quarta-feira, 17 de setembro de 2008

A ilusão de controle na internet


Por Luciano Martins Costa em 16/9/2008

A imprensa tradicional é um instrumento de organização e mobilização de redes sociais. Mas funciona praticamente em mão única, mesmo quando utiliza as novas tecnologias de comunicação do século 21. Para alguns analistas, a imprensa inventada por Gutenberg parece deslocada na época contemporânea porque tenta se apropriar da amplitude potencial da internet sem abrir mão dos controles possibilitados pela mídia impressa e pela televisão não-interativa, que não se abrem para a intervenção do público. Aliás, a própria idéia de "público" só faz sentido no teatro, no cinema e nas mídias não-interativas, uma vez que quando o sistema se abre para a co-autoria, os papéis acabam se misturando em algum ponto do processo. O leitor se torna co-editor.

Mesmo que determinado movimento seja iniciado em um blog, de autoria definida, quando a interatividade se expande a mensagem inicial passa por um processo de mutações constantes, submetendo-se ao arbítrio de todos que tenham acesso a ela. A imprensa tradicional não parece preparada para essa democracia toda. Afinal, parte do seu negócio se baseia na promessa de influenciar a fatia mais opinativa da população, aquela que supostamente é mais bem informada e mais articulada, e isso implica assegurar certo controle sobre a agenda desse "público".

Os blogs de jornais e revistas e os portais de emissoras de televisão tentam conter a interatividade em determinado círculo. Quanto mais próximo do núcleo de opinião se situar o limite desse círculo, mais restrita será a participação do "público" e mais distante estará essa mídia das potencialidades das novas tecnologias.

Idéias inovadoras

Acontece que a sociedade está mudando. Segundo a Technorati, que monitora conteúdos postados em blogs de vários idiomas, o explosivo crescimento do número de blogs em todo o mundo está sendo acompanhado por um grande amadurecimento no uso dessa ferramenta, o que leva ao surgimento de mídias alternativas de grande reputação, algumas das quais comparáveis a grandes jornais.

A característica principal desses veículos é que eles nasceram como pontos de informação e debate, passando por um período de funcionamento caótico, e acabam se consolidando como fontes de informação confiável e de qualidade para quem aprende a selecionar.

Esse fenômeno está alterando o modo como as pessoas se informam e partilham suas convicções e suas demandas. Alguns blogs criados por empresas como ferramentas de relacionamento com clientes evoluíram para plataformas de captação de opiniões sobre produtos e serviços, seleção de futuros colaboradores e fonte de idéias inovadoras. Mas essa evolução exige que a empresa esteja aberta a certos riscos, como a amplificação de queixas, que de outra forma ficariam localizadas, e o questionamento de seus processos de comunicação com o mercado.

Oportunidade perdida

Difícil imaginar que uma empresa tradicional de comunicação se arrisque a abrir completamente seus conteúdos para comentários e contribuições de leitores, sem interferência de qualquer ordem. Isso poderia subverter a hierarquia que determina os processos de captação e edição de notícias, fazendo com que parte do material jornalístico acabe adquirindo formas e significados diferentes daqueles que orientaram a pauta. No entanto, isso já está acontecendo de certa forma, quando as redes de relacionamento se apropriam de notícias de jornais, revistas e da TV e as reproduzem com novas abordagens.

Dito de outra forma, o que se pode constatar é que, por mais que resistam à avalancha de mudanças, os meios tradicionais acabam perdendo o controle sobre o destino do conteúdo que produzem, quando eles caem no ambiente caótico das redes. Se tivessem uma estratégia de engajamento real nas novas tendências, abandonando a ilusão do controle, seriam a vanguarda da comunicação no século 21, agregando à reputação construída no século passado a confiança de uma relação mais aberta com a sociedade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário