terça-feira, 15 de setembro de 2009

Mercado mundial segue desregulado um ano após falência do Lehman Brothers


Um ano após falência do Lehman Brothers, mundo clama pela supervisão financeira, enquanto cassino parece ter sido reaberto no mundo das finanças. Encontro do G20 na próxima semana discutirá controle do setor financeiro.


O anúncio de falência do tradicional banco americano de investimentos Lehman Brothers, em 15 de setembro de 2008, caiu como um tsunami sobre o mercado financeiro norte-americano, marcando o apogeu de uma crise que ameaçava toda a economia mundial.

Um ano após o colapso dramático do Lehman Brothers, especialistas divergem se lições da crise financeira global foram realmente tiradas e se essas foram aplicadas na prática, principalmente nos EUA, onde a bolha do mercado imobiliário teve início.

Não foi por ocaso que o presidente norte-americano Barack Obama escolheu a Bolsa de Valores de Nova York como cenário de seu discurso, nesta segunda-feira (14/09). No momento em que o fim da pior recessão do pós-guerra se anuncia, negócios especulativos voltam a florescer em Wall Street, lembrando os papéis tóxicos que quase levaram ao colapso total do sistema financeiro mundial.

Destino selado

Há um ano, aquela "segunda-feira negra" para o capitalismo financeiro norte-americano foi antecedida por uma maratona de negociações, em um final de semana dramático, quando se tentou salvar o Lehman Brothers. A situação do banco de investimentos fundado em 1850 por imigrantes alemães era tão ruim, que compradores interessados exigiam maciças garantias estatais.

Diferentemente da ajuda estatal de 200 bilhões de dólares, anunciada na semana anterior para salvar os gigantes do crédito imobiliário Fannie Mae e Freddie Mac, o governo dos Estados Unidos logo deixou claro que uma solução para o debilitado banco deveria ser encontrada no próprio setor financeiro.

Privilegiava-se a compra pelo Bank of America. No entanto, o Merrill Lynch, concorrente do Lehman Brothers, farejara o perigo e foi mais rápido em acertar sua incorporação pelo Bank of America, a fim de salvar-se. A partir desse momento, o destino do Lehman Brothers estava selado.

Naquela manhã de segunda-feira, com o anúncio da incorporação do Merrill Lynch pelo Bank of America e da falência do Lehman Brothers, o número dos grandes bancos independentes de investimento em Wall Street foi reduzido pela metade.

Contribuintes pagaram conta

A confiança nos mercados ficou abalada e o tsunami não pôde ser mais contido. No dia seguinte, as três principais agências de classificação de risco do mundo rebaixaram os ratings da debilitada seguradora American International Group (AIG). Dessa vez, o governo norte-americano não ousou ficar indiferente e injetou 85 bilhões de dólares para salvar a AIG.

"Em Wall Street, acredita-se que o governo recebeu telefonemas dos principais centros financeiros mundiais: Tóquio, Frankfurt, Paris, Londres. E todos devem ter dito o mesmo: 'vocês estão loucos? A AIG está envolvida até o pescoço em negócios internacionais. Se vocês deixarem que ela vá à falência, o caos se instalará pelo mundo'", afirmou Arthur Cashin, corretor em Wall Street.

Somente a ajuda estatal para salvar a AIG custou, até hoje, 182 bilhões de dólares ao governo norte-americano. Um ano após o "setembro negro" de 2008, a pior recessão desde a década de 30 provocou a perda de 7 milhões de postos de trabalho nos EUA, onde mais de 1 milhão de residências tiveram que ser leiloadas.

Mais de 2,6 trilhões de dólares de poupanças desapareceram nos mercados de ações. Além disso, contribuintes norte-americanos e europeus tiveram que pagar quase a mesma quantia para evitar catástrofe maior.

Recuperando o dinheiro perdido

Um ano após a falência do Lehman Brothers, o cassino parece ter sido reaberto no mundo das finanças. A melhor prova são os lucros bilionários dos grandes bancos e os polpudos bônus dos executivos.

Para Sharyn O'Halloran, economista política da Universidade de Columbia em Nova York, responder à pergunta se investidores, políticos e Wall Street aprenderam algo com a crise é bastante fácil: "Não! Simplesmente porque os estímulos são os mesmos. Executivos continuam ganhando bônus milionários sobre lucros rápidos".

Jason Weisberg, corretor em Wall Street, afirma que os negócios sofreram modificações, "mas as pessoas perderam uma monte de dinheiro e elas o querem de volta", o mais rápido possível e a qualquer preço.

Obama clama por regulação

O mundo clama pela supervisão financeira, mas até hoje pouco foi feito neste sentido. Em seu discurso no centro financeiro nova-iorquino, Barack Obama disse aos executivos que a era do "comportamento desconsiderado" e dos "excessos descontrolados" em Wall Street chegou ao fim.

Obama advertiu contra um retorno do comportamento despreocupado com o risco, o estopim da crise há um ano. Segundo Obama, "os executivos financeiros não teriam agido a seu próprio risco, mas a risco de todo o nosso país".

Para o encontro do G20 (grupo dos mais importantes países industrializados e emergentes) em Pittsburgh, na próxima semana, o presidente norte-americano anunciou que fará pressão junto aos chefes de Estado e de governo ali presentes com vista a um endurecimento da supervisão financeira global.

O presidente norte-americano admitiu ainda que a crise financeira aconteceu também devido ao "fracasso coletivo" da política norte-americana de regulação financeira. "Os EUA estão reformando seu sistema regulatório de forma enérgica e se engajam para que o resto do mundo faça o mesmo", afirmou Obama.

Autores: J. Korte / M. Braun / C. Albuquerque, para Deutsche Welle
Revisão: Augusto Valente

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