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sábado, 7 de maio de 2011

Uma passarela eclesiástica

Ivan Lessa
Colunista da BBC Brasil

Fellini sabia das coisas. Em uma de suas muitas obras-primas, Roma, de 1972, um retrato da cidade, metade documentário, metade lembranças autobiográficas, o esplêndido cineasta italiano conseguiu encaixar uma sequência inteira surrealista, sempre com o acompanhamento musical de seu genial parceiro, Nino Rota, que, na época, além de gerar controvérsia, chegou a ser proibida em certos países, quase que juro. 

Garanto, isso sim, que a sequência na íntegra, em seus quase 10 minutos, pode ser encontrada no YouTube com perto de 200 mil hits, e merece ser vista e revista. Tratava-se, nada mais nada menos, do que um desfile de modelos eclesiásticos para os membros das diversas hierarquias eclesiásticas.

Se eu fosse um poltrão, diria que a vida imita a arte. No que paro, penso e digito: a vida imita a arte. Se não, vejamos.

Na ilha vulcânica de Pantelleria, na mesmíssima Sicília machona que deu ao mundo a Máfia, teve lugar, nesta segunda-feira que passou, aquilo que muitos chamaram, há quatro décadas, de delírio felliniano. À beira do Mediterrâneo, realizou-se um exercício para o desfile de modas eclesiásticas, graças ao espírito de vanguarda do bispo Domenico Mogavero, de 64 anos, e à visão ímpar do estilista Giorgio Armani, que possui na ilha uma luxuosa residência digna de sua grife.

Domenico Mogavero

Depreende-se, agora, que o lance de estilo acaba de ser reconhecido pela Igreja Católica como uma espécie de via crucis rumo às passarelas do mundo inteiro, objetivando, é de se supor, atingir todo o clero mundial. Uma espécie de Nike com sacristão, turíbulo, vela e todo o resto dos apetrechos católicos.

Um detalhe importante: a congregação siciliana, se não deu suspiros e gritinhos ou bateu palmas e tirou fotos com seus celulares, achou o máximo a vestimenta do bispo Mogavero, que há quatro anos exerce o sacerdócio para toda a região de Mazzara del Vallo.

O sacerdote modelo usou, para a ocasião mais que avant-garde, uma túnica de seda verde, decorada com os símbolos dos produtos que faziam (isso vai mudar) o nome da ilhota: vinhas, trigo, conchas e estrelas-do-mar. Tudo sob a sagaz orientação de Armani.

O bispo Mogavero declarou à paróquia e à imprensa que o fato, lato senso, não tinha nada a ver com uma tentativa de trazer grifes à Igreja ou aceder à prática da moda e seus estilistas. Segundo ele, a coisa era mais simples: “usar algo belo para louvar Deus”.

E, como se dando entrevista para uma revista do gênero que ele nega estar seguindo, prosseguiu: “as vestes são do melhor bom gosto possível, feitas de um tipo de seda das mais sóbrias e dão uma ideia da solenidade da ocasião.” A ocasião, no caso, era a inauguração de uma nova igreja local.

Giorgio Armani, menos acessível aos jornalistas do que o bispo Mogavero, nada teve a acrescentar a não ser lembrar que há 37 anos vinha passando temporadas anuais na região, tendo por isso lá decidido construir seu palacete, igualmente, tudo indica, do maior bom gosto possível.

Um jornal italiano lembrou o fato de que o bispo era um livre-pensador em matérias sacras e que, em ocasiões anteriores, conclamara o primeiro-ministro Silvio Berlusconi a renunciar diante de suas sucessivas incursões em escândalos sexuais e que admoestara os sicilianos no sentido de que deveriam mostrar mais tolerância para com seus irmãos imigrantes, em geral tunisianos, cujo berço, a Tunísia, fica logo ali adiante do outro lado do Mediterrâneo, bem mais perto da Sicília do que do continente italiano.

Carecem de fundamento os boatos de que, à maneira de Clóvis Bornay, Evandro de Castro Lima e outras lendárias figuras de nosso nada sacro Carnaval dos bons tempos, o bispo ou membros de sua congregação estejam pensando em batizar as novas vestimentas como “Catedral Submersa”, “Sinfonia Vulcânica” ou coisa parecida.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

MÚSICOS DA OSB NÃO QUEREM EXECUTAR MARCHINHAS MARCIAIS



Agravou-se neste sábado (9) a crise da Orquestra Sinfônica Brasileira.

