segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Lula: metade do dinheiro gasto com crise pode erradicar fome


Por Silvia Aloisi e Daniel Flynn

ROMA (Reuters) - A ONU deu início nesta segunda-feira à cúpula alimentar anunciando que a adoção de um novo tratado climático global no mês que vem em Copenhague é essencial para combater a fome. Na abertura, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou recursos para o combate à fome e disse que com a metade do que foi gasto na crise global seria possível erradicar a fome.

Autoridades se reúnem em Roma até quarta-feira para discutir questões alimentares, embora ativistas já estejam qualificando o evento como mais uma oportunidade perdida.

O ceticismo se agravou no fim de semana, quando o presidente dos EUA, Barack Obama, e outros líderes mundiais disseram que a definição do novo tratado climático deve ficar para 2010 ou depois.

"A fome é a mais terrível arma de destruição em massa existente no nosso planeta. Na verdade, ela não mata soldados, ela não mata exércitos. Ela mata, sobretudo, crianças inocentes que morrem antes de completar um ano de idade", disse Lula ao discursar na abertura do evento.

Lula defendeu ainda um maior envolvimento da comunidade internacional no combate à fome.

"O combate à fome continua praticamente à margem da ação coletiva dos governos. É como se a fome fosse invisível. Muitos parecem ter perdido a capacidade de se indignar com um sofrimento tão longe de sua realidade", disse.

Para ele, com a metade dos recursos injetados para conter a crise financeira internacional seria possível combater a fome.

"Frente à ameaça de um colapso financeiro internacional, causado pela especulação irresponsável e pela omissão dos Estados na regulação e na fiscalização do sistema, os líderes mundiais não hesitaram em gastar centenas e centenas de bilhões de dólares para salvar os bancos falidos. Com menos da metade desses recursos, seria possível erradicar a fome em todo o mundo", afirmou.

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, disse que "não pode haver segurança alimentar sem segurança climática".

"No mês que vem em Copenhague precisamos de um acordo abrangente, que forneça um firme fundamento para um tratado de cumprimento compulsório a respeito da mudança climática."

A FAO (órgão da ONU para agricultura e alimentação) prevê uma redução de 20 a 40 por cento na produtividade agrícola potencial da África, da Ásia e da América Latina se as temperaturas do planeta subirem mais de 2 graus.

Pela primeira vez o número de famintos no mundo passa de 1 bilhão, e a FAO convocou a cúpula na esperança de que os governos mundiais elevem de 5 para 17 por cento a parcela da ajuda humanitária atualmente destinada à agricultura.

Isso representaria um aumento de 7,9 para 44 bilhões de dólares --ainda assim, bem aquém do subsídio de 365 bilhões de dólares por ano dado a agricultores dos países ricos.

Mas um esboço da declaração final a ser adotada na segunda-feira inclui apenas uma promessa genérica de mais ajuda, sem prazos nem metas.

A promessa de eliminar a desnutrição até 2025 também foi retirada da proposta, que agora cita apenas um empenho em resolver o problema "o quanto antes".

O aumento nos preços dos alimentos como arroz e trigo no ano passado causou conflitos em mais de 60 países.

As nações ricas importadoras se apressaram para comprar as safras estrangeiras, levando a fome e a falta de comida à agenda política --mas também despertando temores de um novo colonialismo nos países pobres.

"Devemos combater esse novo feudalismo, devemos colocar um ponto final nessa tomada de terras dos países africanos", disse o líder da Líbia, Muammar Kaddafi.

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