quarta-feira, 14 de abril de 2010
Vaticano é alvo de mais críticas por vincular gays à pedofilia
A casa onde o Papa Ratzinger nasceu (acima), localizada na Alemanha, amanheceu hoje pichada com palavras não divulgadas.
Por Philip Pullella
CIDADE DO VATICANO (Reuters) - Políticos e grupos representantes de gays condenaram o número dois do Vaticano nesta quarta-feira por dizer que o homossexualismo é uma "patologia" e vinculá-lo diretamente ao abuso sexual de crianças.
As declarações feitas pelo cardeal Tarcisio Bertone durante visita ao Chile, e a controvérsia que desencadearam, fizeram manchetes nos grandes jornais italianos. O Ministério do Exterior francês e alguns blogs católicos que apoiam o papa também condenaram as declarações do cardeal.
À medida que o escândalo em torno do abuso sexual de crianças por parte de padres vem se alastrando, alguns setores da Igreja Católica começaram a pedir uma revisão da norma da Igreja que proíbe os padres de se casarem, dizendo que o casamento lhes permitiria desfrutar de uma vida sexual saudável.
Bertone, o secretário de Estado do Vaticano e que às vezes é chamado de "vice-papa", disse em coletiva de imprensa concedida em Santiago na segunda-feira:
"Muitos psicólogos e psiquiatras já mostraram que não existe vínculo entre o celibato e a pedofilia, mas, me foi dito recentemente, muitos outros já demonstraram que existe uma relação entre homossexualidade e pedofilia."
"Esta (a homossexualidade) é uma patologia que atinge pessoas de todas as categorias, e sacerdotes em grau menor, em termos percentuais", disse ele. "O comportamento dos padres neste caso, o comportamento negativo, é muito sério, é escandaloso."
Ativistas de defesa dos direitos dos gays reagiram com escárnio e ultraje.
"É um absurdo científico. A Organização Mundial da Saúde descreve o homossexualismo como uma variante do comportamento humano. É a pedofilia que é uma patologia, um crime, e não o homossexualismo", disse Franco Grillini, ex-parlamentar que esteve na vanguarda do movimento italiano de defesa dos direitos dos gays.
"Pelo fato de terem seus próprios problemas com a crise dos abusos e de não saberem como lidar com isso, estão tentando transferir sua 'cruz' dos ombros deles para os nossos", disse Grillini à Reuters.
BLOG CATÓLICO CRITICA
O Ministério do Exterior da França disse que foi "uma vinculação inaceitável e que condenamos".
Alguns blogs católicos pró-Vaticano disseram que mais polêmica é a última coisa de que o Vaticano precisa.
"Pedofilia e homossexualismo: Bertone tropeça -- mais uma vez -- sobre os gays", disse um post no "Blog dos Amigos do papa Ratzinger."
O blog disse que agora o papa terá que "limpar a sujeira feita por seu braço direito".
O porta-voz do Vaticano padre Federico Lombardi divulgou um comunicado no qual tentou minimizar a repercussão do incidente.
Ele disse que líderes da Igreja não estavam fazendo "afirmações gerais sobre uma natureza psicológica específica" e mostrou estatísticas da Igreja mostrando que dois terços dos casos de abuso de adolescentes por padres envolviam padres homossexuais.
Um editorial de primeira página no jornal romano de viés esquerdista La Repubblica, intitulado "A Confusão na Igreja", disse que as declarações de Bertone acabarão por "prejudicar mais a própria Igreja, e não os homossexuais".
Bertone também foi criticado pela deputada de direita Alessandra Mussolini, cujo avô, o ditador fascista Benito Mussolini, enviou os gays para o exílio interno.
"Não se pode vincular orientação sexual a pedofilia. O vínculo corre o risco de ser perigosamente enganoso para a proteção das crianças", disse ela.
O ArciLesbica, principal grupo italiano de defesa dos direitos das lésbicas, acusou o Vaticano de usar "declarações violentas e enganosas" para desviar a atenção de seu escândalo de abuso sexual e disse que os pais italianos deveriam estudar a possibilidade de tirar seus filhos de instituições dirigidas pela Igreja.
Em sua audiência semanal geral, o papa Bento 16 não fez nenhuma referência direta à crise enfrentada pela Igreja.
(Reportagem adicional de Crispian Balmer, em Paris, e Simon Gardner, em Santiago)
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