Travessia Porto Mauá/Alba Posse. Chegando em Alba Posse.
Visão efêmera no Uruguai
FELIPE DORNELES |fdorneles@correiodopovo.com.br
Quem visitou a cidade de Porto Mauá, na Fronteira-Noroeste do Estado, nesta semana, ou apenas passou pelo local para realizar a travessia de balsa via rio Uruguai, para a cidade argentina de Alba Posse, se deparou com um cenário diferente no rio Uruguai. Com o baixo nível das águas, surgiram bancos de areia no leito do manancial, o que, segundo especialistas, é consequência do impacto ambiental causado pelo mau uso dos recursos naturais pelo homem.
Para a bióloga Elenir Dahmer Linauer, que atua na Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), regional de Santa Rosa, podem ser considerados responsáveis pela formação de bancos de areia o assoreamento dos cursos hídricos e problemas de drenagem de banhados. Elenir explica que, apesar de o solo não ser predominantemente arenoso na região, o desmatamento da mata ciliar nas margens do rio facilita o assoreamento. "Hoje este processo conseguiu ser reduzido, e técnicas conseguem evitar com que solos de lavouras sejam levados para as águas. Mas é um problema que ainda existe", afirma. A bióloga ressalta que este cuidado deve ser tomado não apenas no rio Uruguai, mas principalmente em seus afluentes.
Outro fator é a drenagem de banhados, que, segundo a bióloga, funcionam como esponja. "Eles retêm a água da chuva por um período maior e abastecem os rios em época de estiagem", explica. Hoje, muitos banhados foram transformados em lavouras, na beira do rio, perdendo a função de proteção ao meio ambiente.
O cenário no rio Uruguai foi visto durante a semana, quando as águas se encontravam 1 metro abaixo do normal. Ontem, o banco de areia já estava submerso, em consequência da abertura das comportas da barragem de Itá, no estado de Santa Catarina, que interfere diretamente no nível do rio na região.
O grande banco de areia é percebido logo abaixo de uma grande ilha do rio, em Porto Mauá. Conforme o secretário municipal de Agropecuária e Meio Ambiente, Júlio Cesar Rauber, o banco de areia está sendo formado pelo desmoronamento acentuado que ocorre na ilha mais conhecida do município, problema intensificado a cada enchente. "A parte de cima da ilha está desmoronando, e o solo se concentrando logo abaixo, no decorrer da extensão do rio. Como se a ilha estivesse se movimentando", explica o secretário.
As dezenas de árvores da ilha, que diminuem com os constantes vendavais na cidade, auxiliam no desmoronamento das margens. Essa terra, posteriormente, é levada pelas águas das enchentes, que também são frequentes no local. Conforme Rauber, os eucaliptos presentes na ilha são antigos e muito altos. Por isso, sob a ação dos ventos, caem e alteram a estrutura do solo. O município já encaminhou um projeto à Fepam para retirar essas árvores e substituí-las por espécies nativas.
Nota do Blog: Nossos antepassados nos deixaram essa herança maldita. É difícil encontrar no RS, particularmente na Região Noroeste, um rio não poluído ou com seu leito sem acúmulo de terra, areia ou detritos de toda ordem. Reverter essa situação é um grande desafio para as futuras gerações. Será que ainda dá tempo?
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