terça-feira, 15 de julho de 2008
Campanha contra água mineral
Devido ao seu balanço ambiental negativo, o consumo de água mineral engarrafada deve ser proibido na Suíça, propõe o deputado federal Jacques Neirynck, do Partido Democrata Cristão (PDC).
Devido ao seu balanço ambiental negativo, o consumo de água mineral engarrafada deve ser proibido na Suíça, propõe o deputado federal Jacques Neirynck, do Partido Democrata Cristão (PDC).
"A polêmica tomou as feições de uma caça às bruxas", diz Peter Brabeck, presidente da Nestlé, empresa líder mundial no mercado de água mineral.
Uma campanha iniciada nos Estados Unidos, propondo o consumo de água de torneira em vez de água mineral para proteger o meio ambiente, atinge também a Suíça.
Durante uma conferência em 23 de junho passado, 250 prefeitos dos EUA decidiram que nas suas cidades não será mais comprada água mineral com dinheiro dos contribuintes. Igrejas e organizações estudantis apóiam a "Anti Bottled Water Campaign".
Na Suíça, alguns restaurantes já oferecem jarras de água da torneira aos seus fregueses. O deputado Jacques Neirynck, ex-reitor da Escola Politécnica Federal de Lausanne, quer propor na sessão de outono do Parlamento a proibição da água mineral no país. Ela então só poderia ser comprada sob receita médica.
"São necessárias medidas restritivas para economizar energia. Gasta-se energia demais com a produção da garrafa, o engarrafamento e o transporte. Se não quisermos ter uma nova usina nuclear, temos de renunciar à água engarrafada", argumenta.
120 litros de água mineral per capita
Cada um dos 7,5 milhões de suíços consome cerca de 120 litros de água mineral por ano. O consumo mais do que duplicou nos últimos 20 anos, período em que as importações quase dobraram. Quase um terço do mercado suíço é coberto por água importada.
Segundo um estudo da Esu-Services, de Uster (perto de Zurique), para um litro de água mineral engarrafada e transportada por um longo trajeto são gastos 3,2 decilitros de petróleo.
Dois decilitros de petróleo são gastos por litro quando a água mineral é retirada de uma fonte na Suíça, colocada em garrafa PET (reciclável) e refrigerada antes de ser servida.
Para a obtenção de um litro de água de torneira, não refrigerada, o consumo de energia equivale a 0,3 mililitros de petróleo – mil vezes menos do que para a água mineral em garrafa de vidro, importada e refrigerada.
"A carga para o meio ambiente decorre principalmente da refrigeração, da embalagem e do transporte", diz Niels Jungbluth, gerente-executivo da Esu.
Nestlé rebate críticas
A Nestlé Waters, líder global do mercado, rebate as críticas feitas por políticos e peritos, dizendo que a água mineral de suas marcas representa apenas 0,0009% da água potável consumida no mundo.
Na Suíça, 75% de todas as garrafas PET são recicladas, diz Philippe Oertlé, porta-voz da Nestlé. Ele explicou ao jornal Tagesanzeiger que a empresa reduziu em 22% nos últimos cinco anos o peso da embalagem da água mineral.
Segundo o presidente da Nestlé, Peter Brabeck, "a polêmica tomou as feições de uma caça às bruxas. Quem quiser economizar água por motivos ecológicos tem de tomar mais água mineral e menos água de torneira", disse ao jornal Sonntagszeitung.
Brabeck argumenta que a água engarrafada provoca o menor consumo de água para levar líquido da melhor qualidade ao consumidor. "Como o preço da água de torneira é baixo demais, por motivos políticos, não há como investir o suficiente nas redes. Nos países em desenvolvimento, 70% da água potável é desperdiçada por furos na rede; na União Européia, 30%."
O presidente da Nestlé concorda que existe um direito humano à água. "Cinco litros por pessoa diariamente para beber e 20 litros para a higiene. O que passar disso tem de ser vendido a preço de mercado. Do contrário, serão subvencionadas piscinas em campos de golfe", afirma.
David contra Golias
Uma alternativa pode ser a água do tipo Club Soda (água encanada, filtrada, gaseificada e enriquecida com bicarbonatos, citratos, fosfatos e outros tipos de sais minerais). Ela prejudica cinco a oito vezes menos o meio ambiente do que água mineral, conclui o estudo da Esu.
Segundo Aaron Husy, gerente da Club Soda Distribution, em Vevey, a empresa vendeu até agora um milhão de cilindros de bicarbonato na Suíça – entre 300 mil e 400 lares formam o "núcleo" dos usuários fiéis. Cada cilindro de gás dura cerca de dois anos.
Husy considera-se um "David contra o Golias" das multinacionais que controlam o mercado de água mineral engarrafada: Nestlé Waters, Danone, Coca-Cola e Pepsi. Mas ele diz que já sente o resultado do apelo ecológico da água do Club Soda.
"Hoje somos suficientemente fortes para questionar a venda de garrafas de plástico e vidro, que são ecologicamente problemáticas, sem que sejamos esmagados como uma mosca pelos grandes", disse Husy ao jornal Tagesanzeiger.
swissinfo, Geraldo Hoffmann (com agências e jornais)
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