terça-feira, 11 de novembro de 2008
República de mulheres: beguinários renascem em Berlim
Na Idade Média, mulheres chamadas de beguinas viviam juntas em beguinários na Europa. Já há alguns anos, movimento semelhante vem renascendo na Alemanha, como, por exemplo, no bairro de Kreuzberg em Berlim.
Com fachada curva e janelas coloridas, o beguinário onde moram 53 mulheres é um prédio ensolarado e moderno. Na área social, no térreo, vê-se um grupo de trabalho formado por mulheres idosas, reunido para discutir se a árvore no pátio deve ser cortada ou não. Uma delas é Jutta Kämper, 75 anos, a iniciadora do projeto.
"Há alguns anos, visitei com amigas os históricos beguinários na Holanda. Isto nos impressionou como também nos motivou", disse Kämper. Nasceu então a idéia: "Nós não queríamos mais viver sozinhas e encontramos um exemplo histórico", afirmou.
Passaram-se sete anos até o prédio em Berlim ficar pronto. Foi difícil encontrar um construtor como também o financiamento do edifício não foi fácil. Por este motivo, cada uma das moradoras do prédio comprou seu próprio apartamento.
Mas quais são as semelhanças com o antigo movimento das beguinas? Tal movimento de origem religiosa de mulheres que viviam longe do casamento e do convento originou-se na região flamenga da Holanda e se espalhou por toda a Europa.
A iniciadora Kämper explicou que "hoje, não somos mais religiosas". "Mas o que nos liga às beguinas é o sentimento de comunidade. Pois esta é a razão pela qual cada uma das mulheres mudou-se para cá."
Comunidade com deveres conjuntos
Morar junto também traz obrigações comuns. Em diferentes grupos de trabalho, as mulheres cuidam da casa e do jardim. Enquanto algumas juntam as folhas caídas no gramado do pátio, outras transportam a folhagem molhada em carrinhos de mão. Enquanto isso, o gato da casa perambula entre elas.
No terceiro andar do edifício, encontramos Bettina Kraft sentada em seu computador. Com 31 anos, ela é a mais jovem moradora da casa. Kraft trabalha como professora e, por isso, não tem muito tempo para participar das atividades comuns. "Aqui sempre está acontecendo alguma coisa, seja Qi Gong [tipo de meditação], teatro ou festas, mas este não é o meu caso", explicou a professora.
Para ela, principalmente o contato com as mulheres no corredor é importante. Um corredor aberto de acesso interliga quatro apartamentos em cada andar. "Cada uma cuida da outra. Quando se está doente, alguém sempre põe um copo de suco com um bilhete em frente à porta. Isto é muito importante para mim."
Bettina Kraft não queria mais dividir apartamento com ninguém, mas também não queria mudar para um prédio residencial anônimo. Por este motivo, o beguinário foi a solução ideal para ela, mesmo com as reservas por parte do namorado, após ter sido informado de seus planos.
Kraft explicou que "ele não queria, naturalmente, ser olhado de forma estranha quando ele estivesse aqui". "Claro, trata-se de preconceitos que cada um tem. Mas, logo ele percebeu que a convivência aqui é bastante cordial."
Viver de forma ativa e criativa
Sociólogas, teatrólogas, médicas – as mulheres ali trazem consigo diferentes biografias. E cada uma contribui com sua formação: a especialista em computação montou um portal de intranet, a literata organiza sessões de leitura na casa.
Para Marliese Obsommer, que mora num apartamento do quarto andar, o clima especial que reina na casa é responsável pela sensação de bem-estar. "Quando moram juntas somente mulheres é, simplesmente, diferente. Com mulheres, eu tenho uma relação diferente. Com homens, sempre é mais superficial", afirma a moradora de 67 anos.
Obsommer mudou-se especialmente de Frankfurt para Berlim para morar no projeto do beguinário. Ela vê a vida ali como uma boa alternativa para lares de idosos. "Naturalmente, é uma forma muito melhor de envelhecer e morrer", afirmou.
Ela não sabe ainda o que vai acontecer quando algumas mulheres precisarem de cuidados especiais, mas elas estão discutindo o problema de como uma moradora de saúde debilitada poderá permanecer o tempo mais longo possível na casa, afirmou.
Pelo fato de a convivência ali ser tão boa e por cada vez mais mulheres mostrarem interesse em mudar-se para lá, planeja-se até mesmo um segundo beguinário, que deverá ficar pronto até 2010 no bairro de Friedrichshain em Berlim.
Lydia Leipert, para Deutsche Welle
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