quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Ilha de sujeira


Um redemoinho no meio do Oceano Pacífico concentra toneladas de plásticos levados por correntes marítimas.

Entre as costas da Califórnia e do Havaí, destinos paradisíacos que atraem milhares de turistas por ano, há uma ilha pouco conhecida e ainda menos atraente. É a ilha de lixo do Pacífico, um aglomerado de detritos compostos 90% por plásticos acumulados durante mais de uma década em área maior do que os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Goiás juntos.

Neste redemoinho de toneladas de plástico coabitam e se misturam animais, plâncton, alimentos e lixo. Consequências disso são mariscos que se alojam em pequenas caixas de plásticos, águas-vivas enroladas em fios de nylon e até casos de anomalia biológica, como o da tartaruga que teve seu casco deformado porque cresceu com um anel de plástico em sua volta. Pesquisadores registram também inúmeras mortes de animais em decorrência à contaminação do lixo. De acordo com o Programa Ambiental da ONU, 46 mil peças de plástico – entre elas objetos como seringas, isqueiros e escovas – estão associados à morte de um milhão de aves e 100 mil mamíferos marinhos.

“Antes não havia plástico no mar, tudo era comida. Então os animais aprenderam a comer qualquer coisa que encontrassem pela frente. Podemos ver que eles tentaram comer isso [pedaço de embalagem], mas não conseguiram”, afirmou o capitão norte-americano Charles Moore, o primeiro que avistou a ilha de lixo, em entrevista ao programa televisivo Fantástico, da Rede Globo.

A explicação para o fato dos detritos ficarem aglomerados em um só lugar vem do fenômeno das correntes marítimas. O processo começa quando uma embalagem é jogada em uma praia da Califórnia, por exemplo, ou em rios que desembocam no oceano. As correntezas levam os dejetos, que podem se juntar ao lixo de grandes embarcações, ao Giro do Pacífico Norte, um ponto de convergência de correntes da Ásia e América do Norte. A sujeira fica “presa” porque lá o mar é calmo, os ventos são poucos e a pressão atmosférica é alta. Em caso de grandes tempestades, o lixo pode ser arrastado para alguma costa e poluir praias.

O redemoinho é objeto de estudo de expedições ambientais. O capitão Moore e sua equipe fizeram medições do lixo com amostras da “sopa de plástico”, como também foi apelidada a região. Até hoje, foi descoberto que 27% dos dejetos são sacolas de supermercado e que, entre os 670 peixes analisados, encontraram-se 1,4 mil fragmentos de plástico em seus organismos. “Gostaria que o mundo inteiro percebesse que o tipo de vida que estamos levando, isso de jogar tudo fora, usar tantos produtos descartáveis, está nos matando. Temos que mudar se quisermos sobreviver”, alerta o capitão.

A condenação de Moore não se refere apenas aos cidadãos de cidades litorâneas, mas também a organizações que usam a região deliberadamente como depósito de lixo. Segundo reportagem da revista IstoÉ, até mesmo pesquisadores da Nasa e de agências espaciais russas despejam resíduos de suas astronaves. Fragmentos da nave russa Progress M-59, por exemplo, foram carbonizados e caíram no local, como uma chuva de metal. Ao todo somaram uma tonelada de lixo.

Fiscalização

No final de julho, uma expedição de ambientalistas e cientistas batizada de Projeto Kasei partiu dos Estados Unidos em direção à ilha de lixo do Pacífico para analisar seu nível tóxico e a influência na vida marinha. O líder da expedição, Doug Woodring, declarou ao portal da rede inglesa BBC que o estudo pretende coletar amostras de plásticos sem espécies marinhas anexadas, o que será difícil. “Teremos que usar tecnologias diferentes, dependendo do volume de resíduos por quilômetro quadrado. Também contamos com redes de tamanhos diferentes”, explicou.

Woodring conta que o maior problema em relação à fiscalização da área é que ela está em águas internacionais e, portanto, sob nenhuma jurisdição. O descarte de resíduos no mar é proibido e passível de multa. Mas, uma vez boiando no oceano, a sujeira não tem dono. Mesmo que se saiba sua origem, não é possível responsabilizar os culpados. “Por isso nenhum governo ou instituição é pressionado para resolver este problema. É semelhante ao que acontece com o lixo espacial”, compara.

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Um comentário:

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