segunda-feira, 17 de agosto de 2009

SANTA ROSA - I


Rio Grande do Sul teve campos de concentração

ROBERTO TAVARES
rtavares@correiodopovo.com.br

A existência, em território brasileiro, de campos de concentração ou de internamento, onde foram confinados centenas de imigrantes alemães, italianos e japoneses durante a 2ª Guerra Mundial (1939-1945) raramente é referida nos livros. O professor da PUCRS e da Ufgrs René Gertz, doutor em História, afirma que esses locais existiram do Pará ao Rio Grande do Sul. Em solo gaúcho houve confinamentos na Colônia Penal Agrícola Daltro Filho, em Charqueadas, e em Santa Rosa, na região Noroeste do Estado. Ele cita pronunciamento feito na Assembleia Legislativa do RS, em 1948, pelo deputado Alcides Flores Soares Júnior, da UDN. O parlamentar exigiu o pagamento de indenização aos alemães presos e denunciou tortura, sevícia e mortes no campo de Santa Rosa.
Gertz cujos avós eram russos, fez doutorado em Berlim e apaixonou-se pela história dos alemães no Brasil em 1975, quando decidiu elaborar uma tese sobre a Aliança Nacional Libertadora. Ele lembra que foi aconselhado pelo o médico e escritor Dyonélio Machado, militante comunista, a não fazer a pesquisa, pois o trabalho 'traria muita incomodação'. Depois de conversar com o professor Hélgio Trindade, o historiador decidiu estudar o Integralismo e os estudos resultaram na publicação dos livros 'O Fascismo no Sul do Brasil', 'O Perigo Alemão' e 'O Aviador e o Carroceiro'. O professor observa que nos locais de internamento não havia a mesma violência dos campos nazistas e que os italianos foram poupados, pois sua participação na guerra nunca foi considerada pelos gaúchos. A Colônia Penal Agrícola Daltro Filho, onde hoje está instalada a Pasc, foi construída como presídio comum, mas a partir de 1942 virou campo de internamento para cidadãos comuns sem nenhuma atividade política.
Foram recolhidos à Colônia Penal mais de cem alemães e três japoneses. Gertz conta que houve relato da morte de um alemão, mas o inquérito policial concluiu que o falecimento do prisioneiro teve causas naturais. O deputado Flores Soares, afirmou na época, durante discussão com outros políticos, que presenciara em Santa Rosa as práticas denunciadas. O caso, segundo o historiador, foi retratado também na Revista Vida Policial, da série 1942/1943 e numa brochura publicada em 18 de maio de 1948. Em Santa Rosa, o repórter Felipe Dorneles entrevistou uma historiadora e moradores que confirmam a repressão a imigrantes.

CORREIO DO POVO, 16 DE AGOSTO DE 2009.

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