Língua de Sogra |
Relendo o livro "Totem e Tabu e Outros Trabalhos", publicação da editora Imago que faz parte da coleção "Obras Completas de Sigmund Freud", me deparei com certas regras que povos observam em relação às sogras.
Devido ao conteúdo quase prescritivo, a seguir reproduzo textos contidos nas páginas 30 e 31 da edição que tenho em mãos:
"Sem sombra de dúvida, a evitação mais difundida e rigorosa (e a mais interessante, do ponto de vista das raças civilizadas) é a que impede as relações de um homem com a sogra. É bastante generalizada na Austrália e estende-se também à Melanésia, Polinésia e às raças negras da África, onde quer que traços do totemismo e do sistema classificatório de parentesco sejam encontrados e provavelmente mais além ainda.
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Entre os melanésios das Ilhas Bank's, essas regras de evitação são muito severas e minuciosas. Um homem não deve chegar perto da mãe de sua esposa, nem ela dele. Se acontecer de os dois se encontrarem num caminho, a mulher se desvia e fica de costas até que ele tenha passado ou, talvez, se for mais conveniente, será ele que se afastará do caminho. Em Vanua Lava, em Port Pattenson, um homem só pode seguir a sogra ao longo da praia depois que a maré crescente tenha lavado suas pegadas da areia. Não obstante, o genro e a sogra podem falar-se a uma certa distância, mas uma mulher em nenhuma circunstância menciona o nome do marido de sua filha, nem ele o dela.
Nas Ilhas Salomão, após o casamento, o genro não pode ver nem conversar com a sogra. Se a encontrar, não deve reconhecê-la; deve fugir e esconder-se o mais depressa possível.
Entre os bantos orientais, o costume exige que o homem tenha vergonha da mãe de sua esposa, isto é, que se esquive deliberadamente a sua companhia. Não deve entrar na mesma casa que ela e se por acaso se encontrarem num caminho, um ou outro volta-se para o lado, ela talvez escondendo-se atrás de um arbusto, enquanto ele oculta o rosto. Se não puderem evitar-se assim e a sogra não tiver nada com que se cobrir, amarra um talo de capim em volta da cabeça, como símbolo de evitação cerimonial. Toda a comunicação entre os dois - seja através de terceiros, seja gritando um para o outro a uma certa distância -, tem de ter alguma barreira interposta entre eles. Não podem nem mesmo pronunciar o nome próprio um do outro.
Entre os basogas, povo banto que vive na região nas nascentes do Nilo, o homem só pode falar com a sogra quando ela se encontra noutra peça e fora de vista.
..."
Não são abordagens interessantes?
Omar
A coisa é universal! Kkkkk...
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