quinta-feira, 10 de julho de 2008
Direita suíça quer proibir construção de minaretes
A direita nacionalista (UDC) e o partido dos cristãos fundamentalistas (UDF) recolheram quase 115 mil assinaturas para proibir a construção de minaretes na Suíça.
O governo federal já se manifestou publicamente contra a iniciativa popular, criticada no exterior, e vai recomendar aos eleitores e ao Parlamento a rejeição da proposta.
A iniciativa "contra a construção de minaretes", com 114.895 assinaturas de apoio, foi entregue ao Ministério do Interior, em Berna, nesta terça-feira (08/07), pela União Democrática do Centro (UDC) e pela União Democrática Federal (UDF).
Os dois partidos pedem a inclusão na Constituição suíça de um artigo com o seguinte teor: "A construção de minaretes é proibida". Eles argumentam que, com isso, querem impedir um "símbolo de ambição pelo poder e domínio político-religioso".
A iniciativa foi lançada no início deste ano por políticos da UDC (direita nacionalista) e da UDF (cristãos fundamentalistas). O prazo para a coleta de 100 mil assinaturas, necessárias à apresentação oficial da proposta ao governo, ainda iria até 1° de novembro próximo.
Os iniciadores dizem que é preciso impedir a "crescente islamização da sociedade suíça". Minaretes não são símbolos religiosos e sim sinais de uma ambição política pelo poder, disse a deputada federal Jasmin Hutter (UDC), de St-Gallen.
Segundo o ex-deputado federal Ulrich Schlüler, considerado o pai da iniciativa, "a construção de minaretes ameaça a ordem em nosso país". Ele garante que a proposta respeita a liberdade religiosa. Os muçulmanos podem praticar os seus costumes também em mesquitas sem minaretes, disse.
O Conselho Federal (Executivo suíço) condenou mais uma vez a iniciativa. Não há dúvida de que o governo recomenda aos eleitores e ao Parlamento a rejeição da proposta, disse em um comunicado.
Foi a primeira vez desde 1934 que o governo reagiu dessa forma a uma iniciativa popular no dia em que ela foi apresentada oficialmente. O motivo é a pressão internacional sobre o governo em Berna nessa questão.
Em março passado, a Organização da Conferência Islâmica (OIC) advertiu sobre a crescente hostilidade contra o islã e citou também a iniciativa contra minaretes na Suíça.
A proposta foi considerada "inquietante" e abordada no mesmo capítulo em que foi tratado o caso das caricaturas do profeta Maomé publicadas por jornais europeus e o curta-metragem anti-islâmico do deputado holandês Geert Wilders.
Num encontro com o secretário-geral da OIC, Ekmeleddin Ihsanoglu, em janeiro passado, em Madri, a ministra suíça das Relações Exteriores, Micheline Calmy-Rey, garantiu que o governo não apóia a iniciativa, que já foi criticada pela ONU e pela Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa.
Direito Internacional e Constituição
Caso a iniciativa seja aprovada nas urnas, o que é improvável, não é certo que seja implementada. "Ela é muito absoluta. Proibir qualquer minarete em qualquer lugar seria uma intervenção desproporcional na liberdade religiosa", diz Daniel Thüler, especialista em Direito Internacional da Universidade de Zurique.
Após a autenticação das assinaturas, a Câmara e o Senado terão de decidir se a iniciativa será ou não submetida ao voto popular. Segundo Thürer, é preciso avaliar se ela transgride ou não o Direito Internacional ou os princípios constitucionais.
swissinfo, Geraldo Hoffmann (com agências)
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