quinta-feira, 4 de março de 2010

Novo tipo de transgênico ganha sinal verde na Europa


Batata geneticamente modificada da Basf poderá ser cultivada na União Europeia. Enquanto isso, no Brasil, descontrole sobre as lavouras transgênicas é preocupante.

Passaram-se 12 anos sem que as lavouras na Europa fossem ameaçadas por um novo tipo de transgênico. Mas a situação mudou na última terça-feira (02/03): a Comissão Europeia autorizou o plantio da batata Amflora, tipo geneticamente modificado criado pela Basf.

O único transgênico autorizado para o plantio nos países do bloco até então era uma variedade do milho da Monsanto, que recebeu liberação em 1998. A decisão de inserir a Amflora foi tomada depois de 10 anos de discussão – e recebida com furor pela ala ambientalista.

"Não, não estamos nada felizes. Ficamos chocados que essa tenha sido logo uma das primeiras decisões da nova Comissão. Agora tememos que decisões semelhantes venham na sequência", revela Heike Moldenhauer, representante da ONG Friends of the Earth na Alemanha.

Segundo a Comissão, a nova batata transgênica deverá ser usada apenas na indústria – a fécula do tubérculo poderá ser empregada, por exemplo, na produção de papel. Mas Heike não duvida que o tipo transgênico possa aparecer no prato do europeu. "Não estou segura, porque é impossível fazer um controle e segregar totalmente o tipo transgênico".

O motivo para tamanha preocupação é fato de que a Amflora é resistente a antibióticos e essa característica pode ser transferida a pessoas que consumam a batata transgênica.

Fora de controle

Enquanto isso, no Brasil, chega ao mercado a primeira semente transgênica desenvolvida totalmente em laboratório nacional. A soja Cultivance foi criada pela Embrapa, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, numa parceria com a Basf. O processo todo, do início do projeto até a autorização para a comercialização, levou 12 anos.

Para Elíbio Rech, diretor do projeto e cientista da Embrapa, não há qualquer polêmica no assunto. "A meta que temos hoje no mundo é triplicar a produção de grãos do planeta nos próximos 30 anos. Isso não vai acontecer sem o uso da biotecnologia, dos transgênicos."

Com a nova liberação da CTNBio, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, os produtores brasileiros têm 21 variedades de transgênicos no mercado, de três culturas diferentes: soja, algodão e milho. Mas o negócio nem sempre foi legalizado: a entrada de semente geneticamente modificada em solo brasileiro deu-se por volta de 1997, contrabandeada da Argentina.

"O contrabando que vinha da Argentina para o Rio Grande do Sul – e não pouco – era a semente de soja da Monsanto", esclarece Rafael Cruz, do Greenpeace. A comercialização dos transgênicos só foi liberada pelo governo brasileiro em 2005 e, segundo Rafael, a situação já estava fora de domínio.

O representante do Greenpeace adverte: o Brasil tem zero controle sobre as plantações transgênicas. "Não dá para saber o quanto da área plantada é de transgênico, o quanto se tem de transgênico no Brasil, se são usadas sementes ilegais nas lavouras, por exemplo", declara Cruz.

De fato, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento informou que não faz o controle da produção transgênica, somente a fiscalização, ou seja, observa se as regras e o uso das sementes estão de acordo com a lei brasileira.

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