Grave questão nacional
O grande público foi surpreendido, em notícia recente, por uma questão que transcende os altos muros da imponente mansão que abriga os privilegiados hóspedes do "Big Brother Brasil", versão 2012. Teria o rapaz, sorrateiramente, aproveitando-se da embriaguez da bela adormecida, praticado atos sexuais ilícitos, debaixo dos cobertores? E, será que tal ação deletéria deveria ser punida com a expulsão da Casa? Discute-se, na mídia, se houve consentimento, ou se ela teria sido atacada pelo tarado sexual em sua mordaz investida, impossível de ser rechaçada. Teria havido penetração? - indaga, pelas ruas, a população preocupada. Ou apenas carícias clitorianas (charuto, estilo Mônica Lewinsky, pensamos que não estaria disponível na Casa). De toda forma, é imprescindível investigar. Trata-se de uma questão que desmoraliza o severo regulamento do Programa (com P maiúsculo).Chame-se a Polícia Civil: interrogue-se os indiciados, promova-se o depoimento de testemunhas, analise-se os vídeos. Afinal, estamos diante de um programa educativo: o que resultar, ao final da investigação, poderá promover revisões dos valores da Pátria para resgatá-los ou para destruí-los. É o "BBB" da Globo!
O juiz, que está analisando o caso, em seu primeiro depoimento disse que vai pedir exame da perícia técnica nos lençóis, na cueca do rapaz e na calcinha da donzela. Diante disso, o Brasil acompanha, com redobrada ansiedade, a evolução do caso: haverá sinais de sêmen espargido pelos "macios lençóis da cama...?".
Enquanto isso, nos recônditos de outras casas, centenas de jovens raparigas menos dignas e desconhecidas, crianças ainda, em quartinhos sujos e malcheirosos, estão sendo surradas, agredidas e estupradas, longe dos holofotes da televisão, e ainda não encontraram algum juiz, tão zeloso, que lhes dê guarida com tal rapidez. Enquanto isso, assaltantes, sequestradores, corruptos e corruptores, traficantes e uma corja interminável de larápios de colarinho-branco seguem incólumes alicerçados nas inúmeras prerrogativas que o Código Penal Brasileiro lhes oportuniza. Enquanto isso, a citada rede de TV, com sua gigantesca audiência, coordena campanhas contra o fumo e excessos de bebida alcoólica.
Atenção, meus jovens: as recomendações só valem para fora da Casa. Lá dentro, o fumo e o álcool têm livre trânsito. As festas são regadas a grandes quantidades de bebidas alcoólicas. Na Casa, só vale o "se beber, não durma". Azar de vocês.
Nilson Luiz May, médico e escritor, para CP
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