Foto meramente ilustrativa:
CORREIO DO POVO
PORTO ALEGRE, DOMINGO, 16 DE AGOSTO DE 2009
O testemunho de Saul Liberalli
O oficial reformado do Exército Saul Dante Liberalli, 79 anos, era criança na época da 2ª Guerra Mundial, mas afirma 'que nunca esquecerá 'da brutalidade que Santa Rosa viveu na década de 1940'. Ele conta que a curiosidade e a indignação o levaram várias vezes para a frente do presídio onde estavam confinados os imigrantes alemães. 'Em Santa Rosa era terminantemente proibido falar outra língua, no início da década de 1940. Havia placas espalhadas na cidade com a proibição', lembra. Ele diz que as ações eram comandadas pela Brigada Militar, Polícia Civil e informantes e que, além de alemães, japoneses e italianos sofriam com as perseguições.
O aposentado afirma que a situação dos imigrantes que se encontravam no Presídio era lamentável. 'Era impressionante a precariedade do local. Além do frio, eram muitas pessoas na mesma cela, o contágio da gripe era algo muito fácil de ocorrer. Mas eles não ficavam muito tempo por lá, até pelo fato de o espaço ser pequeno. Na medida em que eles iam prendendo, iam soltando os mais antigos. Imagine você morar em um país, onde você só sabe falar uma língua. De repente, os imigrantes vêm ao Brasil e são proibidos de falar a única língua que sabiam, caso contrário seriam presos. É uma tamanha brutalidade', observa.
O descendente de italianos recorda que na época ninguém podia ter rádio em casa. 'Sobre esta proibição tenho dois fatos guardados na memória: um caminhão cheio de rádios, sendo despejados no pátio da Delegacia de Polícia, onde hoje se encontra uma agência dos Correios, e outra ocasião em que policiais entraram em minha casa, e queriam levar o único aparelho de rádio que tínhamos. Minha mãe não deixou. Disse que se levassem o rádio era para levar toda a família. Eles acabaram não levando nada.'
Saul Liberalli lembra também da estátua de Cristóvão Colombo, uma doação da colônia italiana ao governo do Estado. 'Era a segunda estátua de Colombo na América. Arrancaram a placa de homenagem, fixada na escultura, e no pescoço, colocara cartazes ofensivos'. O episódio ocorreu em 23 de abril de 1942, dia do aniversário de Adolf Hitler.
O oficial reformado do Exército relata ainda que que livros e bíblias na língua alemã foram queimados. 'Era uma fogueira de livros.' Na Praça Berlim, uma águia em homenagem aos poetas alemães também foi alvo de depredação. 'Quebraram a asa da águia, e tempos depois, ela sumiu. Deve ter sido derretida, pois era de ferro.' Saul enfatiza que não existia alemães fanáticos em Santa Rosa. Conforme o descendente de italianos, a situação só foi amenizada em novembro de 1942, com a chegada do 1º Regimento de Cavalaria Transportado, uma unidade do Exército.
Nota do Blog: Ancestrais deste blogueiro foram obrigados a fugir da região às pressas, rumo à Argentina, onde se estabeleceram. Crime cometido: só sabiam falar o idioma alemão.
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