quarta-feira, 24 de março de 2010

Teólogo suíço Hans Küng ataca o papa e pede fim do celibato


Na discussão sobre casos de pedofilia na Igreja Católica, o teólogo suíço Hans Küng ataca o papa. Dificilmente alguém sabia tanto quanto ele sobre os casos de abuso, disse Küng em entrevista à televisão pública suíça. Ele também pediu o fim do celibato.

A Igreja Católica na Suíça mostra-se dividida quanto às medidas para combater o problema. O abade do mosteiro de Einsiedeln propõe uma "lista suja" dos religiosos pedófilos.

Depois dos escândalos de pedofilia na Igreja Católica na Alemanha e na Irlanda, o problema também é discutido na Suíça. Segundo o semanário Sonntag, os bispados suíços investigaram mais de 60 denúncias de abusos sexuais nos últimos 15 anos.

O caso mais recente ocorreu no bispado de Chur (nordeste), que abrange 309 paróquias e 690 mil católicos em cinco estados. O cônego Christoph Casetti disse na sexta-feira (19/3) à agência de notícias SDA que seu bispado atualmente investiga cerca de dez casos de suspeita de abusos sexuais.

A comissão de "Abusos Sexuais na Pastoral" da Conferência dos Bispos Suíços (CBS) investigou nove casos, envolvendo oito padres e uma professora. Em um outro caso, um representante da Igreja teria baixado pornografia infantil da internet. As vítimas foram três meninas, duas adolescentes, duas mulheres adultas, um aluno e um jovem.

Lista suja

Depois que se tornaram públicos no final de semana mais dois casos de assédio sexual nos mosteiros de Einsiedeln (centro da Suíça) e Disentis (leste), o abade de Einsiedeln, Martin Werlen, propôs a criação pelo Vaticano de uma "lista suja" dos pedófilos na Igreja.

"Na troca de emprego para uma outra diocese em qualquer parte do mundo, o bispo poderia se informar se houve alguma denúncia grave contra o padre", disse Werlen em entrevista ao semanário SonntagsBlick. Ele quer apresentar sua proposta à CBS.

"É responsabilidade de cada bispado esclarecer previamente se alguém tem condições profissionais e morais para um emprego na Igreja", disse o presidente da Conferência dos Bispos Suíços, Norbert Brunner, ao jornal Le Matin Dimanche. Ele prefere intensificar a troca de informações entre as dioceses a uma "lista suja".

Segundo Brunner, os casos de abusos não são denunciados sistematicamente à autoridades judiciárias civis. Se um bispo ou um padre toma conhecimento de um abuso, ele deve pedir ao acusado que se autodenuncie. Em casos muito graves, a própria Igreja pode apresentar queixa, se a vítima concordar, explicou Brunner.

Segundo o porta-voz da CBS, Walter Müller, as vítimas são imediatamente ouvidas, assistidas e encorajadas pela Igreja a apresentar queixa à polícia. "Além disso, cada diocese dispõe de um posto de contato para vítimas e testemunhas que queiram denunciar abusos contra crianças", disse à televisão suíça.

Küng pede fim do celibato

Na última sexta-feira (19/3), o papa Bento 16 publicou uma carta pastoral em que expressa "vergonha e remorso" pelos casos de abusos sexuais cometidos por religiosos na Irlanda, mas não menciona os escândalos ocorridos em outros países, como a Alemanha, onde mais de 300 casos vieram a público desde o início do ano (veja um resumo da carta no link na coluna à direita).

Segundo o teólogo suíço Hans Küng, presidente da Fundação Weltethos (Ética Mundial), sediada em Tübingen (Alemanha), "não é exagero dizer que dificilmente houve um homem na Igreja Católica que sabia tanto quanto o papa sobre os casos de abusos".

"Desde a Idade Média temos uma teologia da sexualidade inibida", declarou Küng, em entrevista à emissora de televisão pública suíça SF, no domingo (21/3). Isso culmina na lei do celibato, que tem a ver com esses casos de abusos, acrescentou.

Segundo Küng, este é um dos motivos pelos quais o papa, em sua carta pastoral, não assumiu qualquer responsabilidade pelos casos de abuso. "O mais importante seria que o papa liberasse a discussão sobre o celibato. Muita coisa melhoria se o celibato fosse abolido", disse Küng.

O teólogo suíço lembrou que o cardeal Joseph Ratzinger, atual papa, durante 24 anos foi prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, que também é responsável por orientações aos bispos sobre como lidar com desvios sexuais de religiosos.

O professor de Teologia da Universidade de Lucerna, Edmund Arens, também critica Bento 16. "Penso que o papa deveria pedir desculpas em nome da Igreja. Está mais do que na hora de a instituição reconhecer a culpa por esses crimes, pela sua ocultação e pelo fato de ter impedido vítimas de recorrer à Justiça", disse à swissinfo.ch.

Segundo o presidente da CBS, Norbert Brunner, em primeiro lugar, o autor do crime é responsável por seu ato, não a Igreja. "Tenho dificuldade de entender por que a Igreja deve se desculpar junto às vítimas por um ato cometido por outro. O importante é que um bispo realmente lamente tais casos – e isso eu faço", declarou ao jornal NZZ am Sonntag.

Geraldo Hoffmann, swissinfo.ch (colaboração de Simon Bradley e informaçõs de jornais e agências)

Um comentário:

  1. Ora,
    o vaticano é, antes de uma instituição religiosa, uma instituição política. Todos nós sabemos que conhecimento de fatos são usados políticamente como cartas na manga para futuro uso. Imagina como serviu esse conhecimento no tal conchavo, digo, conclave que elegeu Ratzinger o novo papa.

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