola e defendem a agricultura familiar com os argumentos de que ela diminui a desigualdade social, aumenta o emprego e é compatível com a eficiência na produção de um número importante de alimentos não realizam estudos que demonstrem esse fato?

A resposta a essa pergunta pode estar no Censo Agropecuário de 2006: embora ocupe apenas um quarto da área cultivada, a agricultura familiar responde por 38% do valor da produção e emprega quase três quartos da mão de obra no campo.

O ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, nesta Folha listou esses fatos e afirmou que uma "longa jornada de lutas sociais" levou o Estado brasileiro a reconhecer a importância econômica e social da agricultura familiar. Pode ser, mas ainda não entendo por que bons economistas agrícolas não demonstram esse fato com mais clareza. Essa demonstração não seria tão difícil -e talvez ajudasse minhas queridas amigas a não se indignarem tanto com as laranjeiras.

Do Bresser-Pereira Website

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Atlas da Questão Agrária Brasileira, por Eduardo Paulon Girardi

Foto de Sebastião Salgado:

Amiga/o, tenho o prazer de comunicá-los que está on-line o Atlas da Questão Agrária Brasileira.

O Atlas é resultado da minha tese de doutorado, defendida em 2008 no Programa de Pós-Graduação da FCT/Unesp - Presidente Prudente sob a orientação do Prof. Bernardo Mançano Fernandes e com o apoio da FAPESP. O objetivo no trabalho foi a elaboração de um estudo sobre os principais temas da questão agrária no Brasil dando ênfase à sua expressão territorial. Foram analisados os problemas (pobreza, desflorestamento, concentração fundiária, violência no campo etc) e também a luta pela terra, a produção agropecuária, a dinâmica populacional e alguns aspectos da configuração territorial.

O diagnóstico e as proposições que o seguem são alicerçados na teoria sobre os modelos de desenvolvimento para o campo, sendo que nos posicionamos junto ao Paradigma da Questão Agrária. Isso possibilitou realizar uma leitura dos dois territórios divergentes da questão agrária: o campesinato X o latifúndio e agronegócio.

O Atlas compreende mais de 300 mapas, número este que será acrescido constantemente. Foram mapeadas as violências no campo e as ocupações e assentamentos desde o fim da década de 1970 e início da década de 1980. Sendo assim, o Atlas também é um banco de informações geográficas (mapas) sobre a luta pela terra no Brasil. Outro destaque é o mapeamento dos dados do INCRA agregados em escala municipal, o que evidencia que não há necessidade de ocupar novas áreas. Um resultado inédito é o mapa do Índice de Gini para os municípios brasileiros. Na conclusão apresento um mapa sinótico que comporta as principais estruturas territoriais da questão agrária brasileira. Espero que o Atlas possa contribuir com o movimento para o estabelecimento de um modelo de desenvolvimento que compreenda a necessária reforma agrária no Brasil. Além do Atlas, na tese também apresento uma proposta téorico-metodológica para a cartografia geográfica – a Cartografia Geográfica Crítica -, que certamente é de interesse mais específico dos geógrafos, os quais convido à discussão do tema.

Desde já, agradeço a todos(as) que tenham contribuído de alguma forma para o trabalho. Críticas, dúvidas e sugestões são bem-vindas para que o Atlas possa ser aprimorado.

Convido-os agora para uma vista ao Atlas em www.fct.unesp.br/nera/atlas

Se acharem conveniente, peço que ajudem a divulgar o endereço eletrônico. Obrigado.

Atenciosamente,
Eduardo Paulon Girardi, Geógrafo, e-mail: epgirardi@yahoo.com.br

EcoDebate

segunda-feira, 9 de março de 2009

Comissão Pastoral da Terra diz que Gilmar Mendes é parcial em questões fundiárias

Gilmar Mendes no Egito (o camelo é o de baixo):

Ana Luiza Zenker
Repórter da AGÊNCIA BRASIL

Brasília - Em nota publicada dia 6 de março de 2009, o presidente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), dom Xavier Gilles de Maupeou d'Ableiges, acusou o ministro Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), de ser parcial no tratamento da questão dos conflitos agrários. “O ministro Gilmar Mendes não esconde sua parcialidade e de que lado está. Como grande proprietário de terra em Mato Grosso ele é um representante das elites brasileiras”, diz a nota.

Dom Xavier Gilles fez críticas às declarações recentes de Gilmar Mendes, afirmando que o Poder Executivo comete ilegalidade ao repassar recursos públicos para movimentos sociais que cometem ilícitos. As declarações foram feitas à imprensa quando Mendes comentava as invasões feitas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no carnaval.

A nota também critica a recomendação do CNJ para que os tribunais dêem prioridade às ações sobre conflitos agrários. Apesar de afirmar que a medida era “mais do que necessária”, o presidente da CPT diz que “causa estranheza” que ela tenha sido editada agora. “A prioridade pedida pelo CNJ será para o conjunto dos conflitos fundiários ou para levantar as ações dos sem terra a fim de incriminá-los?”, questiona a nota.

