terça-feira, 8 de julho de 2008
Escritor procura origem de suas cuecas e faz viagem pela China
Gillian Murdoch
Alguns viajantes seguem seus corações, outros se guiam pela mente. Mas poucos vão atrás de suas cuecas, como fez o escritor neozelandês Joe Bennett.
A compra de uma embalagem com cinco cuecas de fabricação chinesa levou Bennett a uma viagem reveladora, partindo de uma loja na Nova Zelândia e chegando à China, para decifrar o funcionamento misterioso do capitalismo global.
Ao rastrear o pacote de cuecas de 6,5 dólares até uma fábrica em Xangai, os seringais da Tailândia e os campos de algodão de Xinjiang, no extremo oeste da China, Bennett encontrou as centenas de pessoas que produziram e exportaram suas cuecas.
O autor disse que, embora não tenha descoberto quanto as cuecas de fato custaram para serem feitas, ele aprendeu muito com sua odisséia, intitulada "Where Underpants Come From" (De onde vêm as cuecas). Ele conversou com a Reuters recentemente.
PERGUNTA: Por que cuecas? Por que não procurar a origem de um iPod, uma mangueira de jardim ou qualquer outro produto exportado pela China?
RESPOSTA: Porque eu tinha comprado cuecas, e não uma mangueira. Comprei cuecas, e isso me levou a refletir.
P: Sua viagem nasceu de uma ignorância pós-industrial peculiar: você não fazia idéia de como as cuecas eram produzidas, nem a que preço?
R: Nós no Ocidente vivemos sentados sobre uma almofada de riqueza que poucos de nós podemos justificar, já que não trabalhamos nesses processos industriais, comerciais ou científicos. Algo tão rudimentar quanto produzir algodão — não faço idéia de como é feito. Se a eletricidade parasse de ser gerada, não seria eu quem a faria começar outra vez.
P: Foi sua primeira viagem à China. Você estava receoso quanto ao que poderia encontrar na fábrica de cuecas?
R: Não fui a nenhum lugar em que operários trabalham em condições desumanas. Acredito que as cuecas em questão são produzidas sob condições as mais próximas de éticas quanto é possível se produzir cuecas na China. É claro que as pessoas trabalham muitas horas e ganham menos, mas é em função de uma economia diferente com um mercado de mão-de-obra imenso.
P: Você escreve que, quando era jovem, as cuecas eram todas simples e brancas, sendo que hoje existe um arco-íris de cores e estilos. O que isso nos revela?
R: O boom da promoção da vaidade no Ocidente, e também a enorme ampliação do comércio em qualquer lugar onde é possível ampliar um mercado.
As casas de todo o mundo no Ocidente são repletas de coisas redundantes, que as pessoas compraram numa busca frenética por felicidade, mas nenhuma das quais a proporcionou. Não é por usar cuecas de cetim que você será mais feliz ou terá mais sucesso sexual.
P: O que isso nos revela sobre os consumidores de hoje?
R: São ricos, tolos e sedentos por mais, sempre mais, como burros correndo atrás de uma cenoura inalcançável. Não se compra a felicidade numa loja de departamentos. Mas essa ilusão é de importância crucial para a sociedade de consumo ocidental.
Reuters
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