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segunda-feira, 1 de março de 2021

CHURRASCO, CAIPIRINHA E SUICÍDIO COLETIVO

 

 
Marcos Nogueira

“Parem esses histéricos! Não tenham medo de morrer!” Uma jujuba para quem adivinhar ou autor dessas frases.

Não, não foi o Jair, embora pudesse ter sido. Foi o Jim. Jim Jones, pastor norte-americano que fundou uma comunidade utópica rural na selva da Guiana. Quando tudo degringolou em Jonestown, em 1978, ele optou por eliminar fisicamente os membros da seita.

Foram 909 pessoas mortas por envenenamento ou tiro. Destas, 304 eram crianças. Muitos obedeceram ao pastor e tomaram ki-suco com cianureto; quem desobedeceu foi assassinado. O próprio Jim se matou com uma bala na cabeça.

O Brasil, hoje, é uma Jonestown com 212 milhões de habitantes.

Sem saber como parar o vírus que mata e corrói a economia, as autoridades convocam a população para o suicídio coletivo.

Vejamos o que disse o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), em transmissão pela internet na quinta-feira (25):

“Dê a sua contribuição. Contribua com a sua família, com a sua cidade, com a sua vida para que a gente salve a economia do município de Porto Alegre.”

Frase longa? Eu edito para você: “Contribua (…) com a sua vida para (…) a economia (…)”.

Das capitais brasileiras, PoA é a que está mais próxima de repetir o pesadelo sanitário de Manaus. O que faz o prefeito? Manda a população se cuidar?

Não, ele convoca todo mundo a sair e comer costela na churrascaria Barranco, a compartilhar uma cuia de mate no parque Farroupilha, a movimentar a economia local.

Deixa de ser maricas, tchê! Contribui com a tua vida, bah! A ordem não poderia ser mais clara: morre e cala a boca. Tá cheio de gente que obedece com gosto.

Em São Paulo, para não peitar os comerciantes, o governador inventou um lockdown disruptivo e inovador: ele ordena o fechamento das coisas no horário em que elas sempre ficam fechadas. Paraná e Distrito Federal farão o mesmo, pois parece ser excelente na contenção da pandemia.

O presidente, com o timing preciso e habitual, discursou contra o uso de máscaras quando o Brasil bateu os 250 mil mortos. Um quarto de milhões de pessoas.

Morreu o equivalente a mais da metade da população de Roraima. A todos os habitantes de São Carlos, Araraquara, Marília ou Jacareí. Às vítimas somadas dos bombardeios atômicos em Hiroshima e Nagasaki.

Falemos o português que brasileiro entende: três Maracanãs lotados já foram despachados para o cemitério.

E, ainda assim, os caras lá de cima querem que nós levemos a vida normalmente, para salvar a economia. Sem vacina e sem usar máscara, que traz o insuportável sofrimento de sentir o próprio hálito –deve ser mesmo difícil para quem recende a Belzebu.

Jim Jones exterminou seus fiéis quando faltava comida e mal havia água para beber em Jonestown.

Aqui, não. Temos churras à vontade, breja trincando de gelada e até caipirinha. Dá para empacotar ao som de pagode, sertanejo ou funk.

Tá reclamando de quê?

Morra e não encha mais o saco.


Fonte: https://cozinhabruta.blogfolha.uol.com.br/2021/02/26/churrasco-caipirinha-e-suicidio-coletivo/

Imagem: Hieronymus Bosch

sexta-feira, 16 de março de 2018

ARMAS






Ilona Szabó: “O Brasil possui o maior número absoluto de mortes por armas de fogo no planeta — cerca de 44 mil em 2017. Sabemos que o custo de matar aqui é baixo. Menos de 10% das mortes violentas resultam em condenação. Ao contrário do que seu nome fantasia sugere, o Estatuto do Desarmamento não desarma o cidadão. Hoje, um brasileiro maior de 25 anos pode possuir até seis armas em casa ou local de trabalho, desde que cumpra requisitos. No entanto, é importante que se entenda que possuir uma arma é um ato de grande responsabilidade. Armas são instrumentos de ataque e raramente de defesa, e aumentam o risco de acidentes, suicídios e assassinatos de parceiros íntimos em lares onde estão presentes. Se sua escolha é possuir uma, não subestime os riscos. O estatuto proíbe o porte de armas para civis, isto é, cidadãos comuns não podem andar armados nas ruas. Faz todo sentido. A ideia de que armar civis torna as sociedades mais seguras é um mito. Estudo do Ipea em São Paulo mostra que o aumento de 1% de armas de fogo eleva em até 2% a taxa de homicídio. Um último esclarecimento sobre o referendo de 2005. Nele, a população decidiu que civis poderiam continuar a comprar armas no Brasil. E seu resultado foi respeitado, uma vez que a posse continua permitida no país.” (Folha) via Pioneiros

Enquanto isso... Dezenas de milhares de secundaristas, em todos os Estados Unidos, deixaram ontem suas salas de aula em escolas de grandes centros urbanos como Nova York e Chicago, mas também em cidades médias e pequenas. Levantaram-se, abriram as portas e desceram corredores reunindo-se em silêncio no lado de fora. Nenhum ato reuniu tanta gente num gesto político simultâneo desde os protestos contra a Guerra do Vietnã, nos anos 1960. O walkout marcou um mês da morte de 17 estudantes num high school da Flórida. Daqui a dez dias uma grande passeata está marcada para Washignton. Pedem maior controle na venda de armas.

Fonte: https://www.canalmeio.com.br/