Marcia Carmo
De Buenos Aires para a BBC Brasil
O ex-presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, disse na terça-feira, durante uma palestra a um grupo de estudantes em Montevidéu, que quando era presidente (2005-2010) avaliou a hipótese de um "conflito bélico" com a Argentina durante a disputa pela construção de uma fábrica de pasta de celulose na fronteira entre os dois países.
"Tivemos um conflito muito sério com a Argentina. E um presidente deve avaliar todos os cenários possíveis. Não esperar que o problema aconteça para tomar uma medida. E eu avaliei todos os cenários, desde (um em que) não acontecesse nada até um conflito bélico", disse Vázquez.
A fábrica funciona às margens do rio Uruguai, compartilhado pelos dois países, e a Argentina alegava que a planta poluía o rio. O Tribunal de Haia deu parecer favorável a que o Uruguai mantivesse a fábrica em funcionamento.
O ex-presidente afirma que contribuiu para suas suspeitas de que a desavença pudesse derivar em um conflito armado o fato de soldados do Exército argentino terem realizado, naquele período, treinamentos inéditos em frente à cidade uruguaia de Paysandú, na fronteira.
Vázquez contou que reuniu, então, os comandantes das Forças Armadas do país.
"O comandante da Força Aérea me disse que tínhamos apenas cinco aviões e combustível para 24 horas", afirmou. As declarações de Vázquez foram feitas para um grupo de estudantes, em Montevidéu. Eles riram quando o ex-presidente revelou a penúria dos aviões militares do país.
"Mas não estou dramatizando, é a realidade", disse Vázquez, que também afirmou ter compartilhado sua preocupação com a então secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, com quem tinha se reunido para discutir questões bilaterais.
"Eu estive nos Estados Unidos para tratar de questões comerciais. Mas também disse a Condoleezza Rice que o Uruguai é um país sócio e amigo dos Estados Unidos e que, se ela pudesse, que falasse com o presidente (George W.) Bush sobre a situação", afirmou.
Ideia 'jamais' analisada
Nesse momento da gravação, publicada no site do jornal El Observador, de Montevidéu, a voz de Vázquez fica pouco nítida, porque ele se afasta levemente do microfone. O jornal afirma, porém, que o ex-presidente pediu "apoio" de Bush "em caso de conflito bélico com a Argentina".Vázquez afirmou que o governo americano declarou, então, que o Uruguai é "um país amigo" e que a tensão bilateral – Uruguai e Argentina – diminuiu.
As declarações de Vázquez repercutiram na Argentina. O ex-chefe de gabinete (Casa Civil) do então governo de Néstor Kirchner, Alberto Fernández, afirmou nesta quarta-feira que "a ideia de uma guerra jamais foi analisada" na Argentina.
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Nota do Blog: Nos bastidores políticos uruguaios corre o boato de que Vázquez somente não declarou guerra à Argentina porque, no caso de vitória, não haveriam prisões suficientes para alojar os militares argentinos que seriam capturados.
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