terça-feira, 2 de novembro de 2010
Sabedoria brasileira
Dilma Rousseff venceu o senso comum dos especialistas. Atropelou o preconceito. Passou por cima do machismo. Teve gente trabalhando duramente para transformar virtudes em defeitos. Ter sido guerrilheira na luta contra a ditadura militar brasileira é uma qualidade. Ter sido presa, aos 23 aninhos de idade, por defender seus ideais, é uma lição de moral. Ter sido torturada sem entregar companheiro algum é uma grandeza. Precisou recuar em alguns pontos. O jogo eleitoral não permite andar sempre em linha reta. Alcançou o objetivo. Tem todas as condições de fazer um excelente governo. É garantido? Claro que não. Mas é bastante possível. A base está estabelecida. A semente foi lançada. É só continuar.
José Serra fez tudo errado. Pisoteou a sua biografia. Oriundo da esquerda, abrigado num partido de centro, adotou um discurso de extrema-direita na esperança de ganhar a marteladas. Quanto mais sentia a vitória escapar, mais se atolava na retórica da maledicência e da simplificação. Foi mais a candidatura do tosco Índio da Costa, uma figura menor que voltará para o seu glorioso anonimato, do que a de um social-democrata. Luiz Inácio, mais uma vez, bateu o doutor FHC. Mergulhou na campanha. Fez ver que sua presença trazia pontos positivos para a sua candidata. FHC andou sempre meio de lado, entrando sem querer entrar no jogo, seja por vaidade, acha que um ex-presidente deve viver sozinho na lua, seja por medo de prejudicar o seu candidato.
Os "videntes" erraram tudo. Deve ter sido por isso que o polvo Paul morreu pouco antes da votação do segundo turno brasileiro. Morreu certamente de vergonha dos especialistas brasileiros. Quem não lembra do tal Montenegro, o cara do Ibope, garantindo que Serra massacraria Dilma, a sem carisma? Quando a revista Veja e o jornal O Estado de S. Paulo passaram a jogar pesado para eleger José Serra, parte da população percebeu a artimanha. O Brasil vem mudando. Em alguns aspectos, contudo, parece nunca mudar: Minas Gerais (Dilma) e São Paulo (Temer) estão novamente no poder, como na época da política do café com leite da República Velha. Os tempos são outros. A mulher tomou o poder. Minas levou a melhor.
No país da corrupção endêmica, o roto falou do descosido o tempo todo. Nada mais hilariante do que ouvir o Dem do mensalão de Brasília pregando moral contra o mensalão do PT. Nada mais paradoxal do que ouvir o PMDB gaúcho atacando o governo por aparelhamento do Estado. Logo o PMDB que desistiu de chegar ao topo do poder para ter sempre a possibilidade de aparelhar o Estado! Ri muito durante esses meses todos. Fui acusado de tudo um pouco. Tem gente achando que sou petista. Continuo o mesmo. Um franco-atirador solitário e implacável. Miro sempre na burrice, na contradição e no preconceito. Dilma ter sido guerrilheira sempre me pareceu um belo cartão de visitas. Os Estados Unidos têm seu primeiro presidente negro. A Bolívia tem um índio. O Brasil, depois de um operário, terá uma mulher. Só Veja não vê os avanços.
JUREMIR MACHADO DA SILVA | juremir@correiodopovo.com.br
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