segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Problemas sociais geram onda histórica de protestos em Israel


Israel vive uma onda de insatisfação social sem precedentes. Cada vez mais articulados e numerosos, os cidadãos têm se mobilizado contra o alto custo de vida, problemas de moradia, falhas no sistema de educação e de saúde, assim como as grandes diferenças salariais.
Depois do protesto que levou cerca de 300 mil pessoas às ruas de Jerusalém, Tel Aviv e outras cidades no último sábado (06/08), o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, prometeu formar uma comissão para responder às reivindicações dos manifestantes. Segundo o ministro de Comunicações, Mosche Kahlon, que fará parte da comissão, é preciso encontrar uma solução urgente para contornar a situação, nem que milhões sejam gastos para isso.

Uma má notícia, divulgada nesta segunda-feira, pode gerar ainda mais protestos: o preço da energia deve subir 9,3% no país. O porta-voz do ministro das Finanças, Boaz Stembler, argumentou que problemas no abastecimento do gás vindo do Egito, causados por seguidos atentados contra um duto, provocaram o reajuste. O país africano fornece 43% do gás natural consumido em Israel.

Mobilização

Em meados de julho último, acampamentos montados por estudantes em diferentes cidades de Israel deram início ao protesto. O alto custo de vida no país e o desagrado com a situação social mobilizaram também grande parte da classe média.

O salário médio pago no país é de 1.800 euros. Professores e assistentes sociais recebem, no geral, quantias inferiores a 1.400 euros. Por outro lado, o aluguel de um apartamento simples de três quartos custa, no mínimo, 1.000 euros na capital – em Tel Aviv esse valor é ainda consideravelmente maior. Para quem quer comprar a casa própria, a situação também é grave: um imóvel de 100 metros quadrados, em um bairro de classe media, seja em Tel Aviv ou Jerusalém, costuma ultrapassar a marca dos 420 mil euros.

Os preços de moradia no país subiram mais de 60% nos últimos quatro anos. Tel Aviv, por exemplo, é considerada a cidade mais cara no Oriente Médio: apenas em Moscou, Londres, três cidades na Suíça e duas na Escandinávia o custo de vida é maior, segundo uma pesquisa realizada em 2011.

Dentre os manifestantes, jovens médicos reclamam dos baixos salários, do excesso de trabalho e das más condições dos hospitais. A categoria recebe um salário básico de um pouco mais de mil euros mensais, e pede a criação de pelos mil novos postos de trabalho.

Resposta oficial

O comitê especial anunciado por Netanyahu deve trabalhar com foco na redução de impostos indiretos, em  medidas que diminuam a burocracia que emperra a construção civil, nas ações contra cartéis e monopólios a fim de estimular a livre concorrênciae e na assistência a jovens casais com intuito de ajudá-los a custear a educação dos filhos.

O primeiro-ministro prometeu "grandes mudanças", mas logo observou que "não vai conseguir satisfazer todos os lados". Itzik Schmuli, porta-voz dos manifestantes, saudou a disposição do governo em ouvir as reivindicações, mas alertou para o risco de manobras. "Não queremos ficar três meses sendo enrolados para, no fim, nenhuma solução real ser apresentada."

Yival Steinitz, ministro israelense das Finanças, prometeu prestar atenção especial às causas que levaram à onda de protestos, sem perder de vista a conjuntura do país. "Além da necessidade de encontrar soluções, primeiramente quanto ao preço elevado de moradia, mas também ao alto custo de vida em Israel, há também uma outra necessidade: não ultrapassar o orçamento e não perder o que já alcançamos para manter o nível de desemprego baixo e um alto crescimento econômico. Porque vemos o que está acontecendo nos Estados Unidos e na Europa e não queremos viver essa situação."

A previsão é que a economia do país cresça 4,8% em 2011. Com um índice de desemprego de 5,7% e um endividamento público que chega a 75% do Produto Interno Bruto, a situação de Israel é mais confortável que a de muitos países ocidentais.

Revisão: Soraia Vilela
DW

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