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Nesta sexta, os palestinos apresentarão à ONU o seu pedido de reconhecimento como Estado soberano. Estados Unidos e Israel não querem ouvir falar do assunto. Israel afirma que é inadmissível um procedimento assim, unilateral. Em artigo na Folha de S.Paulo, Ibrahim Alzeben, embaixador palestino no Brasil, entende que chegou o momento de a ONU "pôr fim a seis décadas de violência na Palestina histórica". Segundo ele, desde a Conferência de Madri, em 1991, deu-se a "quadruplicação do número de assentamentos e colonos em terras palestinas". Além disso, houve a "criação do muro da vergonha, assassinato de milhares de líderes e cidadãos, judaização de Jerusalém, capital ocupada do Estado da Palestina, bloqueio de Gaza e milhares de presos políticos". Um quadro terrível que parece pouco evoluir.
Rafael Eldad, embaixador de Israel no Brasil, garante que Israel não se opõe à criação de um Estado palestino: "O que Israel não vê de maneira positiva, além de ser perigosa para a região, é uma declaração prematura unilateral de um Estado palestino. Se buscam uma solução sem dialogar ou negociar, então com quem querem a paz?". O termo "prematuro" soa estranho aos ouvidos de boa parte dos países-membros da ONU. Alzeben põe a criança no colo das Nações Unidas: "É a ONU que deve agir, e agora, após 18 anos de negociações estéreis que consolidaram a ocupação israelense de nosso território". Eldad defende-se: "Israel, como único país no mundo ameaçado constante e abertamente em sua existência, tem a obrigação de tomar precauções para garantir a sua segurança e sua sobrevivência (...) Israel está ameaçado também pelo Irã, pelo Hamas, pelo Hezbollah e por tantos outros".
O jornalista brasileiro Clóvis Rossi, analista com distanciamento em relação ao conflito, afirma que "Israel revive o complexo de Masada, a fortaleza em que 960 judeus resistiram até a morte às hordas romanas, vitoriosas no ano 73. Complexo de Masada é um tema frequente no léxico político-diplomático de Israel, por designar a sensação de que o mundo inteiro está contra os judeus". Rossi cita Carlo Strenger, chefe do Departamento de Psicologia da Universidade de Tel Aviv, que, em texto no jornal Haaretz, aconselha Israel a sair do mito para uma "avaliação realista da realidade internacional". Rossi cita também Tzipi Livni, líder da oposição no parlamento, para quem o governo age como se "todos fossem contra nós" e "como se todo mundo fosse antissemita". Ela destaca o óbvio estrelado: Israel tem um grande amigo, os Estados Unidos da América. Mas o amigo estaria descrente nas promessas israelenses de aceitar dois Estados, "mas não faz nada para isso". Empurrar com a barriga já era.
As conclusões de Rossi são banalmente certeiras: "Nem os palestinos conseguirão jogar os judeus no mar, como muitos, de fato, gostariam, nem Israel vai conseguir empurrar os palestinos para a Jordânia". Resultado: só a ONU pode resolver a pendenga. Rossi dispara uma última boa citação, de Shlomo (outro) Ben Ami, ex-chanceler israelense: "Enquanto não terminar a ocupação, enquanto Israel não viver em fronteiras internacionalmente reconhecidas e os palestinos não recuperarem sua dignidade como nação, a existência do Estado judeu não estará assegurada". Dá para falar em demanda prematura?
Juremir Machado da Silva | juremir@correiodopovo.com.br
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