De acordo com dom Xavier Gilles, as declarações de Gilmar Mendes “escancaram aos olhos da Nação” o fato de que o Poder Judiciário coloca o direito à propriedade privada da terra como absoluto “e relativiza a sua função social”. “O Poder Judiciário, na maioria das vezes leniente com a classe dominante é agílimo para atender suas demandas contra os pequenos e extremamente lento ou omisso em face das justas reivindicações destes”, conclui a nota de dom Xavier Gilles.

De acordo com a assessoria de imprensa do STF, o ministro Gilmar Mendes não vai se pronunciar sobre o assunto, porque está de viagem ao Egito.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

'Brasiguaios' podem gerar conflito entre Brasil e Paraguai, diz 'Le Monde'


Os "brasiguaios" correm o risco de protagonizar um conflito entre Brasil e Paraguai, afirma uma reportagem publicada nesta terça-feira no jornal francês Le Monde.

Segundo o diário, fazendeiros brasileiros instalados no país vizinho temem a realização da reforma agrária prometida pelo novo presidente do país, Fernando Lugo, o “bispo vermelho”.

O Le Monde afirma que cerca de 300 mil "brasiguaios" vivem hoje na fronteira comum entre os dois países, 80% deles dedicados à lavoura da soja.

“Nas zonas rurais a situação é explosiva. As ocupações das plantações pertencentes aos fazendeiros brasileiros são freqüentes, culminando em intervenções policiais violentas”, diz o diário francês.

“Em dez anos, 77 camponeses foram mortos. Centenas estão atrás das grades, acusados de terrorismo”.

A eleição histórica do “bispo vermelho”, que se fez o apóstolo dos sem-terra, pôs fim a 61 anos de hegemonia do Partido Colorado, “despertando uma esperança imensa em um país roído pela corrupção”.

Lugo, que promete fazer um amplo programa de reformas, acusa os brasiguaios de utilizar produtos químicos ilegais em suas lavouras, violando as leis do país, afirma o jornal.

Ainda segundo o Le Monde, em um país essencialmente agrícola, 1% da população controla 77% das terras cultiváveis.

Fontes ouvidas pelo diário afirmam que um milhão de hectares de terras está nas mãos do brasileiro Tranqüilo Fávero, conhecido na região como o “rei da soja”.

Segundo o jornal, ao divulgar recentemente uma lista de pessoas que teriam adquirido terras de forma irregular, Lugo reforçou que a Constituição garante o direito à propriedade privada desde que conceda a todos os paraguaios o direito de acesso à terra.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

A Reforma agrária só vai acontecer no país se o latifúndio estiver de acordo.

Foto de Sebastião Salgado:

Quinta-feira, 24 de julho, 13h. Depois de dois dias e meio de marcha, mais de 600 integrantes do MST chegavam à sede do INCRA, em Porto Alegre, para reivindicar o atendimento de um acordo que prevê assentar duas mil famílias no Rio Grande do Sul ainda este ano. O primeiro prazo, de assentar mil famílias até abril, não foi cumprido.

A marcha começou cedo, antes das 7h. A alvorada no ginásio da Federação dos Metalúrgicos de Canoas foi às 4h. No meio da manhã, quando entravam em Porto Alegre, os trabalhadores foram recebidos por um enorme contingente armado da Brigada Militar. Todos foram revistados, muitos colocados contra a parede, seus pertences vasculhados, mesmo que se soubesse que nada “perigoso” seria encontrado, como não foi.

LEIA MAIS AQUI.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

PARA VALER


Se a situação colonial evoca alguma coisa é a atual coexistência no Brasil do latifúndio sem proveito social ou econômico e as legiões de banidos da terra, com a Coroa portuguesa no papel do proprietário ausente.

Luis Fernando Verissimo

Numa carta ao O Estado de S. Paulo, o Sr. Cesário Ramalho da Silva, presidente da Sociedade Rural Brasileira, comentou um texto meu sobre a reforma agrária intitulado “Injustiça e desordem”, publicado aqui há semanas. O Sr. Cesário não gostou do texto. Nele eu lamentava a demora de uma reforma agrária para valer no país e o Sr. Cesário pergunta: “Que reforma agrária para valer seria essa que dilapidaria o setor do agronegócio, que segura as contas do país, com efeito multiplicador de gerar riqueza, emprego e renda para a indústria e os serviços?”. Segue dizendo que toda a nação já entendeu que o setor rural é o maior responsável pelo crescimento da economia brasileira, junto com a estabilização da moeda, salvo os que insistem num pensamento “ideológico” e atrasado sobre a questão – como, suponho, o meu. E recorre a uma analogia curiosa: “É como voltar ao tempo do Brasil colônia, onde nós, colonizados, não podíamos acumular riqueza porque tudo pertencia à Coroa portuguesa”. Parece-me que se a situação colonial evoca alguma coisa é a atual coexistência no Brasil do latifúndio sem proveito social ou econômico e as legiões de banidos da terra, com a Coroa portuguesa no papel do proprietário ausente. Não se quer a dilapidação de negócio algum e sim uma reforma agrária que inclua os milhões de hectares vazios mantidos no Brasil só pelo seu valor patrimonial – uma realidade notória que o Sr. Cesário não cita – na cadeia produtiva, com colonização bem-feita e bem-apoiada.

O Sr. Cesário diz que não há exemplo de reforma agrária que deu certo. Eu tenho alguns. Li um relatório da ONU sobre os efeitos dramáticos na cidade de Calcutá, conhecida pela miséria e a extrema degradação urbana, da reforma agrária feita na sua região. Uma reforma agrária radical livrou o Japão de uma estrutura fundiária feudal e teve muito a ver com sua recuperação depois da guerra. A louca corrida para ocupar o oeste estadunidense não é modelo para nenhum tipo de colonização racional, mas não deu errado. E já que exemplos estadunidenses legitimam qualquer argumento, mesmo os do pensamento “ideológico”, recomendo que se informem sobre o Homestead Act, com o qual o governo dos Estados Unidos lançou, no século 19, o maior programa de distribuição de terra da História. Não surpreende a desinformação sobre reformas agrárias alheias que deram certo, ou só foram frustradas pela reação violenta. Os próprios sucessos da incipiente reforma agrária brasileira são ignorados.

Sobre os assentamentos que estão funcionando em paz, e produzindo, e contribuindo para o efeito multiplicador que o Sr. Cesário, muito justamente, exalta, só se tem silêncio. O texto que desagradou ao Sr. Cesário foi motivado por uma manifestação, depois atenuada, do Conselho Superior do Ministério Público do Rio Grande do Sul, que equiparava o movimento dos sem-terra à guerrilha e pedia sua dissolução. Diante da flagrante iniqüidade da situação fundiária brasileira, mostravam, como na frase de Goethe, que preferiam a ordem à justiça. A criminalização do movimento dos sem-terra seria a outra face da descriminalização, pela absolvição e o esquecimento, de atos como o massacre de Carajás. Acho que o Sr. Cesário e seus pares concordam comigo que a escolha não precisaria ser feita, que ordem ideal seria a que advém da justiça, ou da ausência da injustiça. Mas isso, claro, pressupõe outro Brasil. Talvez outra humanidade.

Fonte Primária: Jornal “Zero Hora” nº. 15672, 24/7/2008.

INJUSTIÇA E DESORDEM


Por Luis Fernando Verissimo

Texto publicado em O Estado de S. Paulo, O Globo e Zero Hora
3 de julho de 2008

Quando Goethe disse que preferia a injustiça à desordem, a Europa recém fora sacudida pela revolução francesa e enfrentava outro terremoto, o bonapartismo em marcha. Sua opção não era teórica, era pela específica velha ordem que os novos tempos ameaçavam. Por mais injusta que fosse, a velha ordem era melhor do que as paixões incontroláveis libertadas pela revolução. Mas a frase de Goethe atravessou 200 anos, foi usada ou repudiada por muitos, na teoria ou na prática e em vários contextos, e chega aos nossos dias mais atual do que nunca. Você não pode pensar na questão agrária brasileira, por exemplo, sem cedo ou tarde ter que se perguntar se prefere a justiça ou a ordem.

A injustiça no caso é flagrante e escandalosa. Mesmo que se aceitem todas as teses sobre o desvirtuamento do movimento dos sem-terra e se acate a demonização dos seus líderes, militantes e simpatizantes, a dimensão do movimento é uma evidência literalmente gritante do tamanho da iniqüidade fundiária no Brasil, que ou é uma ficção que milhares de pessoas resolveram adotar só para fazer barulho, ou é uma vergonha nacional. A iniqüidade que criou essa multidão de deserdados no país com a maior extensão de terras aráveis do mundo é a mesma que expulsou outra multidão para as ruas e favelas das grandes cidades, deixando o campo despovoado para o latifúndio e o agronegócio predatório. A demora de uma reforma agrária para valer, tão prometida e tão adiada, só agrava a exclusão e aumenta a revolta.

Quem acha que desordem é pior do que injustiça tem do que se queixar, e a que recorrer. As invasões e manifestações dos Sem Terra se sucedem e assustam. Proprietários rurais se mobilizam e se armam, a violência e o medo aumentam, a reação se organiza. Agora mesmo no Rio Grande do Sul, enquanto endurece a repressão policial às ações do MST, um documento do Ministério Público estadual prega a criminalização de vez do movimento, caracterizando-o como uma guerrilha que ameaça a segurança nacional, com ajuda de fora. É improvável que uma maioria de promotores de Justiça do Estado, transformados em promotores de ordem acima de tudo, tivesse abonado o documento como estava redigido, com seu vocabulário evocativo de outra era. Mas ele dá uma idéia da força crescente do outro lado da opção definidora, dos que escolheram como Goethe.