Como Élio Gaspari bem relatou em sua coluna dominical, os antecedentes foram os seguintes:

"...o presidente da fundação que a sustenta, economista Eleazar de Carvalho Filho e o maestro Roberto Minczuk informaram aos seus 85 músicos que passariam por um processo de avaliação individual.

Em fevereiro, reunidos em assembleia, 56 músicos da OSB anunciaram que não se submeteriam à avaliação.

Eleazar de Carvalho foi em cima de seus peões, acusando-os de 'difamar e denegrir a reputação da Fundação OSB', lembrando-lhes que 'atos de insubordinação são passíveis de punição'.

O doutor usou linguagem das galés de Cesar... funcionou a ideia de que 'anda quem pode, obedece quem tem juízo'. Deu errado.

Eleazar de Carvalho e Roberto Minczuk foram surpreendidos por um boicote liderado pelos pianistas Nelson Freire e Cristina Ortiz, bem como pelo maestro Roberto Tibiriçá.

Na quinta feira, depois de demitir 32 músicos, Carvalho trocou de partitura e, numa carta, disse 'ter sido levado' a demiti-los e propôs uma negociação para 'salvar uma grande instituição'.

,,,[A] permanência no cargo (...) do maestro Minczuk tornou-se tão difícil quanto a execução da Sétima Sinfonia de Gustav Mahler".
Confirmou-se o prognóstico do veterano jornalista, com o qual costumo concordar, salvo quando desanda a escrever bobagens sobre a luta armada contra a ditadura de 1964/85, confiando cegamente no entulho autoritário, como se fosse a tábua dos dez mandamentos...

De qualquer forma, Gaspari acertou em cheio na sua avaliação de que o autoritário Minczuk se desqualificou totalmente para a função que ocupa. 

Isto ficou mais do que evidenciado ontem: tão logo Minczuk entrou no palco para, sob estridentes vaias de metade da platéia carioca, reger os instrumentistas da Orquestra Sinfônica Jovem, eles dignamente se retiraram, deixando-o sozinho com suas batutas. Bem feito!

O concerto foi cancelado. O programado para hoje também. 

Espera-se que, amanhã, alguém com mais poder e um mínimo de sensatez indique a porta da rua para Carvalho e Minczuk, pois salta aos olhos que tal serventia da casa é o primeiro passo para a solução do impasse.

Para os cinéfilos, o óbvio paralelo é com Ensaio de Orquestra (1979), um dos filmes mais amargos e questionáveis do genial Federico Fellini -- na verdade, uma parábola sobre o que ele considerou ser um movimento pendular da sociedade.

Os músicos de uma orquestra se rebelam contra o maestro autoritário e o expulsam, mas excedem-se tanto na demolição da velha ordem que acabam à beira da destruição.

Aí, face ao caos que ameaça a todos tragar, a alternativa acaba sendo a volta da autoridade... que logo reassume suas feições atrabiliárias e despóticas.

Torçamos para que os músicos da OSB façam melhor na vida real, depois desta admirável demonstração de resistência ao autoritarismo que estão dando.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Órgão do Vaticano orientou bispos a não denunciar pedofilia, indica carta

Uma carta divulgada pela rede de TV irlandesa RTE revelou que um departamento do Vaticano aconselhou os bispos da Igreja Católica na Irlanda a não denunciar, em 1997, padres suspeitos de pedofilia.

Alvo de críticas pela onda de denúncias de pedofilia contra padres, o Vaticano afirmou diversas vezes que nunca instruiu bispos a ocultar provas ou suspeitas de abusos.

Entretanto, a carta mostra que autoridades do Vaticano rejeitaram, na época, a ideia de iniciar um processo de “denúncias obrigatórias” de queixas de abusos contra menores.

Vítimas de abusos disseram que a carta – que a emissora irlandesa diz ter recebido de um bispo – é uma prova decisiva para ser usada em processos legais movidos contra a igreja.

Leia AQUI a íntegra.