quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Suecos reclamam de discriminação na oferta de acessórios eróticos

Apoteket:

Claudia Varejão Wallin
De Estocolmo para a BBC Brasil

Dois suecos apresentaram uma queixa formal de discriminação contra a empresa que detém o monopólio das farmácias no país, alegando que os acessórios eróticos à venda nas lojas são dirigidos mais às mulheres do que aos homens.

A Apoteket, estatal que detém o monopólio das farmácias na Suécia, começou a vender acessórios eróticos há poucos meses. A oferta atraiu os clientes e a empresa registrou vendas semanais de mais de mil vibradores e pênis de borracha.

No entanto, os homens argumentam que a oferta de brinquedos eróticos da Apoteket está privilegiando as mulheres e reclamam de discriminação.

O caso foi levado por dois homens ao Ombudsman de Oportunidades Iguais - autoridade responsável por questões de discriminação na Suécia.

Na queixa, consta que a seleção de produtos eróticos da Apoteket demonstra "uma visão falsa e distorcida da sexualidade, segundo a qual uma mulher que utiliza um vibrador é considerada liberada, forte e independente, ao passo que um homem que usa uma vagina de plástico inflável é visto como um ser repugnante e pervertido".

Defesa

A gerente de produtos da Apoteket, Eva Fernwall, foi obrigada a fazer uma defesa pública da sua escolha de acessórios eróticos. Em um comunicado publicado no jornal Expressen, ela argumentou que não existem muitos produtos de boa qualidade para homens no mercado.

"Se houvesse [produtos de qualidade], nada nos impediria de vendê-los", disse a gerente.

O Ombudsman anunciou de imediato o veredicto de uma das queixas apresentadas, afirmando que não se trata de um caso de discriminação contra os homens.

"Os produtos da Apoteket estão disponíveis para homens e mulheres, e, portanto, a Apoteket não está violando a lei contra a discriminação sexual", diz o veredicto.

Guerra dos sexos

Apesar da aparente perda na tentativa de reclamar contra a discriminação, a luta dos homens por igualdade na Suécia já acumula algumas vitórias.

As mulheres perderam o privilégio de contar com tarifas preferenciais em agências de relacionamento e nos salões de beleza da Suécia depois de protestos realizados pelo sexo oposto. Agora, homens e mulheres pagam o mesmo preço pelos serviços.

As manifestações masculinas derrubaram também os preços especiais oferecidos às mulheres pelas empresas de táxi. As tarifas dos chamados "taxi-tjej" (táxi-garota, em tradução literal) haviam sido criadas para incentivar as mulheres a viajarem com segurança para casa durante a noite, na saída dos bares e clubes noturnos.

Nesses mesmos bares e clubes, a idade mínima para entrada de homens e mulheres (18 anos) também passou a ser a mesma depois de protestos. Antes, os bares noturnos permitiam a entrada de mulheres mais jovens para atrair a clientela masculina, mas barravam os homens da mesma idade.

Na semana passada, os guardas de uma penitenciária realizaram um protesto contra a norma que determina que pelo menos um guarda do sexo masculino tenha que estar presente no pátio durante o horário de banho de sol dos prisioneiros - o que, segundo eles, proporciona esquemas de folga privilegiados para as mulheres.

Aproveitando a onda reivindicatória, um casal de lésbicas que tentava ter um filho através de inseminação artificial também decidiu entrar na Justiça.

Após ser submetida a três tentativas sem sucesso, uma delas exigiu que a companheira também tivesse o direito de tentar a inseminação.

No entanto, o pedido foi negado pelo juiz com o argumento que um casal heterossexual não teria a mesma oportunidade de realizar uma dupla tentativa, uma vez que homens não podem engravidar.

Desigualdade

Apesar da crescente rebelião masculina, as mulheres suecas afirmam que os homens continuam tendo mais vantagens nas questões consideradas mais fundamentais.

O movimento feminista conquistou, na Suécia, um dos maiores níveis de igualdade de gênero do mundo. No entanto, estatísticas governamentais apontam que as mulheres ganham em média 84% do salário pago aos homens.

Um estudo divulgado esta semana pelo banco sueco Länsförsäkringar Bank indica ainda que o valor da aposentadoria das mulheres é, em média, de 80% a 90% do valor pago aos aposentados do sexo masculino.

O economista Göran Normann, autor do estudo, acredita que a única maneira de criar maior igualdade entre os sexos é fazer com que os homens ofereçam algum tipo de compensação às parceiras.

"O homem deveria dar parte da sua aposentadoria à mulher", recomenda o economista.

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